139 | Blood and Guilt
ᴀʟᴇʀᴛᴀ ᴅᴇ ɢᴀᴛɪʟʜᴏs. ᴏ ᴄᴀᴘíᴛᴜʟᴏ ᴀ sᴇɢᴜɪʀ ᴘᴏᴅᴇ ᴄᴏɴᴛᴇʀ ᴄᴏɴᴛᴇúᴅᴏ sᴇɴsíᴠᴇʟ.
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139. Sangue e Culpa
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Eu não tinha apresentado meu namorado ainda, tinha?
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ᴰʳᵃᶜᵒ ᴹᵃˡᶠᵒʸ
Eu não costumo acordar tarde, nunca, pelo menos não aqui na Mansão Malfoy, talvez nos fins de semana em Hogwarts, mas aqui... não, não, isso nunca tinha acontecido. Ok, é fato que eu devo ter ido dormir muito tarde por conta da insônia, mas mesmo assim eu realmente não esperava que fosse acordar tão tarde.
Quando despertei e olhei meu relógio, tomei um tremendo de um susto, assim que olho para minha cama, noto, com quase terror, que Rox não estava ali, então sim, eu comecei a me desesperar.
Simplesmente saltei do sofá-cama direto para o meu guarda-roupa onde apanhei umas vestes quaisquer, sem muito tempo pra escolher, e corri para o banheiro. Fiz tudo com pressa e meu cabelo nem havia sido devidamente penteado quando comecei a descer as escadas da Mansão apressado. Mas só foi chegar na Sala de Estar para eu me sentir estritamente aliviado, pois lá estava a minha garota ruiva, por um segundo eu realmente temi que ela pudesse ter saído sem mim, que tivessem feito algo à ela, que seu coração estivesse sido corrompido, mas a forma que ela me desejou 'boa tarde' me fez notar que é apenas a mesma Rox enfeitiçada que veio até o meu quarto na noite anterior.
Mas então percebo algo mais, assim que pergunto por Sol, ela pode ter mudado em muita coisa, mas parece que o ciúmes continua intacto e talvez até mais forte. Me pergunto se algum dia ela vai entender que Sol é apenas minha prima.
Quando me retiro para poder comer alguma coisa e suplico mentalmente para ela não sair dali realmente espero que ela faça isso, pois é o que ela diz que vai fazer, mas eu realmente deveria esperar que ela fosse mentir por mim.
— Você é um idiota. — Diz Sol pelo que parece a quarta vez consecutiva enquanto ela simplesmente está sentada em um banco do jardim com as pernas apoiadas em cima dele e um livro de feitiços aleatório nas mãos
— É, eu sei! — Retruco andando de um lado para o outro completamente impaciente depois de descobrir que Rox tinha saído com Jane Nott e Michael Sticker sem mim, e eu nem fazia idéia de onde eles poderiam estar pra poder considerar ir atrás deles
— O que esperava? — Vem a voz de Sol indiferente, as mãos passando uma das páginas do livro e os olhos fixos ali — Que ela fosse ficar na sala de estar te esperando obedientemente só porque você mandou ela ficar lá?
— Ela me disse que ia me esperar!
— É, e você confiou nela.
— Eu confio nela.
— Ok! — E vejo Sollaris fechar o livro com força e me olhar — Você confia na Rox, e aquela que falou com você, sinto muito meu anjo, mas você já deveria ter notado que não é digna de sua confiança.
— E por que não!? Ela também é apaixonada por mim, não é?
— E você acha que pessoas apaixonadas não mentem? — Ela deu uma risada sem graça, deu uma olhada ao redor cautelosamente antes de acrescentar: — Eu disse ao George que eu não o amava, eu menti, e não estava enfeitiçada, então me poupe, Draco, você achar mesmo que ela não mentiria pra você. Eu lhe disse para ficar de olho nela.
— Ok! Ok! — Exclamo já com impaciência e sento-me em um banco na frente dela enquanto suspiro irritado — Eu sou um idiota.
— Isso aí. — Ela diz em aprovação, suas mãos voltando a abrir o livro que fechara a pouco tempo
— Hey! — Eu a olho indignado — Você não deveria ter concordado comigo.
— Ok, se você quer que eu minta pra você como a sua namorada faz, eu faço.
Lhe dou um olhar mortal que a faz desistir de vez da leitura assim que ela bate o livro, o fechando pela segunda vez. Ela suspirou fundo antes de falar alguma coisa:
— O que quer que eu faça? Não podemos fazer mais nada, ela já foi.
— Eu sei...
— Então, Draco! — Ela insiste como se tivesse ensinando algo para uma pessoa muito obtusa — Agora é só torcer pra eles não terem feito nada demais, é cedo, a noite mal nasceu, não é possível que eles tenham conseguido fazer algo tão grave.
Eu olho para o sol que se põe devagar e suplico para que minha prima esteja certa, simplesmente observo a beleza daquele pôr de sol e desejo que minha menina esteja bem, ou que as pessoas que apareçam no seu caminho sejam capazes de sobreviver. Deus tenha piedade de quem passar na frente dela enquanto aquele colar jaz ali.
— Ah — Eu olho para Sol assim que me lembro —, ela parece que não vai com sua cara, como se tivesse...
— Ciúmes? — Sol suspira e eu assinto com a cabeça — Não é só a versão Dark dela que tem isso, ou já esqueceu da verdadeira? Aliás, não é novidade pra ninguém ela não ir com a minha cara, se eu fosse ela, também não gostaria de mim.
— Ela vai gostar de você assim que souber quem você é de verdade, assim que... — E me aproximo um pouco da minha prima, como se estivesse com medo dos pássaros e das flores nos ouvirem — conseguirmos quebrar o encanto.
— Estou trabalhando nisso. — Ela dá um suspiro cansado — Mas você precisa fazer sua parte, não pode deixar ela sozinha, não de novo.
— Ok. — Eu suspiro — Ok, eu sei.
Sol volta a colocar os pés em cima do banco e parece prestes a abrir o livro novamente quando fala:
— Aliás, teve uma boa noite?
— Quê?
— Ela dormiu no seu quarto, não foi? — Sol não olha pra mim enquanto fala e tem um tom estritamente casual
Meus olhos se arregalam.
— Como v-você...?
— Ela anunciou na mesa de café da manhã, você tinha que ter visto, sua mãe até engasgou.
Eu realmente fico assustado com a mera frase da minha prima e tento imaginar o clima da mesa do café quando Rox simplesmente falou isso, tenho certeza que ela não explicou a ninguém que não dormirmos na mesma cama, não que isso pareça fazer diferença pra alguém, mas faço questão de explicar à Sol, já que não quero que ela pense que eu toquei em Rox sabendo que ela está enfeitiçada.
Jantamos às sete horas da noite, e acho que não preciso dizer a ninguém o quanto fico mais perturbado a cada minuto que passa lentamente, simplesmente aterrorizado esperando a hora que a bendita vai aparecer, e pensando no que diabos ela pode estar fazendo por aí com aqueles dois.
Estou com medo, mas sei que ela está bem, e por isso tô irritado, porque ela mentiu, mas ela não está em si, e isso me deixa triste. É um misto de emoções que me deixa impaciente indo de canto a canto na casa, sentando na poltrona da sala de estar e logo se levantando de novo pra ficar rodando e rodando, vendo as horas se passar e a minha prima a me dizer que vou acabar ficando 'tonto' logo logo. Não vejo tia Bellatrix ou Rodolphus depois do jantar, e com o tempo meus pais vão se deitar ou fazer qualquer outra coisa mais importante do que me assistir rodar pela casa. Sol sobe depois de um tempo, lembrando-me que Rox não gostaria nada de me ver com ela quando chegasse e que eu não deveria tentar irritá-la mais.
Já são quase dez horas quando me largo na poltrona ao lado da lareira decididamente exausto e me perguntando se deveria ou não me jogar ali dentro. Então eu ouço algumas risadas, mas não me mexo por um tempo, apenas me permito ouvir primeiro.
— Foi incrível! — Reconheço a voz de Michael Sticker — Eu simplesmente adorei quando você fez aquele garoto sufocar, eu achei que ele tinha se engasgado, aí eu olho pra você e lá está sua cara cruel de quem acabara de fazer um coração parar de bater.
— Você arrancou mesmo a cabeça daquele playboyzinho de cabelo cacheado? — A pergunta vem de Jane, e quase me faz gritar quando simplesmente arregalei os olhos horrorizado ouvindo os passos chegando mais perto e as gargalhadas mais altas
— Ele deu em cima de mim. — Veio a justificativa nada justa com uma risadinha cruel, vindo justo da garota que eu amo
— E aquela menininha, deve ter te feito algo muito grave também, né, depois do que você fez com ela. — A risada de Michael é fria, cruel, me causa pavor
— Odeio crianças. — Seu tom é tão frio e enojado que é incapaz eu conseguir me conter; os três acabaram de chegar na sala de visitas e nenhum deles me viu ainda
— Não é verdade. — Digo com a voz vaga, quase sem reação, então finalmente levanto-me da poltrona
Os três olharam para mim. Mike e Jane reviraram os olhos, mas Rox manteve o contato visual comigo, sua aparência me assusta. Ela está coberta de sangue, a roupa, o rosto, mas não parece se importar enquanto segura um coelho de pelúcia branco e uma sacola de papelão com um desenho de um planeta, aquele do anel, sim, saturno.
— Você adora crianças — Prossigo horrorizado com a cena, horrorizado com a garota na minha frente, extremamente magoado —, sempre me disse isso.
— Disse é? — A menina retruca com desdém, antes de se voltar para Jane e Michael
Eles não estão tão sujos de sangue quanto ela, mas ainda tem algumas marcas neles, como se alguém os tivesse machucado na tentativa de resistir, lutar pela vida, talvez. Não entendo como a um olhar dela, é como se eles decididamente se entendessem. Os dois vão embora em questão de segundos depois de desejar um 'tchau' pra ela e me lançar olhares furtivos.
— E então? — Ela voltou a me olhar com uma carinha muito doce — Achei melhor pedir pra eles irem embora, não é bom termos conversas íntimas na frente de amigos, não acha? Mas, bom como dizia, docinho? Que eu... ah, disse que adoro crianças?!
— Disse. — Suspiro e estou irritado demais para ficar calado e me conter, pois ver a garota que eu amo mesmo que enfeitiçada fazer atrocidades dessa forma me quebram completamente — Disse e todo mundo sabe disso, que você é apaixonada por crianças!
— Não pode me julgar. — Diz em uma voz decididamente emburrada enquanto aperta o coelho branco para mais perto de si — Aquela garota me empurrou quando eu estava indo pegar o doce colorido.
Eu suspiro fundo, sabendo que ela pareceria uma simples criança mimada que fez alguma travessura se não fosse o fato dela ter acabado de assassinar pessoas, estar coberta de sangue e já ser uma bruxa maior de idade. De infantil só o jeito e o tamanho.
— Você mentiu pra mim. — Digo convicto e quanto mais olho para aqueles olhos verdes sinto vontade de gritar pra ele devolver os meus amados e brilhantes olhos azuis — Eu ia com você e eles dois, mas você foi embora e não me avisou, você simplesmente mentiu!
— Você não dormiu comigo. — Diz Rox simplesmente como se isso resolvesse a questão
— O quê!?
— Você não dormiu comigo.
— Mas que porra! — Nesse momento eu estou completamente irado — Você quer parar de agir como uma criança!? Que caralho! Se quer que estejamos juntos nessa, por que você vem e mente pra mim!? Foi você que pediu ao Milorde pra eu acompanhar vocês, não foi!? Então e por que agora você achou que seria divertidíssimo me deixar pra trás, por que você achou que...
As palavras tão bem pensadas na minha mente, completamente irritadas, são perdidas assim que encontro aqueles olhinhos pequenos lacrimejando. Não dá pra falar mais nada, não com ela chorando na minha frente, não sabendo que no fundo essa ainda é a garota que eu amo.
— Rox... — Eu chamo baixinho
— P-por que você está gritando comigo? — Pergunta em uma voz pastosa enquanto abaixa os olhos para o chão, vejo lágrimas pingando
Eu passo minha mão pela minha cabeça sem acreditar no que ela está fazendo.
— Você matou pessoas — Falo ainda mais horrorizado com aquilo quando as palavras saem da minha boca; ela matou pessoas? A minha ruiva? —, e agora... agora está chorando só porque eu gritei com você?
— E-eles eram maus, amor. — Ela levanta a cabeça lentamente, os olhos cheios de lágrimas que brilhavam, misturando-se com o sangue — E-eu fiz isso por nós.
— Você matou pessoas por nós? — Repito porque é inexplicável demais para acreditar
Ela assente com a cabeça.
— São sangues-ruins, imundos. — Diz e quando fala consigo sentir tanta frieza, tanta crueldade que me arrepio; dói me lembrar da minha Rox, aquela que é amiga de Hermione Granger e dos irmãos Creevey, que não se importa com o status da sanguíneo de ninguém — Vão nos poluir se não os exterminarmos, eu só fiz o certo...
Ainda tem lágrimas caindo de seus olhos quando ela abraça o coelho de pelúcia.
— Mas e você...? — Pergunta com a voz tão mimada e suave que mais uma vez me lembra uma criança
— O que tem eu? — Pergunto, cansado demais, impaciente demais
— V-você não me ama mais, Draco?
— Eu realmente já tentei muitas vezes quando era mais novo, Roxanne, tentei mesmo. Mas sabe algo que eu descobri ser impossível? — Pergunto com a voz séria, distante, e eu quero chorar, quero chorar porque não aguento vê-la nesse estado — Parar de te amar.
— Você prefere ela. — Retruca em um acesso de raiva, mas ainda chora
— Quem eu prefiro?! — Quase grito de tão irritado
— Sol! — Ela esbraveja mais alto que eu
— Ela. É. Minha. Prima! — Grito cada palavra pausadamente, irritado demais com tudo aquilo
Percebo ela deixar o coelho e a sacola de papel caírem no chão quando leva as duas mãos aos ouvidos como se tivesse se assustado, e fecha os olhos forte.
— N-não grita. Não grita. Não grita. — Pede lacrimejando, quase como uma súplica que faz quase toda a fúria do meu corpo sumir
— Hey — Suspiro profundamente, sabendo que gritar com ela não vai levar em nada, então me aproximo tentando afastar suas mãos de seus ouvidos —, desculpa ter gritado.
Ela se agarra a minha cintura assim que me aproximo o suficiente, mas logo se afasta rápido, como se tivesse sofrido um choque ou se assustado, quando abaixo o meu olhar percebo que agora a minha camisa também está um pouco manchada de sangue. Sangue de quem só Merlim deve saber.
— Q-quantas? — Pergunto tentando manter a voz neutra, mas sem no fundo querer saber a resposta
— Quantas o quê?
— Quantas — Respiro fundo para conseguir falar, dou um passo pra trás para poder olhar nos olhos dela — pessoas você matou?
— Não sei... — Responde em uma voz doce e ingênua enquanto se abaixa para apanhar as coisas que derrubou
— V-você não sabe quantas...
— Todo mundo. — Diz simplesmente em voz baixa
— Q-quê!? — Quase grito
— Todo mundo que estava na sorveteria. — Repete em sua voz suave e aparentemente inocente — Não sobrou ninguém.
Estou horrorizado, horrorizado demais, boquiaberto, extasiado, tremendo. Simplesmente observo a garota de um metro e cinquenta e três parada na minha frente, o rosto angelical cheio de sardas, cabelos vermelhos incessantes, segurando um bichinho de pelúcia e uma sacola de sorveteria, mas coberta de sangue. É difícil pensar em uma pessoa aparentemente mais incapaz de fazer uma atrocidade dessa, não consigo raciocinar.
— M-ma...massacre? — As palavras saem com tanta dificuldade e estou tão pasmo que ainda não consigo acreditar; é mentira, tem que ser, ela não seria capaz de tal brutalidade
Mas quando eu a olho, percebo o bico enorme, ela parece querer chorar de novo. Olha pra mim quase piscando os olhos e então vira o coelho branco para que eu veja seu rosto.
— Eu sujei ele de sangue sem querer. — Diz simplesmente naquela maldita voz ingênua, que quem ouvisse pensaria se tratar de uma pessoa extremamente doce, alguém incapaz de realizar um massacre em uma sorveteria
Eu pisco para o bichinho, indiferente às manchas de sangue humano presentes na pelúcia.
— Eu também estou com sangue. — Ela agora parece enojada enquanto observava sua própria roupa — Sangues-ruim. Com certeza o Mr. Claude e eu precisamos de um banho.
— Mr. Claude? — Ergo uma sobrancelha cada segundo mais pasmo
— É o nome do nosso bebê. — Fala simplesmente enquanto agarra o coelho junto de si e dá alguns passos em direção a escada
Eu a observo boquiaberto. Antes mesmo de dar três passos, Rox se vira.
— Ah, eu tinha esquecido. — Ela dá um meigo sorrisinho e levanta a sacola da sorveteria trouxa e a balança — Trouxe docinhos pra você, amor. Docinhos muito bons, você vai adorar. — E vai até mim pra me entregar a sacola — Não se preocupa — Acrescenta ao ver meu rosto perplexo —, não faz mal comer doce depois do jantar se for só uma vez, mas tem que escovar os dentes direitinho, tá? Agora eu e o Mr. Claude vamos tomar um banhinho pra tirar todo o sangue trouxa, chego no seu quarto daqui a pouco, tá bom, docinho?
E com isso ela simplesmente se vai, deixando-me com uma sacola cheia de doces de uma sorveteria onde potencialmente aconteceu um massacre sanguinário.
— Ice Cream Planet. — Leio o nome na sacola quase horrorizado — Londres...
Eu já tinha trocado de camisa – claro, não ia ficar com uma suja de sangue de cadáveres humanos – quando Rox entrou no meu quarto. Dessa vez em um pijama um pouco mais composto, composto se formos considerar o fato dela agora estar usando uma blusinha e não mais um top de renda.
Estou sentado no sofá-cama vestido em meu pijama cinza, ainda horrorizado com os acontecimentos daquela noite, e me sentindo culpado. Será que se eu estivesse junto com eles hoje à noite, poderia ter evitado um massacre? Eu poderia fazer ela voltar? Eu seria capaz de a impedir de matar alguém? É... eu simplesmente não tenho ideia alguma de nada.
— Oi, docinho. — Diz ela assim que entra, está sorrindo, mas o sorriso logo some quando ela ver onde estou — Não. Não. Você não está pensando em dormir aí de novo, não é?
Eu suspiro fundo, ainda estou irritado, mas não posso mostrar o quanto estou irritado, ela não está em si, não sabe o que é certo, estamos no meio de uma guerra.
— Você poderia ir dormir no seu quarto. — Sugiro com a voz neutra, mas percebo logo que não foi a coisa certa, ela parece irada
— Você disse que me ama! — Falou friamente com uma impaciência sem tamanho, e eu quase tive medo de ver seus poderes em ação — Pessoas que se amam dormem juntos, por que você não quer dormir comigo?!
O que eu poderia falar? O que eu poderia falar que não me entregasse? O que eu poderia dizer sem me comprometer?
— M-mas... — Eu suspiro; ela não pode ficar brava comigo, eu preciso ficar ao lado dela enquanto Sol descobre como quebrar o feitiço. Desvio o olhar por segundos, mas então uma luz mínima se acende no meu subconsciente e eu volto a olhar para ela — nós não somos casados.
— O quê? — Vejo sua sobrancelha se erguer
— Ah, meu anjo — Simplesmente me levanto do sofá me sentindo um pouco mais confiante já que sinto que com isso, talvez, eu consiga mantê-la nos trilhos —, nós não somos casados, e todo mundo sabe que só pessoas casadas e que se amam podem dormir juntas.
Seu rosto parece confuso quando ela desvia o olhar de mim, parece pensativa, suplico mentalmente que ela morda a isca.
— Quem disse isso?
— Os bruxos tradicionais seguem isso à risca, e a minha família é tradicional. — Explico começando a sentir um pingo de excitação ao ver que ela está mesmo engolindo essa história — Só estou te respeitando dormindo longe de você, m-meu amor.
— E por que nós não somos casados?
— Meu Merlim, porque nós temos dezessete anos, Roxanne. — Explico quase suspirando impaciente, ela me encara — Hey, é... estamos em uma guerra, você sabe, o Lorde das Trevas te disse, não disse?
— Disse. — Responde indiferente
— Então... é... depois de guerra podemos pensar sobre isso, não estamos em tempo de ficar retrucando isso de dormir ou não dormir juntos, estamos em uma guerra, meu docinho. — Falo com tanta convicção que é como se realmente fosse verdade, e pelo visto devo estar convicto mesmo já que ela parece concordar comigo
Ela dá um sorriso e abaixa o olhar para sua mão, bem no seu dedo anelar há um belo anel de prata que até agora eu não tinha reparado. Rox olha aquilo com admiração, e, eu não sou legilimente, mas posso jurar que agora ela acha que foi eu quem dei esse anel para ela, e vamos nos casar daqui a pouco.
— Você tem razão. — Ela olha para mim docemente, o rosto calmo, todo o estresse parece ter ido embora — Precisamos focar na guerra.
— Isso. Isso mesmo.
Sou surpreendido quando ela corre até mim e me abraça quase me derrubando, então me puxa e me dá um beijo na bochecha.
— Eu ainda posso dormir aqui? — Pergunta assim que volta a ficar parada na minha frente — Gosto de saber que você está por perto. Me faz se sentir segura.
Você cometeu um massacre em uma sorveteria e não se sente segura?
— Claro. — Respondo simplesmente a observando dá um pulinho enquanto corre para a minha cama
Volto a me sentar no sofá-cama um pouco satisfeito pelo mínimo avanço, embora o sangue ainda me dê ânsia e me traga visões horríveis.
— Rox — Eu a chamo. A garota meramente faz um "hum" —, você promete mesmo que não vai mais sair sem mim, né? Você sabe que estou do seu lado, não sabe?
— Claro, amor. — Diz a voz abafada dela por debaixo da coberta — Prometo.
Eu não confio mais nela.
Mas também, por que eu deveria confiar mesmo em um espírito possuidor que habita em um colar?
No dia seguinte eu acordo cedo, e não deixo Rox sozinha por mais de um minuto em nenhum momento, ela parece feliz com a minha presença, e quase começo a sentir que a estou recuperando. O fato de quase não termos tido reuniões com Comensais da Morte por esses dias me motiva, me dar esperanças de que talvez ela não esteja completamente corrompida.
O Natal até que não foi um pesadelo, quase achei que Rox gostava da minha mãe mesmo, mas aí eu lembrei que aquela não é a minha Rox, e os tormentos voltaram. Eu também estava perturbado desde que Sol conseguiu um jornal local e me mostrou uma notícia sobre o Ice Cream Planet, os trouxas acham que só houve um incêndio acidental, mal sabem o que realmente aconteceu. Depois de ler a notícia por cima, antes de minha prima se desfazer dela, eu tive que me segurar o dia todo, até o momento em que eu pudesse me trancar no banheiro e chorar, chorei pelas cinquenta e duas mortes de adultos, adolescentes e crianças, como se fosse eu quem os tivesse matado, como se a culpa fosse minha, e é, eu achava que no fundo era.
Mas tirando minhas recaídas ao pensar naquele dia, até que não estava tudo tão ruim. Até que o natal passou e Rox pareceu achar que estava trancada demais em casa, queria, em suas próprias palavras "ir pra ação". Era uma sexta-feira à noite quando simplesmente eu, ela, Jane e Michael aparatamos em um canto escondido de Bristol.
Eu estava feliz que dessa vez ela não tivesse ido sem mim, mas não sabia se a minha presença ajudaria ou pioraria a situação.
— Aiii que bonitinho. — Disse Rox em uma voz baixa e animada enquanto eu tremia por dentro mesmo debaixo de uma capa preta
— O que é bonito? — Eu a olhei
A garota sorriu e apontou para umas lanterninhas pequenas distribuídas por um canto da cidade que eram decididamente bonitas.
— Realmente... — Respondi suspirando fundo, mas logo voltando a observar o local ao nosso redor. Estávamos parados em uma estrada coberta de neve, bem na avenida St. Andrews, as casas eram todas parecidas, chalés decoradinhos e banhados em neve, não havia quase ninguém na rua
Olhei para Jane e percebi seu olhar distante enquanto ela observava algo no horizonte, além dos chalés que mais pareciam casa de boneca.
— Saudades de casa, Jane?
— Am? — Ela se virou muito depressa e pareceu meio ranzinza — Claro que não é isso. Apenas... apenas lembrei que Theodore deve estar em casa nessa época, férias de Natal, não é?
Eu entendo porque Jane fica meio ranzinza em falar de casa ou do pai, mesmo o vendo constantemente nas reuniões de Comensais, eles não têm uma relação lá muito fraternal, e, tenho certeza que ela não ver a hora de se livrar dele e sair da Casa Nott – que por pura coincidência fica aqui mesmo em Bristol, em um canto afastado da cidade com proteções anti-trouxas –, ela nunca pareceu suportar muito o pai ou mesmo o Theo.
— Por que o seu irmão também não é um Comensal? — Perguntou a voz de Rox de repente assim que ela começou a avançar muito devagar pela estradinha coberta de neve, indiferente ao ar gélido que cortava nossos rostos
— Papai está atendendo o último desejo de mamãe. — Jane suspirou enquanto ajeitava a capa na cabeça e também começava a andar, assim como eu e Michael — Ela queria que eu e meu irmão terminássemos o nosso ensino, algo assim, e bom... o principezinho mimado conseguiu convencer nosso pai a esperar ele terminar o sétimo ano antes de forçá-lo a isso, mas não se preocupem... logo logo em julho Theodore vai ganhar a marca. O ratinho de livraria não vai conseguir adiar isso por mais tempo depois que a escola acabar.
Senti pena pelo meu amigo de infância, ele perdeu a mãe muito cedo e não deve ter sido fácil crescer com uma irmã tão fria e um pai tão... "cruel?" É, não sei o que falar do senhor Nott, mas Theo é sempre tão brincalhão, tão divertido, às vezes nem dá pra imaginar o que ele deve passar em casa. Fico feliz que ele tenha conseguido adiar o dia de receber essa marca, se ele tiver sorte, talvez tudo já tenha acabado até julho, ele não precisa passar pelo mesmo que eu.
— Hum. — Faz Rox meio pensativa, mas por fim acaba não falando mais nada
Nós caminhamos entre a neve por mais alguns minutos, enquanto observo as árvores e os postes de luz assim que alcançamos uma pracinha, e vemos várias lojas pequenas, todas fechadas por causa do horário. Passamos por cabines telefônicas, bares e mais chalés, começo até a me perguntar onde realmente eles estão indo, até que Rox para.
— O que foi? — Pergunto observando seu rosto
Rox não fala nada por alguns segundos enquanto observa um dos chalés do povoado. Olhava diretamente para a janela de vidro do primeiro andar onde mostrava que a luz estava acesa e poderia indicar que quem quer que morasse ali ainda estava acordado. O jardim da casa era pequeno, eu tremi quando observei melhor e notei um balanço em uma árvore, tinha acabado de perceber que possivelmente teria crianças lá dentro, meu coração ficou ofegante.
— Aqui? — Michael olhou para a ruiva e perguntou o que eu não conseguia forças pra perguntar
— Sim. — Respondeu simplesmente enquanto colocava a mão enluvada no portão e observava melhor o chalé na sua frente
Ela vai matar, era o que minha mente gritava pra mim, ela vai matar de novo e o que eu posso fazer pra impedir!?
— R-rox...
A garota me olhou um sorriso vitorioso assim que acabara de abrir o portão, um rangido mínimo que não chamou a atenção de ninguém.
— Você pode fazer as honras, não pode, amor? — Perguntou em uma voz cínica, fria, cruel, carregada de manipulação; observei como a gargantilha em seu pescoço parecia queimar — Eu não tenho varinha.
E assim ela indicou a porta, ela apenas queria que eu abrisse a porta pra ela. Pra ela isso é um jogo, é apenas uma brincadeira boba de matar trouxas, de torturá-los, simplesmente acabar com suas vidas.
— Se quiser eu... — Ia dizendo Michael, mas Rox o cortou fazendo um sinal que mandava ele calar-se
— Amorzinho... — Disse piscando os olhinhos, suas mãos agora seguravam meus braços e sua voz era tão sedutora, tão forte, que era difícil não atender, era manipuladora, extremamente manipuladora
Suas mãos continuavam em mim, me empurrando até que eu parasse bem na frente da porta do chalé, ouvi umas risadas vindo de dentro. Eles estavam acordados.
— Você sabe o feitiço. — Disse suavemente bem atrás de mim, sua voz era quase sussurrada e me perguntei como ela tinha alcançado meus ouvidos até me lembrar que ela estava de salto
Eu suspirei fundo, impotente e ergui a varinha.
— Alohomora.
A porta abriu dando vista para o hall vazio. Rox sorriu em aprovação.
— Jane, Michael, andem. — Mandou antes de simplesmente passar pela porta
A ruiva olhava as coisas ao redor até que simplesmente parou, uma garotinha de cabelos escuros acabara de aparecer no hall, usava um pijama rosa e pareceu decididamente assustada assim que a viu.
— MÃE! PAI! — Simplesmente gritou, não parecia ter mais do que dez anos
Rox simplesmente levantou a mão, a garota continuou gritando aterrorizada quando seus pés saíram do chão. Eu vi os olhos da mulher que eu amo ficarem brancos e só via ódio dentro deles, apenas ódio.
— Odeio — Sua voz de repente ficou grave e sinistra — crianças!
Minha respiração ficou ofegante vendo aquela cena, me perguntei onde estariam os pais daquela menina, até que escutei uma voz feminina gritando em algum ponto lá dentro.
— Sua namorada é sinistra. — Ouvi a voz de Michael bem próxima e me assustei ao perceber que ele estava ao meu lado girando a varinha e apreciando o que a ruiva fazia com uma criança
Eu engoli em seco, não tinha palavra alguma pra isso.
Eu desviei o olhar por apenas alguns segundos e os gritos da criança cessaram, seu corpo estava no chão, olhos esbugalhados, completamente pálida, Rox a sufocou até a morte.
— Ou vocês vem e me ajudam a acabar com o resto, ou eu mato todos sozinha. — Diz em uma voz doce e normal assim que ergue o salto para passar por cima do cadáver da criança
Eu estou tremendo, e é difícil não demonstrar isso, quis vim junto achando que seria capaz de a impedir de fazer alguma coisa, mas não tenho forças para contrariar nada do que ela fale, ela me assombra.
Jane e Michael trombam em mim ao passarem, um de cada lado. Eu suspiro e os sigo, fechando a porta de entrada e seguindo-os até a sala de visita, onde Rox já observava uma mulher de cabelos escuros e vestes de dormir que gritava e chorava no chão bem ao lado do sofá.
— Emilly! — Ela dizia entre os gemidos e súplicas — Você matou a Emilly!
— Era o nome dela? — Rox perguntava sem remorso enquanto mexia sua mão direita fazendo aparecer chamas roxas nela — Belo nome.
A mulher pareceu horrorizada ao ver aquilo. Não deveria fazer sentido algum para ela. Magia, como deveria ser para um trouxa que não acredita naquilo, ver, de repente?
— Michael, Jane, chequem o primeiro andar e se certifiquem de acabar com qualquer um que virem pelo caminho. — A voz dela era fria quando disse isso, não se dirigiu a mim, não queria que eu me afastasse dela talvez, e eu não faria isso, estava travado com tal horror, sem reação
Michael e Jane correram para subir as escadas sem esperar uma segunda ordem. A mulher no canto tremeu.
— O que foi? Você tem mais filhos? — Rox perguntou com casualidade como se estivesse se dirigindo a uma amiga, como se não tivesse acabado de matar a filha da mulher e tivesse mandado matar os outros
Tremendo, eu não conseguia observar tanto horror, apenas girava pela sala, sem transparecer a superioridade e a crueldade que Rox, Michael e Jane transpareceriam.
— E-ethan... — A mulher falou em lamúria, estava aterrorizada demais em seu canto, mas não ousava desviar o olhar de Rox ou das chamas roxas em sua mão
A ruiva sorriu, parada de costas para o corredor e parecendo se divertir com a aflição da mulher. Eu a observava da parede próximo às escadas, via bem as reações das duas e tremia, como eu tremia. Sou realmente um Slytherin, covarde... extremamente covarde.
— Só dois? — Rox riu e começou a brincar com o fogo — Por que trouxas tem tão poucos filhos, hem? Sabe... eu quero um time de quadribol... sim, sete, sete lindos bruxinhos. — E deu um doce sorriso como se estivesse pensando naquilo — Casa cheia é maravilhoso, você não acha?
Eu olhei bem as feições cruéis da minha menina, e tentei captar como ela podia falar com tanta naturalidade que quer ter sete filhos, que acha casa cheia linda, tudo isso depois de assassinar brutalmente uma criança. Meu coração fica mais agitado enquanto as observo, lá fora está congelando, mas eu estou suando frio de medo, de pavor.
Rox gargalhou.
— Espero que você ou seu marido tenham irmãos, caso não sua geração acaba de morrer aqui. Aliás, querida, estamos conversando há tempos e você nem me disse seu...
— Avada Kedavra.
O grito foi suficiente para cortar a fala de Rox, para a mulher se sobressaltar e para as duas olharem para a origem do barulho. A ruiva pareceu extremamente surpresa, ela tem um ótimo sexto sentido, mas estava tão empenhada no que estava fazendo que não percebeu o que acontecia ali, já eu, tremia, tremia muito, pois acabara de sujar minhas mãos com sangue.
— Jonas... querido, acorda! Jonas! — A mulher chamava, quase gritava, chorava mais
O homem, porém, que aparecera sem ninguém prever bem atrás de Rox, e empunhando uma enorme espingarda trouxa, usada para matar animais, nunca mais conseguiria responder o chamado da esposa. Pois mesmo aterrorizado, com pavor de tudo o que vi aquela garota de cabelos ruivos fazer, fui tomado por uma fúria ao ver alguém pensar em fazer mal a ela, e não pensei duas vezes na hora de fazer o feitiço verde ricocheteá-lo. E lá estava ele, inconfundivelmente morto, atrás de Rox, ainda segurando a arma com a qual pretendia matar o amor da minha vida.
Rox observou o cadáver com apreciação, antes de me olhar com um sorriso orgulhoso, mas eu tremia, tremia como se estivesse completamente manchado com o sangue daquele homem. Embora eu não sentisse tanto remorso, toda vez que eu lembrava o que ele pretendia fazer, mas tudo morria quando eu recordava que ele só estava tentando salvar a esposa.
— Eu não tinha apresentado meu namorado ainda, tinha? — Rox sorrir quando faz as chamas roxas sumirem e volta a olhar para a mulher — Dra...
— V-vou ver se... acho a cozinha, água, preciso de água. — Falo tremendo muito querendo apenas sair daquele ambiente o mais depressa possível, não aguentando ver aquele corpo caído ou ver a mulher que eu amo intimidar alguém
E saio da sala antes mesmo que Rox tenha tempo de falar qualquer coisa, simplesmente fujo dali, como eu queria poder fugir de mim. Atravesso o corredor e encontro rapidamente uma pequena cozinha, uma mesa para quatro bem arrumada, um ambiente acolhedor, familiar. Sinto mais remorso em ver como parecia uma casa humilde.
Abro a torneira da pia e mergulho minhas mãos lá dentro, começo a lavar meu rosto, mas é como se mais eu lavasse minhas mãos ou tentasse molhar meu rosto, não adiantasse de nada, o sangue estava ali, simplesmente ali, não ia sair, eu matei uma pessoa, eu matei.
Virei de costas para a pia e deslizei até o chão sentindo lágrimas caindo dos meus olhos bem devagar, o Lorde das Trevas não me chamaria de covarde agora, eu não matei Dumbledore, não tive coragem, mas o feitiço da morte simplesmente escorregou dos meus lábios assim que eu vi alguém ameaçar a vida da garota que eu amo.
Não sou um vilão, repito para mim mesmo, mas tenho convicção de que mataria de novo se alguém a ameaçasse, se alguém tentasse tocar nela. Eu sempre fui assim, faria qualquer coisa por essa garota, isso... isso me faz um monstro?
Ele ia matá-la. Algo diz no fundo da minha mente.
Ela matou a filha deles. Outra voz responde.
Bato meu punho forte no chão e engulo o choro. Estou numa guerra, preciso lembrar disso.
— Docinho? — Escuto sua doce voz assim que a garota ruiva adentra a cozinha, ela vem até mim e se abaixa assim que percebe que estou sentado no chão — Você está bem?
Ela está suja de sangue agora, sei que ela matou aquela mulher, mas eu não consigo sentir ódio dela agora, não sabendo que ela não está em si e que poderia está morta nesse momento.
— Estou. — Digo fungando e fazendo as lágrimas voltarem para dentro
Rox sorrir.
— Você matou ele. — Fala enquanto estende a mão para me ajudar a levantar
Está claro a diferença dela para a minha Rox. Rox não me lembraria que eu o matei, ela me falaria que eu a salvei.
— É. — Eu tento não me sentir tão mal quanto aquilo, mas a lembrança do feitiço verde atingindo o homem continua a me assombrar. Eu poderia o ter estuporado, poderia ter o paralisado... não precisava matar
Quando chegamos à sala de estar, Michael e Jane já nos esperam.
— O que houve? O bebezinho não aguentou o trampo de cometer um homicídio? — Sticker brinca me fazendo se agitar mais uma vez, mas ele logo recebe um cascudo de Jane para ficar quieto
— Eu tomaria cuidado com a língua se fosse você, Sticker. — Rox fala em um tom frio, parece querer falar alguma coisa, até que se assusta ao ouvir vozes do lado de fora — O que está acontecendo? Vocês não disseram que já tinham matado as outras pessoas da casa?
— Só tinha um garoto no primeiro andar, eu o matei. — Jane diz enquanto franze a testa
— Então o que é isso? Eles chamaram os aurores trouxas? — Rox pergunta revoltada
Michael ergue as sobrancelhas. Já Jane apenas fala:
— Eu não sei.
Rox bufa e vai até a janela coberta por uma cortina e tenta ver o que acontece do lado de fora, puxando só uma brecha.
— Quem é? — Eu pergunto meio que suspirando fundo
— Trouxas. — Diz enquanto vira-se de volta para nós — Tem dois sangues-ruins parados ali no portão. Nada de mais, eu acabo com eles. — E quando observa que nenhum de nós três nos mexemos, acrescenta: — O que foi? Vamos logo, eu quero voltar pra casa.
— Rox — Eu seguro em seu braço e ela se vira pra me olhar —, não seria melhor irmos embora? Podemos desaparatar daqui.
Até escuto um grunhido de Michael, ele parece querer rir, mas se sente desencorajado a continuar a zoar quando Rox o lança um olhar mortal.
— São só dois sangues-ruins, docinho. — Ela acrescenta para mim com um sorriso, antes de se virar e caminhar para o hall
Eu suspiro, mas não me demoro, não quero continuar no mesmo ambiente de cadáveres. Michael e Jane caminham logo atrás de mim. Escuto vozes do lado de fora agora, antes mesmo que eu possa vê-los, Rox os responde, percebo que estão perguntando pelo tal Jonas, e sobre os gritos que ouviram na casa. São apenas vizinhos preocupados. Quando eu também coloco o rosto para fora da casa e saio posso ver os dois homens agasalhados na frente do portão, um é mais alto que o outro e tem cabelos pretos e ar humilde, o outro é baixo e barrigudo quase careca. Eles se entreolham.
— Gritos, eram claramente gritos. — Diz o mais baixo com um ar ranzinza — E vocês dois, quem são afinal? O que fazem na casa do Jonas a essa hora da noite?
— Achei que ele e a esposa dele podiam precisar, de, sabe, companhia... — Rox fala em um tom frio e calculado, uma risadinha cruel
O homem alto arregala os olhos enquanto a observa, e eu percebo porquê, seus olhos estão brancos agora, o vento faz seu cabelo voar, lhe dando um ar sinistro. Me viro assim que ouço o som da porta, Michael e Jane acabaram de sair e batê-la.
— Sabe vocês são ótimos vizinhos. — A voz de Rox ainda é suave, embora seus olhos estejam sinistros; eu continuo a uma boa distância deles — Jonas, Angela e os filhos ficariam orgulhosos se soubessem que vocês morrerão só porque tentaram ser legais e ver como os vizinhos estavam. Muito nobre vocês trouxas, sabe.
O mais baixo grita aterrorizado e começa a correr depressa, enquanto o outro parece paralisado. Rox sorrir dando passos para frente e se vira para o fugitivo, faz um movimento com a mão e é como se uma corda invisível o prendesse, o homem simplesmente caí, incapaz de continuar a correr.
— Se correr o bicho pega — Fala divertida enquanto o arrasta pelo chão de volta para onde ele estava; seus olhos brancos e sinistros se voltam mais uma vez para o homem alto que não parece ter reação, a boca está aberta em um 'O', e ele parece aterrorizado —, mas se ficar... — Ela balança a cabeça meio gargalhando; eu dou um passo pra trás mais aterrorizado quando vejo seus olhos se tornarem completamente preto e uma enorme sombra como um vulto sinistro surge atrás daquele homem. A voz dela está grossa e sombria quando acrescenta — O BICHO COME!
E a enorme figura parece engolir aquele homem em uma nuvem de fumaça, ele não teve tempo de gritar, de pensar, continuava paralisado de medo, quando foi levado. Eu continuo tremendo, os olhos arregalados, quase fecho os olhos para não ver o que o futuro reserva ao homem mais baixo, mas em segundos ele já foi sufocado até a morte.
Rox agora bate uma mão na outra e está abrindo o portão, indiferente a tudo o que fez, ou se alguém das lojas fechadas ou do caminho tortuoso a viu. Eu tento não pensar quando caminho devagar em sua direção e tento não ouvir a comemoração ou os aplausos e felicitações de Michael e Jane, antes que eu possa raciocinar qualquer coisa já temos desaparatado e estamos de volta à Mansão.
— Preciso de um bom suco de abóbora, vocês esperam um minutinho? — Rox pergunta casualmente e se retira da sala de visitas antes mesmo que eu possa raciocinar
Eu me largo na poltrona perto da lareira e olho para as minhas mãos, me assusto ao perceber sangue nelas, isso me amedronta.
— Rox, não seria melhor irmos embora? Podemos desaparatar daqui. Eu estou com medo. nhém, nhém.
Levanto a cabeça assim que o escuto. Michael Sticker está bem na minha frente, e agora ele rir e caçoa livremente.
— Mike. — Jane tenta retrucar, mas o garoto não dá ouvidos
— Olha só, Jane, ele é patético! — Michael prossegue — Um covarde, como todos dizem, ele e o pai dele não conseguem fazer nada do que o Lorde manda.
Eu não o respondo, apenas suspiro e desvio o olhar. Ele está certo.
— Que foi? Não consegue nem me contrariar, moleque? — Ele insiste, parece sério — Me diz, que diabos, ela vê em você, hem? A grande feiticeira encantada pelo comensal da morte mais frouxo e covarde que podia existir. Pelo mais patético, é o quê? Ela gosta de te proteger com os poderes dela, te salvar como se você fosse uma princesinha em apuros.
Mais uma vez eu não respondo, não vale a pena, retrucar não vai levar a nada.
— Hem, moleque!? — Sticker parece irritadíssimo, ele tem prazer em irritar os outros, tá incomodado que eu não retruque, eu sei que está — Por que não compartilha com a gente o feitiço que você usou pra fazer ela se apaixonar por você? Porque não é possível que uma mulher daquela vai olhar pra um covarde como você sem que você tenha feito nada.
— Mulher? — Eu olho para Sticker pela primeira vez, enojado com sua fala, furioso com o seu tom — Ela tem dezessete anos, é um nojo você falar dela como se ela fosse uma mulher adulta e você tivesse idade pra desejá-la.
— E não tenho? — Michael sorrir ao ver que finalmente eu pareço o estar desafiando
— Mike, para... — Jane tenta falar
— O que são nove anos, né? — Ele meio que rir quando eu me levanto e o encaro — Mas vamos, Malfoyzinho, por que não compartilha a verdade comigo e a Jane? Que feitiço você usou pra ela se apaixonar por você? Porque sinceramente não é possível, não é possível mesmo que com tantas pessoas ela tenha escolhido justo você, justo o covarde. Com pessoas como...
— Você? — Desdenha uma voz cínica chegando de repente
Eu e Michael olhamos na mesma hora. Rox está parada na entrada do corredor que leva a cozinha e segura um copo de vidro com suco e canudo. Sticker ao vê-la fica vermelho instantaneamente.
— Ôu, não se retraiam por mim, continuem. — Ela incentiva dando passos para chegar mais perto
Nós não falamos nada, a observando dá um gole no suco.
— Você dizia, Mike, pelo que eu pude ouvir... — Rox começa, parece séria — que acha que eu fui enfeitiçada, é isso? Com tantas pessoas por aí, não é, não faz o menor sentido eu ter escolhido o Draco. Era isso Michael que você estava dizendo? Continua, eu quero ouvir.
Ele tem medo dela. Percebo isso assim que observo o jeito que Michael está agora, ele está assustado, perdidamente assustado, e se eu não tivesse não irritado, sentiria pena.
— N-não... não era o que eu estava dizendo... eu, eu e o Draco só estávamos tendo um papinho de...
— Sobre quem eu deveria ou não amar? — Rox pergunta, parece casual, mas se olhar matasse, Michael já estaria morto
Jane parece nervosa, eu ainda estou irritado. Rox, indiferente aos demais, coloca seu copo de suco na mesinha de centro. Michael se apressa em respondê-la.
— Não, eu... — Ele olha pra Jane, depois pra mim, está aterrorizado — não era isso que...
Dou um pulo pra trás assim que Rox levanta a mão e faz os pés de Michael saírem do chão, ela o segura pelo pescoço exatamente como fizera com a menina em Bristol. Eu estou apavorado, até esqueço que tinha mesmo me irritado com o Sticker, viro o olhar para Jane que me lança um olhar suplicante, como se implorasse para que eu pedisse pra Rox o soltar, mas ela, ela está fora de si.
— Você aproveitou o momento que eu saí por míseros minutos, pra simplesmente ficar colocando coisas na cabeça do meu namorado, Sticker!? — Sua voz é carregada de rancor, uma fúria sem tamanho. Eu até esqueço que ela está me defendendo
Michael está ficando vermelho, não consegue dizer uma palavra, seus olhos estão tão arregalados que me causam terror.
— Rox... não... por favor... — Jane implora e parece à beira das lágrimas
— Sabe quem é o único covarde aqui, Michael Sticker? — Rox rosna furiosa, seus dedos se contorcem com ferocidade — Você. Se fosse corajoso o suficiente falaria o que pensa do meu namorado na minha frente!
Eu não tenho qualquer reação, Jane ainda grita e chora, Michael se contorce inteiro enquanto sufoca, os pés balançando a um metro do chão.
— Cê quer saber porque eu escolhi ele e não qualquer outro, Mike, você quer!? — E a cada palavra ela mexia mais os dedos com ferocidade — Porque eu o amo! Eu amo o Draco, você está entendendo? Eu o amo, seu montinho de merda!
E com isso ela mexe a mão e o joga para um lado na sala, de modo que Michael Sticker bate em cheio na parede, bem no quadro do meu tataravô e logo caí no chão. Jane vai até ele aos prantos, completamente desesperada.
Eu fico no meu canto paralisado, olhando-os.
— Michael... — Ela chama — Mike, acorda! Acorda! Mike, fala alguma coisa! Mike, por favor! Mike!
Ela o balança enquanto chora e tenta fazê-lo ter qualquer reação, mas já faz um tempo que Michael parou de se mexer, estou longe, mas dá pra notar que ele está vermelho. Jane está com os olhos cheios de lágrimas quando se vira e berra:
— Você o matou! Você matou ele!
— Droga... — Rox fala com um muxoxo em uma voz decepcionada
Eu desvio o olhar de Jane e olho para ela, notando que ela tem uma mão no ouvido direito.
— Eu perdi meu brinco — Ela solta outro muxoxo —, que merda, era o meu par favorito.
Eu pisco, incrédulo, enquanto ela se abaixa e pega seu copo de suco.
— Quer saber, vou tomar um banho. Te vejo no quarto daqui a pouco, docinho.
E com isso ela simplesmente saiu da sala de estar, indiferente a todo o caos que deixou pra trás. Deixando-me ali em choque, e uma Jane Nott desesperada em cima do corpo morto de Michael Sticker. Mas ela não se importa com nada disso, seus olhos de cobra deixam isso bem claro.
Hello bruxinhooos!!
Como estamos??? Eu real amo e odeio os capítulos da Dark Rox, sobre esse tem pontos muito engraçados e outros bem tenso... mas confesso que o Draco dizendo pra Rox que eles não podem dormir juntos porque não são casados é algo que me faz rir muito kkkkkkkkkkk. Ele é um gênio, não é??
Bom bruxinhos isso aí, nos vemos na próxima segunda-feira, onde teremos capítulo pelo ponto de vista do trio de ouro, e aí, o que acham que vem por aí?
Amo vocês!! Sem ameaças pra mim hoje porque é véspera do meu aniversário, uhhuu!!
– Bjosss da tia Nick.
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