HYUNJIN É UM BELO DE UM preguiçoso. Eu estava no meu quarto arrumando meu guarda-roupa no dia livre que tivemos, quando recebi una mensagem dele, agora estou a caminho da editora em que a Senhora Young trabalha porquê ela esqueceu a chave e o filho que ela teve é preguiçoso de mais para ir até ela. A sua outra filha eu perdôo, está fazendo faxina.

Eu poderia ter ignorado ele e dito não, mas minha habilitação finalmente saiu e é uma ótima desculpa para usar o carro do meu pai. Sendo assim, fui até a casa do preguiçoso — este que estava assistindo uma série na tevê da sala de estar — e peguei as chaves. É claro que, antes de sair, eu deixei claro que ele me deve um favor. Outro além da aposta.

Por fazer algumas semanas, ele deve pensar que eu esqueci que ele me deve, mas não é bem assim. Quero o pegar de surpresa, ou seja, ainda não decidi o que quero. Há muito para pensar. Eu posso escolher algo legal que me beneficie e que ele goste também, algo que deixe ele constrangido e me faça rir, ou não pedir nada de mais e ficar agarradinha com ele um fim de semana inteiro.

— Olá, sou Yang Jiyoon. Eu vim deixar umas chaves para a senhora Tiffany Young — eu anuncio para a secretaria dela, exibindo os objetos barulhentos.

— Ah, olá! — a moça bonita me cumprimenta. — Você pode entrar, ela está te esperando.

— Você... não poderia entregar as chaves? Não quero tomar o tempo dela.

— A senhora Young me deu ordens para que te deixasse entrar assim que você chegasse.

— Oh, entendi... — não entendi. — Estou entrando, com licença.

São apenas chaves, achei que só precisaria entregar na recepção e voltar para casa, mas aqui estou eu, na sala dela. Fico abismada com o local, parece a sala de uma CEO. A minha sogra está sentada em frente ao seu computador enquanto digita algo, mas para assim que chego.

— Jiyoon, aí está você! — ela parece animada em me ver. — Você já almoçou? Eu queria conversar um pouco com a minha nora favorita — eu sou a única.

— Eu ainda não almocei — respondo. — Sobre o que quer conversar?

— Apenas bater um papo — ela diz. — Tem um restaurante no fim da rua que é ótimo. Vamos, se não perderemos a reserva — ela pega sua bolsa. — Você veio de carro?

— Sim.

— Então pode deixar no nosso estacionamento, vamos andando, é pertinho! — ela diz e então da sala tão rápido quanto eu entrei, eu apenas a sigo, não saberia e nem quero dizer não. Estou com fome.

       A mulher sai em passos largos e eu a acompanho pelo prédio. Quando ela me disse que trabalhava em uma editora, eu não imaginava que seria a maior da Coreia. Eu evito olhar ao redor para não me perder da senhora Young, é tudo tão grande e tão lindo que eu penso em pedir uma vaga aqui, nem que seja apenas para servir café.

       Quando saímos, a mulher segue o caminho até o fim da rua no celular, eu aproveito para mandar uma mensagem à Felix dizendo que não volto para o almoço. Nós chegamos ao restaurante e imediatamente somos direcionadas à nossa mesa, quando sentamos não pedimos ainda, a mulher diz que estamos esperando uma amiga dela também.

       É um lugar bonito, há uma música suave de fundo e os clientes conseguem conversar tranquilamente. As cores e a iluminação escolhidos dá ao local um toque aconchegante. Minha mãe iria adorar aqui. Por falar nela, já faz um tempo que eu não vou à sua casa. Depois que Hyunjin e eu começamos a namorar, eu tenho ficado mais tempo na casa do meu pai. Mas, não é como se eu esteja ficando aqui apenas por ele, além da casa da minha mãe ser longe, ela conseguiu um emprego em outro hospital e agora se divide entre os dois.

— Taeyeon-ssi! — Tiffany a cumprimenta. — Que bom que você chegou. Esta é a minha nora, Jiyoon. Jiyoon, esta é Kim Taeyeon, uma amiga e parceira de negócios — ela faz as honras.

— É um prazer conhecê-la, senhorita Kim.

— O prazer é meu — ela diz com o semblante alegre. — Eu não sabia que Hyunjin tem uma namorada. Já faz muito tempo desde que o vi, da última vez ele disse que garotas são nojentas.

— Conheceu Hyunjin na infância? — eu questiono.

— Ah, não. Ele disse isso no natal, quatro anos atrás quando Yeji usava um aparelho móvel que, eu concordo com ele, era bem nojentinho.

Não evito rir, consigo imaginar a cena.

Com todos presente, nós fazemos nosso pedido. Enquanto esperamos tudo, ficamos conversando, acabo descobrindo que Taeyeon é escritora também. Ela tem um contrato com a editora que a mãe de Hyunjin trabalha.

— Não! — exclamo em choque. — Você é a Kim Taeyeon? A mesma Kim Taeyeon que escreveu "Gone Days"?

— Sim — elaela ri um pouco tímida.

— Me desculpe por não reconhecê-la antes, demorei para associar a obra ao artista.

— Não é para tanto — ela diz. — Tiffany me contou que você também escreve, Jiyoon. É verdade?

— Ah, sim... — respondo me sentindo levemente constrangida. — Eu comecei a escrever alguns anos atrás, mas ainda há muito a ser lapidado.

— Você acredita que ela nunca me mostrou os trabalhos dela? — Young fala como se fosse pecado.

— Não é que eu não queira, é que a ideia me deixa envergonhada antes mesmo que aconteça — explico. — Honestamente, tenho muito medo de mostrar a alguém e ser muito julgada.

— Acredito que todo escritor um dia já passou por isso — Taeyeon diz. — Sempre vão haver pessoas chatas, momentos difíceis e algumas vezes até vontade de desistir. São nessas horas que devemos nos perguntar: Por que fazemos isso? Por que você escreve, Jiyoon?

Eu penso sobre o assunto. No começo, eu comecei a escrever por Hyunjin, mas agora sinto que é bem mais que isso. Escrever é a minha forma de mostrar para o mundo o que eu sinto, é a maneira que encontrei de ajudar as pessoas, fazendo elas mais felizes.

— Eu escrevo porquê já fui muito machucada. Escrever me ajuda a colocar o que sinto para fora sem machucar alguém ou a mim — eu respondo. — Também é divertido — suavizo, posso estar sendo muito intensa.

— As vezes a gente precisa colocar algumas coisas para fora e essa é a melhor maneira que encontramos — Taeyeon-ssi diz. — Quando eu escrevo, penso nas pessoas que podem estar passando pelo mesmo que eu e como a minha fantasia, baseada algumas vezes em fatos reais, pode ajudar essas pessoas. Se eu nunca tivesse mostrado o meu trabalho para o mundo, eu não teria ajudado tantas pessoas com a literatura.

— Você tem razão. Eu não consigo imaginar o mundo sem suas obras, seria horrível.

— Pense que em alguns anos pode ser você quem vá ouvir algo assim — ela fica feliz com o meu elogio. — Mesmo que você não pretenda seguir carreira com isso, sempre poderá compartilhar com as pessoas os universos que cria nos seus livros.

— Sim, você está certa.

Não tenho dúvidas de que esse encontro foi uma armação de Hyunjin e Tiffany, mas eu amei a surpresa. Hwang está sempre me apoiando e tentando me tirar da zona de conforto, ele tramou com a sua mãe para me ajudar a ter coragem e autoconfiança. A única parte que eu não gosto é a de ter que dar razão a ele.

— Ah, por acaso, vocês conhecem a editora Future? — questiono sobre a que me fez a proposta.

— Sim. Por quê? — Kim responde.

— Eles fizeram uma proposta para publicar um livro meu — digo, um pouco mais confiante sobre o meu trabalho.

— Você não aceitou, não é? — ninha sogra interroga. Eu nego com a cabeça. — Me manda o seu material, agora eu preciso mesmo ler. Vamos ver tudo antes de você aceitar alguma proposta.

Nós continuamos o resto do almoço com o assunto. A senhora Young ficou toda animada com isso, ela é uma ótima pessoa. Quem disse que sogras odeiam noras, mentiu. Eu só espero que o meu material seja mesmo bom e não a decepcione.

Eu estava super apreensiva sobre isso de mostrar o meu rosto e publicar minhas obras, mas me sinto tão mais segura agora, após a conversa. Talvez eu deva arriscar um pouco, para variar. As pessoas sempre falam, mesmo que você não dê motivos, mas elas não tem nada a ver com a sua vida. Se vai ter alguém para falar algo negativo sobre mim, então que seja. Não posso desistir de uma boa oportunidade por medo.

(•••)

— Você planejou tudo, não é? — eu pergunto, me jogando em cima dele, no seu sofá.

Hyunjin grita e reclama, diz que estou o matando. Como sempre, ele é dramático.

       — O que seria "tudo"? — ele se faz de sonso.

       — Este encontro — eu digo. — Sei que foi armação sua e da sua mãe. Mas eu admito que gostei, conheci uma escritora que eu admiro muito. Enfim, obrigada por isso — agradeço com um beijinho na sua bochecha.

       — Eu sabia que você iria gostar — ele sorri tão lindinho. — Então, o que você decidiu?

       — Eu decidi que vou publicar — anuncio oficialmente para o meu namorado, o primeiro a me apoiar desde o início. — Devo fazer o que gosto. Isso me faz feliz então vou continuar, posso fazer outras pessoas felizes também.

       — Você já me faz absurdamente feliz, com livro ou sem — ele beija minha bochecha também. — Acho que chegou a hora de te dividir com o mundo — ele faz biquinho. — Mas eu ainda queira você só 'pra mim.

       — Não se preocupe. Eu já conheço o mundo, e o melhor lugar dele é aqui, com você!

Me autorizo a ser melosa por um instante também.

Quando começamos com isso, eu achei que este lado romântico de Hyunjin era uma fase e que ele estava tentando me conquistar, mas acontece que ele é mesmo assim. Eu não conhecia esta parte dele e hoje eu adoro.

Hwang está me fazendo ficar igual.

       — Jiyoon, você não pode ser assim, tão romântica! Me dá enjoo — ele finge vomito, acabando com o clima. Olha só quem fala, este hipócrita.

       — Como você é ridículo! — eu brigo com ele, mas no final estamos sempre dando beijinhos para fazer as pazes.

Confesso que as vezes gosto de uma briguinha boba, apenas para poder o beijar e fazer as pazes.

       — JiJi, você não acha que deveríamos fazer algo para comemorar? — ele questiona. — Você será muito famosa em breve.

       — Não é para tanto — digo. Além de linda, eu sou humilde. Meu Deus, estou me tornando uma outra versão dele! — Eu não preciso de uma comemoração grandiosa, quero apenas ficar agarradinha com você e vendo algum filme. Ou não vendo o filme.

       — Eu vou fazer a pipoca! — ele se anima e vai direto para a cozinha.

       Enquanto Hyunjin vai para a cozinha fazer pipoca, eu subo para o seu quarto e procuro um filme na Netflix. Acabo escolhendo um que me chama à atenção porquê o casal se detestava assim como nós. Incontinência ao amor.

       Eu fecho as persianas da janela para a luz do sol não atrapalhar a experiência do filme e deixo ele pronto na tevê. Como de costume, eu invado o guarda-roupas de Hyunjin e procuro algo aconchegante para vestir, o meu short jeans não é dos mais confortáveis. Me visto com uma muda de roupa de Hyunjin e largo a minha ao lado da cama, no chão. Suas vestes ficam grandes para mim, mas não de uma maneira exagerada. É engraçado, ele sempre ri quando vê.

       — Eu não entendo como as minhas roupas ficam melhores em você — ele faz uma piadinha, é claro que não combinam em mim. Exceto a camisa azul que eu usei quando fomos assistir um jogo do nosso time de basquete favorito, mas precisei fazer um nó na parte de trás dela.

       — Qualquer roupa fica ótima em mim — eu digo e faço um giro, para exibir o look de milhões.

       — Ou roupa nenhuma.

       — Meu Deus, Hyunjin! Como você é! — implico com ele, porque ele me deixa tímida. — Senta aí pra gente assistir o filme.

       — Sim, amor. Tudo o que você quiser. Eu faço de tudo pela minha mulher — ele diz e se senta na cama. Todo obediente, assim que eu gosto.

       — Seu bobinho... — eu dou um beijinho nos seus lábios carnudos. — Eu não sei porquê eu gosto tanto de você.

       — É porque eu sou demais! — diz Stefany Absoluta, codinome Hwang Hyunjin. — Será que você vai continuar gostando de mim daqui alguns anos quando você for rica e famosa?

       — Hyunjin, quando eu for rica e famosa, você vai poder ser a minha esposa troféu linda e gostosa — eu digo.

       — Você me acha lindo e gostoso? — ele faz uma pose ridícula, deitado na cama com um sorrisinho convencido e o dedo indicador no furinho na bochecha.

       — Não depois disso, você está parecendo uma espiga de milho! — implico para não perder o costume.

       Hyunjin faz uma carinha de quem está surpreso e chateado, ele me puxa pelas pernas enquanto eu não paro de rir. Hwang me prende embaixo dele enquanto eu gargalho pensando em uma espiga de milho com a cara dele.

       Ele faz um biquinho parecendo magoado — esse fingido — e eu dou um beijinho nele. Meu namorado é perspicaz, ele sabe o que fazer para conseguir de mim o que quer, por isso faz um charme aqui e acolá, para ganhar milhares de beijinhos.

       — Me desculpa, você não parece uma espiga de milho — eu entrelaço meus braços no seu pescoço. — Você é lindo e gostoso e maravilhoso e tudo de bom.

       — Não tô nem aí, um milho é tudo isso — ele dá de ombros. Hyunjin sempre me faz rir.

       Ele sorri também, então eu o beijo. É sempre assim, assistir um filme é apenas uma ótima desculpa que usamos para dar alguns amassos. Eu adoro ele, adoro os seus beijinhos e abraços. Quero ficar assim para sempre.

       — Jiyoon-ah... — meu namorado lindo chama minha atenção. — Você e eu para sempre?

       — Você e eu, 'pra sempre!

ALERTA!

Este é o penúltimo capítulo. O próximo será publicado ainda hoje, às 19:30h.

Eu queria deixar registrado aqui o meu agradecimento a todo mundo que me acompanhou em mais uma obra, mais uns momentos de loucura e altas risadas!

Não sou nada sem vocês. Vocês e eu pra sempre!

— Issa <3