137 | Vernon's Necklace
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137. O Colar de Vernon
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É magia das trevas, Draco, das fortes... das piores. É magia das trevas e antiga!
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Eu continuava paralisado olhando para a garota sentada na mesa com os Comensais da Morte e bem ao lado do Lorde das Trevas que ao mesmo tempo que parecia com o amor da minha vida estava tão diferente.
— Vem docinho. — Ela chamou com um sorriso que pareceu temporariamente meigo, então olhou para a cadeira ao seu lado de forma cruel, com um revirar de olhos para o Comensal sentado ali; sua voz era maléfica e fria quando ela se dirigiu à ele — Você não pretende continuar aí, não é?
Vi Jugson olhar com revolta para ela, parecia indignado, ofendido e extremamente irritado. Eu não tinha idéia do que poderia acontecer, até que eu a vi olhar para o Lorde, suplicante, parecia... parecia uma criança muito mimada prestes a pedir algo a um pai que nunca lhe negaria algo.
— Ele não precisa sentar aqui, precisa? — Perguntou em um tom devidamente mimado e um tanto cruel
— Claro que não. — O Lorde das Trevas sorria satisfeito de vê-la, de tê-la ali, tudo só bagunçava mais minha mente; vi o Lorde olhar para o Comensal com um olhar cortante — Jugson, tem outras cadeiras livres.
A um olhar do lorde Jugson se assustou o suficiente.
— S-sim, Milorde. — E se apressou, não demorando mais do que dois segundos até estar sentado em outro lugar, ou seja, a cadeira ao lado dela, e bem próxima ao Lorde das Trevas estava vazia.
— Agora sim. — Rox sorriu meigamente e se aproximou de mim que ainda não tinha mexido um músculo — Vem docinho, o Milorde está contando algo muito divertido.
Suas mãos agora seguravam meus braços e me puxavam diretamente para a mesa que já a algum tempo eu tinha começado a associar como mesa do inferno, não podia acreditar que vivi pra vê-la me levar ao lugar que eu mais odiava. Mas aquela não era ela, seus olhos me explicavam o que estava bem explícito e aquele colar... não, a Rox que eu conheço nunca trocaria de lado, claro que não, ela... ela está enfeitiçada.
Sentados lado a lado naquela mesa, bem como o Lorde disse que um dia estaríamos se eu a fizesse mudar de lado, senti a pior sensação do mundo. Eu sou um vilão, eu sou um monstro, não ela...
A olhei, observando os olhos verdes brilhando excitados, as mãos segurando a taça de coquetel alcoólico ao qual bebia com gosto, sentindo-se superior a todos que estavam naquela mesa, que a olhavam satisfeitos, temerosos ou talvez tão surpresos quanto eu, mas ela vibrava de empolgação.
— E então, Draco? — Disse a voz fria e cruel do Lorde das Trevas me fazendo se sobressaltar ao perceber que se dirigia a mim, e estava tão perto — Estávamos todos à sua espera, já que a grande feiticeira parece ser tão... encantada por você.
Encantada. Ele a enfeitiçou e ainda faz piada com o fato dela ser apaixonada por mim, só porque não acredita em amor. O jeito que ele pronunciou essa simples palavra, o tom que ele usou, deixa claro o quanto ele abomina isso, o quanto não entende, o quanto queria que ela se importasse mais com poder e não com amor.
— Seus pais pareceram maravilhados com ela. Quem sabe agora os Malfoy pareçam mais felizes com a nova habitante da Mansão.
Eu olhei para meus pais do outro lado da mesa, e eles devolveram o olhar expressivo pra mim, meu pai tentando parecer extasiado, já mamãe parecia notar meu desconforto.
— Bom, todos deveriam estar felizes! —Exclamou em voz alta e clara o Lorde — Agora que a arma está aqui e fez o juramento de lutar ao nosso lado e fazer tudo que eu a pedir, não é mesmo, Roxanne?
Vi o sorriso se formando no rosto da garota que eu amo, os olhos brilhando junto com o sorriso cruel, antes que ela respondesse, o que parecia não perceber que era uma sentença.
— Claro, Milorde. Tudo!
— Narcissa lhe mostrará onde você poderá dormir e imagino que possa lhe dar roupas novas, não é, Narcissa? — O Lorde olhava diretamente para minha mãe que assentiu
— Sim, Milorde.
— Sinto que seremos ótimas amigas, sogrinha. — Rox deu uma gargalhada de leve; ela nunca falaria isso, nunca, e isso só me assustava cada vez mais de vê-la fazer e falar coisas que nunca faria em sã consciência
Rox e minha mãe se dando bem? Rox e a minha mãe sendo amigas? Não, eu nunca vi isso nem nos meus sonhos mais insanos. São realidades distintas, impossível.
Mas, o Lorde das Trevas riu com afeição à frase de Rox.
— Roxanne, você terá permissão para sair da Mansão e terá pequenas missões para cumprir pra mim, servicinhos leves que ajudará a manter seus poderes mais fortes. Imagino que a garota Nott e o Sticker poderão te acompanhar. — E nisso o Lorde indicou duas pessoas que estavam sentados a um canto da mesa depois de Dolohov e Stephen Yaxley, a duplinha do mal, por assim dizer: Jane Nott, a irmã mais velha de Theodore, e Michael Sticker que se eu não me engano devia ser namorado ou primo dela, quem sabe, a única coisa que sei é que os dois são inseparáveis, parceiros de crime desde que Jane se alistou por ordem do pai
Por um lado parecia bom ele ter escolhido Jane e Michael e não Jonathan e Hadley Burke. Os irmãos Burke são comensais há muito tempo, são extremamente cruéis e sanguinários, não posso imaginar o que seria da minha ruiva com esses dois, mas, na mesma perspectiva, Jane e Mike não são flores que se cheire também, são cruéis, todo o mundo sabe. Jane nunca foi muito simpática, nem na época que eu e Theodore éramos crianças e eu ia à casa Nott, mas quem diria que ela pudesse virar uma Comensal? Bom... quem sou eu pra julgar depois de eu mesmo ter ganhado a marca, não é?
De qualquer forma, eu estava prestes a pedir para ir com Rox, não porquê eu quisesse ver o que ele pediria, mas porque de alguma forma eu precisava ajudá-la. Rox não está em si, e não sinto-me bem sabendo que ela fará coisas, coisas que nunca faria em sã consciência, coisas insanas. A garota ao meu lado, essa garota da risada cruel e cinismo, ela não é a garota por quem eu me apaixonei. Mas não preciso falar nada, ela ficou cruel, mas ainda é apaixonada por mim pelo jeito.
— O Draco pode ir comigo também, né Milorde?
O Lorde das Trevas me observa como se penetrasse minha mente, como se soubesse meu desconforto. Ele sempre sabe mais do que mostra. Ele simplesmente abomina qualquer coisa que envolva amor, para ele é sempre o poder que importa. Mas Rox me ama, e eu a amo. Ele quer os poderes dela, não vai fazer nada que contrarie o que ela quer, não agora que a enfeitiçou. Mas talvez esteja se remoendo por o feitiço não ter a feito me odiar.
— Claro. — Respondeu simplesmente, a voz cruel e fria de sempre
Rox bateu palminhas entusiasmada e olhou para mim, que forcei um sorriso rapidamente, como se estivesse feliz com isso. Feliz que fôssemos sair em uma missão com uma das duplas mais cruéis que já conheci. O pior foi quando percebi que o amor da minha vida parecia mais cruel e com mais sede de sangue do que os outros dois.
Mas logo a explicação chegaria para mim.
— Vernon. — Sol me contou naquela noite quando finalmente conseguimos ficar sozinhos e eu fui até seu quarto no segundo andar; um cômodo todo cinza e que em nada se parecia com a personalidade dela. Indiferente ao fato de que até de manhã estávamos brigados, agora os dois jazíamos sentados no tapete, a cama nos escondia de quem quer que abrisse a porta de repente, e ela segurava um livro marrom de aspecto muito antigo — Sim, com certeza é, ela está usando o Colar de Vernon.
Sol mostrava para mim algo naquele livro de letras miúdas e esquisitas, entre as letras, uma figura bem semelhante ao colar que agora jaz no pescoço de Rox. A gargantilha preta e grossa de couro ilustrada em cores antigas naquelas páginas.
— Magia antiga? — Perguntei com um suspiro cansado
— Sim. — Ela confirmou com pesar — A lenda diz que o Vernon mexe com a mente, distorcendo a realidade de quem o usa e deixando-o cruel. Não dá pra entender direito, o livro está em Runas Antigas, mas pelo que dá pra saber, esse colar... o colar que ela está usando é capaz de deixar o coração mais puro totalmente negro.
Eu não respondi, estava horrorizado olhando para o livro em suas mãos, mas óbvio que não compreendia nada do que estava ali. Eu não entendia nada de runas, nem mesmo sabia que minha prima tinha feito essas aulas.
— Já ouviu o conto do Senhor das Trevas, não é? — Sol me olhou de um jeito expressivo, ela também estava mal com tudo, eu sabia bem, então assenti — Médiumagas são facilmente manipuladas e o Vernon está na cabeça dela agora, como o lance da adaga do senhor das trevas. Aliás — E ela começou a folhear os livros —, tem algo que menciona que o Colar de Vernon foi criado com um pó extraído de... não dá pra entender a tradução direito... droga, eu deixei meu livro de Runas em Hogwarts. — E então bufou e me olhou — Olha, tem algo haver com a adaga e a Excallibur, mas esse colar age de forma diferente, ele deixa negro o coração da pessoa e a cada atrocidade que a pessoa fizer, mais negro seu coração ficará. A pessoa que usar esse colar vai ficar corrompida de tal forma que não se satisfará com pouco, terá prazer em ver e fazer os outros sofrerem. Voldemort está a controlando, Draco... ele poderia pedir pra ela nos matar agora que ela obedeceria.
— Você não viu a forma como ela estava mais cedo? Ela não estava cruel comigo. — Comentei horrorizado com as palavras de minha prima e cada vez mais nervoso com o que eu descobria, mas mesmo assim tentando me convencer que o meu amor não estava de todo má
— Isso não deveria acontecer. Acho que... o Lorde não contava com isso, o coração dela deveria ficar negro, mas... ela não tem a sede do poder como o Senhor das Trevas, e... ela te ama.
— O quê? — Pisquei os olhos sem entender muito bem o que isso poderia significar
— É uma magia antiga e extremamente poderosa, talvez mais forte que muitas das outras, mas o Lorde abomina essa magia, ele simplesmente a ignora, mas o que ela tem de poderosa, tem de perigosa. Amor, Draco! O amor está dando pane no colar, ela, a Rox, se tornou cruel, mas não é capaz de ficar cem por cento má, porque ela te ama!
"O coração dela deveria ter ficado negro só pelo fato dela estar usando aquele colar que é como uma possessão, como se um demônio poderoso estivesse no seu corpo, com o tempo até suas memórias serão afetadas e tudo ficará confuso. Mas, pelo que você tá falando e pelo que deu pra ver, as coisas não funcionaram cem por cento como tinham que ocorrer, tem um lado puro ainda dentro dela, no fundo, aquela garota cruel ainda é a Rox!Ainda é a garota que você ama!"
Eu me agarrei a uma pontada de esperança, perguntando se a descoberta poderia significar que poderíamos salvá-la, puxar Rox de volta desse abismo de trevas que ela entrou, a fazer ser ela de novo. Mas ao mesmo tempo tinha noção do inferno em que eu me encontrava e do que significaria tentar salvar o meu amor, bem no nosso caminho tinha o Lorde das Trevas... é, seria impossível acreditar que tudo ficaria bem.
— É por isso que ele quer que ela cumpra servicinhos pra ele. — Sol suspirou, sem olhar pra mim, enquanto fechava seu grosso livro e passava a varinha por ele; em segundos Poderes Inanimados e Trevas se transformou em um exemplar de um livro infantil para bruxos: A pequena serpente e o urso
— Você sabe o que...
— Teorias. — Respondeu simplesmente — Ele quer que o coração dela fique negro, não é? E não é só para ela ficar mais cruel do que é, até porque ela já está do lado dele dessa forma, mas acho... acho que ele quer que ela fique mais poderosa na Necromancia, e o que seria mais eficaz para realizar rituais sombrios e monstruosos do que ter um coração negro, carregado de trevas e sem ressentimento?
Meu coração se agitou com a menção daquelas palavras, minha respiração pareceu ofegante.
— Ele vai mandar ela matar pessoas, torturar, as maiores atrocidades que você puder imaginar, até que a sede de sangue a corrompa e nem o amor seja capaz de trazê-la de volta. Vai transformá-la em sua marionete das trevas, a mais cruel delas, uma bonequinha assassina com prazer no sofrimento alheio. — Sollaris falava teatralmente olhando fundo nos meus olhos e me assustando cada vez mais com as palavras e com o tom que ela usava, embora, notei que seus olhos brilhassem também horrorizados com aquilo — Ela será a princesa das trevas.
Eu tremi com sua frase final, horrorizado com aquilo, horrorizado em pensar que o amor da minha vida se tornaria isso, um ser frio e sem coração.
— E... e o que fazemos? — Perguntei assim que consegui fazer algo sair da minha boca, minha respiração mais ofegante e meu coração mais agitado a cada segundo
— Eu não sei.
— O quê? — Me assustei vendo ela se levantar e ir até o armário onde suas roupas estavam guardadas
— Meu livro de Runas, Draco, eu o deixei em Hogwarts, não consigo traduzir o fim do livro. — Ela suspirou cansada, sem se virar para mim, apenas remexendo em suas coisas, até guardar o livro envolto de um cachecol e dentro de uma caixa de sapatos, totalmente escondido — E mesmo se eu conseguisse... — E nisso ela virou pra mim — Qual a garantia de que encontraremos mesmo algo para quebrar aquilo? É magia das trevas, Draco, das fortes... das piores. É magia das trevas e antiga!
— Você quer que eu relaxe — E nisso comecei a me levantar do tapete — e observe o amor da minha vida ser corrompido por um colar espírito maligno possuidor das trevas? É isso!?
— Eu não tô mandando você relaxar! — Ela retrucou ofendida — Estou dizendo que eu não sei o que fazer.
— Ela está aqui por sua culpa! — Acusei, todo meu corpo tremia, e eu sei que não devia brigar com a única pessoa que me entendia no momento e a única com que eu podia contar, mas eu estava furioso — Ela devia estar, sabe-se Merlim onde, com o irmão dela, Granger e Potter, fazendo o que raios eles acham ser certo pra salvar o mundo bruxo. E eles iam conseguir, iam ficar bem, ser heróis, isso se você não tivesse a sequestrado e a trazido direto para o inferno!
Vi o rosto da minha prima, não irritado como o meu, mas ofendido, magoado, totalmente derrotado.
— Você acha que você é o único que sofre, né? — Ela perguntou e pelo seu tom parecia amargurada ou prestes a chorar, mas então seu tom ficou duro — Acha o quê? Que eu mesma queria estar aqui? Ele iria me matar se eu não fizesse logo o que aquela maldita profecia dizia que eu tinha que fazer! Trazer a porra da arma para o Lorde das Trevas! Então veja se deixa de ser babaca e entende que a única pessoa aqui que está do seu lado sou eu! Engole seus julgamentos e entenda essa droga! Eu estou com você, Draco! E também me importo com ela, ela é minha amiga, e eu sou apaixonada pelo irmão dela, você ainda não percebeu?!
Eu virei o rosto com impaciência, não querendo admitir que ela estava certa e que eu quem estou agindo como um babaca imaturo, mas sei que ela tem toda razão.
— Nós dois nos apaixonamos pelo proibido. Nós dois não temos escolhas. Nós dois estamos no inferno. Nós dois não podemos ir embora. Nós dois, está ouvindo!? Eu e você, seu babaca! — E ela me deu um tapa no braço me fazendo olhar para ela — Você está entendendo?
— Ai, Sollaris! — Resmunguei com um dar de ombros — Eu tô entendendo!
— Sabe a diferença de mim pra você? — Ela pergunta de repente; eu nego com a cabeça, indiferente — Sua mãe te ama, e mesmo nesse caos, ela só quer que você fique bem e quer te proteger. Sabe a minha? Ela quer que eu me foda se eu não fizer tudo o que ela manda e agradar o Lorde das Trevas. Tem idéia do quanto eu me esforço pra ela sentir um pinguinho de orgulho de mim?
Eu suspirei ressentido com suas palavras, sabia que era verdade.
— Mas eu não estou me sentindo bem, não mais... não que algum dia eu tenha sentido. Nem eu e nem você somos vilões e já estamos percebendo que não vale a pena nada disso que estamos fazendo. Essa rivalidade entre trouxas e sangue-puro, sendo que nós só queríamos ser nós mesmos e ficar com quem a gente gosta.
Eu olhei para o chão, sentindo o peso daquilo que ela acabara de falar, sentindo a verdade na forma que ela se expressava, eu realmente não queria uma guerra, não quero que ninguém morra, não quero mais o poder, ser grande, não... não... só queria poder ficar com a Rox, só isso, ser... feliz, talvez.
— Mas não temos como fugir. — Disse ela de forma profunda — Já estamos no inferno, já estamos no fundo do poço e sabemos que temos que cumprir tudo o que ele nos mandar, ou morrer...
— Mas e se... e se... — Tentei falar me agarrando a um mínimo pingo de esperança
— Eu só queria que eles sentissem orgulho de mim... — Sol falou enquanto piscava os olhos, seus cílios pareciam um pouco molhados
— Eu também. — Suspirei pensando em meus pais
— Vou tentar traduzir o livro. — Ela fungou, passando as costas das mãos nos olhos e engolindo o choro — E vamos dar um jeito de... de fazer algo certo, pelo menos uma vez na vida, ok? E... e... a gente dá um jeito.
— Ou morre tentando. — Eu lhe dou um sorriso triste de quem já está cansado de tudo, de quem viu o amor de sua vida tentar se matar, mas quem quer morrer é ele próprio
Sol me devolveu o sorriso triste e apertou minha mão, dizendo com o olhar que estávamos juntos nessa merda, e é isso que importa.
— Desculpa por ter gritado...
— Tudo bem. — Disse ela — Eu entendo. Olha, só tenta ficar perto dela, da ruiva, você por perto pode retardar o processo das trevas se apoderarem do coração dela. E... talvez você consiga evitar que ela faça certas atrocidades...
Eu não precisava do mandado de Sol para saber que eu precisava fazer exatamente isso, e mesmo que não precisasse eu o faria. Garantir que o meu amor não se corrompa, garantir que a garota por quem eu me apaixonei vai voltar.
Onze horas da noite. Era exatamente o que dizia o relógio no criado mudo do meu quarto. Não era em si tarde, mas ultimamente eu estava indo dormir às nove, o que mais eu poderia fazer afinal? Só me demorava mesmo nas vezes em que era obrigado a participar de reuniões noturnas, ou tinha que falar com Sol.
Não vejo Rox desde o jantar às sete, que foi antes da minha conversa com a minha prima, no qual tive a brilhante descoberta do maldito colar. Tudo que sei foi que depois do jantar mamãe disse que mostraria o quarto que a ruiva poderia dormir e lhe daria tudo que ela precisasse, e as duas simplesmente saíram, não vi mais nenhuma desde então.
Os minutos tem se passado devagar desde que me deitei, mas ainda não consigo pregar o olho, a insônia bateu mais forte hoje, mais forte do que na noite depois que presenciei a garota que eu amo atentar sobre sua própria vida, mais forte do que as noites seguintes à essa. Hoje está simplesmente mais perturbador que nenhuma outra noite, pois hoje um espírito maligno possuidor está dentro da garota que eu amo, e isso vai ficar martelando por horas na minha cabeça, eu sei que vai.
O relógio tinha acabado de marcar 12:30 quando batidas de leve são escutadas da porta do meu quarto me fazendo se sobressaltar. Isso é decididamente estranho, principalmente tendo em vista a hora. Seria Sol? Será que ela não tá conseguindo dormir? Será que ela descobriu algo que não pode esperar até amanhã pra contar? Será que ela conseguiu traduzir o livro?
Me agarro à mínima faísca de excitação quando salto da cama, calço minhas pantufas e me dirijo até a porta. A abro com um quase sorriso, mas no fundo preparado para a decepção de ser uma notícia ruim, ou uma reunião marcada de última hora. Mas o que meus olhos vêem é completamente diferente do que o esperado, é... é... completamente demais para minhas íris cinzas captar com rapidez, simplesmente algo que faz meu corpo paralisar e meus olhos se arregalarem.
E lá, bem na minha frente, na porta do meu quarto, medindo apenas míseros um e cinquenta de altura, sim, a altura de uma criança, mas que não consistia com todo o resto. Usava simplesmente um pijama deliberadamente curto, que consistia em um short rosê com renda na barra e uma blusinha que podia simplesmente ser associada a um top ou sutiã pelo fato de deixar toda a barriga à mostra e de ser de um preto rendado, por cima da roupa havia um robe de seda, da mesma cor do short, mas que por estar aberto não adianta de muita coisa. Seu cotovelo se encostou no batente da porta, o rosto encostado na mão esquerda, enquanto a direita estava na cintura e vi que ela sorria.
— Oi. — Disse da forma mais suave que eu já a ouvi falar, se divertindo com o efeito que ela sabia bem causar sobre mim
— Rox. — Eu suspirei fundo mantendo meus olhos nos seus e dando um suspiro impaciente, mas tentando forçar um sorriso nada verdadeiro
— Você gostou do meu pijama? — Perguntou na mesma voz suave e extremamente doce, mas que continha um toque de malícia — Sua mãe que me deu, estou com um guarda-roupa perfeito agora de roupas... ah, formais isso.
Eu engoli seco, completamente paralisado com o tão linda era a garota na minha frente, com o tão... ah!
— É... — Falei meio irritado comigo mesmo e ainda a olhando da porta — Mas esse pijama não parece muito formal, não acha?
— Você não gostou? — Ela fez biquinho e segurou a barra do robe enquanto abaixava os olhos para olhar a própria roupa — Pensei que você fosse gostar. — Seus olhos voltaram pra mim — Quer que eu tire o robe? Talvez...
— Não! — Exclamei antes que pudesse me conter, e meu braço já apertava seu pulso e a puxava pra dentro do quarto, em segundos a porta batia com força — O que você tem na cabeça pra ficar perambulando a essa hora pela mansão vestida desse jeito!?
Ela não se incomodou com a minha grosseria como normalmente teria se incomodado.
— Não precisa ficar com ciúmes, docinho... — Falou com um risinho parada na minha frente e com um atrevimento enorme para uma criatura tão pequena — Eu só queria que você visse.
Eu suspirei fundo tentando manter meu auto-controle e desviei os olhos dela. Sabia que aquela coisa poderia parecer com o amor da minha vida, e só Merlim tem ideia do quanto eu sonhei em ficar em quatro paredes com aquela menina, de a ver na minha cama, mas aqui e agora, eu sei que essa não é ela, é um demônio possuidor. Essa gargantilha negra e os olhos verdes como de cobra fazem questão de me recordar disso. A garota que eu amo tem meigos olhos azul brilhante, como o céu, e não um verde escuro e tenebroso de cobra.
— Queria que eu visse seu pijama? — Falei sem a olhar — Ok, eu já vi. — E a deixei parada enquanto dava alguns passos pelo quarto — Agora eu tenho que dormir, estou muito cansado.
— Eu também tô cansada. — Ouvi sua voz muito mimada
— Ótimo. — Eu me virei para ela vendo seus olhos que já estavam em mim parecendo suplicantes — Por que não fecha esse robe e volta pro quarto que mamãe mandou preparar pra você?
— Docinho...
Eu dei um suspiro profundo, o que Rox, a minha Rox, pensaria se soubesse que prefiro as inúmeras vezes em que ela me chamava de "fantasminha" do que a ver possuída me chamando assim?
— Oi. — Respondi meio sério, ela simplesmente fez um biquinho — O que foi? O quarto não é do seu agrado? A cama não está macia o suficiente? Tem algum problema no seu quarto? Posso pedir pra um elfo resolver isso agora.
— Não é isso... — E lá vinha a voz melosa de novo, ela tá chegando perto novamente. Fica aí. Fica aí — O quarto é ótimo. Sua mãe foi muito atenciosa e aquelas criaturas fofas são uma graça.
Eu não ia conseguir me controlar se ela não ficasse a uma boa distância de mim. Pode estar possuída, mas eu ainda sou apaixonada por essa garota, ou melhor, é claro que eu ia conseguir me controlar, me apaixonei por Rox por quem ela é, e não porque, porque... puta que pariu, por que ela é tão linda!?
— E... qual o problema então? — Perguntei com o esforço que estava tendo para parecer indiferente
— Eu tive um pesadelo. — Ela piscou os olhinhos parando bem na minha frente — E aquele quarto é tão grande, o vento ficou batendo na janela e tudo. Não dava pra dormir, fiquei assustada. — E baixou um pouco a cabeça — Por isso vim ver se você estava acordado, docinho...
Com a última frase ela deu um sorrisinho de lado e chegou mais perto de mim, eu não fiz questão de me abaixar e ela estava bem perto, por isso seu pescoço estava esticado enquanto tentava olhar em meu rosto e suas mãos foram tocando meus braços delicadamente.
— Fiquei pensando, sabe, e pra eu poder me sentir mais segura e tudo... — A voz cada vez mais mimada, doce, os olhinhos brilhando —, não tem problema, né... você deixa?
— D-deixar... deixar o quê ? — Perguntei ofegante, meu coração martelava tão forte que eu mal podia respirar, mas no fundo eu sabia onde ela queria chegar
— Eu posso dormir aqui com você? — A pergunta veio de um jeito doce, suave e com um toque de malícia que quase me fez arrepiar
Eu me afastei dela na mesma hora, é incrível o como essa menina consegue me desconfigurar até enfeitiçada. Mas eu sei o que Sol disse, sei o que tenho que fazer, manter ela no meu campo de visão, impedir que ela se afogue mais nas trevas, ficar com ela. Não que eu pretendesse a deixar sozinha, eu amo essa garota.
— Draco. — Insiste em uma voz mimada um pouco impaciente
Eu volto a me virar pra ela. Tocar nela enquanto ela está enfeitiçada parece a mesma coisa que abusar dela se ela estivesse bêbada. Não vou fazer nada, sei o que tenho que fazer e agora vou me controlar. Preciso cuidar do meu amor, não é hora de pensar em coisas desse tipo, não com um demônio possuidor latejando naquele colar idiota. Olho fundo para as íris verdes e cruéis no rosto da mulher que eu amo, e esse ato é o suficiente para me deixar indiferente a todo o resto. Eu me apaixonei pela Rox, por ser a Rox, não pelo seu corpo, que ok parece ter sido esculpido pelos deuses, mesmo que eu nunca tenha a visto completamente sem nada, mas o que eu quero dizer é, que eu amo a Rox pelo que ela é, e essa na minha frente definitivamente não é a Rox.
— Tudo bem. — Respondo simplesmente com um suspiro e um quase sorriso
— Ahhh. — E ela dá pulinhos enquanto se avança e me abraça, sua cabeça mal batendo no meu queixo, seus braços agarrando minha cintura; sem jeito ainda consigo a abraçar de volta, sentindo falta da minha ruiva em sua sã consciência — Sabia que você não ia me deixar sozinha depois de um pesadelo, docinho.
— Claro que eu não ia. — Falo assim que nos afastamos e ela me olha sorrindo enquanto caminho até minha cama
— Você toca piano? — Pergunta atrás de mim, com certeza ao ver o meu piano que fica bem perto da cama, em diagonal no canto da parede, apenas depois de onde deixo guardada a minha Nimbus 2001 e alguns pôsteres de quadribol, atrás dele tem uma cortina de seda preta que cobre a enorme janela que dá vista ao jardim
— Sim. — Respondo sem me virar pra ela — Eu com certeza já te falei isso, ou posso ter esquecido, não sei, piano não é algo de que eu me importe muito.
— Você podia tocar pra mim. — Diz em uma voz meiga me fazendo virar e a ver colocar as duas mãos bem na beirada da minha cama enquanto me observa com olhinhos suplicantes de quem acha que pode conseguir o que quiser se apenas fazer essa carinha
— Amanhã. Agora já está um pouco tarde, não acha que precisamos descansar? — Pergunto sem nem mesmo a olhar
Percebo a minha cama balançar assim que a garota pula em cima dela, antes mesmo que eu esperasse, ela sorrir aconchegando sua cabeça no travesseiro.
— Aii, sua cama é tão fofa. — Escuto seu risinho meigo
— É. — Respondo sem mesmo a olhar
Percebo apenas a testa da garota ruiva franzir assim que eu afastei as barras das cobertas e me abaixei, mas ela não fala nada me observando abrir uma portinha que há na parte de baixo da cama de dossel. Só quando eu apanho um cobertor cinza meio grosso é que ela fala alguma coisa.
— O que você tá fazendo? — Perguntou ao se sentar na cama e me olhar muito intrigada
Eu não respondi, apenas fechei a portinha, soltei as cobertas e me levantei, fui até o outro lado do quarto onde havia um sofá-cama com três gavetas debaixo dele e cinco travesseiros azul e cinza espalhados em cima. Ao lado dele tinha uma espécie de estante, alguns compartimentos com livros, caixas e outras bugigangas. Às vezes eu costumava dormir ali, principalmente quando eu era mais novo, é o motivo para meus livros preferidos sempre ficarem ali perto, e até a minha varinha estar em cima de uma caixa no terceiro compartimento descendo no lado direito.
— Draco! — Ouvi a exclamação muito irritada assim que me sentei no sofá, eu já contava com isso
— O que foi? — Perguntei tentando parecer indiferente — Você pode ficar na cama, eu não me importo de dormir no sofá.
— Mas... mas...
— Eu estou bem aqui, você não está sozinha, agora não precisa ficar com medo, pode tentar dormir. — E com isso eu ajeitei os travesseiros e deitei na cama enquanto me enrolava com o cobertor
Ouvi seu resmungo irritado e impaciente, mas mesmo assim a vi puxar o cobertor para se cobrir, logo virando seu rosto para o outro lado pra não me ver.
— Pode ligar o abajur? — Eu perguntei enquanto pegava a minha varinha de uma das prateleiras — Eu vou desligar a luz.
Ela deu um resmungo indecifrável, mas assim que eu desliguei a luz com o auxílio da varinha ela fez o que eu pedi. A verdade é que no fundo eu não queria a irritar, mas aquela não é a garota que eu amo, e eu não ia dormir na mesma cama que Rox se ela mesma não dissesse que quer isso estando em sã consciência, mesmo assim, tenho medo das consequências de rejeitar um espírito cruel.
Suspirei fundo e fiquei encarando o teto por um tempo sem conseguir dormir, minha mente sempre me lembrando do inferno em que me encontro, algumas vezes ouvi o som da ruiva se mexendo na minha cama, algumas outras consegui sentir seus olhos em mim, e confesso que eu queria muito saber o que ela está pensando.
Foi difícil adormecer, mesmo depois que eu percebi que meu amor acabara de dormir, ao menos adormecida ela voltava a parecer o amor da minha vida, a menina doce e divertida que é apaixonada por quadribol, e não um monstro cruel com prazer em cumprir ordens ao Lorde das Trevas. Bom, ela está bem, e está perto, está bem no meu quarto enão em uma cela fria, isso que importa por enquanto, né?
Com um suspiro cansado, depois do que pareceram horas de insônia, me virei para um lado e adormeci, suplicante para que em sonhos eu me encontrasse com a minha Rox, que ela estivesse bem e em um lugar feliz.
Hello bruxinhos!!!
Como estamos? Eai, o que acharam do capítulo de hoje? Kkkkkkkkkk. Dark Rox é um pesadelo, vocês ainda não tem nem ideia, mas confesso que ri muito com ela tentando o Draco. Se acalmem, se acalmem que ainda vem muita coisa por aí, espero que estejam preparados hihihi.
Próximo capítulo será pela narração da Rox, preparados para saber como estão os sentimentos dela???
Hummm, é o que veremos segunda-feira. Espero que estejam gostando desse novo momento da história, pois deu um trabalhinho, mas tudo por voceeees!!
– Bjosss da tia Nick.
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