{39} Diário e banheiro inundado
ROXANNE WEASLEY
Hermione teve que permanecer na ala hospitalar várias semanas. Houveram alguns boatos sobre o seu sumiço quando o resto da escola voltou das férias de Natal, porque naturalmente todos pensaram que ela fora atacada. Foram tantos os alunos que passaram pela ala hospitalar tentando dar uma olhada nela que Madame Pomfrey pegou outra vez as cortinas e pendurou-as em torno da cama da garota, para lhe poupar a vergonha de ser vista com a cara peluda.
Eu e os meninos íamos visitá-la toda tarde. Quando o novo período letivo começou, levávamos os deveres de casa do dia.
— Se tivessem crescido bigodes de gato em mim, eu teria tirado umas férias dos deveres. — Disse Rony, certa noite, despejando uma pilha de livros na mesa de cabeceira de Mione
— Não temos dúvidas que você não gosta de estudar, irmãozinho. — Ironizei rindo
— Pare de ser bobo, Rony, tenho que me manter em dia. — Disse Mione decidida
Seu estado de ânimo melhorara muito desde que todos os pelos desapareceram do seu rosto, e os olhos estavam voltando lentamente à cor castanha.
— Suponho que não encontraram nenhuma pista nova? — Sussurrrou de modo que Madame Pomfrey não a escutasse
— Nada. — Respondeu Harry, desanimado
— Eu tinha tanta certeza de que era Draco. — Disse Rony, pela centésima vez
— Mas não é. Vai dizer isso até quando!? Vamos parar e entender que não existe só Draco Lucius Malfoy nessa escola, são centenas de alunos, Ronald! — Falei impaciente — Pode ser qualquer um...
— Hm... — Murmurou Ron revirando os olhos
Eu evitava pensar em Draco desde o acontecimento do natal, o colar, o beijo, tudo era muito estranho pra minha cabeça. Uma coisa eu sabia, ele só soube que era eu por causa daquele colar, o que quer dizer que... Será que foi ele quem me deu? Não, não... ele só deve ter me visto mais cedo com o colar e reconheceu. Mesmo assim tudo era muito estranho.
— Que é isso? — Perguntou Harry de repente apontando para alguma coisa dourada que aparecia por baixo do travesseiro de Mione
—É só um cartão desejando que eu fique boa logo. — Disse a garota depressa, tentando escondê-lo, mas Rony foi mais rápido
Puxou o cartão, abriu-o e leu em voz alta:
“À senhorita Granger desejo uma rápida convalescença, seu professor preocupado Gilderoy Lockhart, Ordem de Merlin, Terceira Classe, Membro Honorário da Liga de Defesa Contra as Artes das Trevas, cinco vezes vencedor do Prêmio do Sorriso Mais Atraente do Semanário dos Bruxos.”
Tentei me segurar para não rir, mas não aguentei e comecei a gargalhar.
— Sorriso mais atraente??? — Falei enquanto ria sem parar quase ficando sem fôlego — Não dava pra escrever apenas um “Melhora logo”? Eu não digo que esse cara é doido.
Rony olhou para Mione, enojado.
— Você dorme com isso debaixo do travesseiro?
Mas Mione não precisou responder porque Madame Pomfrey apareceu para lhe dar a medicação noturna.
Logo saímos da enfermaria, começando a subir a escada que levava à Torre da Gryffindor.
Snape passara tanto dever de casa, que comecei a achar que provavelmente estaria na sexta série quando terminasse tudo. Rony estava acabando de comentar que gostaria de ter perguntado a Mione quantos rabos de rato devia usar na Poção de Arrepiar Cabelos quando um vozerio no andar de cima chegou aos nossos ouvidos.
— É o Filch. — Murmurou Harry
Subimos depressa a escada e paramos, escondidos, apurando os ouvidos.
— Será que mais alguém foi atacado? — Perguntei já tensa só de pensar
Ambos ficamos quietos, as cabeças inclinadas na direção da voz de Filch, que parecia um tanto histérica.
— ... Sempre mais trabalho para mim! Enxugando o chão a noite inteira, como se já não tivesse o suficiente para fazer! Não, isto é a última gota, vou procurar o Dumbledore...
Os passos dele cessaram e ouvimos uma porta bater a distância.
Esticamos as cabeças para espiar mais além do canto. Filch, pelo que víamos, estivera em seu posto de vigia habitual, estávamos mais uma vez no local em que Madame Nora fora atacada. Logo vimos imediatamente a razão dos gritos de Filch. Uma grande inundação se espalhava por metade do corredor e aparentemente a água ainda não parara de correr por baixo da porta do banheiro da Myrtle Que Geme. Quando Filch parou de gritar, pudemos ouvir os lamentos da Myrtle ecoando pelas paredes do banheiro.
— Agora o que será que ela tem?! — Exclamou Rony
— Não sei se você sabe, mas eu não sou vidente. — Falei com ironia
— Vamos até lá ver. — Disse Harry
Atravessamos aquela agueira até a porta com o letreiro INTERDITADO, não demos atenção, como sempre, e entramos. Myrtle chorava, se é que isso era possível, cada vez mais alto e com mais vontade do que nunca. Parecia ter-se escondido no seu boxe habitual. Estava escuro no banheiro porque as velas haviam se apagado com a grande inundação que deixara as paredes e
o piso encharcados.
— O que foi, Myrtle? — Perguntou Harry
— Quem é? — Engrolou Myrtle, infeliz — Vêm jogar mais alguma coisa em mim?
— Por que eu iria jogar alguma coisa em você?
— É a mim que você pergunta! — Gritou, surgindo em meio a mais uma onda líquida, que se espalhou pelo chão já molhado — Estou aqui cuidando da minha vida e alguém acha que é engraçado jogar um livro em mim...
— Mas, acredito que não deve machucar se alguém joga um livro em você. — Tentei argumentar — Quero dizer, ele te atravessa, não é mesmo?
Estava tentando falar algo bom, mas parece que eu disse a coisa errada. Myrtle se estufou e gritou com voz aguda.
— Vamos todos jogar livros na Myryle, porque ela não é capaz de sentir! Dez pontos se você fizer o livro atravessar a barriga dela! Muito bem, ha, ha, ha! Que ótimo jogo, eu não acho!
— Mas afinal quem jogou o livro em você? — Perguntou Harry
— Eu não sei... eu estava sentada na curva do corredor, pensando na morte, e o livro atravessou a minha cabeça. — Disse Myrtle olhando feio para nós — Está lá, foi levado pela água...
Espiamos embaixo da pia para onde Myrtle apontava. Havia um livro pequeno e fino caído ali. Tinha uma capa preta e gasta e estava molhado como tudo o mais naquele banheiro. Harry adiantou-se para apanhá-lo, mas Rony esticou o braço para impedi-lo.
— Que foi?
— Está maluco? Pode ser perigoso!
— Perigoso? — Perguntou Harry rindo — Deixe disso, de que jeito poderia ser perigoso?
— Você ficaria surpreso, Harryzinho. — Falei olhando apreensiva para o livro — Os livros que o Ministério da Magia tem confiscado, papai nos contou, tinha um que queimava os olhos da pessoa.
— Sim, e todo mundo que leu Sonetos de um bruxo passou a falar em rima para o resto da vida... — Ron completou
— E uma velha bruxa em Bath tinha um livro que a pessoa não conseguia parar de ler! Passava a andar com a cara no livro, tentando fazer tudo com uma mão só. E... — Tornei a falar mas Harry me interrompeu
— Está bem, já entendi.
O livrinho continuava no chão, empapado e indefinível.
— Bem, não vamos descobrir se não dermos uma olhada. — Falou Harry
— Tá bom, se algo acontecer com você, eu não me responsabilizo, vou ter a consciência limpa. — Falei cruzando os braços
Harry apenas deu uma risada nasal e se abaixou para apanhar o livro do chão. Percebi num instante que na verdade era um diário, e o ano meio desbotado na capa nos informou que tinha cinquenta anos de idade. Abriu-o ansioso. Na primeira página, mal e mal consegui ler o nome “T. S. Riddle”, em tinta borrada.
— Calma aí... — Disse Ron, que se aproximara cautelosamente e espiava por cima do ombro de Harry assim como eu — Conheço esse nome... T. S. Riddle recebeu um prêmio por serviços especiais prestados à escola há cinquenta anos.
— Como é que você sabe? — Perguntei admirada
— Porque Filch me fez polir o escudo desse homem umas cinquenta vezes durante a minha detenção. — Falou emburrado — Daquela vez que arrotei lesmas para todo o lado. Se vocês tivessem tirado lesmas de um nome durante uma hora, com certeza se lembrariam.
Harry separou as páginas molhadas. Estavam completamente em branco. Não havia o menor vestígio de escrita em nenhuma delas, nem mesmo Aniversário de tia Magda ou jogo de quadribol às três e meia.
— Não entendo por que alguém quis se descartar dele. — Comentou Rony, curioso
Harry virou as costas do livro e viu impresso o nome de uma papelaria.
— O dono deve ter nascido trouxa. — Disse Harry pensativo — Para ter comprado um diário na rua Vauxhall...
— Bom, não vai servir para você. — Falei
Eu e Ron nos entreolhamos com um sorriso cúmplice e com o pensamento rápido falamos juntos em voz baixa:
— Cinquenta pontos se você conseguir fazer ele atravessar o nariz da Myrtle.
Harry, porém, meteu o diário no bolso.
≪━─━─━─━─◈─━─━─━─━≫
Mione deixou a ala hospitalar, sem bigodes, sem rabo, sem pelos, no início de fevereiro. Na primeira noite de volta à Torre da Gryffindor, Harry lhe mostrou o diário de T. S. Riddle e lhe contou como tínhamos o encontrado.
— Aaah, talvez tenha poderes secretos. — Disse a garota, entusiasmada, apanhando o diário e examinando-o com atenção
— Se tiver, deve estar escondendo esses poderes muito bem. — Disse Rony
— Vai ver ele é tímido. — Ironizei completando a fala do meu irmão — Não sei por que você não joga esse diário fora, Harry.
— Eu queria saber por que alguém tentou jogá-lo fora. E também gostaria de saber por que foi que Riddle recebeu um prêmio por serviços especiais prestados a Hogwarts.
— Pode ter sido por qualquer coisa... — Falei revirando os olhos
— Talvez tenha ganho trinta corujas... — Ron começou a falar — Ou quem sabe, ele salvou um professor dos tentáculos de uma lula-gigante...
— Pode ter ajudado a limpar a escola, ou ter notas super altas, sei lá. — Completei — Talvez tenha assassinado a Myrtle, isso teria sido um favor para todo mundo...
— Concordo. — Ron falou com ironia me olhando e rindo
Mas Harry e Mione tinham uma expressão parada no rosto, pareciam estar pensando a mesma coisa.
— O que foi? — Peguntou Rony olhando de um para outro
— Sim, porque estão com essa cara de paisagem? — Também perguntei
— Bom, a Câmara Secreta foi aberta há cinquenta anos, não foi? Foi o que Draco disse.
— É... — Eu e Ron falamos lentamente
— E este diário tem cinquenta anos. — Disse Mione, tamborilando os dedos nele, agitada
— E daí? — Ron perguntou perdido
— Merlim. — Exclamei captando o que eles estavam falando
— O que? Eu ainda não entendi...
— Ah, Rony, vê se acorda! — Retrucou Mione — Nós sabemos que quem abriu a Câmara da última vez foi expulso há cinquenta anos. Sabemos que T. S. Riddle recebeu um prêmio por serviços especiais prestados à escola há cinquenta anos. Muito bem, e se Riddle recebeu o prêmio por ter pego o herdeiro de Slytherin? O diário dele provavelmente nos contaria tudo, onde fica a Câmara, como abri-la, que tipo de criatura mora lá, e a pessoa que está por trás desses ataques desta vez não gostaria de ver o diário rolando por aí, não é?
— É uma teoria brilhante, Mione... — Disse Rony — Porém, só tem um furinho pequenininho. Não tem nada escrito no diário.
— É, meu irmão tem razão. — Concordei
Mas Hermione estava tirando a varinha de dentro da mochila.
— Talvez a tinta seja invisível! — Sussurrou e deu três toques no diário — Aparecium!
Nada aconteceu. Sem desanimar, Mione meteu outra vez a mão na mochila e tirou uma coisa que parecia uma borracha vermelho-berrante.
— É um revelador que comprei no Beco Diagonal. — Explicou.
Ela esfregou a borracha com força em primeiro de janeiro. Nada aconteceu.
— Estou dizendo que não tem nada aí para se achar. — Falou Rony
— Por mais que sua teoria seja perfeita, Mione, vamos também pensar pelo fato que Riddle pode simplesmente ter ganhado um diário de Natal e não se deu o trabalho de usá-lo. — Falei tentando tirar aquilo da minha cabeça
≪━─━─━─━─◈─━─━─━─━≫
Eu ainda tinha convicção que aquele diário poderia não ter ligação com a câmara secreta, minha cabeça ainda estava no que aconteceu no natal, eu não sabia o que pensar, nem como agir e às vezes Draco passava por mim e abria um sorriso disfarçadamente, que me deixava levemente corada.
Mas Harry parecia estar crente em desvendar o diário misterioso. Por isso, no dia seguinte, próximo ao amanhecer, rumou para a sala de troféus para examinar o prêmio especial de Riddle, acompanhado por uma Mione interessada e eu e Rony completamente descrentes, Ron ficou resmungando que já vira a sala de troféus o suficiente para uma vida inteira.
O escudo dourado de Riddle estava guardado em um armário de canto. Não continha detalhes sobre as razões por que fora concedido.
— Ainda bem que não tem, porque se tivesse seria maior e eu ainda estaria polindo essa coisa. — Resmungou Rony
Porém nós encontraram o nome de Riddle em uma velha medalha de Mérito em Magia e em uma lista de antigos monitores-chefes.
— Ele até parece o Percy. — Falei, torcendo o nariz enojado — Monitor, monitor-chefe...
— Provavelmente o primeiro aluno em todas as classes... — Ron continuou
— Vocês falam isso como se fosse uma coisa ruim. — Disse Hermione num tom ligeiramente magoado
— O ruim é se achar, ser bom em algo não é ruim, eu por exemplo queria ficar conhecida como a melhor artilheira da Gryffindor, ou melhor da escola... isso seria incrível! — Falei com os olhos brilhando
O sol agora voltara a brilhar palidamente sobre Hogwarts. No interior do castelo, as pessoas se sentiam mais esperançosas. Não houvera mais ataques desde os de Justino e Nick Quase Sem Cabeça, e Madame Pomfrey tinha o prazer de informar que as mandrágoras estavam ficando imprevisíveis e cheias de segredinhos, o que significava que iam deixando depressa a infância.
— Quando desaparecer a acne delas, estarão prontas para serem reenvasadas. — Ouvi ela dizer gentilmente ao Filch uma certa tarde — E depois disso, iremos cortá-las e cozinhá-las. Num instante você terá a sua Madame Nora de volta.
BEu não estava feliz pela gata, mas sim por Colin, já estava ficando com saudades do meu elfo doméstico. Comecei a pensar que talvez o herdeiro de Slytherin tenha perdido a coragem, devia estar se tornando cada vez mais arriscado abrir a Câmara Secreta, com a escola tão atenta e desconfiada. Talvez o monstro, fosse o que fosse, estivesse neste mesmo momento se aninhando para hibernar outros cinquenta anos...
Mas, o idiota do Ernesto Macmillan não concordava com essa visão otimista. Continuava convencido de que Harry era o culpado, que ele “se denunciara” no Clube dos Duelos. Se ao menos alguém soubesse que foram eu e Draco que encontramos o corpo paralisado de Justino e Nick e não o Harry. Se bem que isso não adiantaria tanto, já que mesmo assim as pessoas insistiam em culpar o pobre garoto. Pirraça não estava ajudando nada; a toda hora aparecia nos corredores cheios de alunos, cantando: “Ah, Potter podre...”, agora com um número de dança para acompanhar.
Gilderoy Lockhart parecia pensar que, sozinho, fizera os ataques pararem. Ouvi ele dizer isso à Professora McGonagall quando eu e os demais alunos da Gryffindor fazíamos fila para ir à aula de Transfiguração.
— Acho que não vai haver mais problemas, Minerva. — Disse ele dando um tapinha no nariz e uma piscadela com ar de quem sabe das coisas — Acho que a Câmara foi fechada para sempre desta vez. O culpado deve ter sentido que era apenas uma questão de tempo até nós o pegarmos. Achou mais sensato parar agora, antes que eu o liquidasse. Sabe, o que a escola precisa agora é de uma injeção no moral. Esquecer as lembranças do período passado! Não vou dizer mais nada por ora, mas acho que sei exatamente o que... — E dando outra pancadinha no nariz se afastou decidido
Não sabíamos o que seria, mas estava óbvio que ele ia fazer alguma coisa, e acho que não seria nada bom.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro