
ᥫ᭡ 032
INSPIRA, EXPIRA. INSPIRA E expira. Não são apenas os garotos quem estão nervosos com o jogo, todo o colégio está ansioso para hoje, todo mundo conta com a nossa vitória. A performance do nosso time nos últimos jogos foi excelente, somos o melhor time da temporada, diga-se de passagem. Mas não se deixe enganar, o time adversário também coloca medo.
A expectativa para hoje é que seja um jogo digno de final, emocionante. Pelo que eu soube, houveram muitas apostas, a arquibancada investiu em torcida e as wasps também são de grande importância hoje.
Os hormônios se afloram com a chegada dos trinta minutos para o início, o nosso time e as cheerleaders estão aqui, mas o time adversário chegará um pouco mais tarde. Alem de empolgados, alguns dos nossos melhores jogadores parecem também estressados. É a final do campeonato e estamos jogando em casa, o dono do nosso colégio até virá para assistir à partida, os outros alunos todos continuam encorajando o time. Temos que ganhar. Mas é claro, sem pressão.
Sei que os meninos estão sentindo isso dez vezes mais que eu, mas não posso evitar sentir-me assim. Estou nervosa e pressionada. Faz pouco tempo desde que entrei para o clube da torcida e estou me esforçando como nunca antes para alcançar o nível do time, eu dei tudo de mim neste quase um mês e espero fazer um bom trabalho. Minha família estará aqui para ver, o colégio, a cidade, a mídia, todos verão a performance. Não posso me dar ao luxo de cometer erros. Os meninos contam comigo, assim como o meu time.
Ensaio alguns passos sozinha no solo. Eu sou flyer e isso diz que estou no topo das posições, as garotas da base me erguem enquanto eu executo os meus passos que algumas vezes requerem que eu me equilibre em apenas uma perna. Que bom que a mamãe não poderá vir hoje, ela foi contra quando eu entrei na ginástica, pois sempre dizia que eu acabaria quebrando todos os meus ossos e ela já está cansada de por osso no lugar.
Foco tanto no meu treino pessoal que esqueço que trouxe biscoitos para os garotos. Eu deixei os cookies todos embalados em saquinhos transparentes dentro da minha bolsa e esqueci de entregá-los. Então, enquanto algumas das outras meninas ensaiam, eu vou até os garotos que conheço sentados no banco: Chan, Jisung, Seungmin e Minho. Eu os entrego os saquinhos transparentes assim que chego, neles também estão alguns de chocolate, colocados contra a minha vontade.
— Cookies! — Han Jisung diz animado ao olhar os biscoitinhos lacrados com um lacinho lilás. — Obrigada, Jiyoon!
— Não precisa agradecer — falo, fico feliz que eles pareceram gostar. — Eles são para desejar-lhes boa sorte antes do jogo. Sei que vocês vão arrasar hoje! — os encorajo.
— Obrigado, Jiyoon. É um gesto muito bonito você querer nos animar antes do jogo também, mas nós não comemos na hora antes do jogo — Lee Know diz. — É uma superstição de equipe.
— Mas ainda podemos comer quando o jogo acabar, parecem deliciosos! — Kim Seungmin arruma uma solução.
— Então serão cookies da vitória! — eu digo. — Para celebrar a conquista, eu os presenteio com essa explosão de sabor.
— Na verdade, está bem difícil pensar em vitória quando o nosso capitão está desaparecido por dias — Chan fala, frustrado. — Ele ainda não apareceu.
Hwang Hyunjin continua sumido desde quarta-feira, o que poderia ter acontecido com ele? Eu não consigo me livrar da preocupação, as coisas em casa podem estar sendo mais difícil do que nunca para ele. Espero que esteja tudo bem, mas por outro lado, se ele está bem quer dizer que ele não veio porquê não quis. Não sei nem o que achar sobre isso, não quero criar pensamentos ruins.
— Ainda estão sem noticias de Hyunjin? — pergunto para me certificar dos detalhes.
— Ninguém vê ou fala com ele a dias, ele foi para casa na quarta-feira e desde então tomou chá de sumiço — Han explica. — Não é possível! Deve ter acontecido algo para ele desaparecer do nada, se é que desapareceu — ele duvida. — Até porque, ninguém some assim e a família não liga ou coloca algum aviso de "procura-se".
— Vocês tentaram falar com os pais ou a própria gêmea dele novamente? — interrogo.
— Nós perguntamos a Yeji, ela insiste que não sabe de nada — Minho responde. — Mas eu sei que é mentira, é claro que ela sabe mas não quer contar. Ou apenas não pode.
— Vocês acham mesmo que ela sabe de algo?
— Eu tenho certeza que sim — Know confirma. — E também sinto que ele não vai vir.
— Não seja pessimista Minho! — Seungmin o repreende. — Temos que pensar que ele virá. Hyunjin deu muito duro para se tornar o nosso líder e sempre pudemos contar com ele. O nosso amigo não nos decepcionará.
— Eu torço para que ele apareça, Seungmin. De verdade. Mas não podemos viver só de esperanças, temos que ser rápidos, lógicos e estratégicos. Se Hyunjin não joga significa que alguém vai substituí-lo, a maioria do nosso time foi substituído quando os outros se formaram, boa parte deles não tem o treinamento necessário para jogar no campeonato decisivo. Hyunjin não estar aqui não é apenas um jogador a menos, é uma parte do time a menos. Estamos desfalcados.
— Não vamos nos precipitar, ele ainda tem tempo para chegar — Bang diz, alimentando a expectativa do time.
— Então me responde uma coisa Chan: quem é o primeiro aluno a chegar ao colégio todos os dias? — Lee Know questiona.
— Lino, está deixando o nervosismo tomar conta de si outra vez. Relaxa, vai tomar uma água e descansa — Jisung tenta acalmar o amigo.
— Só estou dizendo.
— Eu vou... voltar para as garotas e repassar as últimas coisas para o grande jogo — digo quando percebo o clima fincando pesado. — Vocês vão se sair bem, okay? Fighting¹ (파이팅)!
— Fighting! — eles dizem juntos.
Depois de desejar boa sorte aos garotos, eu volto para o círculo que as meninas formam do outro lado da quadra. Karina, como nossa líder, repassa alguns pontos chaves da nossa performance. Ela parece tensa, fica analisando cada centímetro de distância entre nós com os ombros travados, mas ao final ela abre um belo sorriso, satisfeita com os avanços.
Durante a pausa, eu uso o tempo para hidratar o meu corpo bebendo um pouco d'água. Olho para a esquerda e me deparo com Yeji no telefone, parece ligar para alguém — espero que seja Hyunjin — mas ele não é atendida. Será que estava tentando se comunicar mesmo com Hyunjin?
A Hwang está estranha hoje, é um dia importante e que deveria estar cheio de alegria, mas ela não parece tão contente. Seus olhos estão caídos e não há mais aquele sorriso de ponta a ponta nos seus lábios. Penso em me aproximar dela, mas ela não parece querer falar sobre o assunto. Opto por me manter exatamente no meu lugar e esperar a hora do show.
Sinto o meu coração acelerar quando chegam os últimos cinco minutos de espera. O ginásio já parecia cheio assim que abriram os portões, nós conseguimos escutar o barulho caloroso do público, ainda que estejamos no vestiário feminino. O ginásio já deve estar lotado e nós depositamos nossa energia inteira no que iremos fazer agora. Quando observo Yeji novamente e ela parece mais animada, acho que é a adrenalina.
— Dois minutos. Chegou a hora! — Yoo Jimin anuncia. — Rápido meninas, venham todas aqui.
Nós seguimos o pedido e nos unimos formando um círculo no meio dos bancos do vestiário.
— Nós nos preparamos muito para o dia de hoje e eu estou muito feliz com o progresso enorme que tivemos, recebemos cinco novas adições pouco tempo atrás e todas conseguiram acompanhar o grupo. Eu sou grata pelo esforço de vocês e espero que possamos fazer o nosso melhor hoje. Ah! Eu me sinto como uma mãe realizada! — ela levanta a moral da equipe. — Então nós vamos lá e vamos arrebentar! No três!
Com o astral bem para cima, nós levamos as mãos para o centro, contamos até três e iniciamos o cumprimento da torcida. Cheias de garra e vigor, formamos nossas filas, algumas de nós pegam os pompons e esperamos nossa chamada. Da porta dos fundos, que conecta com o ginásio, conseguimos ver a multidão de gente pela frecha da porta. As câmeras todas perfeitamente posicionadas para ter uma boa visão do jogo, elas estão todas prontas.
Nossa chamada é anunciada e no mesmo instante entramos saltando pelo ginásio, tomamos nossa posição inicial e num instante a apresentação começa. A música animada toca e a plateia nos recebe com gritos. Há
Tuck Jumps, Spread Eagles, Side Hurdlers, Herkie Jumps, Toe toutches, pikes, levantamentos, diversas formações diferentes de pirâmides e no fim a nossa posição final. Eu sacudo os pompons azul com branco bem alto e recebo os calorosos aplausos da paleteia. A nossa função é completada quando o público inteiro fica empolgado, gritando o nome da nossa escola.
Quando saímos da quadra e vamos para o degrau de baixo da arquibancada que foi reservado para nós. Esperamos ansiosas o anúncio dos garotos e, quando ele é feito, nos levantamos para recebê-los de pé. Os garotos entram em quadra e são recebidos com a mesma alegria do público, todos se posicionam ao lado da quadra enquanto o time adversário entra, mas não recebe tanto clamor assim. Essa é a diferença entre jogar em casa e jogar fora.
Eu analiso bem cada integrante do nosso time. Contrariando tudo e todos, Hyunjin não está presente ao jogo, espero que não sejamos afetados por isso, mas é claro que isso não passou despercebido do público, dos comentaristas esportivos que fazem a narração do jogo para a tevê e nem dos repórteres locais. Ele é o capitão, deveria estar aqui por seus companheiros. Karina sempre esteve dando força ao nosso time, até quando torceu o tornozelo no ano passado. Ele deveria estar aqui conosco.
Na quadra, cada um entra enérgico. Alegrando a torcida, lá estão eles: Han Jisung, Kim Seungmin, Lee Minho, Bang Chan, Seo Changbin, Yang Jeongin, Choi Yeonjun, Choi Soobin, Choi Bomgyu, Huening Kai e Kang Taehyun. Com a falta de Hyunjin, houveram algumas mudanças de posições. Chan assumiu como armador, substituindo Hyunjin, o cabeça da equipe; Seungmin continua como pivô; já nos extremos Jisung e Minho continuaram com suas posições, junto da adição de Yeonjun. Foi a estratégia que Chan arrumou para preencher melhor a equipe. Os outros garotos ficarão no banco até uma substituição.
Os dez minutos do primeiro tempo começam e a torcida vai à loucura. O nosso time está saindo-se até que bem, devido as complicações. Quando Jisung pega a bola, ele avança, mas na hora de passar para Minho o time adversário bloqueia, a toma e faz um passe por cima da cabeça, Chan tenta retomar a bola, mas ela é repassada antes que consigam retomar. O outro time faz uma enterrada, deixando o seu time com ainda mais vantagem, um total de seis pontos na frente.
Lá pelo segundo período, o time adversário deixa o nosso ainda mais para trás. O público fica em choque, mas Yeji logo nos alerta para continuamos animando. Nós gritamos e tentamos elevar a energia, mas até nós paramos quando uma falta pro outro time não é cobrada. Minho se estressa, xinga o juíz e é ele quem leva sua primeira falta no dia por comportamento antidesportivo. Nós estamos perdendo em casa. Para sorte e alivio de tensão, o segundo tempo chega ao fim, nos dando quinze minutos de intervalo.
— O que está acontecendo com os meninos hoje? — eu pergunto a Chaeryeong, que está sentada ao meu lado.
— É a primeira na vida que Chan assume sem Hyunjin. Ele fez alguns ajustes no time e eles estão um pouco bagunçados — ela diz.
— Você acha que eles ainda conseguem ganhar? — pergunto duvidosa, mas ainda com esperanças.
— Espero que sim. É importante que vençam. Está vendo aquele cara lá em cima na arquibancada? — a Lee aponta o cara com o olhar. — Ele é um olheiro da faculdade que Chan quer muito entrar, ele deveria estar aqui para ver principalmente Chan e Hyunjin, mas o Hwang perdeu a chance.
— A menos que ele esteja esperando para fazer uma entrada dramática.
— Bem, não me lembro de nenhuma regra que diz que ele não possa jogar, caso faça.
— Chae, me diz uma coisa: qual o prêmio disso tudo? — pergunto ao perceber que ainda não sabia detalhes sobre o prêmio.
— Os alunos ganham visibilidade, alguns olheiros vem assistir os jogos e isso facilita a entrada de alguns à faculdade, é claro. Mas também há uma quantia em dinheiro que é investida em melhorias no departamento esportivo do colégio e uma parte que é usada para um tipo de passeio. Geralmente eles compram carne e vão à praia ou piscina.
— Ah, entendi. E nós somos convidadas a participar?
— Não. Para nós temos os campeonatos de torcida, mas a temporada desse ano já acabou, infelizmente.
— Poxa, que pena — digo, mas me calo quando o jogo está prestes a voltar.
O time está de volta à quadra, mas com duas substituições. Yeonjun e Minho saem, sendo substituídos por Seungmin e Changbin. O tempo vai passando e a situação vai ficando pior para o nosso time, até que no final do terceiro tempo o nosso time consegue se reerguer e fica a um ponto de diferença.
Os dois minutos entre o terceiro e quarto tempo só deixam tudo mais emocionante. O público não para de gritar por um segundo e os nossos garotos parecem mais confiantes, mas ainda há jogo, mais dez minutos que irão decidir tudo.
A tensão se instala quando o último tempo começa. Logo de início há um passe de bola incrível e com uma enterrada de Seungmin o nosso time consegue a liderança. Mas o adversário não deixa por isso e logo acompanha, o jogo segue nesse mata-mata onde um passa o outro a cada instante.
A partida mais acirrada do campeonato, 95x93 para o outro time. 30 segundos para o final, precisamos de uma cesta de três pontos para ganhar e todos no ginásio sabem disso, inclusive o oponente. Jisung assume a bola, dá dois passos e na hora que vai passar a bola para Changbin, um dos jogadores do outro time se atira nele na maior cara de pau e o joga contra o chão. Jisung agarra seu joelho gritando de dor, o juiz aponta falta e Han é levado para enfermaria enquanto o outro é mandado para fora do jogo por cometer sua sabe-se lá qual falta, porque foram muitas ignoradas pelo juiz. Jisung é substituído por Huening Kai. No relógio, quinze segundos.
Os meninos se preparam e esperam que a contagem volte. Os seus rostos e corpos suados exibem a força de vontade, precisam da cesta da vitória. Eu escuto as batidas do meu coração ecoando altas de tão nervosa que me sinto. O timer conta novamente. Kai passa a bola para Changbin, o Seo para o Kim e Seungmin para Chan. Christopher Bang Chan agarra a bola, dá um, dois passos e se aproxima da linha de três. No relógio três segundos, ele lança, o outro time tentar bloquear a jogada, mas ele faz cesta. 95x96, nós ganhamos.
A arquibancada em peso comemora gritando alto e se esbaldando na vitória, até que o time adversário nega a derrota. Odeio maus perdedores.
— Foi injusto! — um grita.
— Ele ultrapassou a linha! Não conta os três pontos! — outro diz, irritado.
O juíz apita, manda todos se calarem e vai para o árbitro de vídeo. O público se cala esperando uma resposta. Quando o vídeo é exibido, infelizmente, vemos que um dos pés de Chan ultrapassou centímetros da linha, sendo assim, a cesta só valeu dois pontos, culminando num empate. Haverá mais jogo.
Não consigo controlar minhas emoções, sinto que vou acabar desmaiando de tanto estresse. Mas respiro quando vejo o time voltar a jogar, quem fizer dois pontos primeiro ganha.
No meio dos acréscimos eu fico tão desnorteada que mal consigo manter minha atenção no jogo. Vejo a plateia gritar a cada vez que alguém do nosso time pega na bola, mas as reações vão para baixo quando, para encerrar o jogo, Yang Jungwon, do time adversário, marca a tão decisiva cesta de dois pontos.
O fim do campeonato cega ao fim, trazendo consigo o tão horrível sabor da derrota. Infelizmente, não podemos vencer 100% do tempo, mas o que importa realmente é não desanimar, não desistir. Os meninos fizeram um bom trabalho como puderam, seus esforços com certeza foram notáveis hoje e eu espero que isso não afete a visão dos olheiros sobre eles. Mas no final das contas, nós perdemos e Hyunjin não apareceu.
Glossário
Fighting¹ (파이팅): Embora no inglês seu sentido literal seja de luta/briga, quando usado no coreano, a expressão "fighting" é empregada para expressar um sinal de boa sorte.
Outras variações são:
Hwaiting (화이팅) e Aja Aja Hwaiting (아자 아자 화이팅).
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