
01 | Aquele com o Surf
𝐀𝐐𝐔𝐄𝐋𝐄
𝒄𝒐𝒎 𝒐 𝒔𝒖𝒓𝒇
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Grand Cayman, Ilhas Cayman, Caribe
12 de setembro
☁︎
A primeira noite da viagem não havia sido nada foram do comum. Vivian e Pedro aproveitaram alguns copos de caipirinha até que a morena começou a enxergar levemente embaçado. E então se despediram, tendo a breve descoberta de que seus quartos ficavam de frente um para o outro.
Pela manhã, Pedro quem desceu primeiro, encontrando Wagner na sala de jantar e a mesa de café da manhã pronta para eles. Sandra estava do lado, passando protetor solar no rosto das crianças.
— Bom dia! — Pedro deseja, ouvindo as respostas do casal.
— Aproveitou a noite?
— Um pouco, sim.
O olhar de Wagner não enganava. E a esposa percebeu bem, dando uma leve cotovela nas costas do marido ao passar com os três filhos. E, com um breve selinho, ela se afastou, caminhando para o lado de fora, para a piscina. Pela manhã, a visão era ainda mais bonita em contraste com o mar azul.
— Vivian não desceu?
— Ainda não. Acordou de ressaca, mas já vai descer.
O mais velho assentiu, compreendendo a dor de cabeça que também sentia. A tequila tinha lá seus efeitos mais fortes que a cachaça brasileira. Mas ele era bom em disfarçar, diferente do amigo, cujo olhar o fez engolir as torradas quase em seco.
— Você está com aquele olhar de Escobar de novo — Pedro disse, usando um guardanapo para limpar as mãos e a boca. — O que aconteceu?
— Não flerte com a minha irmã.
A voz de Wagner era clara como o sol. O clássico ciúme de irmão entoado no aviso, e que fez Pedro rir, relembrando a conversa da noite anterior com a.. Amiga.
— Não se preocupe, ela já deixou essa linha bem clara.
— Bom saber — Ele, de fato, estava aliviado. E o outro moreno podia sentir isso na forma como seus ombros pareceram menos tensos antes de levantar. — Vai nadar?
— Pretendo. Vai agora?
— Sim. Sandra já deve estar lá com os meninos. Vamos.
☁︎
O olhar cansado de Vivian percorreu toda a areia clara, vendo a cunhada mais afastada, sentada abaixo de uma enorme tenda, com cadeiras largas, o filho caçula relaxando no colo. Na areia, perto das curtas e fracas ondas que chegavam aos pés deles, estavam Pedro, Wagner, Bem e Salvador.
Vivian deixou a bolsa na mesa com a cunhada, tirando o short e a camisa e deixando dobrados antes de caminhar até os rapazes. Pôde ver como Salvador correu feliz na direção dela, e como o olhar de Pedro havia totalmente se perdido.
Não deixou de rir quando viu Wagner chutar a onda rasa, molhando o amigo e lhe dando um olhar de aviso. De novo.
— Papai jogou com a gente e o tio Pedro fez dois gols!
— É mesmo? Brasil contra Chile, então?
— O que é injusto, Chile está claramente em desfalque — Pedro se defende, observando enquanto a morena beija o topo da cabeça do sobrinho mais velho e do irmão.
A cena o fazia se lembrar de seus irmãos também, e ele sentia saudade.
— Uma pena para você, querido. Embora não tivesse chances, realmente…
— Ah, não? E porquê?
— Somos os melhores do mundo. Não sabia? — Vivian tomba a cabeça levemente para o lado, sorrindo cínica quando vê o sorriso dele também.
— Ela se acha um pouco, huh?! — Pedro franze o nariz e cenho na direção de Wagner, que apenas dá de ombros.
— Ela está certa.
Com a confirmação do irmão, Vivian sorri vitoriosa, seguindo dali para dentro do mar quase transparente. Molhando os pés na água morna, logo ela adentra até que a água chegue na altura da sua cintura, e então mergulha, nadando em frente.
As praias da região eram rasas, o que permitiu Vivian nadar uma grande distância e retornar com facilidade. Quando emergiu, quase no mesmo ponto em que mergulhou, teve a visão de Wagner ajudando Bem a se equilibrar numa longa prancha. Por mais que ali não tivesse ondas grandes para surfar, o dono da casa havia disposto outras.
— Quer tentar? — Pedro a perguntou, pegando a morena de surpresa.
Ele segurava a ponta da prancha com cuidado, e pôde perceber a indecisão nos olhos dela. Até que um sorriso surgiu.
— Vai ter que me ajudar. Faz tempo que não subo em uma dessas — Ela é sincera, encarando conforme o moreno tira os cabelos molhados do rosto.
Uma bela visão.
— Então me deixe subir primeiro.
Indo para uma área mais rasa, Pedro faz pouco esforço para subir na prancha, e se equilibra sentado facilmente. Então ergue a mão para Vivian, que o usa de impulso para se sentar na prancha, passando uma perna de cada lado e ficando de costas para ele.
— Consegue ficar de pé?
— Talvez. Não quer levantar primeiro?
— Não, você consegue. Vou estar aqui se cair.
Um olhar de hesitação estava nos olhos de Vivian, incerta das palavras do homem, mas suspirou, como se tomasse coragem. Pedro lhe deu as duas mãos para que ela pudesse se apoiar, e sentiu a prancha balançar conforme ela tentava se equilibrar, quase de forma trêmula. Quando soltou suas duas mãos, Vivian buscou por melhor apoio, e ele ajudou, segurando na cintura dela com firmeza.
Por mais desconcertante que fosse ficar tão perto naquela posição. O biquíni brasileiro tão cavado não ajudava em nada.
Mas não durou tanto. Assustada com a onda mais forte que havia batido na prancha, Vivian mergulhou, nadando um pouco até se curvar e voltar. E emergiu mais afastada, se aproximando em curtas passadas com os pés facilmente tocando o chão. E então curvou os braços sobre a prancha, encarando os olhos de Pedro.
— Você fez parecer tão fácil!
— É fácil. Você se assustou demais. Vem de novo.
— Me segura direito dessa vez, espertinho.
— Firme como supercola, princesa.
E assim se foi grande parte da manhã. Pedro fazia o possível para ajudar Vivian a se manter estável, e os dois tentaram de várias formas, até que ela finalmente pegasse o jeito.
Para quem estava de fora, foi cômico ver.
A forma como ele se preocupava que ela não caísse, mas, ao mesmo tempo, a empurrava para fora da prancha e direto na água quando ela o xingava suavemente, do seu jeito passivo agressivo com um apelido doce demais. E a vingança dela veio depois, o empurrando direto em uma onda quando os dois estavam de pé, e ele, distraído.
Vivian riu de forma audível quando o chileno emergiu com o cabelo bagunçado e cheio de areia branca.
— Você é uma traíra, sabia?
— Sabia sim. Ficou sentido? — Ela provoca, fazendo biquinho.
Pedro ri, espalmando a mão na água e fazendo uma breve onda molhá-la da cabeça às pernas. Os pés já estavam dentro da água.
— Vamos lá, Pedrito. Vou fazer um drink para me redimir.
— Tem que ser melhor que o de ontem.
— Exigente.
Os dois saíram juntos da água, com Pedro deixando a prancha fincada na areia, ao lado da que Wagner estava usando. E o amigo, que estava sumido, sequer deu tempo para Vivian ir fazer o drink prometido, retornando com uma bandeja com quatro copos.
— O quê? Está pensando que só você sabe fazer bebidas, caçula?
— Conheço o irmão alcoólatra que tenho. — Ela retruca, pegando um dos copos e se sentando na cadeira que a deixava de lado para o mar, pegando um bom sol para bronzear mais o corpo.
— Não fui eu quem subi a escada tombando ontem. — Wagner se defende, fazendo a irmã rolar os olhos e rir.
Talvez o segredo de que estava quase bêbada na noite passada com algumas caipirinhas não fosse tão secreto assim. Não podia culpar Pedro, por mais que um sorriso cínico e cômico demais estivesse no rosto dele.
Vivian observou os sobrinhos brincando na areia, parecendo construir um forte ou um castelo surreal demais, e sorriu. Com alguns goles do que quer que fosse aquela bebida, ela observou os três com carinho, e como o irmão havia puxado a cunhada para alguns rodopios em meio a uma dança desajeitada na areia. O som que alguém havia ligado na casa era bastante audível para eles.
— Porquê meu irmão não chamou mais pessoas? Ou você?
— Boyd viria também, como uma despedida de Narcos, mas teve alguma coisa importante em Los Angeles — O moreno explica, fazendo menção ao loiro que havia também contracenado com eles na série. — E eu não tinha quem trazer.
— Jura? Nem uma ficantezinha?
— Nah. Não estou com ninguém no momento, e não gosto de trazer pessoas de fora assim.
— Porquê?
— Primeiro que era algo em família, e eu já me sinto um intruso. Não queria ninguém tietando sobre o seu irmão também, ou que pudesse tornar algo público aqui.
— Você é bem recluso também, não é?
Era óbvio. Não só pelas palavras dele. Wagner já havia contado coisas e ela mesma sabia. Não ser atriz não a deixava fora de saber dos assuntos por dentro e muito menos tirava sua curiosidade. Ela precisava disso, também para saber que os filmes que produziria não envolveriam pessoas com polêmicas nas costas.
— É. Sempre fui, e acho que tentarei sempre ser.
— Isso é bom.
O sorriso de Pedro é inevitável, também por ter sido compreendido daquela forma. Não era estrelismo da sua parte. Até porque sua fama estava escalonando para algo maior agora. Era uma forma de cuidar do próprio futuro também.
— Wagner disse que você quase não vinha para a viagem..
— É. Assim.. Eu estava animada, mas não gosto de ficar longe do trabalho, ou das minhas fontes de melhor comunicação com a minha equipe, sabe?
— Sei, sim. Mas porque?
— Sinto que sempre que eu faço isso, alguém irresponsável assume o comando. Algum inconsequente que não sabe o que está fazendo — Ela comenta, vendo como Pedro assente em complacência. — Sei que, em partes, é um pouco da síndrome de “meu trabalho é melhor”, mas não consigo deixar esse mau hábito. E trato com a terapia, juro.
— Bom saber que você vai à terapia.
— Pedro!
— É sério!
— Você deveria ir também.
— Não, eles descobririam que eu sou um psicopata. — Ele brinca, nivelando o tom da conversa com a simplicidade de antes, fazendo-a rir de forma agradável.
— Ou uma compulsiva bomba de flerte — Vivian brinca, recebendo uma piscadela de volta, como se aquilo provasse que ela estava certa.
O homem não havia desperdiçado nenhuma das chances que teve. Ela o admirava por isso, mas não pensava nele dessa forma. Ainda estavam se conhecendo.
— Não deixe seu irmão saber disso.
— Oh, eu vou contar na primeira oportunidade — Ela morde o lábio com o modo que ele finge um desespero, e os dois riem novamente.
Mais algum tempo em silêncio, apenas o suficiente para os dois poderem tomar mais goles da bebida refrescante, agora reconhecendo o singelo sabor de abacaxi e côco junto ao álcool. E então ele tomou a atenção dela.
— Mas, sério, seu trabalho é tão importante assim ou você só põe pressão demais em si mesma?
— Um pouco dos dois. É um trabalho difícil, sabe? Eu sou a pessoa que toma controle de quase tudo no filme. Meu cargo é o da pessoa que faz o filme acontecer, em várias formas. Sou “a pessoa do dinheiro”, das contratações e demissões…
Ela suspira, e, para Pedro, é como se estivesse relembrando os momentos que algo aconteceu. Ele era ator, sabia bem que nada nesse ramo era tão fácil quanto parecia.
E então ela toma fôlego outra vez.
— Mas, ao mesmo tempo, é tão bom ver o trabalho feito! E as nomeações, as premiações, a opinião da audiência, dos fandoms… É uma coisa que me completa em uma forma que não deveria existir. É complexo, curioso..
— É o seu trabalho, Vi. É normal querer que cada pequena coisa saia exatamente como o planejado, assim você pode ter sua recompensa depois. A satisfação que você sente e que completa essa lacuna “que não deveria existir”. Que, a propósito, deveria sim.
— Se você estiver falando isso da boca pra fora..
— Não estou. Juro — Pedro diz, erguendo uma mão e cruzando o coração sobre o peito.
— Obrigada.
— Ao seu serviço, bebé.
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Mais umm!
Quanto mais eu reviso os capítulos, mais cadelinha eu fico desses dois. Vivian está vivendo nosso sonho.
Espero que estejam gostando até então!
Beijoss
♡.
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