52 | Career Advice
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52. Orientação Vocacional
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Posso lhe oferecer uma pastilha para tosse, Dolores?
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O dia seguinte acabou sendo monótono como sempre. Não havia nada que eu pudesse fazer, não tinha como eu simplesmente começar a investigar Tracey Davis sem ter meus poderes de volta, e ainda mais sozinha. Precisava de Arc, Mia e Cedric. Precisava deles. Não podia contar a Rony, Harry ou Hermione sobre minhas desconfianças a respeito de Sol Lestrange, definitivamente não.
— Mas por que você não tem mais aulas de Oclumência? — Perguntou Hermione a Harry enrugando a testa
Era fato que esse era um ponto bem estranho e intrigante, embora Harry não quisesse nos explicar direito o que aconteceu além de dizer que não teria mais aulas.
— Eu já falei. — Resmungou ele, o que me parecia fortemente mentira — Snape acha que posso continuar sozinho, agora que já aprendi o básico.
— Quer dizer que você parou de ter sonhos esquisitos? — Perguntou Hermione, incrédula
— Quase. — Respondeu Harry, sem olhar para ela
— Bom, acho que Snape não devia parar até você ter certeza absoluta de que é capaz de controlá-los! — Disse Hermione, indignada — Harry, acho que você devia voltar lá e pedir…
— Não. — Disse Harry enfaticamente — Esquece, Hermione, o.k.?
Era o primeiro dia dos feriados de Páscoa e Hermione, como era seu hábito, passara uma grande parte do dia preparando horários de revisão para nós quatro. Eu, Rony e Harry a deixamos preparar; era mais fácil do que discutir com ela e, em todo o caso, poderiam acabar sendo úteis. Rony se assustara ao descobrir que só faltavam seis semanas para os exames.
— Como isso pode ser surpresa para você? — Perguntou Hermione enquanto coloria cada quadradinho do horário de Rony com um toque de varinha de acordo com a disciplina
— Não sei. — Comentou Rony — Tem acontecido muita coisa.
— Nem me fala. — Resmunguei
— Bom, terminei. — Disse Hermione entregando o horário do meu irmão — Se seguir o que está aí vai se dar bem.
Rony examinou o pergaminho deprimido, mas logo se animou.
— Você me deu uma noite de folga por semana!
— Uh… para mim também. — Observei meu próprio horário e abri um sorriso
— Para o treino de quadribol.
O sorriso desapareceu do rosto do meu irmão.
— De que adianta? — Disse desanimado — A nossa chance de ganhar a Copa de Quadribol este ano é a mesma de papai virar ministro da Magia.
Hermione não respondeu, observava Harry, e eu também virei para vê-lo, o garoto fixava imóvel a parede oposta da sala comunal enquanto Bichento dava patadinhas em sua mão pedindo para o garoto lhe coçar as orelhas.
— Harry? Que foi?
— Quê? — Disse depressa — Nada.
Ele apanhou seu exemplar de Teoria da defesa em magia e começou a procurar alguma coisa no índice. Bichento considerou-o um mau negócio, e foi se esconder embaixo da poltrona de Hermione.
— Vi Cho hoje cedo. — Disse Hermione sondando — Parecia muito infeliz, também... vocês brigaram outra vez?
— Qu... ah, foi, brigamos. — Disse Harry, agarrando a desculpa, agradecido
— Por quê?
— Aquela dedo-duro amiga dela, a Marieta.
— É, bom, eu faria o mesmo! — Disse Rony zangado, baixando o horário de revisões e eu assenti em concordância — Se não fosse ela…
— Eu sabia… sabia que ela não cheirava bem…
Eu e Rony saímos desfiando reclamações sobre Marieta Edgecombe, enquanto Harry apenas amarrara a cara e confirmava com a cabeça, dizendo: “É” e “Certo”, sempre que eu ou meu irmão parávamos para tomar fôlego.
O tempo se tornou mais ventoso, claro e quente com a passagem das férias da Páscoa, mas eu e os demais alunos do quinto e do sétimo ano estávamos prisioneiros, revisando as matérias, indo e voltando da biblioteca. Eu fingia que meu mau humor não tinha outra causa senão a proximidade dos exames, e, como meus colegas da Gryffindor também estavam fartos de estudar, minha desculpa não era questionada. Lee parecia tão ocupado quanto eu, se dedicando tanto em estudar que dava orgulho, mas eu continuava preocupada com os curtos de poder e com Tracey transitando de felicidade pela escola.
— Rox, eu tô falando com você, está me ouvindo?
— Hum?
Eu olhei. Lav Brown tinha se juntado a mim na mesa da biblioteca em que me encontrava sozinha. Era domingo, tarde da noite, Hermione voltara à Torre da Gryffindor para revisar Runas Antigas, e Rony tinha ido se deitar junto com Harry, eu disse que iria assim que terminasse o livro que lia, engano, pois não conseguia entender nada do que estava escrito.
— Ah, oi. — Falei puxando os livros para perto — Ainda acordada?
— Claro, estou preocupada com a senhorita. — Disse ela autoritária — Você está péssima, acho que já estudou demais. Não acha melhor se deitar um pouco? Comer alguma coisinha, quer que eu vá na cozinha pegar algo?
— Lav, eu estou bem... — Suspirei coçando a cabeça atordoada, imaginando que meus olhos deviam está inchados, mas então lembrei de algo... Lavender é minha melhor amiga, mas também é bem próxima dos alunos da Slytherin, ela pode me ajudar — La…
— Quando você vai resolver me contar, hem? — Ela perguntou de repente
Eu arregalei os olhos.
— Contar o que?
— Que você é uma Médiumaga. — Falou com naturalidade
— Ah isso, é… VOCÊ SABE?!
— Hey — Disse com urgência —, fala baixo.
Me remexi na cadeira lembrando-me que ainda estávamos na biblioteca, mas continuei olhando intrigada para a loira.
— Sim, eu sei. — Revelou com naturalidade — Estou esperando você me contar, achei que éramos melhores amigas.
— Ma… mas.
— Sou Legilimente. — Explicou me deixando mais boquiaberta ainda — Percebi no começo do ano que tinha algo estranho com você, notei logo, antes que você dominasse a Oclumência. Percebi o que você estava passando, o que você é, queria te ajudar com isso… mas, queria que você me contasse primeiro, porém, você não contou, mesmo eu sabendo que você precisa de ajuda.
— Eu não sabia se você entenderia. — Suspirei tristemente — Desculpa mesmo, deveria ter te contado logo, você é minha melhor amiga afinal. Mas … espera, você também nunca me contou que é Legilimente, Lavender Brown!
— Ah, já faz muito tempo isso. — E sorriu nervosa passando as mãos pela cabeleira que pareceu dourada à luz do archote — Mas, desculpa. Bom, somos melhores amigas, não é? Não deveria haver mentiras. — E estendeu o dedo midinho pra mim — De hoje em diante, sem mentiras e sempre vamos contar tudo a outra e pedir ajuda quando precisarmos. Que tal?
Eu sorri e estendi meu dedo midinho também, de modo que fizemos o juramento do dedinho, depois sorrimos bobas.
— Ah… você pode me ajudar em uma coisa então? — Pedi meio desesperada, mas sendo precisa
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Como se quisessem enfatizar a importância dos exames, agora próximos, um pacote de panfletos, folhetos e avisos, abordando as várias carreiras para bruxos, apareceu nas mesas da Torre da Gryffindor pouco antes do término das férias, ao mesmo tempo que um aviso no quadro dizia o seguinte:
ORIENTAÇÃO VOCACIONAL
Todos os quintanistas deverão ter uma breve reunião com a diretora de sua Casa durante a primeira semana do trimestre de verão para discutir suas futuras carreiras. Os horários das consultas individuais estão listados abaixo.
Corri os olhos pela lista e descobri que era esperada na sala da Profa. McGonagall às duas e meia da tarde de segunda-feira, o que significaria perder a maior parte da aula de Adivinhação. Eu e outros quintanistas passamos uma boa parte do último fim de semana das férias de Páscoa lendo todas as informações sobre carreiras que haviam sido deixadas em nossa Casa.
— Bom, não estou interessado em ser Curandeiro. — Declarou Rony na última noite das férias. Lia concentrado um folheto que tinha na capa um osso e uma varinha cruzados, o emblema do St. Mungus — Diz aqui que preciso no mínimo de um “E” nos N.O.M.s de Poções, Herbologia, Transfiguração, Feitiços e Defesa Contra as Artes das Trevas. Quero dizer... caracas... não estão querendo nada, não é?
— Falou como se você fosse se dar bem de Curandeiro, hem. — Caçooei rindo, enquanto despreocupada e deitada na poltrona brincava com Marshall — Ai, Rony! Seu babaca! — Acrescentei, pois, ele acabara de meter o folheto na minha cabeça
— Bom, Curandeiro é uma profissão de muita responsabilidade, não acham? — Falou Hermione, distraída. Ela examinava atentamente um folheto rosa e laranja intitulado: “ENTÃO VOCÊ ACHA QUE GOSTARIA DE TRABALHAR EM RELAÇÕES COM OS TROUXAS?” — Parece que não é preciso muita qualificação para fazer a ligação com trouxas; só pedem um N.O.M. em Estudos dos Trouxas: Muito mais importante é o seu entusiasmo, paciência e um bom-senso de humor!
Pensei em dizer um “Desiste, Hermione, no quesito paciência você perde”, mas me contive, com medo de levar outra planfetada, então ri em pensamento.
— Você precisaria muito mais do que um bom-senso de humor para fazer a ligação com o meu tio. — Comentou Harry sombriamente — Bom-senso para saber a hora de se proteger, o que é mais provável. — Ele estava lendo um panfleto sobre o sistema bancário bruxo — Escutem só isso: Você está procurando uma carreira estimulante que oferece viagens, aventuras e substanciais abonos do tesouro para compensar os riscos? Então pense em trabalhar para o Banco Bruxo Gringotes, que no momento está recrutando desfazedores de feitiços para emocionantes cargos no exterior... Mas exigem Aritmancia: você poderia se candidatar, Hermione!
— Não gosto muito de bancos. —Respondeu ela vagamente, agora absorta na leitura de: “VOCÊ TEM AS QUALIDADES NECESSÁRIAS PARA TREINAR TRASGOS DE SEGURANÇA?”
— Por que você não está lendo nenhum planfeto, hem? — Perguntou a voz de Lavender, segurando um panfleto bege sobre o Profeta Diário. A mesma estava sentada em uma poltrona não muito longe de nós, Parvati do outro lado dela e Amélia um pouco mais próxima
— Talvez nenhuma dessas profissões me interesse. — Expliquei desanimada, olhando sem animação para o monte de papéis
— Hey — Chamou uma voz baixa, próximo a Harry. Curiosa, eu também me virei: Fred e George tinham vindo se reunir a nós
— Ginny nos deu uma palavrinha sobre você — Disse Fred, esticando as pernas na mesa em frente e fazendo vários livretos sobre carreiras no Ministério da Magia escorregarem para o chão — Ela diz que você precisa falar com Sirius?
— Hum? — Fez Vega que estivera sentada perto de nós, e mais que depressa sentou-se no braço da poltrona de Hermione para ficar mais próxima e olhou para os demais sem esconder o interesse
— Exatamente. Quê? — Disse Hermione na hora, parando no ar a mão que estendia para apanhar “ESTOURE NO DEPARTAMENTO DE ACIDENTES E CATÁSTROFES MÁGICAS”.
— É... — Disse Harry tentando parecer displicente — É, achei que gostaria…
— Não seja ridículo. — Diisse Hermione se levantando e encarando-o como se não conseguisse acreditar no que ouvia — Com a Umbridge metendo a mão nas lareiras e revistando as corujas?
— Bom, achamos que podemos contornar isso. — Disse George, se espreguiçando sorridente — Basta simplesmente promover uma distração. Ora, você talvez tenha notado que andamos muito quietos no front do caos nas férias de Páscoa?
— De que adiantava, nós nos perguntamos, estragar a temporada de lazer? — Continuou Fred — De nada, respondemos. E, naturalmente, estaríamos também atrapalhando as revisões dos colegas, o que seria a última coisa que íamos querer fazer.
Fred sacudiu a cabeça fazendo cara de santo para Hermione. Ela ficou bastante surpresa com a sua consideração e eu ri da cara dos meus irmãos.
— Mas amanhã recomeçamos a vida normal. — Continuou Fred animado — E se vamos causar um certo tumulto, por que não fazer isso de modo que Harry possa bater um papo com o Sirius?
— Não importa o que vão fazer, nem como, mas eu vou com o Harry! — Vega tratou de dizer sem deixar espaço para intervenções
— Sei, mas ainda assim. — Falou Hermione, com ar de quem explica uma coisa muito simples a alguém muito obtuso — Mesmo que vocês promovam uma distração, como é que Harry, ok... e a Vega, vão falar com ele?
— Na sala da Umbridge. — Disse Harry baixinho
— Harry, meu bem, você... enlouqueceu?! — Perguntei num sussurro preocupado
Rony baixara o folheto sobre carreiras no Comércio de Fungos Cultivados, e observava a conversa desconfiado.
— Acho que não. — Respondeu Harry sacudindo os ombros
— E como é que vocês vão chegar lá, para começar?
Harry parecia preparado para a pergunta.
— O canivete de Sirius.
— Como?
— No Natal do ano retrasado Sirius me deu um canivete que abre qualquer fechadura. — Explicou Harry — Então, mesmo que a Umbridge tenha enfeitiçado a porta com um Alohomora, o que aposto que fez, não vai adiantar…
— Boa! — Fez Vega animada — Esse é meu pai, sempre sabe os melhores presentes.
— Que é que vocês acham? — Perguntou Hermione olhando de mim a Rony
— Não sei. — Disse Rony, assustado que alguém lhe pedisse para dar uma opinião — Se é o que Harry quer fazer, ele é quem decide, não é?
— Eles sabem o que fazem. — Comentei despreocupadamente
— Vocês falaram como verdadeiros amigos e dois autênticos Weasley. — Disse Fred, dando um forte tapa nas costas de Rony e bagunçando meu cabelo — Certo, então. Estamos pensando em fazer isso amanhã, logo depois das aulas, porque causará maior impacto se todos estiverem nos corredores; Harry, Vega, vamos começar em algum ponto da ala leste para tirar a Umbridge imediatamente da sala; imagino que poderemos lhe garantir, o quê, uns vinte minutos? — Perguntou olhando para George
— Fácil.
— Não deveriam fazer isso, a Umbridge pode pegar vocês. Não se importam mesmo em serem pegos? — Perguntou uma voz hesitante, parecia triste. Olhei e vi que Amélia, de repente, estava aqui na nossa frente, um folheto do Ministério da Magia jazia na sua mão
— Está escutando alguma coisa, George? Só ouço ruídos, será um besouro? — Fez Fred, olhando para o lado e balançando a mão como se estivesse tentando matar um mosquito
George, porém, fixou seus olhos em Amélia, parecendo irritado e ressentido. Ela pareceu amedrontada ou triste com a frieza que ele a olhava.
— E desde quando você se importa com alguém além de você mesma!?
Vi o rosto dela se contorcer, seus olhos perderem ainda mais o brilho. Ela abriu a boca pra falar, mas acabou desistindo no meio do ato, parecia prestes a chorar, apenas se levantou e saiu na direção do dormitório das meninas, se segurando para não correr, mas tenho certeza que assim que atingiu as escadas e mais ninguém podia a ver, foi isso que ela fez. Me senti mal, eu sabia o que ela estava passando, George não… comecei então a pensar qual seria a reação dele quando souber da verdade, quando soubesse o real motivo dela ter terminado, quando tivesse noção do destino que a garota que ele tanto ama carrega.
— Bom, é… — Fez Rony tentando mudar o assunto e quebrar o clima estranho — Que tipo de distração vai ser?
— Você verá, maninho. — Disse Fred enquanto se levantava com George — Ou pelo menos verá se estiver andando pelo corredor do Gregório o Lambe-botas amanhã por volta das cinco da tarde.
Acordei mais cedo que o normal no dia seguinte, não conseguia ficar bem com aqueles mil e um pensamentos e infelizmente Lavender ainda não coletara as informações sobre Tracey Davis que eu havia pedido.
Depois de continuar na cama por um tempinho, pensando no dia que me esperava, me levantei sem fazer barulho, fui até a janela ao lado da cama de Parvati e contemplei a manhã realmente gloriosa. O céu estava azul-claro, enevoado, opalescente. Uma coisa chamou a minha atenção: um movimento na orla da Floresta Proibida. Apertei os olhos contra a claridade do sol e vi Hagrid saindo de entre as árvores. Parecia mancar. Enquanto eu observava, ele cambaleou até a porta da cabana e desapareceu em seu interior. Continuei a observar a cabana durante vários minutos. Hagrid não reapareceu, mas saiu uma espiral de fumaça de sua chaminé, o que indicava que não poderia estar tão machucado que não fosse capaz de acender o fogão.
Me afastei da janela, voltei para o meu malão e comecei a se vestir. Esperava que no fundo o dia fosse tranquilo, mas não levara em conta as quase contínuas tentativas de Hermione de dissuadir Harry do que pretendia fazer às cinco horas. Pela primeira vez na vida, ela estava, no mínimo, tão desatenta ao que o Prof. Binns dizia em História da Magia quanto eu, Eu, Ron e Harry, não parando de cochichar recomendações que ele fez grande esforço para ignorar.
— ... e se ela apanhar você lá dentro, além de expulsá-lo, poderá concluir que você andou falando com Snuffles, e, desta vez, imagino que o forçará a beber a Poção da Verdade e a responder às perguntas dela…
— Hermione. — Disse Rony em voz baixa e indignada — Você vai parar de brigar com o Harry e escutar o que o Binns diz ou vou ter de fazer minhas próprias anotações?
— Faça você as anotações para variar, não vai morrer por isso!
— Não seja má, Hermione. — Supliquei, mas ela apenas se mostrou emburrada; virei-me para frente e chamei a loira sentada próximo — Depois você me empresta suas anotações, não é?
— Claro. — Lavender sorriu
— Ôu, pra mim também, né Lavender? — Pediu Rony, ligeiramente atrapalhado
As bochechas de Lav ficaram vermelhas, mas ela sorriu e confirmou.
Na altura em que chegamos às masmorras, nem eu, nem Rony e nem Harry estávamos falando com Hermione. Sem se importar, ela se aproveitou do nosso silêncio para manter um fluxo ininterrupto de sérios alertas, falando em voz baixa e sibilando com veemência, o que levou Seamus a perder cinco minutos inteiros procurando furos em seu caldeirão.
Entrementes, Snape parecia resolvido a agir como se Harry fosse invisível. Isso pareceu ajudá-lo a se concentrar em fazer sua poção. Eu tentei me dedicar cem por cento, era um pouco difícil preparar uma Poção Revigorante, mas imaginei que a minha estivesse boa. No fim da aula, recolhi um pouco da poção em um frasco, arrolhei-o e o levei à mesa de Snape para nota, sentindo que talvez eu tirasse finalmente um “E”.
Acabara de me sentar novamente na mesa, quando ouvi o barulho de alguma coisa quebrando. Draco deu um grito de alegria. Harry tinha acabado de se virar, depois de colocar sua poção na mesa de Snape. A amostra de sua poção estava em pedaços no chão e Snape o observava com uma expressão de triunfante satisfação.
— Upa. — Disse suavemente — Mais um zero, então, Potter.
Harry parecia indignado demais para falar. Voltou ao seu caldeirão, com certeza, com a intenção de encher outro frasco e forçar Snape a lhe dar nota, mas, para seu horror, a sobra desaparecera.
— Sinto muito! — Disse Hermione, levando as mãos à boca — Sinto muito mesmo, Harry. Pensei que você tivesse terminado, então limpei o caldeirão.
Harry não respondeu. Quando a sineta tocou, saiu correndo da masmorra, sem olhar para trás, e fez questão de arranjar um lugar entre Neville e Seamus para almoçar, para evitar que Hermione recomeçasse a atormentá-lo por causa do uso da sala da Umbridge. Eu me sentei com Rony, mas próximo a Lavender.
O mau humor de Harry era tanto, e eu estava com a mente tão longe, que quando cheguei à Adivinhação, acabei até esquecendo da orientação vocacional com a Profa. McGonagall, só lembrando quando Rony me perguntou por que não estava na sala dela.
Tornei a subir desabalada, e cheguei sem fôlego alguns minutos depois.
— Desculpe, professora. — Arquejei fechando a porta — Desculpa, mesmo. Acabei esquecendo.
— Não tem importância, Weasley. — Mas, quando falou, alguém fungou a um canto
Eu olhei.
A Profa. Umbridge se achava sentada ali, com a prancheta sobre os joelhos, um babadinho exagerado em torno do pescoço e um sorrisinho medonho no rosto.
— Sente-se, Weasley. — Diisse a Profa. McGonagall secamente. Suas mãos tremiam um pouco enquanto rearrumava os muitos panfletos que se amontoavam em sua mesa
Me sentei de costas para a Umbridge e fiz o possível para fingir que não a ouvia arranhando a pena na prancheta.
— Bom, Weasley, esta reunião é para discutirmos as idéias sobre carreiras que você já tenha, e ajudá-la a decidir que disciplinas você deve fazer no sexto e sétimo ano. — Começou McGonagall — Você já pensou no que gostaria de fazer quando terminasse Hogwarts?
— Ah…
Eu estava achando aquele ruído da pena arranhando o papel muito incômodo, e o pior era que eu não fazia idéia do que queria fazer.
— Sim? — Incentivou a professora
— Bom, pensei, mas… quer dizer, não. Eu não sei bem, talvez, em ser auror, é o que Rony e Harry querem. — Murmurei em voz baixa, pensativa, Auror é algo que Rony e Harry querem, não eu. Talvez se eu fosse pra área do Chay, magizoologia ou dragologia, seria um bom campo, mas será?
— Então… Auror, Weasley?
— Se eu estiver em dúvida entre Auror, Magizoologista e algo relacionado a quadribol, professora? Tipo, Jogadora profissional, ou trabalhar no Departamento de Jogos e Esportes Mágicos, ou mesmo… ser instrutora de vôo?
— Bom, podemos ver o que você mais se qualifica. — Disse a Profa. McGonagall — Só você pensar no que você quer e não ir pelos outros. Seu irmão e Potter querem auror, você quer isso?
— Não… — Resmunguei olhando para o chão
— Então não vá pra algo que não gosta, só por causa deles. — Tornou a dizer — Sobre Magizoologia, é por causa do seu irmão Charlie?
— Bom... sim, é. — Suspirei — Na verdade eu quero trabalhar em algo que seja relacionado a quadribol, a esportes, mas parece ser tão… não sei, por isso eu pensei nessas outras coisas.
— Podemos ver os requisitos para trabalhar nessas últimas três áreas que você falou, então. — Disse a Profa. McGonagall pacientemente — Já que, vale acrescentar, são as que mais se assemelham com o seu perfil, Weasley. — E então a professora puxou três folhinhas de tonalidade clara, que estavam de baixo dos papéis em sua mesa, e abriu primeiramente um — Você não precisa de notas absurdas para essas profissões, a maioria dos casos, é só habilidade, destreza, pelo menos para ser Jogadora profissional. Mas pra trabalhar no Departamento de Jogos e Esportes Mágicos, no caso no Ministério da Magia, existe sim algumas exigências. Exige-se um mínimo de quatro N.I.E.M.s, e nenhuma nota abaixo de “Excepcional”, pelo que vejo. Depois você teria de passar por uma série de testes teóricos e práticos, durante mais ou menos um ano e mais alguns de aptidão, na Sede da Liga Britânica e Irlandesa de Quadribol. É uma carreira prática, Weasley, em que somente se aceitam os melhores, os que realmente entendem de Quadribol, que não sabem só a prática de voar ou fazer gols, mas que sabem teoria, a história. De fato, não me lembro de terem aceitado ninguém nessa área nos últimos três anos.
Neste momento, a Profa. Umbridge deu um pigarrinho, como se estivesse experimentando para ver se era possível dá-lo bem baixo. McGonagall ignorou-a.
— Para ser Instrutora de Vôo, ou seja, lecionar aqui em Hogwarts ou mesmo em outra Instituição — Continuou a professora elevando um pouco a voz —, os requisitos são praticamente os mesmos, embora a prática seja mais exigida. Imagino que você se daria perfeitamente bem em qualquer uma das três áreas, joga muito bem. ASrta. Johnson tem me falado muito bem de você, que consegue atuar em duas áreas diferentes no Quadribol, isso pode lhe ser muito útil.
Eu sorri, tímida, mas orgulhosa de mim mesma.
— Suponho que queira saber que disciplinas precisará estudar, não? — Prosseguiu a professora
— Quero. Nenhuma das matérias parecem se encaixar totalmente nessas profissões...
— É aí que você se engana, Weasley. — Disse a Profa. McGonagall com vivacidade — Existe sim algumas disciplinas que pode contribuir muito em sua futura profissão nessa área, além da habilidade em vôo, obviamente, eu aconselharia História da Magia, já que é importante conhecer a teoria, saber mais da história do quadribol, entre outras coisas. Eu também aconselharia…
A Profa Umbridge tossiu outra vez, mais audivelmente agora. McGonagall fechou os olhos um instante, reabriu-os e continuou como se nada tivesse acontecido.
— Eu também aconselharia Transfiguração, não é algo de extrema importância na profissão, mas pode lhe ajudar muito a sair de alguns apertos que esse trabalho deve dar, tanto no Ministério quanto aqui em Hogwarts. E devo preveni-la, Weasley, que não aceito alunos nas minhas turmas de N.I.E.M que não tenham obtido “Excede as Expectativas” ou notas mais altas no N.O.M. Eu diria que sua média é essa no momento, então continue assim para ter uma chance de prosseguir. Depois, terá de estudar Feitiços, sempre útil, e imagino que Poções. — Acrescentou, com um sorriso quase imperceptível —Também não é um requisito alto, mas pode ajudá-la. E devo lhe dizer que o Prof. Snape absolutamente se recusa a aceitar alunos que não tenham obtido “Excepcional” nos N.O.M.s, portanto…
A Profa. Umbridge deu a tossida mais forte até aquele momento.
— Posso lhe oferecer uma pastilha para tosse, Dolores? — Perguntou McGonagall, secamente, sem olhá-la
— Ah, não, muito obrigada. — Disse Umbridge com aquele sorrisinho afetado que eu tanto odiava — Estive pensando, será que posso fazer uma mínima interrupçãozinha, Minerva?
— Acho que você vai descobrir que pode. — Disse a Profa. McGonagall por entre os dentes cerrados
— Eu estava me perguntando se o Srta. Weasley tem o temperamento certo para trabalhar no Ministério da Magia, ou mesmo aqui em Hogwarts.— Disse meigamente
— Estava é? — Disse a Profa. McGonagall, insolente — Bom, Weasley — Continuou, como se não tivesse havido interrupção — Se a sua ambição é, e eu acredito que seja, séria, eu a aconselharia a se preparar em História da Magia, Transfiguração e Poções à altura das exigências. Na prática você já está boa, então seria bom se preparar na teoria. Vejo que o Prof. Flitwick tem lhe dado “Excede as Expectativas” e “Ótimo” nos últimos anos, então parece que em Feitiços o seu preparo é bastante satisfatório. Quanto à Defesa Contra as Artes das Trevas, suas notas têm sido em geral altas, o Prof. Lupin particularmente achou você... tem certeza de que não gostaria de uma pastilha para tosse, Dolores?
— Ah, não precisa, muito obrigada, Minerva. — Disse sorrindo afetadamente a Profa. Umbridge, que acabara de tossir ainda mais alto que das últimas vezes — Estava preocupada que você talvez não tivesse as notas mais recentes de Roxanne em Defesa Contra as Artes das Trevas. Tenho quase certeza de que incluí um bilhete.
— O quê, essa coisa? — Perguntou McGonagall num tom de repugnância, puxando uma folha de pergaminho cor-de-rosa da minha pasta. Ela a leu, as sobrancelhas ligeiramente erguidas, e em seguida tornou a guardá-la na pasta, sem fazer comentários — Bom, como eu ia dizendo, Weasley, o Prof. Lupin achou que você demonstrava uma acentuada aptidão para a disciplina e, obviamente, mesmo que não seja um requisito claro, para trabalhar em Hogwarts ou no Mini…
— Você entendeu o meu bilhete, Minerva? — Perguntou Umbridge docemente, esquecendo de tossir
— Claro que entendi. — Respondeu McGonagall, com os dentes tão cerrados que as palavras saíram um pouco abafadas
— Bom, então, estou confusa... Receio não entender como é que você pode dar a Srta. Weasley a falsa esperança de que…
— Falsa esperança? — Repetiu a Profa. McGonagall, ainda se recusando a olhar para a outra — Ela obteve notas altas em todos os exames de Defesa Contra as Artes das Trevas…
— Sinto muito ter de contradizê-la, Minerva, mas, como pode ver no meu bilhete, essa garota tem obtido resultados muito fracos nas minhas aulas…
— Eu devia ter falado com mais clareza — Retrucou a Profa. McGonagall, finalmente se virando para encarar Umbridge nos olhos —, ela obteve notas altas em todos os exames de Defesa Contra as Artes das Trevas aplicados por um professor competente.
O sorriso de Umbridge desapareceu com a mesma rapidez de uma lâmpada queimando. Ela se recostou na cadeira, virou uma folha na prancheta e começou a escrever realmente muito depressa, seus olhos saltados correndo de um lado para outro. A Profa. McGonagall tornou a se voltar para mim, suas narinas estreitas arreganhadas, seus olhos em chamas.
— Alguma pergunta, Weasley?
— Sim. Que tipo de testes teóricos e aptidão o Ministério aplica no candidato, se ele tiver N.O.M.s e N.I.E.M.s suficientes?
— Bom, você precisará demonstrar capacidade de reagir bem às pressões, conhecimento vasto da profissão, destreza, habilidade, perseverança e dedicação, além de muita paciência para lidar com público, e muitas viagens que serão necessárias, para não falar na habilidade excepcional em defesa prática. Significará um pouco de estudo mesmo depois de ter terminado a escola, mas, obviamente, a prática vai ser mais essencial depois de um tempo. Para trabalhar em Hogwarts, os exames são menos, embora para lecionar o estudo seja de quase dois anos, e...
— Acho que você também descobrirá —Disse Umbridge, a voz muito fria agora — que o Ministério examina a ficha dos que se candidatam a auror. A ficha médica.
— … tem que passar por um rigoroso teste de capacitação do Ministério da Magia, para saber se atende todas as qualificações...
— O que significa que esta garota tem tanta chance de trabalhar no Ministério ou em Hogwarts quanto Dumbledore de algum dia voltar a esta escola.
— Então, é uma ótima chance.
— Weasley tem uma ficha médica precária! — Disse Umbridge alto — Está praticamente louca, é necessário uma boa capacidade mental para trabalhar em cargos tão importantes, ou em qualquer cargo.
— Creio que Weasley tem a capacidade mental tão boa quanto eu e você, Dolores. — Disse McGonagall ainda mais alto.
A Profa. Umbridge se levantou. Era tão baixa que isso não fazia muita diferença, mas sua atitude meticulosa e afetada cedera lugar a uma fúria implacável que fazia seu rosto largo e flácido parecer estranhamente sinistro.
— Weasley não tem a menor chance de um dia trabalhar nesta escola ou no Ministério!
A Profa. McGonagall se levantou também, e, no seu caso, o movimento foi muito mais impressionante; era bem mais alta que a outra.
— Weasley — Disse em tom retumbante —, eu a ajudarei a trabalhar em qualquer uma das duas profissões nem que seja a última coisa que eu faça na vida! Nem que eu tenha de lhe dar aulas todas as noites, garantirei que você obtenha as notas exigidas!
— O ministro da Magia jamais empregará Roxanne Weasley! — Exclamou Umbridge, sua voz se elevando furiosa
— Poderá muito bem haver um novo ministro da Magia até Weasley estar pronta para se candidatar! — Gritou a Profa. McGonagall
— Aha! — Berrou a Profa. Umbridge apontando o dedo curto e grosso para a colega — Éééééé! Com certeza! Isso é o que você quer, não é, Minerva McGonagall? Você quer ver Cornélio Fudge substituído por Alvo Dumbledore! Você pensa que chegará aonde estou, não é: subsecretária sênior do ministro e diretora também!
— Você está delirando. — Respondeu McGonagall, soberbamente desdenhosa — Weasley, terminamos a nossa orientação vocacional.
Eu joguei a mochila sobre o ombro e me precipitei para fora da sala, sem me atrever a olhar para a Profa. Umbridge. Ouvi as duas continuarem a gritar uma com a outra por todo o corredor.
A Profa. Umbridge ainda estava respirando como se tivesse participado de uma corrida, quando entrou na aula de Defesa Contra as Artes das Trevas naquela tarde.
— Espero que você tenha pensado duas vezes sobre o que está planejando fazer, Harry. — Escutei Hermione sussurrar, no momento em que abrimos os livros no capítulo trinta e quatro, “Não retaliação e negociação” — Umbridge parece que já está bastante mal-humorada...
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