
ᥫ᭡ 006
HWANG HYUNJIN ESTÁ ME DANDO nos nervos. Como ele teve a audácia de dizer aquelas coisas? Quem ele pensa que eu sou? Ou melhor, quem ele pensa que é? Não entendo como pude estar tão cega por todo esse tempo, perdidamente apaixonada por alguém assim.
A raiva que sinto dele faz com que eu não queira o ver mais, nunca mais. Todavia ainda preciso tiar uma nota boa, o que implica em me humilhar indo à casa dele. Faltam poucos minutos até que essa tragédia aconteça, estou em casa apenas enrolando. Não quero ir. É tarde demais para cancelar.
Felix já está pronto e me ligando, meu irmão sempre impaciente. Eu não quero sair do quarto, mas preciso. Yongbok já bateu na minha porta umas duas vezes para saber se eu não havia desmaiado. Antes tivesse, assim possuiria uma desculpa adequada para faltar à esse trabalho ridículo.
EU ODEIO ELE
EU ODEIO!!!!
Boa tarde, vida.
Ele quem?
Só pra me situar.
O maldito.
Minha ex-paixão.
Por que? Ainda
sobre ele estar
namorando?
S-U-P-E-R-A!
Não, eu estava
brincando sobre
aquilo.
Eu o odeio pela
maneira como
ele me tratou
esses dias.
Quer que eu vá
aí quebrar a cara
dele?
Não.
O infeliz é lindo
de mais para ter o
rosto danificado.
E o que ele fez?
Houve um mal
entendido, mas ele
nem deixou eu me
explicar.
O idiota me tratou
super mal, disse
coisas horríveis. E
ainda, o que eu já
sabia, que ele não
gosta de mim, nem
um pouco.
Sinto-me péssima,
Wangja. Talvez eu
deva ir até você, ou
me perder entre os
nossos reinos.
Pode ser que eu
ainda sirva para
algum calabouço.
Ele é um babaca. E
seja lá quais forem
as coisas que ele
disse sobre você,
ele está totalmente
enganado.
Você acha?
É claro que sim.
Não se deixe abalar
com isso, existem
pessoas como ele a
torto e a direito,
pessoas que julgam
antes de saber.
Você é incrível, tem
que saber disso.
Ah, o que eu faria
sem você?
Estaria perdida sem
mim.
JiJi, eu preciso ir
agora, a gente se
fala mais tarde?
Claro, tenho que ir
também.
Vou ver ele, te
explico quando
voltar.
Sabe, são em
momentos como os
de hoje que me fazem
querer te conhecer
fora daqui.
Assim, quem sabe,
você poderia pular
a minha janela e
conversar comigo a
qualquer hora.
Eu saí do aplicativo como de costume e guardei o celular na minha bolsa, tomando coragem para sair dos meus aposentos. Antes, dou uma última olhada no espelho e faço um sinal de força com as mãos.
— Eu consigo!— penso alto.
Respiro fundo, engulo meu orgulho e vou até a sala de estar. O único quê vejo é Felix, de pé, com o celular numa mão e um cookie com gotas de chocolate na outra. Me pergunto como ele ainda consegue comer. Faz pouco tempo desde que almoçamos, fomos dormir tarde ontem, mas ele ainda tem fome. Que belo saco sem fundo. Acho que vou ter que me acostumar se, quando eu vier morar com eles, não encontrar nada para comer já que ele acaba com tudo.
Quando mamãe veio nos deixar ontem acabou ficando para o jantar também. Sumin fez massa ao molho branco e papai fez piada com a intolerância à lactose da minha mãe, eu só consegui me lembrar da história sobre conhecer os meus avós. Meus pais conversaram bastante na noite anterior. Levará cerca de uma semana até a casa ficar totalmente pronta, então os dois chegaram ao consenso de que eu irei morar com o meu pai em duas semanas, já que a primeira semana de mudança já vai ser difícil para eles e que é o tempo que mamãe e eu vamos nos despedindo lá em casa.
Quando contei a minha mãe da ideia ela levou super numa boa, com indiferença. Mas agora está agindo como se eu fosse para o outro lado do país, ou até para fora dele. Confesso que gosto disso, faz eu me sentir importante. A parte boa de saber que você fará falta, é ter a certeza de que você foi, de algum modo, importante para aquela pessoa.
— Eu já estava quase indo até você novamente — Felix diz ao guardar seu celular.
— Eu cheguei, nós podemos ir — falo completamente sem ânimo.
— Você parece pouco animada, achei que estaria pulando de alergia para ir à casa de Hyunjin — ele cita o dito-cujo e eu instantaneamente reviro os olhos. — Só aceitei esse trabalho por sua causa.
— Primeiro: ele namora — começo a exibir os fatos. — Segundo: eu não quero mais ouvir o nome Hwang Hyunjin! — digo. Felix e eu não conversamos ainda desde o que aconteceu na escola, cheguei exausta ontem e hoje não me senti nem um pouco afim de conversar.
— O que aconteceu? — ele pergunta, é evidente sua surpresa. — Bem que eu te achei estranha. Digo, mais estranha que o habitual. Você não dormiu no meu quarto ontem, nem mesmo uma babada no meu travesseiro.
— A gente pode ir conversando no caminho? — pergunto, já estamos atrasados. — Você pede um carro?
— Já estou fazendo isso.
Assim que entramos no carro que ele pediu por aplicativo, Lix já foi logo perguntando o que aconteceu, todo preocupado e sedento por uma boa fofoca. Ele sempre foi muito protetor comigo, mas nunca foi do tipo que não quer que ninguém nem olhe para mim. Pelo contrário, ele é o tipo de irmão que quer que todos me vejam e aplaudam de pé, que enfrentaria qualquer um por mim. Ele é o meu melhor amigo, ser irmão foi apenas uma consequência do relacionamento dos nossos pais. Nós dois nos respeitamos e nos gostamos como melhores amigos, o que é melhor que irmão e irmã, diga-se de passagem.
— Você acredita que ele me parou para dizer que não gosta nem um pouco de mim e que eu tenho que me afastar de Chris? Pois, segundo ele, eu não sou uma boa companhia para o melhor amigo dele.
— Eu sabia que não deveria ter deixado vocês dois sozinhos! — ele fala já perdendo a paciência. — Quem ele pensa que é 'pra falar com você assim?
— Ele é um babaca! — digo, mas falar assim com ele ainda me causa estranheza. Sinto um amargo na garganta, ainda assim continuo: — Eu não ligo mais 'pra nada que saia da boca dele, é sério. Vamos só ignorar que isso aconteceu, não precisaremos manter contato depois que o trabalho acabar.
— Nós vamos deixar isso assim? Ele precisa ouvir umas verdades, Jiyoon — seu sangue já está subindo para a cabeça, sua Zona T já toda avermelhada. — Ficar calada só vai fazer ele achar que tem razão.
— Eu não fiquei calada. Eu já falei algumas coisas para ele, talvez algumas bobagens também. Mas não importa, não quero reviver esse assunto. Hyunjin é como um cãozinho de rua, só quer atenção. E esta é a última coisa que ele vai receber de mim.
— Eu achava que ele era uma pessoa agradável até ouvir isso — Felix nega com a cabeça. — Como as pessoas enganam.
— Eu sei bem — me lamento. — Era eu quem, até ontem, estava perdidamente apaixonada por ele.
— E o que você sentia, sumiu? — ele pergunta. A curiosidade surge como um brilho no seu olhar. Se um dia alguém me perguntasse quem é a alma gêmea do meu irmão, eu não responderia alguém e sim algo; fofoca.
— Ainda tem um pouco desse sentimento aqui, sei disso porquê essa parte de mim ainda dói. Mas a outra parte, a maior parte, ela o detesta, o abomina e sente raiva por ele.
— Se eu já me sinto furioso, imagino como você deve estar se sentindo.
— Nem queira saber, Felix — suspiro em frustração. — Você promete que não vai tocar no assunto e que vamos fazer esse trabalho de boa? Chan não tem nada a ver com o comportamento estúpido do amigo, não quero o constranger.
— Se você prefere que seja assim, então estou de acordo — ele se dá por vencido.
Fomos o resto do caminho em silêncio, estava demorando um tempo para nós dois digerirmos toda essa história entre o Hwang e eu. Tudo não passou de um mal entendido, mas se ele soubesse desse detalhe, teria sido diferente? Acho que não. Antes que eu me defendesse com alguma resposta ele me cortou, interrompeu-me para dizer que não se importa, que eu posso continuar o odiando já que também não gosta de mim. Se ele já não gostava de mim antes, eu o odiar ou não, não faria diferença alguma.
Eu queria poder voltar no tempo, para aquele dia em que fiquei na escola até tarde. Eu preferia ter ido na chuva e não aceitado o maldito do guarda-chuva dele, ou ter o enfiando onde ele não alcança quando tive a chance.
Por que me deu aquilo? Não entendo. Você já me detestava naquela época?
Eu comecei a escrever por Hyunjin, eu me apaixonei pela primeira vez por ele, eu sorri quando queria chorar, porquê vê-lo, ainda que de longe, me dava forças. Perco a conta dos dias em que fui até a escola contente para o ver. Até escrevi bobagens de amor sobre ele nos meus livros. Mas no fim, o mesmo Hyunjin que me deu o guarda-chuva ao qual guardo até hoje, foi o que me destruiu com aquelas palavras rudes.
Ontem a noite fiquei pensando nas palavras que ele me disse, parei o tempo questionando-me se ele se arrependeu pela forma como me tratou. Questionei-me a mais se também estava sem conseguir dormir, com aquela cena martelando na cabeça. A resposta, evidentemente, era um não bem grande e óbvio que eu enxergava até com os olhos fechados.
Quando bato na porta dele, sinto meu estômago se revirar e quero vomitar por um segundo. É pânico. Ele me olha com aqueles olhos cruéis, mantém-se sério, mas já não me observa com o mesmo desprezo de ontem. O que, ainda assim, não quer dizer que não me odeie.
Chan é o único que me cumprimenta adequadamente ao chegar naquela casa grande, o anfitrião apenas deu passagem para que eu entrasse, não se dispôs a dizer uma palavra sequer.
— Que bom que chegaram, estávamos falando sobre vocês agora mesmo — diz o Bang.
— Sobre nós? — pergunto. Será que devo acrescentar mais um nome à lista de pessoas que me odeiam?
— Coisas boas, não se preocupe — ele sorri, doce como o algodão-doce fofinho.
Se foram mesmo coisas boas, acho que Hyunjin não participou dessa conversa. Ou o seu discurso de ontem não passava de uma hipocrisia. Você mente. Disse na minha cara que me odeia, mas agora mesmo estava falando bem de mim com o melhor amigo. Honestamente, parece que está arrumando uma maneira para me atingir.
Nós nos acomodamos na sala. Estava tão nervosa e pensativa que não reparei nada sobre a casa, bairro ou vizinhança. A sala onde estamos é bonita, tem um conceito aberto e bem aerado. Pela personalidade de Hyunjin, achei que ele pudesse ter sido criado em cativeiro.
Eu me sento no sofá. Hyunjin também, mas na outra ponta. Já Chris, pede ajuda de Felix com o material do trabalho que ficara no quarto do amigo. Hwang Hyunjin é tão folgado que nem ajudou Bang Chan a pegar as coisas para o trabalho, nós estamos na casa dele e ele não levanta nem para ir no seu próprio quarto.
— Gostou da casa? — ele pergunta. O tom de voz dele não me agrada nem um pouco, a ignorância camuflada de educação é péssima. — Vejo que você ainda está de papo com o meu amigo — e aí está, o verdadeiro ele.
— Vejo que você não foi criado em cativeiro — as palavras apenas saem da minha boca.
Ele dá um riso nasalado.
— Você esperava encontrar algo do tipo aqui? — Hyunjin questiona, julgando-me com o olhar. O que ele pensa? Que eu teria algum fetiche esquisito nisso?
— Não sei, eu não ficaria surpresa se encontrasse algumas correntes por aqui.
— Elas ficam no meu quarto — ele sorri, eu odeio quando ele sorri assim. Ele pensa que eu sou sadomasoquista, assim falando sobre correntes?
— Que bom, assim elas ficam mais perto para você conseguir se enforcar — eu me praguejo por dizer algo de tal nível. Me sinto culpada, por pior que ele seja comigo, não devo dizer coisas assim.
Hyunjin estava pronto para retrucar com algo que suponho ser até pior do que o quê eu disse, mas quando os outros dois chegaram, ele deixa para lá. O que quer que seja, saindo da boca de Hyunjin não pode ser aproveitado, então que bom que se calou. Os meninos voltam e Chan senta-se ao meu lado, mas Felix ao lado de Hyunjin não parece uma boa ideia.
— Então, como vamos dividir as partes? — Chan questiona.
— Nós somos quatro, cada um tem que ficar com uma parte. Eu dei uma olhada em alguns conteúdos, fiz algumas análises e pensei que poderíamos dividir em: 1. A Coreia no século XX, quando ouve a ocupação japonesa; 2. O início da guerra; 3. As fases da guerra e 4. Como ficaram a Coreia sul e a Coreia do norte nos dias de hoje — sugiro. Penso que posso ter me precipitado então recuo.
— Parece bom para mim — Bang concorda.
— Eu fico com o segundo tópico — Hwang disse apenas isso, o que podemos entender como ele concordando com a minha ideia e fazendo o que eu mando.
— Chan, seria bom se você ficasse com o primeiro — digo. — Você é bom falando com as pessoa e como é a introdução do trabalho, acho que você se encaixa bem para prender a atenção.
— Você é quem manda! — ele fala.
— E quando nos elegemos Jiyoon à líder? — Hyunjin pergunta com implicância. Estava demorando.
— Qual parte sobrou para mim? — Felix adiantou-se em perguntar, antes que o dono da casa abrisse a boca outra vez para dizer alguma besteira.
— Você quer o terceiro tópico? — pergunto. — O último já segue junto com a conclusão e você sempre diz que não gosta dessas partes.
— O terceiro parece bom.
Nós começamos a fazer o trabalho. Eu começo a minha parte fazendo uma boa pesquisa, procuro por notícias, reportagens e fatos em geral sobre os últimos anos. Porque embora muitos pensem que tudo foi resolvido, não foi. Houve um cessar fogo, mas a situação ainda é tensa entre os dois países.
Eu anoto as informações que encontro e faço tópicos no caderno de Chan, que ele me emprestou. Nós dois descemos para o chão, na verdade apenas Hyunjin está no sofá. Enquanto Chan e eu usamos o caderno para anotar algumas coisas e ir copiando o nosso discurso, Felix está criando uma apresentação de slides.
— Você tem uma letra bonita, Jiyoon — Chan me elogia. — Seria de se admirar se algo feio surgisse de você.
Eu sorri meio sem graça. Como eles podem ser amigos se são tão, TÃO diferentes? Se bem que Hyunjin parecia ser outra pessoa quando o conheci. Tenho que tomar cuidado, posso me enganar com Chan também.
— Vocês acham que vai dar tempo terminar tudo hoje? — Bang pergunta. — Acho que a gente deveria fazer um grupo no Kakao, assim a gente pode ir resolvendo algumas coisas de casa também.
— Acho que pode ser útil — falo.
— Vou criar o grupo — Chan se dispôs. — Aqui, Jiyoon, salva o seu contato que eu te adiciono — ele me entregou o celular dele, o devolvo assim que adiciono meu número. Em seguida, Chan passa o celular para Felix e pouco tempo depois o grupo foi criado.
— Quando eu terminar a minha parte do slide eu compartilho no grupo e deixo aberto para vocês editarem como preferirem — Felix fala.
— Terminei a minha parte — Hyunjin anuncia. — Eu vou tomar um banho, sintam-se em casa — ele diz relaxado antes de sair.
Honestamente, agora que não estou cega, acho Hyunjin bem mal educado. Ele pouco falou conosco hoje e além disso foi tomar um banho e nos deixou aqui sozinhos. Não rolou nem um "já que acabei, vocês precisam de ajuda?". Não é que eu fosse aceitar ajuda dele, mas talvez Chris ou Lix precisassem.
— Jiyoon, posso te fazer uma pergunta? — Chan pergunta, agora seriam duas.
— Contanto que não seja sobre física, pode.
— Não, não — ele abana as mãos na frente do corpo em sinal de negação. — É que... você e o Hyunjin... já aconteceu algo entre vocês dois?
— Tudo e nada — respondo. — Tudo de ruim e nada de bom.
— Eu percebi que tem uma certa tensão entre vocês. Pensei que vocês dois pudessem ter um passado, ou algo assim.
— Acredite em mim, Hyunjin e eu não temos passado, presente ou futuro juntos! — eu digo.
— Ah, que bom então.
— Bom? — pergunto, não estou entendendo como nós dois vivermos em pé de guerra é algo "bom".
— Sim, assim tem menos concorrência — ele responde com um sorriso sorrateiro.
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