116 | The Dursleys Departing
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116. A Partida dos
Durleys
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Bom... adeus.
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ᴴᵃʳʳʸ ᴾᵒᵗᵗᵉʳ
Eu sangrava. Segurando minha mão direita com a esquerda, e xingando baixinho, empurrei a porta do quarto com o ombro. Ouvi um barulho de porcelana quebrando; acabara de pisar em uma xícara de chá frio que alguém deixara do lado de fora, à porta do quarto.
— Que m...?
Olhei para os lados; o corredor da rua dos Alfeneiros n° 4 estava deserto. A xícara de chá era, possivelmente, a ideia de armadilha inteligente imaginada por Duda. Mantive a mão ensanguentada no alto, juntei os cacos da xícara com a outra mão e atirei-os na cesta abarrotada de lixo que entrevi pela porta do meu quarto. Depois caminhei pesadamente até o banheiro para pôr o dedo sob a água da torneira.
Era uma idiotice sem sentido e incrivelmente irritante que ainda me faltasse quatro dias para poder realizar feitiços... mas tinha de admitir que esse feio corte no dedo me derrotaria. Nunca aprendi a curar ferimentos e, agora que me ocorria pensar nisso – particularmente à luz dos meus planos imediatos –, parecia-me uma séria lacuna em minha educação bruxa. Anotando mentalmente para perguntar a Hermione como se fazia, usei um grande chumaço de papel higiênico para secar o melhor que pude o chá derramado, antes de voltar para o quarto e bater a porta.
Gastei a manhã inteira esvaziando meu malão de viagem pela primeira vez desde que o arrumei havia seis anos. Nos primeiros anos de escola, simplesmente limpei uns três quartos do seu conteúdo e os repusera ou atualizara, deixando no fundo uma camada de lixo – penas usadas, olhos secos de besouro, meias sem par que não me serviam mais. Minutos antes, meti a mão nesse entulho, senti uma dor lancinante no quarto dedo da mão direita e, ao puxá-la, vi que estava coberta de sangue.
Continuei, então, um pouco mais cauteloso. Tornando a se ajoelhar ao lado do malão, apalpei o fundo, retirei um velho broche que piscava fracamente, ora Apoie CEDRIC DIGGORY ora POTTER FEDE, um bisbilhoscópio rachado e gasto e um medalhão de ouro contendo um bilhete assinado por R.A.B., e finalmente descobri o gume afiado que me ferira. Reconheci-o sem hesitação. Era um caco de uns cinco centímetros do espelho encantado que Sirius, meu falecido padrinho, tinha me dado. Separei-o e apalpei o malão à procura do resto, mas nada mais restara do último presente dele exceto o vidro moído, agora grudado, na última camada de destroços, como purpurina.
Sentei e examinei o caco pontiagudo em que me cortara, mas não vi nada além do reflexo do meu brilhante olho verde. Coloquei, então, o fragmento sobre o Profeta Diário daquela manhã, que continuava intocado em minha cama, e tentei estancar o repentino fluxo de amargas lembranças, as pontadas de remorso e saudade que a descoberta do espelho partido tinha ocasionado, ao atacar o resto do lixo dentro do malão.
Levou mais uma hora para esvaziá-lo completamente, jogar fora os objetos inúteis e separar os demais em pilhas, de acordo com as minhas futuras necessidades. Minhas vestes de escola e de quadribol, caldeirão, pergaminho, penas e a maior parte dos livros de estudo foram empilhados a um canto para serem deixados em casa. Fiquei imaginando o que meus tios fariam com aquilo; provavelmente queimariam tudo na calada da noite, como se fossem provas de um crime hediondo. Minhas roupas de trouxa, Capa da Invisibilidade, estojo para preparo de poções, certos livros, o álbum de fotos que Hagrid um dia me dera, um maço de cartas e minha varinha foram rearrumados em uma velha mochila. No bolso frontal, guardei o mapa do maroto e o medalhão com o bilhete assinado por R.A.B. O medalhão, que Rox achou melhor deixar comigo, recebera esse lugar de honra não porque fosse valioso – sob qualquer ângulo normal, era imprestável –, mas pelo que nos custara obtê-lo.
Restou, então, uma avantajada pilha de jornais sobre minha escrivaninha, ao lado da alvíssima coruja Edwiges: um exemplar para cada um dos dias desse verão que passei na rua dos Alfeneiros desde que voltei da Casa Brown.
Levantei-me do chão, me espreguicei, e me dirigi à escrivaninha. Edwiges não fez o menor movimento quando eu comecei a atirar um a um dos jornais na montanha de lixo acumulado; a coruja cochilava, ou fingia cochilar; estava zangada comigo por causa do pouco tempo que, no momento, eu a deixava fora da gaiola. A única edição do Profeta que salvei foi uma das últimas, uma que eu sabia ter um artigo de Elifas Doge em memória a Dumbledore.
Depois que joguei tudo no lixo e guardei esse único artigo dentro de um livro, me virei para encarar o quarto. Estava muito mais arrumado. As únicas coisas fora de lugar eram a edição do dia do Profeta Diário, ainda sobre a cama, e, em cima dela, o caco de espelho.
Eu não conseguia ler o jornal, a repugnância não me permitia só de pensar no que Rita Skeeter fizera, no que ela escreveu a respeito de Dumbledore, eram mentiras, era tudo mentira. Irritado, meramente joguei a edição do dia do Profeta no monte de lixo.
Me sentei com força na cama. O caco de espelho saltou para longe; eu o apanhei e examinei entre os dedos pensando, pensando em Dumbledore e nas mentiras com que Rita Skeeter o difamava...
Um lampejo azul intenso. Eu congelei, o dedo cortado escorregou pela ponta do espelho. Fora imaginação, devia ter sido. Eu espiei por cima do ombro, mas a parede continuava da cor pêssego enjoativo que tia Petúnia escolhera; não havia nada azul ali para ser refletido. Tornei a examinar o fragmento de espelho e nada vi, exceto o meu olho muito verde me encarando. Imaginei o lampejo, não havia outra explicação; imaginara porque estive pensando no diretor falecido. Se havia uma certeza era que os olhos muito azuis de Alvo Dumbledore jamais me perscrutariam outra vez.
O ruído da porta da frente batendo ecoou escada acima, e uma voz gritou:
— Ei! Você!
Dezesseis anos ouvindo este chamado não me permitia duvidar que era a mim que meu tio estava se dirigindo; ainda assim, não respondi imediatamente. Continuei a contemplar o caco de espelho em que, por uma fração de segundo, pensei ter visto um olho de Dumbledore. Somente quando meu tio berrou “MOLEQUE!”, me levantei vagarosamente e me encaminhei para a porta do quarto, parando, antes, para guardar o pedaço de espelho na mochila cheia com as coisas que ia levar.
— E vem se arrastando! — Urrou Válter Dursley quando apareci no alto da escada — Desça aqui, quero falar com você!
Desci a escada, as mãos enfiadas no fundo dos bolsos do jeans. Quando cheguei à sala de estar, encontrei os três Dursley. Trajavam roupas de viagem: tio Válter vestia um blusão de zíper castor, tia Petúnia um elegante casaco salmão, e Duda, meu primo forte, musculoso e louro, uma jaqueta de couro.
— Pois não? — Falei
— Sente-se! — Ordenou o tio. Ergui as sobrancelhas — Por favor! — Acrescentou, fazendo uma ligeira careta como se a palavra lhe arranhasse a garganta
Eu me sentei. Pensei que sabia o que esperar. Válter Dursley começou a andar para cima e para baixo. Tia Petúnia e Duda acompanhavam seus passos com os rostos ansiosos. Por fim, meu tio, com a cara larga e púrpura contraída de concentração, parou diante de mim e falou:
— Mudei de ideia.
— Que surpresa. — Respondi
— Não venha com ironias... — Começou tia Petúnia com a voz esganiçada, mas o marido fez sinal para que ela se calasse
— É tudo conversa fiada. — Afirmou ele, encarando-me com seus olhinhos de porco — Concluí que não acredito em uma única palavra. Vamos ficar aqui, não vamos a lugar algum.
Ergui os olhos para o meu tio e senti uma mescla de exasperação e surpresa. Válter Dursley vinha mudando de ideia a cada vinte e quatro horas nas últimas quatro semanas, carregando o carro, descarregando-o e recarregando-o a cada mudança. O meu momento favorito tinha sido quando ele, sem saber que Duda guardara os pesos de musculação na mala desde a última vez que fora descarregada, tentara colocá-la novamente no porta-malas e desequilibrou-se, soltando urros de dor e xingando horrores.
— Pelo que me conta — Disse Válter Dursley, recomeçando a andar pela sala —, nós, Petúnia, Duda e eu, corremos perigo. Por conta de... de…
— Gente da “minha laia”, certo.
— Pois eu não acredito. — Repetiu o tio, parando outra vez diante de mim — Passei metade da noite refletindo e acho que é uma armação para você ficar com a casa.
— A casa? — Perguntei — Que casa?
— Esta casa! — Gritou ele, a veia da testa começando a pulsar — Nossa casa! Os preços das casas estão disparando por aqui! Você quer nos tirar do caminho, fazer meia dúzia de charlatanices e, quando a gente der pela coisa, as escrituras estarão em seu nome e…
— O senhor enlouqueceu? Uma armação para ficar com esta casa? Será que o senhor é realmente tão retardado como está parecendo ser?
— Não se atreva!... — Guinchou tia Petúnia, mas, novamente, Válter fez sinal para a mulher se calar: ofensas sobre minha personalidade não se comparavam ao perigo que identificara
— Caso o senhor tenha esquecido — Falei com impaciência —, eu já tenho uma casa, meu padrinho a deixou para mim. Então, por que eu iria querer esta? Pelas boas lembranças que guardo daqui?
Fez-se silêncio. Com certeza eu tinha acabado de impressionar o meu tio com esse argumento.
— Você quer me dizer que esse tal lorde...
— Voldemort — Completei impaciente —, e já repassamos isso cem vezes. E não é o que quero dizer, é um fato, Dumbledore lhe disse isso no ano passado, e Kingsley e o sr. Weasley…
Válter Dursley encolheu os ombros encolerizado, e imaginei que ele estivesse tentando exorcizar as lembranças da inesperada visita de dois bruxos adultos, logo no início de minhas férias de verão, quando tornei da casa dos Brown. A chegada de Kingsley Shacklebolt e Arthur Weasley à porta da casa fora um choque extremamente desagradável para os Dursley. Contudo, eu tinha de admitir que não era de se esperar que o reaparecimento do sr. Weasley, que no passado demolira metade da sala, deixasse meu tio feliz.
— Kingsley e o sr. Weasley explicaram tudo muito bem. — Salientei sem piedade — Quando eu completar dezessete anos, o feitiço de proteção que me resguarda se desfará, e isto me põe em risco e a vocês também. A Ordem tem certeza que Voldemort visará o senhor, seja para torturá-lo e descobrir aonde fui, seja por pensar que, se o fizer refém, eu tentarei vir salvá-lo.
O olhar do meu tio me encontrou. Tive certeza de que naquele instante estávamos se perguntando a mesma coisa. Então, Válter recomeçou a andar e continuei a falar:
— O senhor precisa se esconder e a Ordem quer ajudar, ofereceu uma sólida proteção, a melhor que existe.
Tio Válter não respondeu, continuou a andar para cá e para lá. Lá fora, o sol batia diagonalmente sobre a cerca de alfeneiros. Na casa ao lado, o cortador de grama do vizinho parou mais uma vez.
— Pensei que houvesse um Ministério da Magia! — Exclamou o tio bruscamente
— Há. — Respondi surpreso
— Então, por que não podem nos proteger? Parece-me que, como vítimas inocentes, cujo único crime foi dar guarida a um homem marcado, deveríamos ter direito à proteção do governo!
Eu ri; não conseguia me conter. Era tão típico do meu tio depositar as esperanças nas instituições, mesmo as de um mundo que ele desprezava e não confiava.
— O senhor ouviu o que o sr. Weasley e Kingsley disseram. Achamos que o inimigo está infiltrado no Ministério.
Tio Válter foi até a lareira e voltou, respirando com tanta força que ondulava o enorme bigode negro, seu rosto ainda púrpura de concentração.
— Muito bem. — Disse ele, parando mais uma vez diante de mim — Muito bem, vamos considerar a hipótese de que aceitemos essa proteção. Continuo sem entender por que não podemos recebê-la do tal Kingsley.
Consegui não erguer os olhos para o teto, mas a muito custo. A pergunta já tinha sido respondida meia dúzia de vezes.
— Como lhe expliquei — Falei entre os dentes —, Kingsley está protegendo o trouxa, quero dizer, o seu primeiro-ministro.
— Exatamente: ele é o melhor! — Exclamou o tio, apontando para a tela escura da televisão. Os Dursley tinham localizado Kingsley no telejornal, andando discretamente às costas do primeiro-ministro em visita a um hospital. Isto, e o fato de Kingsley ter aprendido a se vestir como um trouxa, sem esquecer da segurança que transmitia com sua voz lenta e grave, tinha levado os Dursley a aceitarem Kingsley de um jeito que certamente não se aplicara a nenhum outro bruxo, embora fosse verdade que eles nunca o tivessem visto de brinco
— Ele está ocupado. — Falei — Mas Héstia Jones e Dédalo Diggle estão mais do que qualificados para esse serviço...
— Se ao menos tivéssemos visto os currículos deles... — Começou tio Válter, mas eu perdi a paciência. Levantando-me, me dirigi ao meu tio, agora eu quem apontava para a televisão
— Esses acidentes não são acidentes, as colisões, explosões, descarrilamentos e o que mais tenha acontecido desde a última vez que o senhor viu o telejornal. As pessoas estão desaparecendo e morrendo, e é ele que está por trás de tudo: Voldemort. Já lhe disse isso muitas vezes, ele mata trouxas para se divertir. Até os nevoeiros: são causados por dementadores, e se o senhor não lembra quem são, pergunte ao seu filho!
As mãos de Duda ergueram-se bruscamente para cobrir a própria boca. Sentindo os olhos dos pais e os meu postos nele, tornou a baixá-las lentamente e perguntou:
— Tem... mais daqueles?
— Mais? — Eu ri — Você quer dizer mais do que os dois que nos atacaram? Claro que tem, tem centenas, talvez milhares a essa altura, uma vez que se alimentam do medo e do desespero…
— Está bem, está bem. — Trovejou Válter Dursley — Você me convenceu...
— Espero que sim, porque quando eu completar dezessete anos, todos eles, os Comensais da Morte, os dementadores e até os Inferi, que é como chamamos os mortos-vivos enfeitiçados por um bruxo das trevas, poderão encontrar vocês e certamente atacá-los. E se lembrarem da última vez que tentaram ser mais rápidos do que os bruxos, acho que irão concordar que precisam de ajuda.
Houve um breve silêncio em que o eco distante de Hagrid derrubando uma porta de madeira deu a impressão de reverberar pelos anos transcorridos desde então. Tia Petúnia olhava para tio Válter; Duda me encarava. Por fim, meu tio perguntou abruptamente:
— E o meu trabalho? E a escola de Duda? Suponho que essas coisas não tenham importância para um bando de bruxos vagabundos...
— Será que o senhor não compreende? — Gritei — Eles torturarão e matarão vocês como fizeram com os meus pais!
— Pai — Disse Duda em voz alta —, pai... eu vou com esse pessoal da Ordem.
— Duda — Comentei casualmente —, pela primeira vez na vida você está demonstrando bom senso.
Eu sabia que a batalha estava ganha. Se Duda estivesse suficientemente apavorado para aceitar a ajuda da Ordem, os pais o acompanhariam; separarem-se de Duda estava fora de questão. Olhei para o relógio de alça sobre o console da lareira.
— Eles estarão aqui dentro de uns cinco minutos — Anunciei e, diante do total silêncio dos Dursley, saí da sala. A perspectiva de se separar, provavelmente para sempre, dos meus tios e do meu primo era algo que eu conseguia imaginar com alegria, mas, ainda assim, havia um certo constrangimento no ar. Que se dizia a parentes ao fim de dezesseis anos de intensa e mútua aversão?
De volta ao meu próprio quarto, mexi a esmo na mochila, depois empurrei umas nozes pelas grades da gaiola de Edwiges. Elas produziram um som oco ao bater no fundo, onde a coruja as ignorou.
— Logo, logo estaremos indo embora daqui. — Falei para ela — Então você vai poder voar novamente.
A campainha da porta tocou. Eu hesitei, em seguida tornei a sair do quarto e descer: era demais esperar que Héstia e Dédalo enfrentassem os Dursley sozinhos.
— Harry Potter! — Esganiçou-se uma voz animada, no instante em que eu abri a porta; um homenzinho de cartola lilás me fez uma profunda reverência — Uma honra como sempre!
— Obrigado, Dédalo. — Respondi concedendo um sorriso breve e inibido a Héstia, a bruxa de cabelos escuros — É realmente uma gentileza fazerem isso... eles estão aqui dentro, meus tios e meu primo...
— Bom-dia aos parentes de Harry Potter! — Exclamou Dédalo, feliz, entrando na sala de estar. Os Dursley não pareceram nada felizes com a saudação; cheguei a pensar que mudariam mais uma vez de ideia. Duda se encolheu junto à mãe ao ver os bruxos.
“Vejo que já fizeram as malas e estão prontos. Excelente! O plano, como Harry deve ter-lhes dito, é simples”, prosseguiu Dédalo, puxando do colete um enorme relógio de bolso e consultando-o.
“Vamos sair antes de Harry. Devido ao perigo de se usar magia em sua casa, porque Harry ainda é menor de idade, e isto poderia dar ao Ministério uma desculpa para prendê-lo, seguiremos de carro, digamos, por uns dois quilômetros. Então, desaparataremos até o local seguro que escolhemos para os senhores. Imagino que saiba dirigir, não?”, perguntou o bruxo a tio Válter educadamente.
— Saiba...? Claro que sei dirigir muito bem! — Respondeu ele bruscamente
— É preciso muita inteligência, senhor, muita inteligência. Eu ficaria absolutamente abobalhado com todos aqueles botões e alavancas de puxar e empurrar. — Disse Dédalo. Sem dúvida, o bruxo pensava estar elogiando Válter Dursley, que visivelmente ia perdendo confiança no plano a cada palavra que Dédalo dizia
Eu ri. Será que eu devia contar pra eles que a viagem ao Mundo Invertido me fez aprender a dirigir?
— Nem ao menos sabe dirigir. — Resmungou meu tio, entre os dentes, ondulando o bigode de indignação, mas, por sorte, nem Dédalo nem Héstia pareceram ouvi-lo
— Você, Harry — Continuou Dédalo —, irá esperar aqui por sua guarda. Houve uma pequena mudança nos preparativos…
— Que quer dizer? — Perguntei surpreso — Pensei que Olho-Tonto viria para fazer comigo uma aparatação acompanhada, não?
— Inviável — Respondeu Héstia, concisamente — Olho-Tonto lhe explicará.
Os Dursley, que tinham escutado tudo com expressões de total incompreensão nos rostos, sobressaltaram-se ao ouvir um guincho alto: “Apressem-se!” corri os olhos pela sala e me dei conta de que a voz saíra do relógio de bolso de Dédalo.
— Tem razão, estamos operando com um horário apertado. — Comentou o bruxo, assentindo para o relógio e tornando a enfiá-lo no bolso do colete — Estamos tentando cronometrar sua saída da casa com a desaparatação de sua família, Harry; assim, o feitiço se desfaz no momento em que todos estiverem rumando para um destino seguro. — E, voltando-se para os Dursley: — Então, estamos com as malas feitas e prontos para partir?
Nenhum deles lhe respondeu: tio Válter ainda olhava espantado para o volume no bolso do colete de Dédalo.
— Talvez a gente devesse esperar lá fora no hall, Dédalo. — Murmurou Héstia: era evidente que considerava indelicado permanecerem na sala enquanto eu e os Dursley, talvez às lágrimas, trocávamos despedidas amorosas.
— Não precisa. — Murmurei, mas tio Válter tornou qualquer explicação desnecessária ao dizer em voz alta:
— Então, adeus, moleque. — Ergueu o braço direito para apertar a minha mão, mas, no último instante, pareceu incapaz de fazê-lo, e simplesmente fechou a mão e começou a sacudi-la para a frente e para trás como se fosse um metrônomo.
— Pronto, Duzinho? — Perguntou tia Petúnia, verificando, atrapalhada, o fecho da bolsa de mão para evitar sequer olhar para mim
Duda não respondeu, mas ficou parado ali com a boca entreaberta, lembrando ligeiramente a mim o gigante Grope.
— Vamos, então. — Disse o tio. Ele já alcançara a porta da sala quando Duda murmurou:
— Eu não estou entendendo.
— O que não está entendendo, fofinho? — Perguntou tia Petúnia, erguendo a cabeça para o filho
Duda estendeu a mão, que mais parecia um presunto, e apontou para mim.
— Por que ele não está vindo com a gente?
Tio Válter e tia Petúnia congelaram onde estavam, como se o filho tivesse acabado de expressar o desejo de ser uma bailarina.
— Quê?! — Exclamou tio Válter em voz alta
— Por que ele não está vindo também? — Repetiu Duda
— Ora, ele... ele não quer. — Respondeu tio Válter, virando-se com um olhar feroz para o sobrinho e acrescentando: — Você não quer, não é mesmo?
— Nem pensar. — Confirmei
— Viu? — Disse tio Válter ao filho — Agora ande, estamos indo.
E saiu da sala; todos ouviram a porta da frente abrir, mas Duda não se mexeu e, após alguns poucos passos hesitantes, tia Petúnia parou também.
— Que foi agora? — Vociferou tio Válter, reaparecendo à porta
Aparentemente, Duda lutava com conceitos demasiado difíceis para expressar em palavras. Passados vários segundos de um conflito interior visivelmente doloroso, ele perguntou:
— Mas aonde ele está indo?
Tia Petúnia e tio Válter se entreolharam. Era óbvio que Duda estava apavorando os pais. Héstia Jones rompeu o silêncio.
— Mas... certamente o senhor sabe aonde está indo o seu sobrinho, não? — Perguntou, demonstrando perplexidade
— Certamente que sabemos. — Retrucou Válter Dursley — Está indo embora com uns tipos da sua laia, não é? Certo, Duda, vamos para o carro, você ouviu o que o homem disse, estamos com pressa.
Mais uma vez, Válter Dursley se dirigiu resolutamente à porta da frente, mas Duda não o acompanhou.
— Indo embora com uns tipos da nossa laia?
Héstia pareceu ultrajada. Eu já vira essa reação antes: bruxos se mostrarem perplexos ao constatar que os parentes vivos mais próximos tivessem tão pouco interesse no famoso Harry Potter.
— Tudo bem. — Eu a tranquilizei — Não faz diferença, sinceramente.
— Não faz diferença? — Repetiu Héstia, sua voz se alteando ameaçadoramente — Essas pessoas não entendem o que você tem sofrido? O perigo em que se encontra? A posição única que você ocupa no coração dos que militam no movimento anti-Voldemort?
— Ah... não, não entendem. — Respondi — Na verdade, acham que sou um desperdício de espaço, mas estou acostumado…
— Eu não acho que você seja um desperdício de espaço.
Se eu não tivesse visto a boca do garoto mexer, talvez não tivesse acreditado. Tendo visto, entretanto, fiquei olhando para Duda durante vários segundos antes de aceitar, por um detalhe, que devia ter sido o meu primo quem falara: seu rosto avermelhara. E eu estava, eu próprio, sem graça e pasmo.
— Ãh... obrigado, Duda.
Novamente, Duda pareceu lutar com pensamentos demasiado difíceis, antes de murmurar:
— Você salvou a minha vida.
— Não foi bem assim. Era a sua alma que o dementador queria…
Eu olhei com curiosidade para meu primo. Nós dois virtualmente não tínhamos tido contato durante este verão ou o anterior, porque eu voltara à rua dos Alfeneiros por poucos dias e fiquei em meu quarto a maior parte do tempo. Ocorria-me agora, porém, que a xícara de chá em que pisei aquela manhã talvez não tivesse sido uma armadilha. Embora bastante comovido, me senti aliviado ao constatar que Duda aparentemente esgotara sua capacidade de expressar sentimentos. Depois de abrir a boca mais uma ou duas vezes, ele mergulhou em ruborizado silêncio.
Tia Petúnia rompeu em lágrimas. Héstia Jones lhe lançou um olhar de aprovação que se transformou em revolta quando a mulher se adiantou rapidamente e abraçou Duda em vez de mim, não que eu realmente esperasse um abraço.
— Que amor, Dudoca... — Soluçou ela encostada no largo peito do filho —, q-que beleza de g-garoto... ag-gradecendo…
— Mas ele não agradeceu! — Exclamou Héstia, indignada — Ele só disse que não achava que Harry fosse um desperdício de espaço!
— É, mas, vindo de Duda, isto equivale a dizer “eu te amo”. — Expliquei, dividido entre a contrariedade e a vontade de rir, quando tia Petúnia continuou agarrada a Duda como se ele tivesse acabado de me salvar de um prédio em chamas
— Então, vamos ou não vamos? — Urrou tio Válter, reaparecendo à porta da sala de estar — Pensei que estávamos em cima da hora!
— Claro... claro, estamos. — Respondeu Dédalo Diggle, que parara diante dessa troca de palavras com ar de estupefação, e agora parecia ter voltado ao normal — Realmente precisamos ir, Harry…
O bruxo se adiantou aos tropeços e apertou a minha mão entre as suas.
— ... boa sorte. Espero que voltemos a nos encontrar. Você carrega nos ombros as esperanças do mundo bruxo, você e a sua amiga ruiva, deseje-a sorte por mim.
— Ah, certo. Obrigado.
— Adeus, Harry. — Disse Héstia, também apertando minha mão — Os nossos pensamentos o acompanharão.
— Espero que tudo corra bem. — Falei, lançando um olhar a Petúnia e Duda
— Ah, tenho certeza que vamos acabar nos tornando os melhores amigos. — Disse Diggle animado, acenando com a cartola ao sair da sala. Héstia acompanhou-o.
Duda se soltou gentilmente das garras da mãe e se adiantou para mim, que precisei conter o impulso de ameaçá-lo com um feitiço. Então, ele estendeu a manzorra rosada.
— Caramba, Duda — Falei sobrepondo-me aos renovados soluços de tia Petúnia —, será que os dementadores sopraram para dentro de você uma nova personalidade?
— Sei lá. — Murmurou Duda — A gente se vê, Harry.
— É. — Respondi, apertando a mão dele e sacudindo-a — Quem sabe. Se cuida, Dudão.
Duda quase sorriu e em seguida saiu, desajeitado, da sala. Eu ouvi seus passos pesados na entrada de saibro, então a porta de um carro bateu. Tia Petúnia, cujo rosto estivera enfiado no lenço, olhou para os lados ao ouvir a batida. Pelo jeito, não esperava se ver sozinha comigo. Guardando apressada o lenço molhado no bolso, disse:
— Bom... adeus. — E dirigiu-se resoluta à porta, sem olhar para mim
— Adeus. — Respondi
Ela parou e olhou para trás. Por um momento, tive a estranhíssima sensação de que ela queria me dizer alguma coisa: ela me lançou um olhar estranho e trêmulo que pareceu oscilar à beira da fala, então, com um movimento brusco da cabeça, saiu apressada da sala para se reunir ao marido e ao filho.
Helloooo bruxinhoooos!!
Como estamos? Quero logo pedir desculpas pela demora pra postar o capítulo de hoje, acabei tendo alguns probleminhas, alguns empecilhos, maaas aqui está.
Nos vemos Segunda-feiraaaa então.
Amo vocês!!
– Bjosss da tia Nick.
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