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124 | Kreacher's Tale

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124. A História de
Monstro
       
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Aquele Slytherin metido a besta querendo bancar o herói.

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     Eu acordei a manhã seguinte, dentro de um saco de dormir no chão da sala de visitas. Vi uma lasca de céu entre as pesadas cortinas: era um azul frio e claro de tinta aguada, entre a noite e a alvorada, e tudo estava silencioso, exceto pela respiração lenta e profunda de Hermione e Rony. Eu olhei para as sombras escuras que eles projetavam no chão ao meu lado. Meu irmão teve um acesso de galanteria e insistiu que Hermione dormisse sobre as almofadas do sofá, por isso a silhueta dela estava acima da dele. O braço da garota formava um arco até o chão, seus dedos a centímetros dos de Rony. Fiquei imaginando se teriam adormecido de mãos dadas. A ideia fez com que eu me sentisse estranhamente solitária.

   Virei para o outro lado percebendo o quarto saco de dormir vazio. Harry já devia ter se levantado. Fiquei pensando se ele também se sentia solitário como eu, se sente saudades da minha irmã, como eu sinto saudades de Draco.

   Ergui os olhos para o teto sombreado, o lustre coberto de teias de aranha. A menos de vinte e quatro horas, estive me arrumando para um casamento, dançado com um francês qualquer e na hora da carência e por culpa do álcool, o beijado só porque ele me fazia lembrar da pessoa que eu amo. Parecia que tinha sido em outra vida. Que iria acontecer agora? Deitada ali no chão, pensei nas Horcruxes, na missão assustadora e complexa que Dumbledore deixara a mim e Harry... Dumbledore…

   Naquele instante me vi pensando nos objetos misteriosos deixados, sem explicação, no testamento do diretor, e o meu ressentimento cresceu na obscuridade. Por que Dumbledore não nos contara? Por que não nos explicar? Teria tido real afeição por mim e Harry? Ou tínhamos sido apenas um instrumento a ser polido e afinado, sem, no entanto, merecer confiança ou confidências?

   Virei para um lado no saco de dormir e sem querer pensei no meu sonho. Não lembrava de muita coisa, apenas que Draco estava presente, eu o vi sozinho e triste em uma sala escura e sem vida, e me vi pensando no que ele estaria fazendo agora e se ainda pensa em mim ou simplesmente me odeia. Será que ele está bem? O que Voldemort tem feito com ele? Será que ele realmente se voltou para as trevas?

   Não suportei ficar deitada ali, tendo por companhia apenas meus pensamentos amargurados. Desesperada para arranjar o que fazer e se distrair, deslizei para fora do saco de dormir, apanhei minha varinha e saí furtivamente da sala. No corredor, sussurrei: “Lumus”, e comecei subir a escada à luz da varinha. Talvez eu me encontrasse com Harry e poderíamos ir tomar café antes que os outros dois acordassem, precisava fazer algo pra manter meus pensamentos ruins longe.

   No segundo patamar ficava o quarto em que eu, meu irmão e Harry tínhamos dormido na última vez que estivemos na casa; eu espiei para dentro. As portas dos guarda-roupas estavam abertas e as roupas de cama tinham sido arrancadas. Me lembrei da perna de trasgo caída no chão da entrada. Alguém revistara a casa desde que a Ordem a deixara. Snape? Ou talvez Mundungo, que afanara muita coisa antes e depois da morte de Sirius? O meu olhar vagueou até o porta-retratos onde por vezes aparecia Phineus Nigellus Black, o tetravô de Sirius, mas estava vazio, exibia apenas um pedaço de forro encardido. Era evidente que Phineus Nigellus estava passando a noite no gabinete do diretor de Hogwarts.

  Continuei a subir a escada, agora com pensamentos diferentes. Regulus. Ele estaria aqui? Será que eu o encontraria?

   Quando cheguei ao último patamar dei de cara com duas portas, uma delas, bem a minha frente, estava aberta e vinha luz de dentro. Eu só tinha dado um passo pra perto quando os gritos de Hermione irromperam:

— Rox! Harry! Harry!?

   Eu me virei olhando para as escadas de onde deveriam vim os gritos, e só ergui as sobrancelhas, enquanto do quarto a frente vinha o grito de Harry:

— Estou aqui. O que aconteceu?

  Dando de ombros, entrei no quarto antes que Hermione me alcançasse e vi Harry sentado em uma larga cama com a cabeceira de madeira entalhada.

— Ela deve achar que nos sequestraram. — Sussurrei para meu amigo meio rindo e meio sem entender o motivo da gritaria

   Ouvimos um ruído de passos do lado de fora, e Hermione finalmente irrompeu pelo quarto.

— Nós acordamos e não sabíamos onde vocês dois  estavam. — Disse ela ofegante. Virando-se, gritou por cima do ombro: — Rony! Encontrei eles!

   A voz aborrecida de Rony ressoou a distância de vários andares abaixo.

— Ótimo! Então diga por mim que Harry é um bobalhão e a minha irmã é uma idiota!

— Não desapareçam assim, vocês dois, por favor, ficamos aterrorizados! Afinal, por que vieram aqui em cima? — Ela percorreu com o olhar o quarto saqueado — Que andaram fazendo?

— Eu acordei faz pouco tempo. — Expliquei — Subi para procurar Harry.

— Olhem o que acabei de encontrar. — Disse ele

    E estendeu para nós o que parecia ser uma carta. Hermione apanhou-a e começou ler, enquanto eu me aproximava para ler junto com ela, observadas por Harry.

Caro Almofadinhas,

  Muito, muito obrigada pelo presente de aniversário que mandou para Harry! Foi o que ele mais gostou até agora. Um aninho de idade e já dispara pela casa montado em uma vassoura de brinquedo, tão vaidoso que estou enviando uma foto para você ver. Sabe, a vassoura só levanta uns sessenta centímetros do chão, mas ele quase matou o gato e quebrou um vaso horrível que Petúnia me mandou no Natal (nada contra). É claro que James achou muito engraçado, diz que ele vai ser um grande jogador de quadribol, mas tivemos que guardar todos os enfeites da casa e dar um jeito de ficar sempre de olho nele quando brinca.
   Tivemos um chá de aniversário muito tranquilo, só nós e a velha Batilda que sempre nos tratou com carinho e vive mimando o Harry. Ficamos com pena que nem você nem Sienna tenham podido vir, mas a Ordem vem em primeiro lugar e Harry não tem idade para saber que está fazendo anos! James está se sentindo um pouco frustrado trancado em casa, ele procura não demonstrar, mas eu percebo – além disso, Dumbledore ficou com a Capa da Invisibilidade dele, então não há possibilidade de pequenos passeios. Se você pudesse lhe fazer uma visita, isso o animaria muito. Sienna arrumou um tempo para vir aqui ontem, imagino que você saiba, e Rabicho esteve aqui no fim de semana passado, achei-o meio deprimido, mas provavelmente foram as notícias sobre os McKinnon; chorei a noite inteira quando soube. Além disso, ele já estava mal desde o que aconteceu com Chelsea no ano passado, nunca a superou mesmo, mas eu o entendo. Sinto muita falta dela também, e depois do que aconteceu com a Marlene e a Dorcas não está muito melhor.
   Batilda passa por aqui quase todo dia, é uma velhota fascinante que conta as histórias mais surpreendentes sobre Dumbledore, não tenho muita certeza se ele gostaria disso caso soubesse! Fico em dúvida se devo realmente acreditar, porque me parece inacreditável que Dumbledore

   Quando chegamos ao fim da folha, olhamos para Harry. Eu não soube o que dizer, Hermione meramente disse:

— Ah, Harry...

— E tem mais isso.

   Ele nos entregou o que parecia ser a maior parte da foto que sua mãe mencionou na carta. Um bebê de cabelos escuros voando para dentro e para fora do papel, montado em uma minúscula vassoura, às gargalhadas, e um par de pernas que deviam pertencer ao pai de Harry correndo atrás dele. Eu e Hermione sorrimos para a imagem.

— Estive procurando o resto da carta —Disse Harry —, mas não está aqui.

   Eu corri os olhos pelo quarto.

    O quarto era espaçoso e, antigamente, devia ter sido bonito. Havia uma larga cama, uma janela alta sombreada por compridas cortinas de veludo e um lustre coberto por uma espessa camada de pó, com tocos de velas ainda nos suportes, a cera grossa pendendo como pingos de gelo. Uma fina película de poeira cobria os quadros nas paredes e a cabeceira da cama; uma teia de aranha se estendia do lustre ao topo do grande guarda-roupa.

    Havia tantos pôsteres e fotos na parede que deixara visível muito pouco da seda cinza-prateado que a forrava. Então percebi que esse devia ser o quarto de Sirius e só pude supor que os pais dele não tinham conseguido remover o Feitiço Adesivo Permanente que os mantinha colados à parede, porque dificilmente eles teriam apreciado o gosto do filho mais velho em matéria de decoração. Sirius parecia ter saído do caminho para aborrecer os pais. Havia uma coleção de grandes flâmulas da Gryffindor, vermelho desbotado e ouro, somente para enfatizar como ele era diferente do resto da família Slytherin. Havia muitas fotos de motos trouxas e também (Eu tinha que admirar a coragem de Sirius) vários pôsteres de garotas trouxas de biquíni; eu sabia que eram trouxas porque não se mexiam nas fotos, seus sorrisos eram desbotados e os olhos vidrados pareciam congelados no papel. Faziam um contraste com duas únicas fotos bruxas que havia nas paredes, uma de quatro alunos de Hogwarts em pé, de braços dados, rindo para o fotógrafo, e outra de dois adolescentes sorridentes e usando trajes da Gryffindor, o garoto parecia fazer um sinal de dois dedos acima da cabeça dela. Eram, sem dúvida, os marotos no primeiro quadro e no último, Sirius e Sienna.

— Você fez essa bagunça toda, ou uma parte dela já estava feita quando você entrou? — Hermione, que também devia está olhando o quarto, perguntou, tirando-me dos meus devaneios

  Eu olhei para o chão: um raio de luz revelou pedacinhos de papel, livros e pequenos objetos espalhados pelo tapete. Era evidente que o quarto de Sirius também fora revistado, embora desse a impressão de que seu conteúdo fora considerado quase todo, se não todo, imprestável. Alguns dos livros tinham sido sacudidos o suficiente para soltarem as capas, e o chão estava juncado de páginas soltas.

— Alguém revistou o quarto antes de mim. — Revelou Harry

— Foi o que pensei. — Suspirou Hermione — Todos os cômodos em que olhei a caminho daqui foram revirados. Que acha que estavam procurando?

— Informações sobre a Ordem, se foi o Snape.

— Mas seria de pensar que ele já tivesse tudo que precisava, quero dizer, ele fazia parte da Ordem, não é?

— Bem, então — Disse Harry —, informações sobre Dumbledore? A segunda folha desta carta, por exemplo. Sabe essa Batilda que minha mãe menciona, sabe quem ela é?

— Quem? — Perguntei perdida

— Batilda Bagshot, a autora de...

— História da magia. — Completou Hermione, mostrando interesse — Então os seus pais a conheciam? Ela foi uma incrível historiadora da magia.

— E ainda está viva, e mora em Godric’s Hollow, a tia Muriel, de Rox e Rony, esteve falando sobre ela no casamento. Ela conheceu a família de Dumbledore também. Seria bem interessante conversar com ela, não?

   Para o gosto de Harry, houve um excesso de compreensão no sorriso de Hermione. Ele tirou a carta e a foto de suas mãos e guardou-as na bolsa pendurada ao pescoço. Eu sabia o que Harry estava fazendo, ele queria mesmo ir a Godric’s Hollow.

— Eu entendo por que você gostaria de conversar com ela sobre sua mãe e seu pai, e Dumbledore também. — Disse Hermione — Mas isto não iria realmente nos ajudar a achar as Horcruxes, não é? — Harry não respondeu e ela prosseguiu: — Harry, eu sei que você realmente quer ir a Godric’s Hollow, mas estou com medo... estou com medo da facilidade com que aqueles Comensais da Morte nos encontraram ontem. Mais que nunca, isso me faz sentir que devemos evitar o lugar onde seus pais estão enterrados. Tenho certeza que estarão esperando a sua visita.

— Não é só isso. — Respondeu Harry, ainda evitando olhar para ela — Muriel disse umas coisas sobre Dumbledore no casamento. E quero saber a verdade…

   Ele contou, então, a mim e a Hermione tudo que aparentemente minha tia Muriel dissera e não era pouca coisa. Pelo visto minha tia-avó esteve a acreditar que a biografia que Rita Skeeter vai trazer realmente seja clara sobre a vida de Dumbledore. Ela não acredita em todos os feitos do diretor e parece achar que ele matou a sua “irmã abortada”. Harry também estava na companhia de Elifas Doge quando minha tia começou com essas especulações exageradas, e ele tratou de defender Dumbledore com unhas e dentes, bastante indignado com minha tia, mas ela não parou. Pelo que Harry disse, a morte de Ariana Dumbledore nunca ficou muito clara e que antes disso praticamente ninguém a via; minha tia disse que antigamente era normal as famílias bruxas esconderem os abortos, e os Dumbledore praticamente faziam isso e ainda pior com Ariana, e que se a mãe do diretor não tivesse morrido primeiro, minha tia acharia que foi ela quem matou Ariana. Com certeza minha tia devia está delirando pra falar tantas coisas sobre Dumbledore, dizer que ele era cheio de segredos e por isso está ansiosa para ver o que Rita Skeeter desenterrou. Ela até acha que Rita conversou com Batilda para descobrir algo sobre o professor Dumbledore.

   Quando Harry finalmente terminou de contar, Hermione comentou:

— É claro que entendo por que isso o perturbou, Harry...

— Não estou perturbado. — Disse ele, claramente mentindo — Eu só gostaria de saber se é ou não verdade ou...

— Harry, você acha mesmo que vai chegar à verdade ouvindo fofocas maliciosas de uma velhota como a Muriel, ou de Rita Skeeter? Como pode acreditar nelas? Você conheceu Dumbledore!

— Pensei que conhecia. — Murmurou o garoto

— Espera, você não vai levar em consideração o que minha tia diz, né? — Perguntei sem acreditar

— Exatamente, Harry. E você sabe o quanto havia de verdade em tudo que a Rita escreveu sobre você! Doge está certo, como pode deixar essa gente macular as lembranças que você tem de Dumbledore?

   Harry desviou o olhar, mas ainda parecia irritado.

— Vamos descer para a cozinha? — Sugeriu Hermione após uma breve pausa — Arranjar alguma coisa para comer?

   Ele concordou, mas de má vontade, e a seguimos ao corredor onde passamos em frente a uma segunda porta. Eu comecei a descer as escadas atrás de Hermione, até que me assustei quando Harry chamou:

— Hermione, Rox. Voltem aqui em cima.

— Que foi? — Perguntei apenas parando nas escadas enquanto Mione virava a cabeça

— R.A.B. Acho que o encontrei.

  Mais que rapidamente eu e Mione corremos escada acima.

— Na carta de sua mãe? Mas não vi…

   Harry balançou a cabeça, apontando para o aviso na porta que havíamos passado. Notei então que havia fundos arranhões na tinta sob um pequeno aviso. Era um aviso breve e pomposo, caprichosamente escrito à mão, o tipo de coisa que meu irmão Percy poderia ter colado na porta do próprio quarto.

Não entre
sem a expressa permissão de
Regulus Arcturus Black

   Eu pisquei os olhos, incrédula e irritada ao mesmo tempo. Hermione apertou meu braço com tanta força que eu fiz uma careta de dor.

— O irmão de Sirius? — Sussurrou

— Eu sei. — Falei puxando meu braço — E sei muito bem!

— Ele foi um Comensal da Morte, Sirius  me contou a história dele, Regulus se alistou quando ainda era muito moço e depois se acovardou e tentou sair; então, eles o mataram. — Disse Harry

   Eu os olhei, estava perdida, mas irritada porque não via Regulus fazia séculos.

— Isso faz sentido! — Exclamou Hermione — Se ele foi um Comensal da Morte, teve acesso a Voldemort, e quando se desencantou deve ter querido derrubar Voldemort!

   Ela largou Harry, debruçou-se no corrimão da escada e berrou:

— Rony! RONY! Vem aqui em cima, depressa!

   O garoto apareceu, ofegante, um minuto depois, empunhando a varinha.

— Que aconteceu? Se é outro ataque maciço de aranhas, eu quero o meu café da manhã antes de…

   Ele franziu a testa ao ver o aviso na porta do quarto, para o qual Hermione apontava silenciosamente.

— Quê? Esse era o irmão de Sirius, não era? Regulus Arcturus... Regulus... R.A.B.! O medalhão... você acha...?

— Vamos descobrir. — Disse Harry. Ele empurrou a porta; estava trancada à chave. Hermione apontou a varinha para a maçaneta e disse: — Alohomora! — Ouviu-se um clique e a porta abriu.

   Cruzamos o portal juntos, olhando para os lados. O quarto de Regulus era ligeiramente menor que o de Sirius, embora transmitisse a mesma sensação de antigo esplendor. Enquanto o irmão tinha procurado anunciar sua dessemelhança com o resto da família, Regulus tinha se esforçado para ressaltar o oposto. As cores da Slytherin, verde e prata estavam por toda parte, guarnecendo a cama, as paredes e janelas. O brasão da família Black fora laboriosamente pintado por cima da cama com a divisa Toujours Pur. Abaixo uma coleção de recortes de jornal, presos uns aos outros formando uma colagem irregular. Hermione atravessou o quarto para examiná-los.

— São todos sobre Voldemort. — Disse ela — Pelo visto, Regulus já era fã dele anos antes de se reunir aos Comensais da Morte…

  Uma nuvenzinha de pó se ergueu da colcha da cama quando Hermione se sentou para ler os recortes. Nesse intervalo, eu tinha reparado em uma foto: um time de quadribol de Hogwarts sorria e acenava do espaço emoldurado. Me aproximei mais um pouco e vi as serpentes nos brasões no peito dos garotos: Slytherins. Regulus era instantaneamente reconhecível como o garoto que estava sentado no centro da primeira fileira, estava exatamente igual a última vez que o vi, embora aqui ele pareça um pouco mais novo e menos ranzinza.

— Ele jogava na posição de apanhador. — Comentou Harry que apareceu do meu lado direito

— Quê?! — Exclamou Hermione distraída; ela continuava absorta nos recortes sobre Voldemort

— Sim. — Concordei ainda o observando vivo na foto e lembrando-me dele no mundo invertido, sentindo levemente uma dor no coração

   Rony estava de quatro procurando alguma coisa embaixo do armário. Eu olhei ao redor, procurando algo que eu nem sabia o que era, pensando se seria Regulus mesmo a pessoa que escondeu esse medalhão, e se foi por isso que ele sumiu nesses últimos dias, se foi porque ele não pode me contar. Entre pensamentos me aproximei da escrivaninha.

   Mais uma vez, alguém já a revistara. O conteúdo das gavetas tinha sido revirado recentemente, a poeira deslocada, mas não havia nada de valor ali: penas velhas, livros de escola antiquados que exibiam os vestígios dos maus-tratos, um tinteiro recentemente quebrado, seu resíduo pegajoso derramado sobre os objetos na gaveta.

— Há um jeito mais fácil. — Disse Hermione, enquanto eu limpava os dedos sujos de tinta em uma toalha que achei no quarto. Ela ergueu a varinha e ordenou: — Accio medalhão!

   Nada aconteceu. Rony, que estivera procurando nas dobras das cortinas desbotadas, pareceu desapontado.

— Então é isso? Não está aqui?

— Ah, poderia até estar aqui, mas protegido por contrafeitiços. — Respondeu a garota — Feitiços para impedir que se possa convocá-lo por magia, entende.

— Como o que Voldemort lançou na bacia de pedra na caverna. — Afirmei, lembrando que Harry não conseguira convocar o falso medalhão naquela ocasião

— Como vamos encontrá-lo, então? —Perguntou Rony

   Hermione abriu a boca pra falar, mas então seus olhos brilharam e ela olhou pra mim.

— Onde ele está?

— Onde quem está? — Cruzei os braços me encostando na escrivaninha

— Regulus Black. Você pode falar com ele e é um dos espíritos que você mais vê constantemente. Então, onde ele está?

  Eu suspirei.

— Acha que eu sei!? Não o vejo parece fazer séculos, é como se… como se ele, Mia e Cedric estivessem me escondendo de algo e fugindo de mim. — Revelei impaciente com a situação — Mas mesmo se eles estivessem aqui, não tenho certeza se o Rég poderia nos contar algo relevante.

— O que quer dizer? — Ela perguntou franzindo a sobrancelha

— Quer dizer que os espíritos simplesmente não podem nos contar algo que podemos muito bem descobrir sozinhos. — Expliquei desviando o olhar dela para observar os outros detalhes do quarto

— Não consegue invocar ele? — Rony perguntou

   Eu o olhei, lançando-lhe um olhar furtivo e completamente irritado.

— O que você acha!? — Rosnei — Eu não faço a menor idéia se foi Regulus quem fez esse caralho ou não, só sei que ele é uma boa pessoa e se arrependeu do que fez, morreu pra provar isso, então talvez seja mesmo verdade, ele pode muito bem ter destruído uma horcrux, isso o faz um herói, não?

   Hermione, Rony e Harry se entreolharam.

— Melhor tentarmos procurar com as mãos. — Sugeriu Hermione

— É uma boa ideia. — Meu irmão concordou virando os olhos para o teto e retomando o exame das cortinas. Verificamos cada centímetro do quarto durante mais de uma hora, mas fomos forçados a concluir que o medalhão não estava ali.

   Agora o sol já nascera; a luz nos ofuscava mesmo através das cortinas sujas dos corredores.

— Mas poderia estar em qualquer outro lugar da casa — Sugeriu Hermione, em um tom de convocação, ao descermos as escadas. Enquanto os dois garotos tinham ficado mais desanimados, e eu estava indiferente, ela ficara mais decidida — Quer ele tenha conseguido ou não destruir o medalhão, iria querer escondê-lo de Voldemort, não acham? Lembram aquelas lixarias todas de que precisamos nos livrar quando estivemos aqui na última vez? Aquele relógio que lançava raios e aquelas vestes velhas que tentaram estrangular Rony; Regulus talvez as tivesse posto lá para proteger o esconderijo do medalhão, ainda que a gente não tenha entendido à... à...

   Eu e os meninos olhamos para Hermione. Ela estava parada com um pé no ar e a expressão abobada de alguém que acabou de ser obliviado; seus olhos tinham até saído de foco.

— ... à época. — Terminou ela em um sussurro

— Algum problema? — Perguntou Rony

— Havia um medalhão.

— Quê?! — Exclamamos ao mesmo tempo

— No armário da sala de visitas. Ninguém conseguiu abri-lo. E nós... nós…

   Tive a sensação de que um tijolo tinha escorregado do meu peito para o estômago. Lembrei-me vagamente: tinha até manuseado o objeto quando passou de mão em mão, todos experimentando abri-lo. Por fim, fora atirado em um saco de lixo, junto com a caixa de pó de verrugueira e a caixa de música que deixou todo mundo com sono…

— Monstro pegou montes dessas coisas escondido de nós. — Disse Harry. Era a única chance, a única e tênue esperança que nos restava, e o garoto ia se apegar a ela até que fosse forçado a abandoná-la — Ele tinha um verdadeiro tesouro escondido no armário da cozinha. Vamos.

   Harry desceu correndo a escada de dois em dois degraus, conosco em sua cola fazendo a escada reboar. O barulho foi tamanho que acordamos o retrato da mãe de Sirius ao atravessarmos o corredor da entrada.

Lixo! Sangues ruins! Ralé! — Gritou a bruxa para nós quando descemos desembestados para a cozinha do porão e batemos a porta ao entrar

   Harry continuou sua corrida pelo aposento, parou derrapando à porta do armário de Monstro e abriu-o com violência. Eu e os outros entramos logo atrás. Lá estava o ninho de sujeira, as mantas velhas em que o elfo costumava dormir, mas o armário já não brilhava com as quinquilharias que Monstro salvara. Havia apenas um velho exemplar de A nobreza natural: uma genealogia dos bruxos. Recusando-se a crer no que via, Harry puxou as cobertas e sacudiu-as. Delas caiu um camundongo morto que rolou lugubremente pelo chão. Rony gemeu ao se atirar em uma cadeira da cozinha; Hermione fechou os olhos.

— Ainda não terminou. — Disse Harry, e erguendo a voz berrou: — Monstro!

   Ouvimos um forte estalo e o elfo doméstico, que relutantemente Harry herdara de Sirius, apareceu de repente diante da lareira vazia e fria: minúsculo, metade da altura de um homem, a pele pálida em pelancas, os cabelos brancos brotando em tufos das orelhas de morcego. Ainda usava os trapos imundos em que tínhamos o conhecido, e o olhar de desprezo que lançou a Harry demonstrou que sua atitude, com a transferência de dono, tal como os seus trajes, não havia mudado.

— Meu senhor — Cooaxou Monstro com a sua voz de rã-touro, e ele fez uma profunda reverência, resmungando para os próprios joelhos —, de volta à velha casa da minha senhora com os gêmeos traidores do sangue Weasley e a sangue ruim…

— Proíbo você de chamar quem quer que seja de “traidor do sangue” ou de “sangue ruim”. — Rosnou Harry — Tenho uma pergunta a lhe fazer, e ordeno que me responda a verdade. Entendeu?

— Sim, meu senhor. — Respondeu Monstro fazendo nova reverência: vi seus lábios se moverem em silêncio, sem dúvida mastigando os insultos que fora proibido de proferir

— Dois anos atrás — Disse Harry, seu coração agora reboando nas costelas —, havia um medalhão de ouro na sala de visitas lá em cima. Nós o jogamos fora. Você o pegou de volta?

   Houve um momento de silêncio em que Monstro se aprumou para encarar Harry. Em seguida respondeu:

— Peguei.

— Onde está o medalhão agora? — Tornou o garoto exultando, sob o olhar animado meu, de Rony e Hermione

   Monstro fechou os olhos como se não pudesse suportar ver aquelas reações à sua resposta.

— Foi-se.

— Foi-se? — Repetiu Harry, a euforia se dissipando — Que quer dizer com esse “foi-se”?

   O elfo estremeceu. Cambaleou.

— Monstro — Disse Harry ameaçador —, ordeno que você...

— Mundungo Fletcher roubou tudo: os retratos da srta. Bella e da srta. Ciça, as luvas da minha senhora, a Ordem de Merlim, Primeira Classe, as taças de vinho com o brasão da família e, e...

   Monstro tentava recuperar o fôlego: seu peito cavado subia e descia rapidamente, então seus olhos se arregalaram e ele soltou um grito de congelar o sangue.

— ... e o medalhão, o medalhão do meu senhor Regulus, Monstro agiu mal, Monstro desobedeceu às ordens dele!

   Harry reagiu instintivamente: quando Monstro mergulhou para apanhar o atiçador na grelha da lareira, ele se atirou sobre o elfo e achatou-o no chão. O grito de Hermione se misturou ao de Monstro, mas Harry berrou mais alto que os dois:

— Monstro, ordeno que você fique parado!

   O elfo se imobilizou e Harry o soltou. Monstro ficou estatelado no piso frio, as lágrimas saltando dos seus olhos empapuçados.

— Harry, deixe ele levantar! — Sussurrou Hermione

— Para ele poder se espancar com o atiçador? — Bufou Harry, se ajoelhando ao lado do elfo — Acho que não. Certo, Monstro, quero a verdade: como sabe que Mundungo Fletcher roubou o medalhão?

— Monstro viu! — Exclamou ele, as lágrimas escorrendo do nariz para a boca cheia de dentes cinzentos — Monstro viu ele saindo do armário, as mãos cheias com os tesouros de Monstro. Monstro mandou o larápio parar, mas Mundungo Fletcher riu e c-correu…

— Você disse que o medalhão era do seu senhor Regulus. Por quê? De onde veio o medalhão? Qual era a ligação de Regulus com ele? Monstro, sente-se e me conte tudo que sabe sobre aquele medalhão, tudo que o ligava a Regulus!

   O elfo sentou, enroscado como uma bola, apoiou o rosto molhado entre os joelhos e começou a se balançar para a frente e para trás. Quando falou, sua voz saiu abafada, mas bastante clara no silêncio da cozinha vazia.

— Meu senhor Sirius fugiu, ainda bem, porque ele era um garoto ruim e despedaçou o coração da minha senhora com a sua rebeldia. Mas meu senhor Regulus tinha orgulho; sabia reverenciar o nome Black e a dignidade do seu sangue puro. Durante anos ele falou do Lorde das Trevas, que ia tirar os bruxos da clandestinidade e dominar os trouxas e os nascidos trouxas... e quando fez dezesseis anos, meu senhor Regulus se reuniu ao Lorde das Trevas. Tão orgulhoso, tão orgulhoso, tão feliz de servir…

   “E um dia, um ano depois que se alistou, meu senhor Regulus veio à cozinha ver Monstro. Meu senhor Regulus sempre gostou de Monstro. E meu senhor Regulus disse... disse...”

   O velho elfo balançou-se mais rápido que nunca.

— ... disse que o Lorde das Trevas precisava de um elfo.

— Voldemort precisava de um elfo? — Repetiu Harry, olhando para mim, Rony e Hermione, que parecíamos tão intrigados quanto ele

— Ah, foi. — Gemeu Monstro — E meu senhor Regulus tinha oferecido Monstro. Era uma honra, disse meu senhor Regulus, uma honra para ele e para Monstro; que tinha de fazer tudo que o Lorde das Trevas mandasse... e depois v-voltar para casa.

   Monstro balançou-se ainda mais rápido, expirando em soluços.

— Então Monstro foi procurar o Lorde das Trevas. O Lorde das Trevas não disse a Monstro o que iam fazer, mas levou Monstro com ele para uma caverna junto ao mar. E para além da caverna havia outra caverna, e na caverna havia um enorme lago preto...

   Os pelinhos da minha nuca se eriçaram. A voz rouca de Monstro parecia chegar a mim vinda da outra margem daquela água escura. Eu via o que acontecera tão claramente quanto se tivesse estado presente.

— ... havia um barco…

   É claro que houvera um barco; eu conhecia o barco, minúsculo e verde espectral, enfeitiçado para transportar um bruxo e uma vítima até a ilha no meio do lago. Então fora assim que Voldemort testara as defesas que cercavam a Horcrux; pedindo emprestada uma criatura dispensável, um elfo doméstico…

— Havia uma b-bacia cheia de poção na ilha. O Lorde das T-trevas fez Monstro beber...

   O elfo tremeu da cabeça aos pés.

— Monstro bebeu, e enquanto bebia, viu coisas terríveis... As entranhas de Monstro queimaram… Monstro gritou para o senhor Regulus ir salvar ele, gritou por sua senhora Black, mas o Lorde das Trevas ria... ele fez Monstro beber a poção toda... ele pôs um medalhão na bacia vazia... tornou a encher a bacia com mais poção.

  “Então o Lorde das Trevas foi embora e deixou Monstro na ilha...”

   Eu via a cena se desenrolando. O rosto branco e serpentino de Voldemort desaparecendo na escuridão, aqueles olhos vermelhos cruelmente fixos no elfo que se debatia e cuja morte ocorreria dentro de minutos, quando ele sucumbisse à sede desesperada que a poção causticante causava na vítima... mas daí em diante a minha imaginação não pôde prosseguir, porque não consegui visualizar como Monstro escapara.

— Monstro precisava de água, arrastou-se até a orla da ilha e bebeu a água do lago preto... e mãos, mãos mortas saíram da água e arrastaram Monstro para baixo…

— Como foi que você escapou? —Perguntou Harry, quase sussurrando

   Monstro ergueu a cabeça feia e encarou Harry com seus grandes olhos vermelhos.

— Meu senhor Regulus disse a Monstro para voltar.

— Eu sei... mas como você fugiu dos Inferi?

   Monstro pareceu não entender.

— Meu senhor Regulus disse a Monstro para voltar. — Repetiu ele

— Eu sei, mas...

— Ora é óbvio, não é, Harry? — Interveio Rony, e eu atingi a compreensão antes que ele me lembrasse da coisa mais lógica — Ele desaparatou!

— Mas... não se podia aparatar e desaparatar na caverna — Disse Harry —, do contrário, Dumbledore...

— A magia dos elfos não é como a magia dos bruxos, é? — Perguntou Rony — Quero dizer, eles podem aparatar e desaparatar em Hogwarts e nós não.

   Fez-se silêncio enquanto Harry digeria a informação. Como Voldemort poderia ter cometido um erro desse? Enquanto pensava, porém, Hermione falou, e sua voz estava gélida.

— É óbvio, Voldemort teria considerado os costumes dos elfos domésticos indignos de sua atenção, exatamente como os sangues puros que os tratam como animais. Nunca teria lhe ocorrido que eles pudessem ser capazes de uma magia que ele não dominasse.

— A lei máxima para um elfo doméstico é a ordem do seu senhor. — Entoou Monstro — Mandaram Monstro voltar para casa, então Monstro voltou para casa.

— Bem, então você fazia o que lhe mandavam, não é? — Disse Hermione bondosamente — Não desobedecia a ordem alguma!

   Monstro fez que não com a cabeça, se balançando furiosamente.

— Então que aconteceu quando você voltou? — Perguntou Harry — Que disse Regulus quando você contou o que tinha acontecido?

— Meu senhor Regulus ficou muito preocupado, muito preocupado. — Crocitou Monstro — Meu senhor Regulus mandou Monstro ficar escondido e não sair de casa. E então... foi um pouco depois disso... meu senhor Regulus veio procurar Monstro no armário uma noite, e meu senhor Regulus estava esquisito, fora do normal, perturbado, Monstro percebeu... e ele pediu a Monstro para levá-lo até a caverna, a caverna onde Monstro tinha ido com o Lorde das Trevas...

   E então tinham partido. Eu pude visualizá-los muito claramente, o velho elfo amedrontado e o apanhador magro e moreno que tanto se parecera com Sirius... Monstro sabia como abrir a entrada oculta para a caverna subterrânea, sabia como erguer o barquinho; desta vez foi o seu amado Regulus quem o acompanhou à ilha com a bacia de veneno…

   Senti um arrepio inundar o meu corpo quando aterrorizada me lembrei dos flashes que tive quando estivemos na caverna. Aquele garoto de dezoito anos que bebia da poção aterrorizado, e depois seu corpo sendo puxado para aquela água por aqueles cadáveres horrendos.

   Eu pude ouvir seus gritos, suas lamúrias e fiquei cada vez mais aterrorizada. Então me veio o tom de sua voz, diferente e bem mais calmo, algo que ele me disse há um bom tempo.

Digamos que minha boa ação tendeu água entrando por cada partícula do meu organismo e te garanto que não é bom ter o cérebro nadando dentro da cabeça… não é nenhum pouco legal morrer afogado.

— Regulus… — Sussurrei para o vento batendo com o punho na minha coxa ao finalmente entender sua morte

— E ele fez você beber a poção? —Perguntou Harry enojado, vendo que o elfo não tornara a falar

  Monstro, porém, sacudiu a cabeça e chorou. Hermione levou as mãos à boca: parecia ter compreendido o que aconteceu.

— M-meu senhor Regulus tirou do bolso um medalhão igual ao que o Lorde das Trevas tinha — Disse Monstro, as lágrimas escorrendo pelos lados do seu nariz trombudo — E ele disse a Monstro para pegar e, quando a bacia estivesse vazia, trocar os medalhões...

   Os soluços de Monstro agora saíam em grandes guinchos; Harry ainda não parecia entendê-lo.

— E ele deu ordem... para Monstro ir embora... sem ele. E ele disse a Monstro... para ir para casa... e nunca contar à minha senhora... o que ele tinha feito... mas para destruir... o primeiro medalhão. E ele bebeu... a poção toda... e Monstro trocou os medalhões... e ficou olhando... meu senhor Regulus... ele foi arrastado para baixo d’água... e…

— Ah, Monstro! — Gemeu Hermione, que estava chorando. Ela caiu de joelhos ao lado do elfo e tentou abraçá-lo. Na mesma hora, ele ficou de pé, fugiu dela, deixando óbvia a sua repulsa.

— A sangue ruim encostou em Monstro, ele não vai permitir, que iria dizer a senhora dele?

— Eu lhe disse para não chamá-la de “sangue ruim”! — Vociferou Harry, mas o elfo já estava se castigando: atirou-se ao chão e bateu com a cabeça repetidamente

— Faça ele parar, faça ele parar! — Exclamou Hermione — Ah, está vendo agora como isso é doentio, a obrigação que eles têm de obedecer?

— Monstro: para, para! — Gritou Harry

   O elfo ficou deitado no chão, ofegando e tremendo, uma secreção verde brilhando em torno do nariz, um hematoma já se formando na testa pálida no ponto em que a batera, seus olhos inchados e injetados transbordando lágrimas. Eu nunca vi nada tão digno de pena.

— Então você trouxe o medalhão para casa. — Disse Harry inflexível — E tentou destruí-lo?

— Nada que Monstro tentou fez mossa no medalhão. — Lamentou-se o elfo — Monstro tentou tudo, tudo que sabia, mas nada, nada adiantou... de tão poderosos os feitiços que estavam nele. Monstro tinha certeza que, para destruir o medalhão, precisava chegar dentro dele, mas ele não abria... Monstro se castigou, tentou outra vez, se castigou, tentou outra vez. Monstro não conseguiu obedecer à ordem, Monstro não conseguiu destruir o medalhão! E sua senhora enlouqueceu de tristeza, porque meu senhor Regulus desapareceu, e Monstro não pôde contar a ela o que tinha acontecido, não, porque meu senhor Regulus tinha p-proibido Monstro de contar para a f-família o que tinha acontecido na c-caverna…

   Monstro começou a soluçar tanto que suas palavras deixaram de fazer sentido. As lágrimas escorriam pelo rosto de Hermione, que observava Monstro, mas ela não se atreveu a tocá-lo novamente. Até Rony, que não era fã do elfo, parecia perturbado. Eu estava com pequenas lágrimas caindo dos meus olhos, mas não era só pena do elfo, era porque ainda escutava os gritos de Regulus antes de morrer.

— Não estou entendendo você, Monstro. — Disse Harry finalmente. — Voldemort tentou matar você, Regulus morreu para derrubar Voldemort, ainda assim você ficou feliz em entregar Sirius a Voldemort? Ficou feliz em procurar Narcissa e Bellatrix e por meio delas passar informações a Voldemort...

— Harry, não é assim que Monstro raciocina. — Disse Hermione enxugando as lágrimas com o dorso da mão — Ele é um escravo; elfos domésticos estão acostumados a ser maltratados e até brutalizados; o que Voldemort fez a Monstro não foi muito diferente disso. Que significam as guerras bruxas para um elfo como Monstro? Ele é leal àqueles que são bons para ele, e a sra. Black deve ter sido boa, e Regulus certamente o foi, portanto ele os servia de boa vontade e repetia as crenças deles. Sei o que você vai me dizer — continuou ela, quando Harry começou a protestar —, que Regulus mudou de ideia... mas, pelo visto, ele não explicou isso a Monstro, não é? E acho que sei a razão. Monstro e a família de Regulus estariam mais seguros se continuassem fiéis ao velho conceito do sangue puro. Regulus estava tentando proteger a todos.

— Aquele Slytherin metido a besta querendo bancar o herói. — Funguei enxugando algumas lágrimas do canto dos meus olhos e olhando para os lados tentando ver se Regulus estava presente

— Sirius… — Disse Harry

— Sirius era muito mau com Monstro, Harry, e não adianta me olhar assim, você sabe que é verdade. Monstro tinha passado muito tempo sozinho quando Sirius veio morar aqui, e provavelmente estava faminto por alguma afeição. Tenho certeza que a “srta. Cissa” e a “srta. Bella” eram absolutamente simpáticas com Monstro quando ele aparecia por lá, então ele lhes fazia um favor e contava tudo que queriam saber. Sempre disse que os bruxos um dia iriam pagar pelo modo com que tratam os elfos domésticos. Bem, Voldemort pagou... e Sirius também.

   Harry não teve o que retorquir. Enquanto observava Monstro aos soluços no chão, ele pareceu se lembrar do que Dumbledore lhe dissera, poucas horas depois de Sirius morrer: “Acho que Sirius nunca encarou Monstro como um ser com sentimentos tão sutis quanto os de um ser humano...”

— Monstro — Disse Harry, algum tempo depois —, quando tiver vontade, ãh... por favor, se sente.

   Passaram-se vários minutos até Monstro calar seus soluços. Sentou então, esfregando os olhos com os nós dos dedos, como uma criancinha.

— Monstro, vou lhe pedir para fazer uma coisa. — Disse-lhe Harry. E olhou para Hermione pedindo ajuda. Contudo, a mudança no seu tom de voz parecia ter recebido a aprovação da amiga: ela sorriu encorajando-o.

  “Monstro, eu quero que você, por favor, encontre Mundungo Fletcher. Precisamos descobrir onde o medalhão, o medalhão do seu senhor Regulus está. É realmente importante. Queremos terminar a tarefa que o seu senhor Regulus começou, queremos... ãh... garantir que ele não tenha morrido em vão.”
 
   Monstro baixou os punhos e ergueu os olhos para Harry.

— Encontrar Mundungo Fletcher? — Repetiu rouco

— E trazê-lo aqui, ao largo Grimmauld. — Acrescentou Harry — Você acha que poderia fazer isso para nós?

   Ao ver Monstro assentir e ficar em pé, o garoto teve uma súbita inspiração. Apanhou a bolsa que Hagrid lhe dera e tirou a falsa Horcrux, o medalhão substituto em que Regulus colocara o bilhete para Voldemort.

— Monstro, eu... ãh... gostaria que você ficasse com isso — Disse, colocando o medalhão nas mãos do elfo — Isto pertenceu a Regulus, e tenho certeza que ele gostaria de lhe dar como prova de gratidão pelo que você...

— Destruiu, colega. — Disse Rony, quando o elfo, dando uma olhada no medalhão, deixou escapar um uivo de choque e desespero e tornou a se atirar ao chão

   Levou quase meia hora para conseguimos acalmar Monstro, que ficou tão comovido em receber de presente uma herança da família Black que sentiu os joelhos fracos demais para se manter em pé. Quando finalmente pôde dar alguns passos, o acompanhamos ao seu armário, vimos ele guardar o medalhão nas cobertas sujas, e tranquilizamos o elfo de que a proteção do objeto seria nossa maior prioridade enquanto ele estivesse ausente. Então Monstro fez três reverências profundas para mim, Rony e Harry, e até uma leve contração gaiata em direção a Hermione que talvez fosse uma tentativa de saudá-la respeitosamente, antes de desaparatar com o costumeiro estalo.

Hello bruxinhos!!

   Vou ser sincera e dizer que esse capítulo quase me faz chorar, é tão bonita a história do Regulus, não é, ao mesmo tempo que é tão injusta... pobre Reg.

   Bom, mas já estava na hora da Rox descobrir como ele morreu, não acham? Kkkkkk.

   É isso meus amores, nos vemos quarta-feira.

– Bjosss da tia Nick.

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