150 | Ariana Dumbledore
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150. Ariana Dumbledore
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Um certo revés para o sr. Gênio, pois não há prêmios por cuidar de uma irmã semilouca
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Não havia como conduzir o dragão; o animal não via aonde estava indo, e eu sabia que, se ele desse uma guinada ou virasse de barriga para cima em pleno voo, não poderíamos se agarrar às suas costas largas. Apesar disso, à medida que ganhávamos altitude, e Londres se desdobrava abaixo como um mapa verde e cinzento, eu sentia um avassalador sentimento de gratidão por uma fuga que parecera inviável. Deitado sobre o pescoço da fera, eu me aferrava com toda força às escamas metálicas, e o vento fresco acalmava a ardência e as bolhas em minha pele, as asas do dragão abanavam o ar como as pás de um moinho. Às minhas costas, fosse por prazer ou medo, eu não saberia dizer, Rony não parava de xingar, aos brados, e Hermione parecia chorar.
Passados uns cinco minutos, perdi um pouco do medo imediato de que o dragão fosse se desvencilhar de nós, porque, aparentemente, sua única intenção era se distanciar o máximo de sua prisão subterrânea. Porém, a questão de como ou quando iríamos desmontar continuava a me apavorar. Eu não fazia ideia de qual era a autonomia dos dragões para voar sem precisar pousar, nem de que modo este espécime, que mal enxergava, localizaria um bom lugar para o pouso. Eu olhava constantemente para os lados, imaginando que sentiria a minha cicatriz formigar...
Quanto tempo levaria para Voldemort saber que tínhamos arrombado o cofre da família Lestrange? Quando os duendes de Gringotes avisariam Bellatrix? Com que rapidez perceberiam o que fora roubado? E quando dessem por falta da taça de ouro? Voldemort saberia, finalmente, que estávamos caçando Horcruxes...
O dragão parecia ansiar por ar mais frio e fresco: gradualmente ganhou altitude até voarmos entre fiapos gelados de nuvens e eu já não poder distinguir os pontinhos coloridos que eram os carros, entrando e saindo da capital. Continuamos a sobrevoar os campos divididos em retalhos de verde e marrom, estradas e rios que serpeavam pela paisagem como pedaços de fita fosca e acetinada.
— Que acham que ele está procurando? — Berrou Rony, ao ver que estávamos rumando sempre para o norte
— Não faço ideia. — Gritei, em resposta. Minhas mãos estavam dormentes e frias, mas eu não me atrevia a tentar mudar de posição
O sol começou a baixar e o céu foi se tornando azul-anil, e o dragão continuava a voar, cidades grandes e pequenas abaixo desaparecendo de vista, sua enorme sombra deslizando sobre a terra como uma grande nuvem escura. Todo o meu corpo doía com o esforço de se segurar no dorso do animal.
— É minha imaginação — Gritou Rony, depois de muito tempo de silêncio — ou estamos perdendo altitude?
Eu olhei para baixo e vi montanhas e lagos verde-escuros acobreando-se ao pôr do sol. A paisagem parecia se tornar mais graúda e mais detalhada enquanto espiava pelo flanco do dragão, e me perguntei se o animal teria pressentido a presença de água fresca pelos reflexos repentinos de sol. Descendo gradualmente, o dragão descrevia grandes círculos espiralados, visando, aparentemente, um dos lagos de menor tamanho.
— Vamos saltar quando ele baixar o suficiente! — Gritei para os dois atrás — Direto para dentro da água, antes que ele perceba que estamos aqui!
Eles concordaram, Hermione com a voz fraca: e agora pude ver a barriga larga e amarela do dragão, ondulando a superfície da água.
— AGORA!
Eu escorreguei por um lado do dragão e me atirei, de pé, na superfície do lago; a queda foi maior do que tinha estimado, e bati com violência na água, submergindo como um pedregulho em um mundo gelado e verde, repleto de colmos. Bati os pés em direção à superfície e emergi sem fôlego. Vi, então, as marolas que se propagavam em círculos, onde Rony e Hermione tinham caído. O dragão não pareceu ter notado nada: já estava a uns quinze metros de distância, dando rápidos mergulhos sobre o lago para apanhar água com o focinho cheio de cortes. Quando Rony e Hermione subiram das profundezas do lago, cuspindo e tossindo, o animal já ia longe, as asas batendo com força para, por fim, pousar em uma margem distante.
Nós três nadamos para o lado oposto. O lago não parecia ser fundo: precisamos apenas abrir caminho entre os colmos e a lama em vez de nadar e, finalmente, chapinhamos, encharcados, ofegantes e exaustos, no capim escorregadio.
Hermione desmontou, tossindo e tremendo. Embora eu pudesse ter deitado e dormido feliz, me levantei cambaleando, saquei a varinha e começei a lançar feitiços protetores ao redor de nós três.
Quando terminei, me juntei aos outros dois. Era a primeira vez que os via realmente, depois de termos escapado do cofre. Ambos tínhamos queimaduras feias nos rostos e braços, e a roupa chamuscada e rota aqui e ali. Fazíamos caretas ao aplicar essência de ditamno em nossos muitos ferimentos. Hermione passou o frasco para mim, depois tirou da bolsinha três garrafas de suco de abóbora que trouxera do Chalé das Conchas e vestes limpas e secas para todos. Nos trocamos e, em seguida, bebemos o suco, sedentos.
— Bem, pelo ângulo positivo — Disse Rony, que observava a pele das mãos tornar a crescer —, conseguimos a Horcrux. Pelo negativo...
— ... neca de espada. — Completei entre os dentes, enquanto aplicava as gotas de ditamno em uma feia queimadura, pelo buraco que o metal quente abrira em meu jeans
— Neca de espada. — Repetiu Rony — Aquele trairazinho safado...
Tirei a Horcrux do bolso do blusão molhado que acabara de despir e depositei-a no capim em frente. Refulgindo ao sol, prendia nossas atenções enquanto bebíamos o suco.
— Pelo menos esta não podemos usar, ia ficar meio esquisita pendurada no pescoço. — Comentou Rony, limpando a boca com o dorso da mão
Hermione olhou para a outra margem do lago, onde o dragão ainda bebia água.
— Que acham que vai acontecer com ele? — Perguntou — Será que vai ficar bem?
— Você está parecendo o Hagrid. — Disse Rony — É um dragão, Hermione, sabe se cuidar. É conosco que temos de nos preocupar.
— Como assim?
— Bem, não sei como lhe dar a notícia — Continuou Rony —, mas acho que eles talvez tenham notado que arrombamos o Gringotes.
Nós três caímos na gargalhada, e, uma vez que começamos a rir, foi difícil parar. As minhas costelas doíam, eu me sentia tonto de fome, mas me deitei no capim sob o céu avermelhado e ri até sentir a garganta doer.
— Mas o que vamos fazer? — Perguntou Hermione por fim, recuperando a seriedade depois dos soluços — Ele vai saber, não vai? Você-Sabe-Quem vai saber que sabemos das Horcruxes dele!
— Talvez eles fiquem apavorados demais para lhe contar! — Arriscou Rony, esperançoso — Talvez escondam...
O céu, o cheiro da água do lago, o som da voz de Rony se extinguiram: a dor rachou a minha cabeça como um golpe de espada. Estava parado em um quarto mal iluminado, e um semicírculo de bruxos me encarava, e, no chão, a meus pés, ajoelhava-se um vulto pequeno e trêmulo.
— Que foi que você disse? — Minha voz estava aguda e fria, mas a fúria e o medo me queimavam por dentro. A única coisa que temia... mas não podia ser verdade, não podia entender como...
O duende tremia, incapaz de fixar os olhos vermelhos muito acima dos seus.
— Repita isso! — Murmurou Voldemort — Repita!
— M-meu Senhor — Gaguejou o duende, seus olhos negros arregalados de terror —, m-meu Senhor... t-tentamos imped-dir... os imp-postores, meu Senhor... arrombaram...arrombaram... arrombaram o... o c-cofre da f-família Lestrange...
— Impostores? Que impostores? Pensei que o Gringotes tivesse meios para desmascarar impostores. Quem eram?
— Era o... era o... o garot-to P-Potter e d-dois cúmplices...
— E levaram? — Perguntei, minha voz se elevando, um medo terrível se apoderando de mim — Diga-me! Que foi que levaram?
— U-uma p-pequena t-taça de ouro, m-meu Senhor...
O grito de raiva, de negação, irrompeu de mim, como se fosse da boca de um estranho: fiquei possesso, frenético, não podia ser verdade, era impossível, ninguém jamais soubera: como o garoto poderia ter descoberto o seu... meu segredo?
A Varinha das Varinhas cortou o ar e o clarão verde explodiu pela sala, o duende ajoelhado rolou para o lado, morto, os bruxos que me observavam dispersaram-se à frente, aterrorizados: Bellatrix e Lucius Malfoy empurraram outros para trás ao dispararem para a porta, e repetidamente a varinha baixou, e os retardatários foram mortos, todos, por me trazerem essa notícia, por terem ouvido falar na taça de ouro...
Sozinho entre os mortos, me movimentei furioso pela sala, e os vi passar diante dos meus olhos: meus tesouros, minhas salvaguardas, minhas âncoras na imortalidade: o diário destruído e a taça roubada; e se, e se, o garoto conhecesse as outras? Poderia saber, já teria agido, já encontrara outras? Dumbledore estaria na raiz disso tudo? Dumbledore, que sempre desconfiara de mim, Dumbledore, morto por ordem minha, Dumbledore, cuja varinha agora me pertencia, e, ainda assim, estendia o braço da ignomínia da morte por intermédio do garoto, o garoto...
Era certo, porém, que se o garoto tivesse destruído alguma de minhas Horcruxes, eu, Lorde Voldemort, teria sabido, teria sentido? Eu, o maior bruxo de todos, o mais poderoso, eu, o assassino de Dumbledore e de quantos outros homens insignificantes, desconhecidos: como poderia Lorde Voldemort não ter sabido, se eu próprio, mais importante e precioso, tivesse sido atacado, mutilado?
Era verdade que não sentira quando o diário fora destruído, mas pensei que fosse porque não possuía um corpo para sentir, sendo menos que um fantasma... não, certamente o resto estava seguro... as outras Horcruxes deviam estar intactas...
Eu precisava saber, precisava ter certeza... Andei pela sala, chutei para o lado o corpo do duende ao passar, e as imagens ficaram borradas e queimaram em meu cérebro escaldante: o lago, o casebre, e Hogwarts...
Um nada de calma atenuou agora a minha fúria: como o garoto poderia saber que escondi o anel no casebre de Gaunt? Ninguém jamais soubera que eu era parente dos Gaunt, escondera a ligação, as mortes nunca tinham sido atribuídas mim: o anel certamente estava seguro.
E como poderia o garoto, ou qualquer outra pessoa, conhecer a caverna ou penetrar sua proteção? A ideia do medalhão ser roubado era absurda...
Quanto à escola: somente eu sabia onde, em Hogwarts, guardara a Horcrux, porque somente eu tinha explorado a fundo os segredos daquele lugar...
E ainda havia Nagini, que precisava ficar junto de mim agora, sob minha proteção, e não mais ser enviada para cumprir tarefas...
Para ter certeza, entretanto, para ter absoluta certeza, eu precisava voltar a cada um dos esconderijos, precisava redobrar a proteção em torno de cada uma das minhas Horcruxes... uma tarefa, como a busca da Varinha das Varinhas, que eu precisava empreender sozinho...
Qual deveria visitar primeiro, qual correria maior perigo? Uma velha inquietação ardeu em meu íntimo.
Dumbledore conhecia o meu nome do meio... Dumbledore poderia ter me ligado aos Gaunt... sua casa abandonada era provavelmente o esconderijo menos seguro de todos, era lá que ele iria em primeiro lugar...
O lago, certamente impossível... embora houvesse uma possibilidade mínima de que Dumbledore tivesse sabido de alguns dos meus malfeitos passados, no orfanato.
E Hogwarts... mas eu sabia que a minha Horcrux ali estava segura, seria impossível Potter entrar em Hogsmeade sem ser detido, e, mais ainda, na escola. Contudo, seria prudente alertar Snape de que o garoto talvez tentasse entrar no castelo... contar a Snape por que o garoto faria isso seria uma tolice, é claro; fora um grave erro confiar em Bellatrix e Malfoy: a burrice e o desleixo deles não comprovavam que era uma imprudência confiar em quem fosse?
Eu visitaria o casebre de Gaunt primeiro, então, e levaria Nagini: não me separaria mais da cobra... E eu saí da sala, atravessei o hall, me dirigi ao jardim escuro onde jorrava a fonte; em ofidioglossia, chamei a cobra, que foi se juntar a mim como uma comprida sombra...
Os meus olhos se abriram subitamente quando voltei ao presente e voltei a ser apenas o Harry: eu estava deitado na margem do lago ao sol poente, e Rony e Hermione me observavam. A julgar por suas expressões preocupadas, e o latejamento contínuo da minha cicatriz, minha rápida excursão à mente de Voldemort não passara despercebida. Fiz força para me levantar, tremendo, vagamente surpreso que ainda estivesse molhado até os ossos, e vi a taça inocentemente pousada no capim à minha frente, e o lago azul-escuro pontilhado de dourado ao sol que se punha.
— Ele sabe. — Minha própria voz pareceu estranha e grave depois dos gritos agudos de Voldemort — Ele sabe e vai verificar as outras Horcruxes, e a última — Eu me coloquei de pé — está em Hogwarts. Eu sabia. Eu sabia.
— Quê?
Rony me olhava boquiaberto; Hermione se ergueu nos joelhos, preocupada.
— Mas que foi que você viu? Como sabe?
— Eu o vi descobrir o que aconteceu com a taça, eu... eu estava na cabeça dele, ele está... — Lembrei-me da matança — está enfurecido ao extremo, e amedrontado também, não consegue entender como soubemos, e agora vai checar se as outras estão seguras, o anel primeiro. Ele acha que a Horcrux em Hogwarts está a salvo, porque Snape está lá, e será dificílimo entrar na escola sem ser visto, acho que vai verificar essa por último, ainda assim, estaria lá em poucas horas...
— Você viu onde, em Hogwarts? — Perguntou Rony, agora se levantando também
— Não, ele estava se concentrando em avisar Snape... não pensou no lugar exato em que está...
— Espere, espere! — Gritou Hermione, quando Rony recolheu a Horcrux e tornei a apanhar a Capa da Invisibilidade — Não podemos simplesmente ir, nem temos um plano, precisamos...
— Precisamos ir andando. — Falei com firmeza. Tinha tido a esperança de dormir, a expectativa de entrar na barraca nova, mas isso agora era impossível — Vocês podem imaginar o que ele vai fazer quando descobrir que o anel e o medalhão desapareceram? E se mudar o esconderijo da Horcrux de Hogwarts, resolver que não está bastante segura?
— Mas como vamos entrar?
— Bem, vamos a Hogsmeade — Falei —, e tentar pensar em alguma coisa depois de vermos qual é a proteção em torno da escola. Entre embaixo da capa, Hermione, quero todos juntos desta vez.
— Mas não cabemos realmente...
— Estará escuro, ninguém vai reparar nos nossos pés.
O ruído de enormes asas batendo ecoou pelas águas escuras do lago: o dragão saciara a sede e levantara voo. Nós três paramos os preparativos para observá-lo subir sempre mais alto, agora uma mancha negra no céu que escurecia rapidamente e, por fim, sumindo atrás de uma montanha próxima. Então, Hermione se adiantou e se encaixou entre Rony e eu. Puxei a capa para baixo até onde foi possível, e juntos rodopiamos e penetramos na escuridão esmagadora.
***
Os meus pés tocaram na estrada. Eu vi a rua principal de Hogsmeade, penosamente familiar: vitrines apagadas, os contornos escuros das montanhas além, a curva da estradinha que a ligava a Hogwarts à frente, e a luz das janelas do Três Vassouras; e com um sobressalto, me lembrei, com absoluta precisão, de como aparatara ali quase um ano antes, eu e Rox, ambos sustentando um Dumbledore desesperadamente fraco; tudo isso no segundo em que descia – e então, quando larguei os braços de Rony e Hermione, aconteceu.
O ar foi cortado por um grito que lembrava o de Voldemort ao perceber que a taça fora roubada: despedaçou todos os nervos do meu corpo, e percebi imediatamente que fora causado por minha aparição. Quando olhei para meus amigos sob a capa, a porta do Três Vassouras se escancarou e uma dúzia de Comensais da Morte, de capa e capuz, correu para a rua, empunhando varinhas.
Segurei o pulso de Rony ao vê-lo erguer a varinha. Havia bruxos demais para estuporar: até porque uma tentativa denunciaria nossa posição. Um dos Comensais da Morte acenou com a varinha e o grito parou, ainda ecoando nas montanhas distantes.
— Accio capa! — Rugiu o Comensal
Eu segurei-a pelas dobras, mas a capa não tentou me escapar: o Feitiço Convocatório não a afetara.
— Então, não está embaixo do seu xale, Potter? — Berrou o Comensal da Morte que tentara o feitiço, e voltando-se para os companheiros: — Espalhem-se. Ele está aqui.
Seis dos Comensais saíram em sua direção: Rony, Hermione e eu recuamos o mais rápido possível para a rua lateral mais próxima, e, por um triz, não fomos pegos. Aguardamos, então, no escuro, escutando gente correndo para cima e para baixo, os feixes de luz das varinhas dos bruxos varrendo a rua à minha procura.
— Vamos embora! — Cochichou Hermione — Desaparatar agora!
— Grande ideia. — Disse Rony, mas, antes que eu pudesse responder, um Comensal gritou:
— Sabemos que você está aqui, Potter, e não tem como escapar! Nós o encontraremos!
— Estavam de prontidão. — Sussurrei — Armaram aquele feitiço para avisá-los da nossa chegada. Imagino que tenham feito alguma coisa para nos segurar aqui, nos encurralar...
— Que tal uns dementadores? — Gritou outro Comensal da Morte — Se os deixássemos à vontade, eles não demorariam a encontrá-lo.
— O Lorde das Trevas não quer que ninguém mate Potter exceto ele...
— ... e os dementadores não irão matar Potter! O Lorde das Trevas quer a vida dele, e não a alma. Será mais fácil matá-lo se tiver sido beijado antes!
Ouviram-se rumores de aprovação. O temor apoderou-se de mim: para repelir dementadores teríamos que produzir Patronos, e isso nos denunciaria na mesma hora.
— É melhor desaparatar, Harry! — Sussurrou Hermione
Enquanto ela pronunciava essas palavras, senti um frio anormal baixando sobre a rua. A luz ambiente foi sugada até as estrelas, fazendo-as desaparecer. Na escuridão de breu, senti Hermione agarrar o meu braço e, juntos, rodopiamos.
O ar que precisávamos para se mover parecia ter se solidificado: não poderíamos desaparatar; os Comensais da Morte tinham lançado os seus feitiços, eficientemente. O frio começou a cortar cada vez mais fundo na minha pele. Rony, Hermione e eu recuamos para a rua lateral, tateando o caminho ao longo da parede, procurando não fazer o menor ruído. Do outro lado da esquina, deslizando silenciosamente, vinham dementadores, dez ou mais deles, com suas capas pretas e suas mãos feridas e podres visíveis porque seu negrume era mais denso do que o da rua. Poderiam sentir o medo por perto? Eu tinha certeza que sim: eles pareciam estar avançando mais depressa agora, inspirando daquele jeito arrastado e vibrante que eu detestava, saboreando o desespero no ar, fechando o cerco...
Ergui a varinha: não iria, não queria, ganhar o beijo do dementador, fossem quais fossem as consequências. Foi em Rony e Hermione que pensei ao sussurrar:
— Expecto patronum!
O cervo prateado irrompeu da minha varinha e atacou: os dementadores se dispersaram e ouviu-se um grito de triunfo em algum lugar fora de vista.
— É ele, lá embaixo, lá embaixo, vi o Patrono dele, era um cervo!
Os dementadores tinham retrocedido, as estrelas estavam reaparecendo e os passos dos Comensais da Morte se tornaram mais pesados; mas, antes que em meu pânico, eu pudesse decidir o que fazer, ouvi bem perto um rangido de ferragens, uma porta se abriu do lado esquerdo da rua estreita e uma voz áspera disse:
— Potter, entre, depressa!
Eu obedeci sem hesitação: nós três nos precipitamos pela porta aberta.
— Suba, não dispa a capa, fique quieto! — Murmurou um vulto alto que passou por nós e saiu, batendo a porta
Eu não fazia a menor ideia de onde estávamos, mas agora via, à luz vacilante de uma única vela, o bar sujo com o piso forrado de serragem do Cabeça de Javali. Corremos para trás do balcão e por uma segunda porta que levava a uma escada bamba, que subimos o mais rápido que pudemos. Desembocamos em uma sala de visitas com um tapete puído e uma pequena lareira, no alto da qual estava pendurado um grande retrato a óleo de uma garota loura que contemplava a sala com um ar de meiguice apática.
Os gritos na rua chegavam aos meus ouvidos. Ainda usando a Capa da Invisibilidade, nós fomos, pé ante pé, até a janela suja e espiamos para baixo. Meu salvador, que agora eu reconhecia como o barman do Cabeça de Javali, era a única pessoa que não estava usando um capuz.
— E daí? — Berrava ele para um dos rostos encapuzados — E daí? Vocês mandam dementadores para a minha rua, e jogo um Patrono contra eles. Não vou admitir que se aproximem de mim, já lhes disse, não vou admitir isso!
— Aquele não era o seu Patrono! — Contestou um Comensal da Morte — Era um cervo, era o do Potter!
— Cervo! — Rugiu o barman, sacando a varinha — Cervo! Seu idiota... Expecto patronum!
Um bicho enorme e chifrudo irrompeu da varinha, e, de cabeça baixa, avançou para a rua principal e desapareceu de vista.
— Não foi isso que vi... — Retrucou o Comensal da Morte, embora com menos convicção
— O toque de recolher foi violado, você ouviu o barulho. — Disse um dos seus colegas ao barman — Alguém estava na rua contrariando o regulamento...
— Se eu quiser pôr o meu gato para fora, porei, e dane-se o seu toque de recolher!
— Você disparou o Feitiço Miadura?
— E se disparei? Vai me mandar para Azkaban? Me matar por meter o nariz fora da minha própria porta? Então faça isso, se é o que quer! Mas espero, para seu bem, que não tenham tocado na Marca Negra para convocá-lo. Ele não vai gostar de ser chamado para ver a mim e o meu velho gato, ou será que vai?
— Não se preocupe conosco — Repondeu um dos Comensais da Morte —, preocupe-se com o seu desrespeito ao toque de recolher!
— E onde é que gente de sua laia irá traficar poções e venenos quando fecharem o meu bar? Que irá acontecer com os seus bicos?
— Você está nos ameaçando...?
— Não abro a boca, é por isso que vocês vêm aqui, não é?
— Continuo dizendo que vi um cervo Patrono!— Gritou o primeiro Comensal da Morte
— Cervo? — Rugiu o barman — É um bode, idiota!
— Tudo bem, nos enganamos. — Disse o segundo Comensal da Morte — Desrespeite o toque de recolher outra vez e não seremos tão indulgentes!
Os Comensais da Morte voltaram para a rua principal. Hermione gemeu de alívio, desvencilhou-se da capa e se sentou em uma cadeira de pernas bambas. Eu fechei bem as cortinas, depois retirei a capa de cima de mim e de Rony. Ouvimos o barman no andar térreo trancar a porta do bar e, em seguida, subir a escada.
Um objeto sobre o console da lareira chamou a minha atenção: um pequeno espelho retangular aprumado ali, logo abaixo do retrato da garota.
O barman entrou na sala.
— Seus idiotas infelizes. — Disse, rispidamente, olhando para nós, de um a outro — Que ideia foi essa de virem aqui?
— Obrigado — Falei —, não sabemos como lhe agradecer. Salvou nossas vidas.
O barman resmungou. Eu me aproximei dele, estudando o seu rosto, tentando ver sob a cabeleira e barba grisalhas e grossas. Ele usava óculos. Por trás das lentes sujas, os olhos eram muito azuis e penetrantes.
— É o seu olho que tenho visto no espelho.
Fez-se silêncio na sala. Eu e o barman nos fitamos.
— Você mandou Dobby.
O barman assentiu e olhou para os lados, procurando o elfo.
— Pensei que ele estivesse com você. Onde o deixou?
— Está morto. — Falei — Bellatrix Lestrange o matou.
O rosto do barman não demonstrou emoção. Passado um momento, ele disse:
— Lamento saber. Eu realmente gostava daquele elfo.
Ele se virou, acendendo as luzes com toques de varinha, sem olhar para nenhum de nós.
— Você é Aberforth. — Falei para as costas do homem
Ele não confirmou nem negou, mas se curvou para acender a lareira.
— Como conseguiu isso? — Perguntei, atravessando a sala até o espelho de Sirius, a duplicata do que eu quebrara quase dois anos antes
— Comprei-o de Dunga mais ou menos há um ano. — Disse Aberforth — Alvo me disse o que era. Tenho tentado manter um olho em você.
Rony ofegou.
— A corça prateada! — Exclamou — Foi você também?
— Do que está falando? — Perguntou Aberforth
— Alguém mandou uma corça Patrono até nós!
— Com um cérebro desses, você poderia ser Comensal da Morte, filho. Não acabei de provar que o meu Patrono é um bode?
— Ah. — Disse Rony — É... bem, estou com fome! — Acrescentou justificando-se, e sua barriga deu um enorme ronco
— Tenho comida. — Disse Aberforth, e saiu da sala, reaparecendo momentos depois com uma grande forma de pão, queijo e uma jarra de metal com hidromel, que depositou em uma mesinha à frente da lareira
Famintos, nós comemos e bebemos, e por algum tempo o silêncio foi quebrado apenas pelos estalidos do fogo na lareira, o tilintar de taças e o som de mastigação.
— Certo — Disse Aberforth, quando terminamos de comer, e Rony e eu nos afundamos, sonolentos, nas poltronas — Precisamos pensar na melhor maneira de tirá-los daqui. Não pode ser à noite, vocês ouviram o que acontece se alguém sai à rua depois do escurecer: dispara o Feitiço Miadura, e eles cairão sobre vocês como tronquilhos em ovos de fadas mordentes. Não acho que consiga passar um bode por um cervo uma segunda vez. Esperem amanhecer, quando é suspenso o toque de recolher, então, podem tornar a vestir a capa e partir a pé. Saiam direto de Hogsmeade, subam a montanha e poderão desaparatar de lá. Talvez vejam Hagrid. Está escondido com Grope em uma caverna desde que tentaram prendê-lo.
— Não vamos embora. — Respondi imediatamente — Precisamos entrar em Hogwarts.
— Não seja idiota, moleque. — Disse Aberforth
— Temos que entrar.
— O que têm de fazer — Reorquiu Aberforth, inclinando-se para a frente — é ir para o mais longe que puderem.
— Você não está entendendo. O tempo é curto. Precisamos entrar no castelo. Dumbledore, quero dizer, o seu irmão, queria que nós...
A luz das chamas deixou as lentes sujas dos óculos do bruxo momentaneamente opacas, de um branco forte e chapado, e eu me lembrei dos olhos cegos de Aragogue, a aranha gigantesca.
— Meu irmão Alvo queria muitas coisas, e as pessoas tinham o mau hábito de saírem feridas enquanto ele executava os seus planos grandiosos. Afaste-se da escola, Potter, e saia do país, se puder. Esqueça o meu irmão e seus esquemas imaginosos. Ele foi para um lugar onde nada disso pode atingi-lo, e você não lhe deve nada.
— Você não está entendendo. — Repeti
— Ah, será que não? — Replicou Aberforth, mansamente — Você acha que eu não compreendia o meu próprio irmão? Acha que conhecia Alvo melhor do que eu?
— Não foi isso que quis dizer. — Respondi, meu cérebro estava lento de exaustão e excesso de comida e vinho — É que... ele me deixou uma tarefa.
— Deixou, foi? Uma tarefa boa, espero? Agradável? Fácil? O tipo de coisa que se esperaria que um garoto bruxo ainda não qualificado pudesse realizar sem muito esforço?
Rony deu uma risada meio sem graça. Hermione demonstrava tensão.
— Eu... não é fácil, não. — Falei — Mas tenho que...
— Tem quê? Por que tem quê? Ele está morto, não está? — Retorquiu Aberforth, com rispidez — Deixe isso para lá, moleque, antes que você acabe indo se juntar a ele! Salve-se!
— Não posso.
— Por que não?
— Eu... — Eu me senti alarmado, não podia explicar, então tomei a ofensiva — Mas você também está lutando, você está na Ordem da Fênix...
— Estava. A Ordem da Fênix acabou. Você-Sabe-Quem venceu, tudo está terminado, e qualquer um que finja que é diferente está se enganando. Aqui nunca será seguro para você, Potter, ele quer muito você, como ele queria a arma, mas ela já está com ele, então fuja. Vá para o exterior, vá se esconder, salve-se. É melhor levar esses dois. — Ele indicou Rony e Hermione com o polegar — Correrão perigo enquanto viverem, agora que todos sabem que estiveram trabalhando com você.
— Não posso ir embora. Tenho uma tarefa...
— Passe-a para outro!
— Não posso. Tem que ser eu, Dumbledore me explicou tudo... a mim e a... ele confiou em mim...
— Ah, foi, é? E ele lhe contou tudo, foi honesto com você?
De todo coração eu queria responder "sim", mas, por alguma razão, essa palavra simples não chegava aos meus lábios. Aberforth parecia saber o que eu estava pensando.
— Eu conhecia meu irmão, Potter. Ele aprendeu a guardar segredo no colo de nossa mãe. Segredos e mentiras, foi assim que fomos criados, e Alvo... tinha um pendor natural.
O olhar do velho se desviou para o retrato da moça sobre o console da lareira. Era, agora que eu olhava o ambiente com atenção, o único quadro pendurado. Não havia fotografia de Alvo Dumbledore, nem de ninguém mais.
— Sr. Dumbledore? — Perguntou Hermione, timidamente — Essa é a sua irmã? Ariana?
— É. — Confirmou Aberforth, lacônico — Andou lendo Rita Skeeter, mocinha?
Mesmo à luz rosada das chamas, ficou evidente que Hermione tinha corado.
— Elifas Doge mencionou-a para nós. — Falei tentando poupar Hermione
— Aquele velho babão. — Murmurou Aberforth, tomando um gole do hidromel — Achava que o sol irradiava de todos os orifícios do meu irmão, é o que ele achava. Bem, muita gente tinha a mesma opinião, vocês três inclusive, pelo que vejo.
Eu fiquei calado. Não queria expressar as dúvidas e incertezas sobre Dumbledore que vinham me intrigando havia meses. Tinha feito a minha escolha enquanto cavava a sepultura de Dobby; tinha decidido continuar a seguir o caminho tortuoso e arriscado que Alvo Dumbledore indicara a mim e Rox, mesmo que ela não estivesse mais aqui, eu queria simplesmente aceitar que o diretor não tinha nos dito tudo que gostaria de saber e, simplesmente, confiar. Não desejava voltar a
duvidar, não queria ouvir nada que me desviasse do meu intento. Enfrentei o olhar de Aberforth, tão impressionantemente igual ao do irmão: os olhos muito azuis davam a mesma impressão de estarem radiografando o objeto que examinavam, e achei que Aberforth sabia o que eu estava pensando, e me desprezava por isso.
— O professor Dumbledore tinha afeição por Harry, muita mesmo. — Disse Hermione, em voz baixa
— Tinha, é? — Comentou Aberforth — É engraçado o número de pessoas por quem meu irmão tinha grande afeição, e acabaram em situação pior do que se ele as tivesse deixado em paz.
— Como assim? — Perguntou Hermione ofegante
— Não se preocupe. — Respondeu o bruxo — Não estou me referindo à Grande Médiumaga que agora não passa de um brinquedo ou uma mera arma nas mãos de Você-Sabe-Quem.
Rony soltou um muxoxo irritado, mas não falou.
— Mesmo que o senhor não esteja falando dela, isso é uma afirmação muito grave! — Replicou Hermione — O senhor... está se referindo à sua irmã?
Aberforth encarou-a sério: seus lábios se mexeram como se ele estivesse mastigando as palavras que refreava. Então desatou a falar.
— Quando minha irmã fez seis anos de idade, ela foi atacada fisicamente por três garotos trouxas. Eles a viram produzindo feitiços, quando a espionavam pela sebe que cercava o quintal: ela era pequena, não tinha controle sobre a magia, nessa idade nenhum bruxo tem. Imagino que o que viram os tenha apavorado. Eles se espremeram pela sebe e, quando ela não soube lhes mostrar o truque, exageraram ao tentar impedir a monstrinha de repeti-lo.
Os olhos de Hermione estavam enormes à luz das chamas: Rony parecia ligeiramente nauseado. Aberforth se levantou, alto como Alvo e inesperadamente terrível em sua cólera e na intensidade de sua dor.
— O que eles fizeram destruiu Ariana: ela nunca mais voltou ao normal. Não queria usar a magia, mas tampouco conseguia se livrar dela: o seu poder voltou-se para dentro e a enlouqueceu, irrompia dela quando não conseguia controlá-lo, e por vezes ela se tornava estranha e perigosa. Mas a maior parte do tempo era meiga, assustada e inofensiva.
"E meu pai foi atrás dos filhos da mãe que tinham feito aquilo", continuou Aberforth, "e os atacou. Por isso o prenderam em Azkaban. Ele nunca se defendeu, porque, se o Ministério soubesse da condição de Ariana, ela teria sido recolhida ao St. Mungus para o resto da vida. Seria considerada uma séria ameaça ao Estatuto Internacional de Sigilo, desequilibrada como ficara, a magia explodindo de dentro dela sempre que não conseguia refreá-la.
"Tivemos que mantê-la a salvo e em silêncio. Mudamos de casa, espalhamos que era doentinha, e minha mãe cuidava dela e tentava mantê-la calma e feliz.
"Eu era o seu favorito." E, ao dizer isso, um encardido garoto de escola pareceu espiar através das rugas e da barba emaranhada de Aberforth. "Não era o Alvo, ele ficava sempre no quarto quando estava em casa, lendo seus livros e contando seus prêmios, mantendo em dia sua correspondência com 'os nomes mais notáveis da magia da época'", debochou Aberforth, "ele não queria se incomodar com a irmã. Ela gostava mais de mim. Eu conseguia convencê-la a comer quando não queria comer com a minha mãe, eu conseguia acalmá-la, se tinha um acesso de fúria, e, quando estava tranquila, costumava me ajudar a alimentar os bodes.
"Então, quando completou catorze anos... entendem, eu não estava em casa. Se estivesse, poderia tê-la acalmado. Ariana se descontrolou e minha mãe já não era tão jovem quanto antes e... foi um acidente. Ariana não pôde controlar. Matou nossa mãe."
Senti uma horrível mistura de pena e repulsa; não queria ouvir mais nada, mas Aberforth continuou a falar e fiquei imaginando quanto tempo decorrera desde a última vez em que ele tocara nesse assunto; se, de fato, algum dia tocara.
— Esse imprevisto pôs fim à viagem de Alvo com Doguinho ao redor do mundo. Os dois vieram a Godric's Hollow para os funerais de mamãe e, em seguida, Doge partiu sozinho e Alvo se acomodou no papel de chefe de família. Aah!
Aberforth cuspiu nas chamas.
— Eu teria cuidado de Ariana, e disse isso a ele, eu não fazia questão de frequentar a escola, teria ficado em casa. Ele me disse que eu tinha que terminar minha educação, e ele assumiria as obrigações da nossa mãe. Um certo revés para o sr. Gênio, pois não há prêmios por cuidar de uma irmã semilouca, para impedi-la de explodir a casa a cada dois dias. Mas ele se desincumbiu bem nas primeiras semanas... até a chegada dele.
Agora uma expressão realmente ameaçadora surgiu no rosto de Aberforth.
— Grindelwald. E, finalmente, meu irmão teve um igual com quem trocar ideias, alguém tão genial e talentoso quanto ele. E o cuidado com Ariana passou a um segundo plano, enquanto eles tramavam os seus planos para uma nova ordem em magia, procuravam Relíquias e faziam o que mais despertasse o seu interesse. Planos grandiosos para o benefício da bruxidade, e se uma jovem deixasse de receber atenção, que importância teria, quando Alvo Dumbledore estava trabalhando para o bem maior?
"Mas, depois de algumas semanas, eu dei um basta, dei mesmo. Já estava quase na hora de regressar a Hogwarts, então eu disse aos dois, cara a cara, como estou falando com vocês agora." E Aberforth olhou com superioridade para mim, e não foi preciso muita imaginação para vê-lo adolescente, vigoroso e zangado, enfrentando o irmão mais velho. "Disse-lhe: é melhor desistir agora. Não pode tirá-la daqui, ela não tem condição, não pode levá-la com você, seja lá aonde quer que pretenda ir, quando estiver fazendo os seus discursos inteligentes, tentando conquistar admiradores. Ele não gostou." Os olhos de Aberforth foram brevemente ocultados pela luz das chamas nas lentes dos óculos: eles tornaram a parecer brancos e cegos "Grindelwald não gostou de ouvir isso. Ficou irritado. Me disse que eu era um menino idiota, tentando barrar o seu caminho e do meu genial irmão... será que eu não entendia, minha pobre irmã não precisaria mais ser escondida depois que tivessem transformado o mundo, e tirado os bruxos da clandestinidade, e ensinado aos trouxas qual era o seu lugar?
"Então tivemos uma briga... e saquei a minha varinha, ele sacou a dele, e fui atingido por uma Maldição Cruciatus lançada pelo melhor amigo do meu irmão, e Alvo tentou impedi-lo e, de repente, nós três estávamos duelando, e os clarões e os estampidos assustaram Ariana, ela não os suportava..."
A cor foi sumindo do rosto de Aberforth como se ele tivesse recebido um ferimento mortal.
— ... e acho que ela quis ajudar, mas não sabia exatamente o que estava fazendo, e não sei qual de nós fez aquilo, poderia ter sido qualquer um de nós... e ela caiu morta.
Sua voz falhou ao dizer a última palavra, e ele se largou na poltrona mais próxima. O rosto de Hermione estava molhado de lágrimas e Rony estava quase tão pálido quanto Aberforth. Eu sentia apenas asco: desejei não ter ouvido aquilo, desejei poder apagar tudo da minha mente.
— Estou tão... estou tão penalizada. — Sussurrou Hermione
— Foi-se. — Disse Aberforth, com a voz embargada — Foi-se para sempre.
Ele limpou o nariz no punho da camisa e pigarreou.
— É claro que Grindelwald deu o fora. Ele já tinha uma história pregressa em seu país e não queria que Ariana fosse acrescentada à sua folha. E Alvo ficou livre, não? Livre do encargo da irmã, livre para se tornar o maior bruxo da...
— Ele nunca se livrou. — Protestei
— Perdão? — Disse Aberforth
— Nunca. Na noite em que seu irmão morreu, ele bebeu uma poção que o deixou fora de si. Ele começou a gritar, suplicando a alguém que não estava presente. "Não os machuque, não os machuque, por favor, por favor, a culpa é minha, machuque a mim..."
Rony e Hermione estavam de olhos arregalados para mim. Eu jamais entrara em detalhes sobre o que acontecera na ilha do lago, os fatos que se desenrolaram depois que eu, Rox e Dumbledore voltamos a Hogwarts tinham eclipsado completamente todo o resto.
— Ele estava revivendo o passado com você e Grindelwald, sei que estava. — Falei lembrando-me de Dumbledore choramingando, suplicando — Pensou que estivesse vendo Grindelwald machucar você e Ariana... foi uma tortura para ele, se você tivesse presenciado, não afirmaria que ele se livrou.
Aberforth pareceu se perder na contemplação de suas mãos nodosas, de veias saltadas. Depois de uma longa pausa falou:
— Como pode ter certeza, Potter, de que o meu irmão não estava mais interessado no bem maior do que em você? Como pode ter certeza de que não é dispensável, exatamente como a minha irmã foi?
Uma ponta de gelo pareceu transpassar o meu coração.
— Não acredito. Dumbledore amava Harry. — Disse Hermione
— Então, por que não lhe disse para se esconder? — Retorquiu Aberforth — Por que não lhe disse, cuide-se bem, eis como sobreviver?
— Porque — Falei, me antecipando a Hermione —, às vezes, a pessoa tem que pensar além da própria segurança! Às vezes, a pessoa tem que pensar no bem maior! Estamos em guerra!
— Você tem dezessete anos, moleque!
— Sou maior de idade, e vou continuar lutando mesmo que você já tenha desistido!
— Quem disse que eu desisti?
— "A Ordem da Fênix acabou" — Repeti — "Você-Sabe-Quem venceu, tudo está terminado, e qualquer um que finja que é diferente está se enganando."
— Não digo que gosto disso, mas é a verdade!
— Seu irmão sabia como liquidar Você-Sabe-Quem e passou esse conhecimento a mim, e vou continuar até conseguir isso ou morrer. Não me importa que a minha melhor amiga nos traiu e mudou de lado, eu não vou desistir, embora isso me doa muito. Não pense que não sei como isso poderá acabar. Há anos que sei.
Esperei Aberforth caçoar ou argumentar, mas o bruxo não fez isso. Apenas franziu as sobrancelhas.
— Precisamos entrar em Hogwarts. — Repeti — Se não pode nos ajudar, esperaremos o dia nascer, deixaremos você em paz e tentaremos encontrar um jeito sozinhos. Se você puder, bem, agora será um bom momento para nos dizer.
Aberforth permaneceu pregado em sua poltrona, me fitando com olhos extraordinariamente semelhantes aos do irmão. Por fim, pigarreou, levantou-se, deu a volta à mesinha e se aproximou do retrato de Ariana.
— Você sabe o que fazer. — Disse ele
Ela sorriu, virou-se e saiu, não como normalmente fazem os bruxos nos retratos, pelas molduras laterais, mas por uma espécie de longo túnel pintado atrás dela. Nós observamos o seu vulto franzino se retirar e, finalmente, ser engolido pela escuridão.
— Ah... quê...? — Começou Rony
— Só existe um modo de entrar agora. —Disse Aberforth — Vocês devem saber que bloquearam todas as antigas passagens secretas dos dois lados, há dementadores em torno de todos os muros divisórios, patrulhas regulares dentro da escola, segundo informaram minhas fontes. O lugar nunca esteve tão fortemente guardado. Como espera fazer alguma coisa, se conseguirem entrar, com Snape na direção e os Carrow como seus assistentes... bem, a preocupação é sua, não é? Você diz que está disposto a morrer.
— Mas quê...? — Perguntou Hermione, franzindo a testa para o quadro de Ariana
Um minúsculo ponto branco reaparecera no fim do túnel pintado, e agora Ariana retornava em direção à sala, aumentando de tamanho à medida que se aproximava. Mas havia outra pessoa em sua companhia, na verdade duas pessoas, uma delas era alguém mais alto, que vinha mancando com ar agitado. Seus cabelos estavam mais longos do que eu jamais vira, parecia ter sofrido vários cortes no rosto, e suas roupas estavam rasgadas e puídas. A segunda pessoa era só um pouco mais baixa, os cabelos pareciam ter sido cortados por uma adaga cega e estavam na altura dos ombros, roupas igualmente rasgadas e alguns cortes pelo rosto e outros pelos braços se sobrepondo à vividas queimaduras. Cada vez maiores se tornaram os três vultos até suas cabeças e ombros ocuparem todo o quadro. Então, o conjunto girou para a frente na parede como uma portinhola, e surgiu a entrada de um túnel de verdade. E dele, uma garota com os cabelos cortados no ombro, o outro com os cabelos demasiado crescidos, ambos os rostos cortados, e as vestes rasgadas, saíram, com dificuldade, uma Lavender Brown e um Neville Longbottom real, mas só então notei que não estavam sozinhos.
Aos seus pés, balançando o rabo excitado, havia um pequeno Husky Siberiano, olhos claros e penetrantes, o pelo castanho com um pouco de branco, tive menos de dois segundos para analisá-lo quando ele saltou do console, e de onde antes havia um cachorro surgiu uma garota alta de cabelos castanhos, as vestes igualmente rasgadas e alguns cortes, mas era Vega Misttigan, era a minha irmãzinha ali na minha frente, que com um urro de prazer, me abraçou aos gritos:
— Harry! Você tá vivo! Eu sabia que você viria! Eu sabia, Harry!
Hello bruxinhooos!!
Volteeei Brasil!!! Sentiram saudades? Eu senti, muitas.
Tão sabendo que a partir de agora, é guerra, né? Estão preparados para isso... fase final de The Weasley... uhuhuhu
Kkkkkkkkkkkk e sobre a Vega? Quem já esperava por essa? a gata só surpreende, hein? Ansiosos para voltar pra Hogwarts e rever os personagens que tanto amamos? Uhuhu nos vemos na próxima segunda-feira
Amoo vocês!!
– Bjosss da tia Nick.
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