119 | The Ghoul in Pyjamas
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119. O Vampiro
de Pijama
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Ah, bom, que sorte a gente ter um estoque tão grande de presas de basilisco. Eu estava mesmo me perguntando o que íamos fazer com elas.
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O choque de perder Olho-Tonto pairou sobre a casa nos dias que se seguiram; eu ainda tinha trauma com a aparência do bruxo, pois me lembrava o acontecimento do meu quarto ano, mas mesmo assim continuava na expectativa de vê-lo entrar mancando pela porta dos fundos, como os demais membros da Ordem que iam e vinham para transmitir notícias, embora, ainda nenhum sinal de Sienna. Eu não estava me sentindo muito bem nos dias que se seguiram, tudo parecia entediante e eu sentia que nada, a não ser a ação, aliviaria meus sentimentos, e que Harry e eu deveríamos partir em missão para encontrar e destruir as Horcruxes, assim que possível.
— Bem, vocês dois não podem fazer nada a respeito das... — Rony enunciou a palavra Horcruxes — até Harry fazer dezessete anos. Ele ainda tem o rastreador. E podemos planejar aqui tão bem quanto em qualquer outro lugar, não? Ou — a voz dele virou um sussurro — vocês já tem ideia de onde estão as você-sabe-o-quê?
— Não. — Admitiu Harry enquanto eu balançava a cabeça
— Acho que a Hermione tem feito umas pesquisas. Ela me disse que estava guardando os resultados para quando você chegasse, Harry.
Nós três estávamos sentados à mesa do café da manhã; papai e Bill tinham acabado de sair para o trabalho, mamãe subira para acordar Hermione, Ginny e Vega, e Fleur fora tomar banho.
— O rastreador perderá a validade no dia trinta e um. — Disse Harry — Isto significa que só preciso ficar aqui mais quatro dias. Depois eu posso…
— Cinco dias. — Eu o corrigi com firmeza, embora suspirando enquanto enchia um copo de suco de laranja com abóbora — Temos que ficar para o casamento. Eles nos matarão se não estivermos aqui.
Felizmente Harry entendeu que o “eles” se referia a Fleur e a mamãe.
— É só mais um dia. — Disse Rony, quando Harry pareceu se rebelar.
— Será que não compreendem como é importante...?
— Claro que não. — Respondeu meu irmão — Não fazem a menor ideia. E agora que você tocou nesse assunto, eu queria mesmo esclarecer umas coisas.
Rony olhou para a porta que abria para o corredor a ver se mamãe já estava voltando, depois se curvou para Harry.
— Mamãe esteve tentando extrair informações de Rox, de Hermione e de mim: vamos viajar para o quê. Você será o próximo, portanto prepare-se. Papai e Lupin também perguntaram, mas, quando respondemos que a recomendação de Dumbledore foi para você e Rox não comentarem com ninguém exceto nós dois, eles não insistiram. Mas a mamãe, não. Ela é decidida.
— Insistente que só ela. — Acrescentei levando o copo de suco à boca, meio impaciente de mamãe ter escondido as bebidas alcoólicas da casa temendo que eu acabasse com tudo
As previsões de Rony ( será que meu gêmeo também é vidente? ) se confirmaram algumas horas mais tarde. Pouco antes do almoço mamãe afastou Harry dos outros, pedindo-lhe para identificar um pé de meia sem par que talvez tivesse caído da mochila dele. Eu, Rony e Mione sabíamos bem que ela iria usufruir desse tempo para o encurralar e perguntar sobre o motivo da nossa viagem.
Estávamos certíssimos, embora Harry nos tenha acrescentado que mamãe mudara repentinamente de assunto ao perguntar a Harry se ele poderia ajudar nos preparativos do casamento que se aproximava. Eu saquei logo que tinha coisa aí, conheço minha mãe suficientemente bem para sacar isso.
E estava certa. Daquele momento em diante, mamãe manteve eu, Rony, Harry e Hermione tão ocupados com os preparativos para o casamento que mal nos sobrava tempo para pensar. A explicação mais caridosa para tal atitude seria a vontade de nos distrair para não pensarmos em Olho-Tonto e nos terrores da recente viagem. Depois de dois dias limpando talheres sem parar, combinando, por cor, presentinhos para os convidados, fitas e flores, desgnomizando o jardim e ajudando mamãe a cozinhar enormes tabuleiros de petiscos ( algo que confesso que eu gostei muito de fazer ), comecei a suspeitar que ela tivesse um motivo diverso. Todos os serviços que distribuía pareciam manter Rony, Harry, Hermione e eu afastados um do outro; mal tive oportunidade de falar a sós com eles desde a primeira noite, quando Harry nos contou que Voldemort estava torturando Olivaras.
— Acho que sua mãe pensa que, se impedir vocês de se reunirem para fazer planos, poderá adiar a partida. —Murmurou Vega para mim, na terceira noite, enquanto colocávamos a mesa para o jantar
Ela não andava muito feliz ou simpática ultimamente, só tinha o ar sério ou sarcástico, saber que íamos embora só piorou nisso. Às vezes parecia mais irritada com sua idade, pensando que se também tivesse dezessete poderia ir junto.
— E que é que mamãe acha que vai acontecer? — Perguntei no mesmo tom de voz — Que talvez outra pessoa liquide Voldemort enquanto ela nos segura aqui preparando vol-au-vents?
Eu tinha falado sem pensar e notei que o rosto de Vega ficara lívido.
— Então é verdade? É isso que vão tentar fazer?
— Eu... não... eu estava brincando, Vega. Pelas barbas de Merlim, não. — Respondi, fugindo à pergunta
Vega soltou um muxoxo. Em seguida a porta abriu e ela se virou de súbito, sempre com esperanças de que sua mãe fosse entrar pela porta a qualquer momento, mas era apenas papai, Bill e Kingsley.
Agora, era frequente outros membros da Ordem virem jantar, porque A Toca substituíra o largo Grimmauld n° 12 como quartel-general. Papai explicou que, depois da morte de Dumbledore, que era o fiel do segredo, cada uma das pessoas a quem ele confiara a localização da casa se tornara, por sua vez, um fiel do segredo.
— E como somos uns vinte, isso dilui muito o poder do Feitiço Fidelius. A possibilidade de os Comensais da Morte extraírem o segredo de um deles é vinte vezes maior. Não podemos esperar que o segredo seja mantido por muito mais tempo.
— Mas, com certeza, a essa altura, Snape já terá informado aos Comensais o endereço, não? — Perguntou Harry
— Bem, Olho-Tonto preparou alguns feitiços contra Snape, caso ele voltasse a aparecer por lá. Temos esperança de que sejam suficientemente fortes para mantê-lo a distância e amarrar sua língua, se tentar falar sobre a casa, mas não podemos estar seguros. Teria sido loucura continuar a usar o local como quartel-general, agora que sua proteção se tornou tão precária.
A cozinha estava tão apinhada naquela noite que tornava difícil o uso de garfos e facas. Me vi espremida ao lado de Rony. Eu, claramente educada, fazia tanto esforço para não roçar no braço dele que mal conseguia cortar a galinha no meu próprio prato, já ele deve ter me dado umas dez cotoveladas.
— Alguma notícia sobre Olho-Tonto? — Harry perguntou a Bill
— Não. — Foi a resposta
Não havíamos realizado um funeral para Olho-Tonto porque Bill e Lupin não conseguiram resgatar o corpo. Fora difícil determinar onde poderia ter caído, por causa da escuridão e da confusão da batalha.
— O Profeta Diário não disse uma palavra sobre a morte dele nem sobre as buscas pelo corpo. — Continuou Bill — Mas isso não quer dizer nada. O jornal tem omitido muita notícia ultimamente.
— E o Ministério, ainda não convocou uma audiência para averiguar a magia que usei ainda menor de idade para escapar dos Comensais da Morte? — Harry perguntou a papai, que, do outro lado da mesa, sacudiu a cabeça em resposta — Porque sabe que não tive escolha ou porque não quer que eu conte ao mundo inteiro que Voldemort me atacou?
— Acho que a segunda hipótese. Scrimgeour não quer admitir que Você-Sabe-Quem tem tanto poder quanto ele, nem que houve uma fuga em massa em Azkaban.
— É, para que informar ao público a verdade? — Protestou Harry, agarrando a faca com tanta força que as leves cicatrizes, gêmeas às minhas, no dorso de sua mão direita se destacaram, brancas, na pele: Não devo contar mentiras
— Qual o problema do mundo bruxo que não há um Ministro que se preze!? —Esbravejei ficando de joelhos na mesa para tentar alcançar a garrafa de Whisky, que com um olhar sério a mim Bill a afastou, me fazendo o encarar e tornar a sentar, aceitando muito emburrada a jarra de suco
— Será que não tem ninguém no Ministério disposto a enfrentá-lo? — Perguntou Rony com raiva
— Claro que tem, Rony, mas as pessoas estão aterrorizadas — Respondeu papai —, aterrorizadas com a ideia de serem as próximas a desaparecer, e seus filhos os próximos a serem atacados! Há muitos boatos assustadores. Nesse meio-tempo, Scrimgeour passa o dia trancado no escritório: só espero que esteja preparando algum plano.
Fez-se uma pausa em que mamãe, com um gesto da varinha, pôs os pratos usados no aparador e serviu a torta de maçã que eu a ajudei a preparar.
— Prrecisamos rresolverr o disfarrce que você vai usarr, Arry — Disse Fleur depois da sobremesa — No casamente. —Acrescentou, quando ele pareceu não entender — Naturralmente, nam tam Comensais da Morte entrre nosses convidades, mas nam posse garrantirr que nam falem demais depois de tomarrem champanhe.
— É, uma boa lembrança. — Disse mamãe da cabeceira da mesa onde estava, os óculos encarrapitados na ponta do nariz, passando em revista uma enorme lista de tarefas que anotara em um longo pergaminho — Então, Rony e Rox, já limparam o quarto de vocês?
Eu me escondi enquanto deitava o copo de suco na boca.
— Por quê?! — Exclamou Rony, batendo a colher no prato e olhando feio para mamãe — Por que o nosso quarto tem que ser limpo? Nós e Harry estamos muito bem no quarto do jeito que está.
— Pra mim ele está perfeito como sempre, mamãe. — Acrescentei batendo o copo na mesa
— Vamos festejar o casamento do seu irmão dentro de alguns dias, jovem…
— E eles vão casar no nosso quarto? —Indagou Rony furioso — Não! Então por que em nome das plicas de Merlim...
— Não responda assim a sua mãe. —Interpôs papai com firmeza — E faça o que ela está mandando. — E nisso ele olhou para mim com o mesmo tom de voz — E você também!
Rony amarrou a cara para papai e mamãe, depois apanhou novamente a colher e atacou os últimos bocados da torta de maçã.
Eu me boquiabri, meio piscando os olhinhos e tentando entender porque ele também gritou comigo se não falei nada.
— Ok, posso tomar Whisky agora?
— Não! — Disseram papai e mamãe ao mesmo tempo, como se até tivessem combinado
— Melhor eu guardar esse Whisky. — Bill suspirou e usando magia fez com que a garrafa voltasse a seu lugar
— Mas eu já tenho dezessete anos. — Quase implorei
— Já dissemos que não, Roxanne Beatriz! — Esbravejou mamãe — E termine sua sobremesa de uma vez pra você e seu irmão subirem e arrumarem aquele quarto!
Soltei um muxoxo enquanto tornava a comer minha torta.
— Eu posso ajudar, um pouco da bagunça é minha. — Disse Harry a mim e Rony, mas mamãe cortou a conversa
— Não, Harry querido, prefiro muito mais que você ajude Arthur a limpar o galinheiro, e, Hermione, eu agradeceria muito se você fosse trocar os lençóis do casal Delacour, sabe, eles estão chegando amanhã às onze horas.
O quarto estava uma zona como sempre. As únicas vezes em que foi verdadeiramente arrumado foi quando mamãe propriamente fez isso. Eu e Rony não nos importávamos com a bagunça, afinal tinha a nossa cara.
Eu soltei um muxoxo só de entrar no quarto e me deitei na cama com a cabeça pra baixo.
— Manhosa. — Rony retrucou; eu não o olhei, mas percebi que ele também tinha se jogado em sua própria cama
Então ouvimos o rangido da porta sendo aberta e os dois saltamos, olhando assustado pra lá.
Mas era apenas Hermione, com seu peludo gato ruivo, Bichento, nos braços.
— Ufa. — Falei tornando a me deitar, bem mais aliviada
— Como escapou? — Rony perguntou a olhando
— Os lençóis foram trocados ontem, a mãe de vocês deve ter esquecido. — Explicou adentrando o quarto e olhando ao redor — Nossa… antes do Weasley vocês tem bagunça como sobrenome?
Eu joguei Méri, o leão de pelúcia, na direção dela que se esquivou enquanto Rony resmungava:
— Veio pra brigar com a gente também?
— Não. — E se adiantou indo até a minha escrivaninha e a de Rony enquanto começava a mexer nos nossos livros, os organizando
Eu e Rony nos entreolhamos rindo, logo voltando a observar Hermione que separava os livros. Obviamente imaginávamos que ela ia os arrumar.
— Sabem, eu estava pensando em uma coisa esses dias. — Disse Rony de repente colocando as mãos abaixo da cabeça
— Fico feliz que você pense. — Alfinetei girando de lado na cama para olhar pra ele e Mione enquanto ria
— Engraçadinha. — Rony me mandou língua — É sério. Andei pensando em Moody.
— Como assim? — Hermione se virou para o olhar, um exemplar de Animais fantásticos em sua mão
— Sei lá, pode não fazer sentido, mas é que isso deles não encontrarem o corpo é muito estranho, e se…
Mas Rony parou de falar depressa, pois tornamos a ouvir passos nos degraus e em seguida o ruído da porta novamente, isso fez com que tanto eu quanto meu irmão saltassémos da cama.
— Já estamos arrumando, já estamos arrumando...! Ah, é você! — Exclamou Rony aliviado, quando Harry entrou
— Um Ufa! duplo. — Sorri para meu amigo tornando a me deitar na cama
Harry passou o olhar à volta, com certeza notando que o quarto continuava na mesma desordem da semana inteira; a única mudança é que agora Hermione estava sentada no canto oposto, com Bichento, aos pés, separando livros, alguns dos quais Harry reconheceu serem dele, em duas enormes pilhas.
— Oi, Harry. — Cumprimentou ela quando ele sentou na cama de armar que fora colocada com muito esforço no pouco espaço livre do quarto
— Como foi que você conseguiu fugir?
— Ah, a mãe dos gêmeos esqueceu que já tinha pedido a Ginny para trocar os lençóis ontem. — Respondeu Hermione. E jogou o Numerologia e gramática em uma pilha e Ascensão e queda das Artes das Trevas na outra
— Estávamos conversando sobre o Olho-Tonto. — Disse Rony parecendo querer brevemente voltar ao que falava antes — Eu ia dizer pra elas agora que acho que ele pode ter sobrevivido.
— Mas Bill viu quando ele foi atingido pela Maldição da Morte. — Argumentou Harry enquanto eu me remexia na cama olhando incrédula para meu irmão
— É, mas Bill também estava sob ataque. — Replicou Rony — Como pode ter certeza do que viu?
— Mesmo que a Maldição da Morte não o atingisse, Olho-Tonto caiu uns trezentos metros. — Lembrou Hermione, agora segurando o pesado Os times de quadribol da Grã-Bretanha e da Irlanda.
— Ele poderia ter usado o Feitiço Escudo...
— Fleur disse que a varinha foi arrancada da mão dele. — Retruquei
— Tudo bem, se vocês querem que ele tenha morrido. — Concluiu Rony mal-humorado, dando uns socos no travesseiro para afofá-lo
— É claro que não queremos que esteja morto! — Exclamou Hermione, chocada — É horrível que ele esteja! Mas temos que ser realistas!
Pela primeira vez, imaginei o corpo de Olho-Tonto com os ossos partidos como o de Dumbledore, mas com aquele único olho ainda girando na órbita. Senti uma uma reação violenta, que mesclava desgosto e aversão.
— Os Comensais da Morte provavelmente limparam os restos dele, é por isso que ninguém encontrou nada. — Sugeriu Rony com sabedoria
— É. — Acrescentou Harry — Como o Bartô Crouch, transformado em um osso e enterrado no jardim do Hagrid. Provavelmente transfiguraram o Olho-Tonto e o empalharam…
— Para! — Guinchou Hermione. Assustado, Harry ergueu a cabeça e eu me virei em tempo de ver a garota romper em lágrimas sobre o Silabário de Spellman
— Ah, não! — Exclamou Harry tentando se levantar da velha cama de armar — Hermione, eu não estava querendo transtornar ninguém…
Com uma rangedeira de molas enferrujadas, Rony pulou da cama e chegou primeiro. Com um braço, envolveu Hermione, e enfiou a outra mão no bolso do jeans de onde extraiu um lenço absurdamente sujo, usado mais cedo, naquele dia, para limpar o forno. Em seguida, puxou depressa a varinha, apontou para o trapo e ordenou: “Tergeo!”
A varinha chupou a maior parte da graxa. Com um ar de vaidosa satisfação, Rony entregou o lenço ainda fumegando a Hermione.
— Ah... obrigada, Rony... desculpe... — Ela assoou o nariz e soluçou — Só que é tão ho-horrível, não é? P-pouco depois de Dumb-bledore... P-por alguma razão, eu nunc-ca imaginei Olho-Tonto morto, ele parecia tão forte!
— É, eu sei. — Concordou Rony, dando-lhe um breve aperto — Mas vocês sabem o que ele nos diria se estivesse aqui?
— V-vigilância constante. — Respondeu Hermione enxugando os olhos
— É isso aí. — Concordou Rony, reforçando com um aceno de cabeça — Ele nos diria para aprender com o que lhe aconteceu. E o que aprendi foi a não confiar naquele lixo covarde do Mundungo.
Hermione soltou uma risada tremida e se curvou para apanhar mais dois livros. Um segundo mais tarde, Rony puxou o braço das costas dela; Hermione tinha deixado cair O livro monstruoso dos monstros no pé dele. O cinto de couro que o prendia soltou-se e o livro abocanhou com força o tornozelo do garoto.
— Desculpe, desculpe. — Hermione pedia, enquanto Harry arrancava o livro da perna de Rony e tornava a amarrá-lo e eu obviamente achava graça
— Afinal, que está fazendo com todos esses livros? — Perguntou Rony, mancando de volta à cama
— Tentando decidir quais deles vamos levar conosco, quando formos procurar as Horcruxes.
— Ah, claro. — Disse Rony, batendo na própria testa — Esqueci que vamos liquidar Voldemort em uma biblioteca móvel.
— Ha-ha. — Replicou ela, examinando o Silabário — Será que... precisaremos traduzir runas? É possível... acho que é melhor levar, só por precaução.
Hermione jogou o livro na maior das duas pilhas e apanhou Hogwarts, uma história.
— Escutem aqui. — Disse Harry
Ele se empertigara na cama. Eu, Rony e Hermione olhávamos para ele com expressões iguais que somavam resignação e desafio.
— Eu sei que vocês disseram, depois dos funerais de Dumbledore, que queriam me acompanhar. — Começou Harry
— Lá vem ele. — Comentou Rony com Hermione olhando para o teto
— Eu tenho que te acompanhar, Harry Potter, e mesmo se não tivesse, ainda assim eu iria. — Retruquei
— Como sabíamos que iria fazer. —Suspirou Hermione, voltando sua atenção para os livros — Sabem, acho que vou levar Hogwarts, uma história. Mesmo que a gente não volte lá, acho que não me sentiria bem se não carregasse…
— Escutem! — Repetiu Harry
— Não, Harry, escute você. — Retorquiu Hermione — Vamos com você. Isto já ficou decidido há meses; aliás, há anos.
— Mas...
— Cala essa boca. — Rony o aconselhou
— Tô com o meu irmão. — Indiquei dando uma piscadela para o meu maninho e rindo
— ... vocês têm certeza que refletiram bem? — Insistiu Harry
— Vejamos. — Retrucou Hermione, batendo com o volume de Viagens com trasgos na pilha dos descartados, com uma expressão feroz no rosto — Estou arrumando a bagagem há dias, portanto estamos prontos para partir a qualquer momento, o que, para sua informação, exigiu feitiços extremamente complexos, para não mencionar o contrabando do estoque de Poção Polissuco de Olho-Tonto, bem debaixo do nariz da mãe dos gêmeos.
“Além disso, alterei a memória dos meus pais para se convencerem de que, na realidade, são Wendell e Monica Wilkins, e que sua ambição na vida é mudar para a Austrália, o que eles já fizeram. Para dificultar que Voldemort os encontre e interrogue sobre mim... ou sobre vocês, porque, infelizmente, contei aos dois muita coisa sobre vocês.
“Supondo que eu sobreviva à busca das Horcruxes, procurarei mamãe e papai e desfarei o feitiço. Se não... bem, acho que lancei neles um encanto suficientemente forte para que vivam seguros e felizes como Wendell e Monica Wilkins. O casal não sabe que tem uma filha, entendem.”
Os olhos de Hermione tinham se enchido novamente de lágrimas. Rony tornou a levantar da cama, a abraçá-la pelos ombros e a franzir a testa para Harry como se o repreendesse pela falta de tato. Harry não conseguiu pensar em mais nada para contrapor a isso, claro, o que pensaria? No mínimo porque era excepcionalmente insólito Rony ensinar alguém a ter tato. Justo Rony.
— Eu... Hermione, peço desculpas... eu não...
— Não percebeu que Rony e eu temos perfeita noção do que poderá acontecer se formos com você e Rox? Pois temos. Rony, mostre ao Harry o que você já fez.
— Nãããh, ele acabou de comer. — Disse Rony
— Mostra logo, ele precisa saber!
— Ah, tá, Harry, vem comigo.
Pela segunda vez, Rony parou de abraçar Hermione e saiu mancando para a porta.
— Eu vou junto, é engraçado. — Falei me levantando da cama e sorrindo
— Anda. — Rony mandou se dirigindo a Harry
— Por quê? — Quis saber ele, saindo do quarto e acompanhando a mim e ao meu irmão gêmeo ao pequeno patamar do sótão
— Descendo! — Murmurou Rony, apontando a varinha para o teto baixo. Um alçapão se abriu e uma escada desceu aos seus pés. Um barulho horrível, meio gemido meio sucção, saiu do buraco quadrado, juntamente com um horrível cheiro de esgoto
— É o seu vampiro, não é? — Perguntou Harry, que nunca chegara a conhecer a criatura que, por vezes, perturbava o silêncio noturno n’A Toca
— Seu? — Retruquei cruzando os braços — Ele pode ter feito isso sozinho, mas o vampiro também é meu, ok?
— Fala sério, é um vampiro. — Rony retrucou subindo a escada — Vem, Harry, suba para dar uma olhada nele.
Eu segui depois do meu irmão pela escadinha até o minúsculo sótão, e Harry veio logo depois. Sua cabeça e seus ombros já estavam no quarto quando ele avistou a criatura enroscada ali perto no escuro, ferrada no sono com a bocarra aberta. Eu sorri olhando para aquilo, de fato engraçado.
— Mas ele... parece... é normal vampiros usarem pijamas?
— Não. — Respondeu Rony — Nem é normal terem cabelos ruivos ou tantas espinhas.
Harry contemplou a coisa, ligeiramente enojado. Na forma e no tamanho, parecia humano e, aos meus olhos acostumados ao escuro, não havia dúvida de que usava um pijama velho de Rony. Era bem óbvio que os vampiros, em geral, fossem viscosos e carecas, e não visivelmente cabeludos e cobertos de feias espinhas roxas.
— Ele sou eu, entendeu? — Disse Rony
— Não. Não entendi.
— Então explico lá no meu quarto, o cheiro está me incomodando. — Nós três descemos a escada, que Rony empurrou de volta ao teto, e fomos nos reunir a Hermione, que continuava separando livros
“Quando viajarmos, o vampiro vai descer para morar no meu quarto”, disse Rony. “Acho que ele está até ansioso para isso acontecer, mas é difícil saber, porque ele só sabe gemer e babar, mas acena muito com a cabeça quando se menciona a mudança. Em todo caso, ele vai ser o Rony com sarapintose. Bem bolado, hein?”
O rosto de Harry espelhava sua perplexidade.
— É, sim! — Insistiu Rony, visivelmente frustrado porque Harry não alcançara a genialidade do seu plano — Olhe, quando nós três não aparecermos em Hogwarts, todo o mundo vai pensar que Hermione, Rox e eu estamos com você, certo? O que significa que os Comensais da Morte irão direto procurar as nossas famílias para obter informações sobre o seu paradeiro e do de Rox obviamente.
— Mas, se o plano der certo, parecerá que fui viajar com os meus pais; muitas pessoas que nasceram trouxas estão falando em sumir de circulação por um tempo. — Esclareceu Hermione
— Não podemos esconder a minha família inteira, iria parecer suspeito demais, além disso, eles não podem largar o emprego. — Explicou Rony —Então, vamos divulgar a história de que estou gravemente doente com sarapintose, razão por que não pude voltar à escola. Se alguém vier investigar, meus pais podem mostrar o vampiro na minha cama, coberto de pústulas. Essa doença é realmente contagiosa, portanto eles não vão querer chegar muito perto. E também não fará diferença se o vampiro não puder falar nada, porque aparentemente ninguém pode, depois que o fungo ataca a úvula.
— E Rox? — Perguntou Harry
— Acha mesmo que alguém espera que eu retorne a Hogwarts esse ano? Harry, os Comensais estão à minha procura, não vão estranhar se eu sumir no mapa. Se vierem à minha procura, papai e mamãe dirão que eu fugi pouco antes de Rony adoecer, que estou há quilômetros daqui tentando me proteger e eles não sabem onde estou. — Explico com um suspiro — Fugir. É até irônico, não? Eu nunca fugiria dos meus problemas.
— E os pais de vocês oncordaram com esse plano? — Harry tornou a perguntar
— Papai, sim. — Rony respondeu — Ele ajudou Fred e George a transformarem o vampiro e tudo. Mamãe... bem, você já viu como ela é. Não vai aceitar que viajemos até termos partido.
Fez-se silêncio no quarto, interrompido apenas pelas leves batidas que Hermione produzia ao jogar os livros em uma das duas pilhas. Rony parou, observando-a, e Harry olhava de um para outro incapaz de falar. Me abaixei e apanhei Marshall, o furão, que estivera no tapete. Com ele em meus braços, comecei a acariciar seu pelo.
No silêncio, ouvimos o ruído abafado dos gritos de mamãe quatro andares abaixo.
— Ginny provavelmente deixou uma poeirinha em uma droga qualquer de porta-guardanapos. — Comentou Rony — Não sei por que os Delacour inventaram de chegar dois dias antes do casamento.
— A irmã de Fleur vai ser dama de honra, precisa estar aqui para o ensaio e é jovem demais para viajar sozinha. — Explicou Hermione, examinando indecisa o Como dominar um espírito agourento
— Bom, o fato é que ter hóspedes não vai melhorar os níveis de estresse da mamãe. — Comentei
— O que realmente precisamos decidir — Disse Hermione, atirando o Teoria da defesa em magia em uma lata de lixo sem olhá-lo duas vezes e apanhando Uma avaliação da educação em magia na Europa — é para onde iremos ao sair daqui. Eu sei que você disse que quer ir a Godric’s Hollow primeiro, Harry, e entendo o motivo, mas... bem... não devíamos dar prioridade às Horcruxes?
— Se soubéssemos onde encontrar alguma Horcrux, eu concordaria com você. — Respondeu Harry, com certeza, sem acreditar que Hermione entendesse, de fato, o seu desejo de retornar a Godric’s Hollow
— Você não acha possível que Voldemort esteja mantendo Godric’s Hollow sob vigilância? — Arriscou Hermione — Talvez espere que você volte para visitar o túmulo dos seus pais, uma vez que está livre para ir aonde quiser.
A ideia claramente não ocorrera a Harry. E, enquanto se concentrava para contra-argumentar, Rony se manifestou, obviamente seguindo um fluxo independente de pensamentos.
— Esse tal R.A.B. — Disse meu irmão —Sabe, aquele que roubou o verdadeiro medalhão?
Hermione fez que sim com a cabeça.
— Ele disse no bilhete que ia destruir o medalhão, não foi?
Harry puxou sua mochila para perto e tirou de dentro a falsa Horcrux contendo o bilhete de R.A.B.
— “Roubei a Horcrux verdadeira e pretendo destruí-la assim que puder” — Leu Harry em voz alta
— Então, e se ele de fato a destruiu? — Meu irmão perguntou
— Ou ela. — Interrompeu-o Hermione
— Ou elu. — Comentei rindo e entrando no assunto
— O que seja, seria uma a menos para se procurar! — Concluiu Rony
— Mas ainda iríamos tentar rastrear o medalhão verdadeiro, não? — Quis saber Hermione — Para descobrir se foi ou não destruído.
Eu desviei o olhar por uns instantes deles, acabara de ver algo piscar, como um vulto, bem em um ponto atrás deles. Seriam os espíritos??
Eu não via nem Mia, nem Regulus e nem Cedric há quase um mês e não tinha explicação nenhuma pra isso se considerasse o fato do meu poder está estável. Até parecia que eles estavam se escondendo ou me ocultando algo. No entanto, muitas vezes eu via vultos, que sempre me faziam ter certeza se eles deviam estar me observando.
— E quando o encontrarmos, como é que se destrói uma Horcrux? — Meu irmão perguntou tirando-me da minha linha de raciocínio
— Bem — Começou Hermione —, andei pesquisando.
— Como? — Admirou-se Harry — Achei que não havia livros sobre Horcruxes na biblioteca.
— Não havia. — Esclareceu Hermione corando — Dumbledore retirou todos, mas... mas não os destruiu.
Rony se sentou na cama de olhos arregalados, enquanto eu erguia as sobrancelhas.
— Pelas calças de Merlim — Exclamou meu irmão —, como foi que você conseguiu pôr a mão nesses livros sobre Horcruxes?
— Eu... não foi roubando! — Respondeu ela, olhando de Harry para Rony e depois para mim com um ar de desespero — Eles continuaram a ser livros da biblioteca, mesmo que Dumbledore os tenha retirado das prateleiras. Enfim, se ele realmente não quisesse que ninguém os pegasse, tenho certeza de que teria dificultado muito mais…
— Não fique enrolando! — Retrucou Rony
— Bem, foi fácil. — Disse Hermione com uma vozinha humilde — Lancei um Feitiço Convocatório. Sabem: Accio! E eles saíram voando pela janela do gabinete de Dumbledore para o dormitório das garotas.
— Porra, Hermione! Você é inteligente pra caralho! — Exclamei sorrindo
— Mas quando foi que você fez isso? —Perguntou Harry, olhando para ela ao mesmo tempo assombrado e incrédulo
— Logo depois do... funeral. — Respondeu ela com uma vozinha ainda mais humilde — Logo depois de combinarmos que iríamos deixar a escola para procurar as Horcruxes. Quando voltei para apanhar minhas coisas, me… simplesmente me ocorreu que, quanto mais soubéssemos sobre o assunto, melhor seria... e eu estava sozinha lá em cima... então tentei... e funcionou. Eles entraram voando direto pela janela aberta e eu... eu os guardei no malão.
A garota engoliu em seco e, então, justificou suplicante:
— Não acredito que Dumbledore se zangasse, não vamos usar a informação para fazer uma Horcrux, não é?
— Você está nos ouvindo reclamar? — Perguntou Rony — Afinal, onde estão esses livros?
Hermione procurou um pouco e tirou da pilha um grande livro, encadernado em couro preto já desbotado. Fez uma cara de nojo e estendeu-o cautelosamente como se fosse uma coisa recém-morta.
— Esse é o que dá instruções explícitas para se preparar uma Horcrux: Segredos das artes mais tenebrosas. É um livro horrível, realmente assustador, cheio de feitiços malignos. Fico pensando quando foi que Dumbledore o retirou da biblioteca... se foi só quando se tornou diretor. Aposto como Voldemort copiou dele todas as instruções de que precisava.
— Por que então precisou perguntar a Slughorn como preparar uma Horcrux, se já tinha lido o livro? — Perguntou Rony
— Ele só procurou o professor para saber o que acontecia quando a pessoa subdividia a alma em sete pedaços. — Respondi lembrando-me — Dumbledore tinha certeza de que Riddle já sabia fazer uma Horcrux na época em que foi à sala de Slughorn. Acho que você tem razão, Hermione, é muito provável que tenha sido daí que ele tirou as informações.
— E quanto mais eu leio — Continuou Hermione —, mais terrível a ideia me parece, e menos acredito que ele tenha realmente feito seis. O livro alerta para a instabilidade que a pessoa causa ao restante da alma dividindo-a, e isso para se fazer apenas uma Horcrux!
Me lembrei de Dumbledore ter dito que Voldemort ultrapassara a “esfera da maldade normal”.
— E não tem jeito de reintegrar todas as partes? — Perguntou Rony
— Tem — Respondeu Hermione com um sorriso inexpressivo —, mas causaria uma dor lancinante.
— Por quê? Como se faz? — Quis saber Harry
— Remorso. — Esclareceu Hermione — A pessoa precisa estar, de fato, arrependida do que fez. Tem um pé de página. Pelo que diz, a dor do processo pode destruí-la. Não sei por quê, não consigo ver Voldemort fazendo isso, e vocês?
— Não. — Respondeu Rony antes que eu ou Harry o fizesse — E o livro diz como destruir Horcruxes?
— Diz — Confirmou Hermione, agora virando as frágeis páginas como se examinasse entranhas em decomposição —, porque avisa aos bruxos das trevas que os feitiços com que se protegerem têm que ser excepcionalmente fortes. De tudo que li, o que Harry fez com o diário de Riddle foi uma das poucas maneiras infalíveis de destruir uma Horcrux.
— O quê, furar com uma presa de basilisco? — Perguntou Harry
— Ah, bom, que sorte a gente ter um estoque tão grande de presas de basilisco. — Comentou Rony — Eu estava mesmo me perguntando o que íamos fazer com elas.
— Não precisa ser uma presa de basilisco. — Explicou Hermione, pacientemente — Tem que ser alguma coisa tão destrutiva que a Horcrux não possa se autorrestaurar. O veneno de basilisco só tem um antídoto, e é incrivelmente raro…
— ... lágrimas de fênix. — Falei
— Exatamente. — Confirmou Hermione — O problema é que há pouquíssimas substâncias tão destrutivas quanto o veneno de basilisco, e são todas muito perigosas para se carregar por aí. Mas é um problema que precisaremos resolver, porque romper, quebrar ou moer uma Horcrux não adianta. É preciso deixá-la sem possibilidade de se restaurar por magia.
— Mas, se a gente destrói o objeto em que está guardada — Perguntou Rony —, por que o fragmento de alma não pode se mudar para outro lugar?
— Porque uma Horcrux é o absoluto oposto de um ser humano.
Ao perceber que eu e os meninos parecíamos confusos, Hermione se apressou a explicar:
— Vejam, se eu apanhasse uma espada neste minuto e transpassasse você, eu não danificaria sua alma.
— O que, com certeza, seria realmente um consolo para mim. — Disse Rony
Harry riu e eu também.
— Devia ser mesmo! Mas o que quero demonstrar é que, seja o que for que aconteça ao seu corpo, sua alma continuará ilesa. Mas com uma Horcrux é o contrário. O fragmento de alma depende do objeto que o contém, do seu corpo encantado, para sobreviver. Do contrário, não sobreviverá.
— Aquele diário deu a impressão de morrer quando eu o perfurei. — Disse Harry parecendo lembrar de quando o destruiu
— E, uma vez que o diário foi completamente destruído, o fragmento nele contido não pôde sobreviver. Ginny tentou se livrar do diário antes de você, jogando-o no vaso e dando descarga, mas, obviamente, ele voltou novo em folha.
— Espere aí. — Disse Rony, franzindo a testa — O pedacinho de alma naquele diário estava possuindo a Ginny, não? Como é isso, então?
— Enquanto o objeto mágico continuar intacto, o pedacinho de alma nele pode entrar em uma pessoa e tornar a sair se ela chegar muito perto do objeto. Não precisa segurá-lo muito tempo, não é o toque que importa. — Acrescentou ela, antes que Rony pudesse falar — É a proximidade emocional. Ginny abriu o
coração para o diário, tornando-se, assim, incrivelmente vulnerável. A pessoa se mete em apuros quando se apega demais ou passa a depender de uma Horcrux.
— Fico imaginando como foi que Dumbledore destruiu o anel. — Comentei pensativa — Por que não perguntei a ele? Realmente nunca…
Minha voz foi morrendo: pensei nas muitas coisas que deveria ter perguntado a Dumbledore e como, desde sua morte, me parecia que tinha desperdiçado tantas oportunidades, enquanto o diretor era vivo, para descobrir mais... descobrir tudo…
O silêncio foi quebrado quando a porta do quarto se escancarou, produzindo um estrondo de sacudir as paredes. Hermione gritou e deixou cair o Segredos das artes mais tenebrosas; Bichento disparou para baixo da cama, bufando indignado. Rony pulou da cama, escorregou em uma embalagem velha de sapos de chocolate e bateu a cabeça na parede oposta, Harry, instintivamente, se jogou para apanhar sua varinha, enquanto eu embolava da minha cama, mesmo sem querer, para apanhar Só-Merlim-sabe-o-quê, antes de perceber que estava vendo mamãe, que tinha os cabelos revoltos e o rosto contorcido de raiva.
— Lamento interromper essa reuniãozinha íntima. — Vociferou ela, com a voz trêmula — Tenho certeza de que vocês precisam de descanso... mas há presentes de casamento empilhados no meu quarto que precisam ser separados, e tive a impressão de que vocês concordaram em ajudar.
— Ah, sim. — Respondeu Hermione aterrorizada, levantando-se depressa e fazendo os livros voarem para todos os lados — Ajudaremos... pedimos desculpas…
Com um olhar aflito para mim e os meninos, a garota saiu correndo do quarto atrás de mamãe.
— É como se a gente fosse um elfo doméstico. — Queixou-se Rony em voz baixa, ainda massageando a cabeça e saindo comigo e Harry atrás das duas — Só que sem a satisfação no trabalho. Quanto mais cedo esse casamento terminar, mais feliz eu vou ficar.
— É — Concordei —, eu também.
— Sim — Disse Harry —, então não teremos mais nada para fazer exceto procurar Horcruxes... vai parecer até que estamos de férias, não é?
Rony começou a rir e eu também, mas, ao vermos a enorme pilha de presentes de casamento que nos esperava no quarto de mamãe, o sorriso sumiu.
Os Delacour chegaram na manhã seguinte às onze horas. A essa altura, eu, Rony, Harry, Hermione, Ginny e Vega já estávamos sentindo certa raiva da família de Fleur; foi de má vontade que Rony subiu as escadas batendo os pés para calçar meias iguais e Harry tentou baixar os cabelos, enquanto eu obedientemente fui forçada a tirar minha meia-calça colorida e vestir uma roupa mais formal, o que não incluía botas de salto-alto tratorada. Quando fomos considerados bem-arrumados, saímos em fila para esperar as visitas no quintal batido de sol.
Eu nunca tinha visto a minha casa tão arrumada. Os caldeirões enferrujados e as botas velhas que, em geral, coalhavam a escada para a porta dos fundos tinham desaparecido e sido substituídos por dois grandes vasos com arbustos tremulantes a cada lado da porta; embora não houvesse brisa, as folhas balançavam preguiçosamente, produzindo um belo efeito ondulante. As galinhas tinham sido trancadas no galinheiro, o quintal varrido e o jardim anexo fora despojado das folhas velhas, podado e, de um modo geral, cuidado, embora eu, que o preferia sem trato, achasse que o jardim parecia abandonado sem o seu contingente normal de gnomos saltitantes.
Eu não tinha noção da quantidade de feitiços de segurança que tinham sido lançados sobre A Toca, tanto pela Ordem quanto pelo Ministério; só sabia que tinham inviabilizado a possibilidade de alguém viajar por magia até ali. Papai, portanto, fora esperar os Delacour no alto de um morro próximo, onde a família chegaria por Chave de Portal. O primeiro sinal de sua aproximação foi uma gargalhada anormalmente aguda, dada por papai, soube-se depois, que apareceu ao portão em seguida, carregado de malas à frente de uma bela loura de longas vestes verde-folha, que só poderia ser a mãe de Fleur.
— Maman! — Exclamou Fleur, correndo para abraçá-la — Papa!
O sr. Delacour não era nem de longe atraente como sua mulher; era uma cabeça mais baixo que ela, além de extremamente gordo, e usava uma barbicha pontuda e preta. Parecia, contudo, uma pessoa bem-humorada. Sacudindo-se nas botas de salto em direção à mamãe, ele lhe aplicou dois beijos em cada bochecha, deixando-a perturbada.
— Vocês tiverram tante trrabalhe. — Disse ele com sua voz grave — Fleur nos contou qu’andarram trrabalhando muite mesme.
— Ah, não foi nada, absolutamente nada! — Gorjeou mamãe — Não foi trabalho algum!
Rony aliviou sua frustração mirando um pontapé em um gnomo que estava espiando atrás de um dos vasos com arbustos tremulantes.
— Minhe carra senhorra! — Replicou o sr. Delacour, ainda segurando a mão de mamãe entre as suas, muito gorduchas, e dando-lhe um radiante sorriso — Nos sentimes muite honrrrades com a eminente união de nosses famílies! Deixe-me arpresentarr-lhe minhe mulherr, Apolline.
Madame Delacour adiantou-se como se deslizasse e se curvou para beijar mamãe também.
— Enchantée. — Disse ela — Se marrido esteve me contanto histórrias muite diverrtidas!
Papai soltou uma risada exagerada; mamãe ançou-lhe um olhar que o fez calar-se imediatamente e assumir uma expressão mais apropriada a uma visita a um amigo doente no hospital.
— E, naturralmente, já conhecem minhe filhinea Gabrrielle! — Disse Monsieur Delacour. Gabrielle era uma Fleur em miniatura; onze anos, cabelos louros platinados, a garota dirigiu um sorriso ofuscante à mamãe, abraçou-a e, pestanejando, lançou um olhar intenso a Harry. Ginny pigarreou alto.
— Então, entrem, por favor! — Convidou mamãe animada, levando os hóspedes para dentro, depois de muitos “Não, por favor!” e “Primeiro os senhores!” e “De maneira alguma!”.
Os Delacour, não tardamos a perceber, eram hóspedes prestativos e agradáveis. Mostravam-se satisfeitos com tudo e desejosos de ajudar nos preparativos do casamento. Monsieur Delacour considerou tudo, desde a distribuição de lugares até os sapatos das damas de honra, “charmant!”. Madame Delacour era muito talentosa com feitiços domésticos e deixou o forno limpo em segundos; Gabrielle seguia a irmã mais velha pela casa, tentando ajudar no que pudesse, tagarelando em um francês muito rápido.
Embaixo, A Toca não fora construída para acomodar tanta gente. Mamãe e papai agora estavam dormindo na sala de visitas depois de calar os protestos de Monsieur e Madame Delacour e insistir que os dois ocupassem seu quarto. Gabrielle ia dormir com Fleur no antigo quarto de Percy, e Bill dividiria o quarto com Charlie, seu padrinho de casamento, quando ele finalmente chegasse da Romênia. Mas pra minha infelicidade, Evellyn viria junto e ficaria no quarto com Gabrielle e Fleur já que o de Ginny já estava ocupado por três pessoas, assim como o meu e o de Rony. Com tudo isso, no entanto, as oportunidades de se reunirmos para fazer planos praticamente deixaram de existir, e foi por desespero que eu, Rony, Harry e Hermione passamos a se oferecer para dar comida às galinhas só para fugir da casa demasiado cheia.
— Nem assim ela vai nos deixar em paz! — Reclamou Rony quando a segunda tentativa de nos encontrarmos no quintal foi frustrada pelo aparecimento de mamãe, carregando um grande cesto de roupa lavada nos braços
— Ah, ótimo, vocês já alimentaram as galinhas. — Disse ao se aproximar — É melhor prendê-las outra vez no galinheiro antes que os homens cheguem amanhã... para armar a tenda para o casamento. — Explicou, parando e se apoiando à parede da casa. Ela parecia exausta. — Tendas Mágicas Millamant… eles são muito bons. Bill vai acompanhá-los... é melhor você não sair de casa enquanto estiverem aqui, Harry. Devo confessar que complica bastante organizar um casamento, com tantos feitiços de segurança pela propriedade.
— Lamento muito. — Respondeu Harry com humildade
— Ah, não seja tolo, querido! — Exclamou mamãe imediatamente — Não quis me referir... bem, a sua segurança e a de Rox é muito mais importante! Aliás, eu estava pensando em lhe perguntar como vai querer comemorar o seu aniversário, Harry. Afinal, dezessete anos é uma data importante…
— Não quero incomodar. — Disse Harry depressa, com certeza imaginando a pressão adicional que isso traria a todos — Realmente, sra. Weasley, um jantar normal seria ótimo... é a véspera do casamento…
— Ah, bem, se você tem certeza, querido. Vou convidar Remo e Tonks, posso? E Hagrid?
— Seria ótimo. Mas, por favor, não se incomode demais.
— Não, não mesmo... não será incômodo...
A bruxa lhe lançou um olhar demorado e inquisitivo, depois sorriu com certa tristeza e, se aprumando, afastou-se, acenando a varinha quando se aproximou do varal, fez as roupas úmidas se erguerem no ar para se pendurarem.
Eu a observei, e mesmo que ressentida imaginei bem o que mamãe devia está passando e a entendia muito bem.
Helloooo bruxinhoooos!!
Como estamos?
Segundo capítulo do dia, isso aí.
Por enquanto parece tudo felizinho com os preparativos pro casamento, mas sabemos que essa felicidade não vai durar muito...
Bom, nos vemos Segunda-feira bruxinhoooos.
– Bjosss da tia Nick.
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