
09 | Aquele em que Eles Voltam
𝐀𝐐𝐔𝐄𝐋𝐄
𝒆𝒎 𝒒𝒖𝒆 𝒆𝒍𝒆𝒔 𝒗𝒐𝒍𝒕𝒂𝒎
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Grand Cayman, Caribe
17 de setembro
☁︎
Pedro acordou com a sensação de leveza no corpo. Já era dia, e podia ver pelo brilho claro demais que invadia seus olhos. Provavelmente havia esquecido de fechar alguma das cortinas. E girou para o lado, tentando abafar a claridade dos olhos e descansar um pouco mais. Mas tatear a cama e perceber que estava sozinho o fez despertar de uma vez.
Vivian não estava ali. Apenas seu perfume e um ou dois fios de cabelo presos no travesseiro. O lado da cama em que ela dormiu ainda estava amarrotado. Mas ela não estava mais no quarto. O celular não estava na mesa de cabeceira, o vestido preto e transparente não estava largado no chão. E a blusa dele, da noite anterior, não estava mais ali, também.
Havia sido difícil para ele tentar dormir com a visão da mulher vestida na peça. O fato dela estar usando algo dele, dormindo com ele, após uma noite tão intensa e outros dois momentos de sexo, entre promessas e risadas, havia aquecido algo nele.
— Vi?
Pedro chamou, quase em um sussurro por não querer que alguém escutasse do lado de fora. E encarava a porta do banheiro, que permaneceu fechada. Com preguiça, levantou, caminhando até lá, tendo as suas esperanças de ver a mulher ali totalmente podadas quando abriu a porta e ela não estava.
Não era bem emoção ou apego, mas ele tinha o costume de acordar ao lado de alguém com quem ele passou a noite. Tinha esperanças de que veria a morena pela manhã. E quando finalmente aceitou o fato, seguiu de uma vez para o banheiro, usando a água fria para clarear seus pensamentos.
O chileno tomou um longo banho, recolhendo seus itens pessoais do banheiro e deixando em uma bolsa de higiene, perto da mala. Arrumou a cama, as roupas bagunçadas, dobrando e guardando tudo, deixando tudo pronto para a sua partida. E se vestiu para a viagem, em uma calça jeans confortável, blusa larga, separando o moletom escuro para vestir depois.
Com os tênis nos pés e os óculos de grau no rosto, seguiu escada abaixo, balançando o celular em mãos e olhando as notificações, esperando ver algo dela. E parou assim que chegou na cozinha. Estaria vazia se não fosse por Wagner, sentado na ponta da mesa e servindo café puro em uma xícara.
— Bom dia — O brasileiro desejou, em um tom que curiosamente fez a coluna de Pedro enrijecer.
Agora ele tinha motivos.
— Bom… Onde estão todos? — Pedro perguntou, sentando ao lado direito do amigo, para que ele não visse a marca vermelha do outro lado do pescoço.
— Sandra e Vivian levaram Salvador e José para caminhar na praia antes de irmos. Bem está brincando.
Wagner encarava os olhos de Pedro como se soubesse demais, o que o fez desviar e dar atenção ao próprio café. E antes que pudesse dar o primeiro gole, ou sequer uma mordida nas torradas tão perfumadas com geleia, Wagner forçou a garganta.
— Se eu soubesse que o que eu falei entraria por um ouvido e sairia pelo outro, honestamente, eu teria poupado saliva… — Ele comenta, fazendo o amigo se remexer na cadeira.
E só então Pedro mordeu e mastigou a torrada, sentindo descer fervendo.
— Aconteceu algo? — Pascal perguntou, tentando dar o melhor de si para disfarçar.
E falhando perfeitamente.
— Me diz você. Quer dizer.. Tem que ter um bom motivo para Vivian usar gola alta na praia.
Claro.
Pedro não havia visto Vivian pela manhã e não sabia se os dois teriam se visto. Mas o amigo juntou as peças assim que ele e a esposa chegaram na madrugada anterior e ela o impediu de parar para chamar Pedro, e avisar da hora do embarque. Sandra sabia, mas não fez questão de contar mesmo percebendo que Wagner entendeu.
— Eu- Nós dois não-
— Você é péssimo mentindo — O brasileiro diz, pondo a xícara sobre a mesa.
E então se levanta, deixando o item na pia, junto com o prato que havia usado. Ao se aproximar, agora pelo outro lado, não deixa de notar a marca enfeitando o pescoço do chileno. Wagner ri, sabendo perfeitamente que estava certo.
— Eu poderia discursar, mas eu não vou. Sabemos que você é esperto o suficiente para não tratá-la mal, e eu conto com isso. Mas ela é minha irmã caçula, entende? É claro que sim, você tem irmãs também…
— Eu sei. E honestamente não pretendo fazer qualquer mal à Vivian.
— Se for inteligente o suficiente, vai continuar assim, e verá o melhor lado que Vivian pode ter. Se for burro, verá o meu pior. E eu odiaria perder um amigo.
Por mais que já sentisse asco o suficiente só por imaginar os dois juntos. Wagner era melhor do que algumas ameaças, os dois sabiam bem. E, com um assentir de Pedro e um olhar… neutro demais de Wagner, ele saiu do cômodo.
Pedro terminou o café, pensativo. Talvez ele e a irmã tivessem conversado mais cedo. Talvez Sandra o tivesse convencido de algo, outra vez. A verdade é que ele não sabia, e era vergonhoso demais perguntar. Então apenas seguiu jardim afora, encontrando Bem perto das palmeiras, tirando algumas folhas marrons do caminho.
— Bem.. Viu sua tia? — Pedro pergunta, e o garoto aponta para algum lugar na praia, onde ele podia vê-la caminhando, ainda longe.
— Porque ela estava no seu quarto? — O garoto pergunta, fazendo os olhos de Pedro se arregalarem em surpresa.
— O quê?
— Eu a vi saindo do seu quarto hoje cedo — O menino diz, com um olhar realmente inocente. Era uma dúvida genuína, não estava sugerindo nada.
— Ela foi me acordar. Não podia perder a hora da viagem — Pedro mente, o mais rápido que pode pensar, mesmo sentido por ter que fazê-lo.
— Hm… Você gosta da minha tia, tio Pedro? — Bem pergunta outra vez, sendo a típica criança curiosa e apegado demais à mulher. — Como meu pai gosta da minha mãe…
— Não da mesma forma. Seus pais são casados e se amam. Sua tia é minha amiga, eu gosto dela dessa forma — Ele responde devagar, para que o garoto compreendesse bem.
As vezes, falar inglês ainda era difícil para ele.
— Eu ouvi minha tia e minha mãe conversando hoje — Bem diz, encarnado os próprios pés enquanto pisava nas folhas secas.
— Sabe que isso não é certo, não sabe?
— Eu não estava espiando! Elas passaram e eu ouvi — O menino se defende, e quando percebe que o homem suspira, dispara de uma vez. — Minha tia disse que gosta de você.
A resposta adulta o suficiente que Pedro daria, como uma quase bronca, fica entalada na própria garganta quando escuta o que o menino diz. Algo em sua mente parecia ter paralisado. E Bem o encara por tempo suficiente para vê-lo sorrir.
— Pode me emprestar seu telefone?
— Tem poucos jogos — Pedro retruca, pegando o aparelho. Estava acostumado demais com os próprios sobrinhos
— Não quero jogos.
A resposta de Bem o deixa curioso, e ele vê por cima enquanto o garoto abre o aplicativo do telefone, adicionando dois contatos distintos. Os dígitos eram diferentes, os códigos dos países… E ele compreendeu quando o garoto salvou ambos com o nome de Vivian.
— São os números dela. Nacional e internacional, ela tem dois celulares — O menino explica, devolvendo o de Pedro.
O chileno, por sua vez, apenas pegou o aparelho de volta, encarando os contatos recentes sem saber exatamente o que dizer. E teve que disfarçar, sem sequer poder agradecer ou repreender o menino de novo. As duas já estavam perto o suficiente até para que ele as ouvisse conversar. Agora falando sobre alguma outra viagem.
Pedro observou bem as roupas de Vivian. A calça e a tal blusa de gola alta, com as mangas cavadas nos braços. Praticamente só estava lá para cobrir o pescoço. E isso fez Pedro prender um sorriso satisfeito.
Ao menos assim ela teria algo mais para se lembrar, ele pensou.
— Bom dia, Pepe — A morena diz, tocando o antebraço dele e se curvando para dar um beijo na bochecha.
— Bom dia — Ele deseja a ambas, sendo respondido por Sandra quando a mesma passa direto para dentro da casa com os dois filhos, levando Bem junto. — Gola alta? É sério?
— Quem deixou marca no meu pescoço foi você. Queria que eu saísse exibindo? — Ela contesta, permanecendo perto o suficiente.
— Combinavam com seu bronze — Ele provoca, mantendo as mãos nos bolsos para controlar a vontade de tocá-la.
Vivian riu, o olhando de relance antes de encarar o mar. Se sentia incerta sobre o que fazer agora. Sobre como agir, o que falar… Não era muito boa nessa questão do “dia depois”, e tentava evitar como podia. Mas com Pedro, algo havia sido diferente. Ela queria ficar.
— Que horas foi embora? — Pedro pergunta, mordendo a bochecha quando a encara outra vez, percebendo seu olhar vacilar.
— Não sei bem. Acordei e só recolhi minhas coisas e saí… Depois dormi um pouco mais antes de despertar.
Vivian podia notar o olhar de Pedro. Questionamentos demais rondando os olhos castanhos. A morena sentia que deveria ter ficado. Sentia que queria aquela sensação de acordar com alguém, relembrar como era. Mas não podia dizer agora. Não sabia o que aconteceria com os dois depois disso.
— Sua camisa ainda está comigo.. — Ela comenta, chegando mais perto e esticando a mão para arrumar alguns dos cachos bagunçados perto da nuca de Pedro. — Dobrei e guardei. Antes de irmos, você-
— Pode ficar — Ele permite, ainda de olhos fechados, apenas sentindo o carinho dela arrepiar seus braços e costas. — Como uma lembrança. — Completa.
— Hm… Sendo assim… — Vivian lentamente se aproxima, notando como ele abre os olhos para observá-la. — Fiz bem em deixar uma lembrança na sua mala.
O tom cínico dela, e o mesmo olhar lascivo que ele havia visto na noite anterior, estavam de volta. E Pedro não precisou pensar demais para compreender do que ela falava. Após as duas outras experiências que trocaram, ele tinha certeza o suficiente de que Vivian havia dormido sem a calcinha rendada e transparente.
E seu olhar pareceu brilhar com a lembrança. Vivian riu.
— Está dobrada, em algum dos bolsos. Guarde bem — Sua voz agora soa como um aviso, leve da mesma forma.
E, com duas batidinhas no peitoral do homem, ela se afasta. Ele encara o mar por segundos antes de se virar, a acompanhando para dentro da casa. Certamente levaria um tempo até que ele parasse de pensar sobre o assunto, e rir. Ainda estava descrente que aquilo havia de fato acontecido.
E se distraiu um pouco, dando atenção a Salvador e José, até que Wagner os chamasse para finalmente irem. Com todas as malas no carro e um último chek-up na casa, para terem certeza de que não haviam esquecido nada, eles se dividiram nos carros como da primeira vez, deixando que os motoristas contratados os levassem.
No caminho, Pedro e Vivian não se falaram. Ela estava centrada demais no celular, e, quando chegaram ao aeroporto, a morena cedeu ao cansaço pelo remédio de enjoo. Todos voltariam juntos para Los Angeles, e seria um longo voo. Mas o que deixava Pedro ansioso era a chegada na cidade.
E o que aconteceria depois.
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Finalizamos o ato um!
Agora as coisas começam a se desenrolar de um jeitinho diferente. Tô ansiosa pra postar mais!
Espero que estejam gostando, amores!
Beijoo
♡.
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