{33} O balaço errante
Eu acordei cedo no sábado, tudo o que estava acontecendo, havia me preocupado um bocado, fiquei deitada por algum tempo pensando na partida de quadribol que se aproximava. Só podia pensar que Malfoy tentaria algum tipo de trapaça contra Harry, o que era bem provável, eu só não entendia como às vezes ele era legal e outras vezes tão idiota. Eu desejava com todas as forças que Harry acabasse com ele no jogo.
— Rox? Vamos.
Era Lavender me chamando, fazia um bom tempo que eu não tinha falado com ela, então decidi tomar café com ela e Parvati. Vi Ron e Hermione já na mesa um pouco distante, pensei em ir até eles, mas as meninas me puxaram insistindo pra eu ficar com elas, o que mesmo sem vontade própria, eu fiz.
À medida que as onze horas se aproximaram, a escola inteira começou a tomar o caminho do estádio de quadribol. Fazia um dia mormacento com sinais de trovoada no ar. Consegui me livrar de Lav e Parvati e encontrei com Rony e Mione que vinham correndo desejar a Harry boa sorte quando ele ia entrando no vestiário.
— Lembrou-se da gente, Rox? — Rony falou meio irritado assim que Harry se despediu da gente para ir se trocar
— Qual é, a Lav e a Parvati só queriam conversar comigo! — Falei tentando me justificar
— Então vá atrás delas de novo! — Ele rosnou — Vem Mione. — Acrescentou puxando a garota e me deixando sozinha paralisada
— Sozinha, Weasley?
Me virei me deparando com Draco, já com seu uniforme verde e cheio de si.
— Não Draco. Olha só, o Harry aqui, o Rony ali e a Hermione aqui. — Rosnei em tom irônico — Não me enche, idiota!
Tentei me afastar impaciente.
— Parece que alguém brigou com os amiguinhos, deveria escolher melhor suas amizades.
Imediatamente me virei pra ele.
— Tá se oferecendo para ser meu amigo, Malfoy? Sou uma Weasley, esqueceu!? — Falei impaciente dando uma risada nasal — E o Ron é meu irmão gêmeo.
Ele deu um leve sorriso mostrando os dentes.
— Às vezes eu esqueço esse detalhe, mas ok, obrigada por me lembrar de te odiar. — E assim ele andou alguns passos pronto pra ir embora
— Draco. — O chamei e ele se virou — Por que as vezes você é tão idiota e às vezes você... — Parei sem conseguir saber qual palavra exata usar
— Falou a garota que já me ameaçou de morte diversas vezes, além de outras ameaças, me empurrou em uma estante de livros, lançou em mim um Alarte ascendare, me mandou um bolo com vomitilhas e me fez dançar no Salão, é, você também tem seus dias nada bons, Roxanne. — Ele riu
— Qual é, você mereceu! — Cruzei os braços
— Talvez você pudesse ser mais atenta e perceber que todas as vezes que eu fui rude, eu não estava falando diretamente com você.
— Am?
Ele apenas riu e voltou a andar me deixando perdida, esse garoto é impossível!
Apenas esqueci dele e corri para arquibancada, me sentando próxima a Dean Thomas e Seamus Finnegan que também estavam perto de Ron e Hermione e Neville. Observei que o jogo já estava começando, assim que os jogadores da Gryffindor entraram no campo, foram saudados por um vozerio, muitos vivas, porque era óbvio que tanto a Ravenclaw, quanto a Hufflepuff estavam ambas ansiosas para ver a Slytherin ser derrotada, mas os alunos que eram da Slytherin que estavam nas arquibancadas vaiaram e assobiaram, também. Madame Hooch, a professora de quadribol, mandou Flint e Wood apertarem as mãos, o que eles fizeram, lançando um ao outro olhares ameaçadores e pondo mais força no aperto que era necessário.
— Quando eu apitar. — Pude ouvir ela falar — Três... Dois... Um...
Com um rugido de incentivo das arquibancadas, os catorze jogadores subiram em direção ao céu carregado. Harry foi mais alto do que qualquer outro, apertando os olhos à procura do pomo. Pude ver Draco passando por baixo dele como se quisesse mostrar a velocidade de sua vassoura e falando algo.
De onde eu estava podia ter um visão privilegiada do jogo, pois os assentos eram perfeitos e eu estava com meu binóculo.
Antes mesmo de sequer dar um minuto de jogo, no mesmo instante, um pesado balaço negro veio voando na direção de Harry; ele o evitou por tão pouco que o balaço passou quase de raspão nele.
— Mas, o que é aquilo!? — Ron exclamou
— Um balaço. — Falei como se fosse óbvio, com meus olhos focados em Harry pelo binóculo
— Disso eu sei. — Ron falou impaciente tomando o binóculo de mim e o colocando no rosto — Mas ele quase acertou Harry, foi por um triz.
George estava emparelhando com Harry de bastão na mão, pronto para rebater o balaço para o lados de um jogador da Slytherin. Pude ver ele dar uma forte bastonada na direção de Adrian Pucey, mas o balaço mudou de rumo em pleno ar e tornou a voar direto para Harry. O garoto mergulhou depressa para evitá-lo, e George conseguiu atingir o balaço com força na direção de Draco. Mais uma vez, o balaço voltou como um bumerangue e disparou contra a cabeça de Harry.
— Ele parece um tipo de imã que é atraído por Harry. — Ron comentou ainda puxando o binóculo que por estar com o cordão em meu pescoço estava quase me enforcando
— Ronald!? Você quer me matar!? — Falei impaciente puxando com toda força o binóculo e voltando a olhar o jogo
Harry imprimiu velocidade à vassoura e voou para o outro extremo do campo. Ouvia o assobio do balaço vindo em seu encalço. Eu não entendia o que estava acontecendo. Os balaços nunca se concentravam em um único jogador; sua função é tentar desmontar o maior número possível de jogadores...
Fred aguardava o balaço no outro extremo. Harry se abaixou quando Fred o rebateu com toda força, desviando-o de curso. Ele parecia alegre, mas estava bem enganado, como se estivesse magneticamente atraído para Harry, o balaço saiu atrás dele outra vez, e o garoto foi forçado a voar a toda velocidade.
— Isso tá ficando estranho. — Falei impaciente ficando na ponta dos pés
— Rox, você sabe que eu te amo, me empresta seu binóculo, maninha? — Implorou Ron
— Não! — Falei claramente — Achei que estivesse com raiva de mim.
Antes que Ron pudesse responder, começou a chover no local, primeiro leve, depois pude sentir grossos pingos de chuva caindo meu rosto. Eu não tinha a menor ideia do que estava acontecendo no jogo, até ouvir Lee Jordan, dizer:
“Slytherin na liderança, sessenta a zero...”
O que não era nada bom...
As vassouras superiores da Slytherin, pelo visto estavam dando conta do recado, enquanto o balaço furioso estava fazendo o possível para tirar Harry do ar. Fred e George agora voavam tão junto dele, um de cada lado, que até imagino que o garoto não via nada exceto braços se agitando no ar e desse jeito, ele não tinha chance de procurar o pomo, muito menos de apanhá-lo.
— O balaço está alterado. — Hermione falou quase roendo as unhas de nervosa
— Boa observação. — Falei enquanto olhava para os gêmeos que falavam algo entre si, depois se voltaram para Wood
O apito de Madame Hooch soou e Harry, Fred e Gerge mergulharam até o chão, ainda tentando evitar o balaço maluco. E assim eles começaram a conversar algo enquanto os jogadores da Slytherin vaiavam.
— O que será que eles estão falando? — Seamus perguntou olhando para baixo
— Não sei, não tenho super audição. — Rosnei
— Parecem preocupados, será que alguém da Slytherin alterou o balaço? — Observou Ron
— Primeiro Draco paga pra jogar, todos ganham Nimbus 2001, aí eles vão e alteram um balaço pra perseguir o Harry!? Eles jogam tão ruim assim pra ter que recorrer a essas coisas!? — Exclamei impaciente
Logo vi Madame Hooch vim andando em direção ao grupo e falando alguma coisa para eles, com certeza perguntando se podia voltar o jogo.
A chuva caía mais pesada agora. Ao apito de Madame Hooch, posicionei meu binóculo em Harry que deu um forte impulso para o alto e ouvi o assobio que indicava que o balaço vinha atrás dele mais uma vez. Ganhou cada vez mais altura; fez loops e subiu, espiralou, ziguezagueou e balançou. Ele parecia ligeiramente tonto, mas mesmo assim mantinha os olhos bem abertos, a chuva molhando seus óculos e entrando por suas narinas quando ele voava de barriga para cima, evitando outro mergulho furioso do balaço.
Todo mundo começou a rir da situação, mesmo que eu, assim como Ron e Mione estávamos bem preocupados com Harry, o balaço errante era pesado e não podia mudar de direção tão rápido quanto o menino que começou a voar pela orla do estádio como se estivesse em uma montanha-russa.
Adrian Pucey tentava ultrapassar Wood... Um assobio logo anuciou a Harry que o balaço deixara de acertá-lo por pouco outra vez; ele imediatamente deu meia-volta e disparou na direção oposta.
— Gente olha só o Harry apreendeu balé. — Seamus riu quando Harry foi obrigado a dar uma volta ridícula em pleno ar para evitar o balaço e fugir
— Não seja idiota! — Falei impaciente dando um tapa de leve na nuca do garoto sem tirar os olhos de Harry
O balaço estava o rastreando por pouco mais de um metro; e então, percebi que Draco se aproximou de Harry que estava enraivecido com algum comentário bobo do garoto. Mas logo ele viu o pomo de ouro. Pairava poucos centímetros acima da orelha de Draco, e o garoto, ocupado em rir-se de Harry, não o vira.
Por um momento de agonia, Harry imobilizou-se no ar, sem ousar voar na direção de Draco, acredito que ele estava com medo de que o loiro olhasse para cima e visse o pomo.
Permanecera parado um segundo a mais. O balaço finalmente o atingiu, bateu no seu cotovelo, aquilo tava ficando estranho. Harry pareceu desnorteado, com certeza atordoado por sentir uma dor terrível no braço e por não consegui enxergar direto graças a chuva forte que manchava o seu óculos, ele escorregou para um lado da vassoura encharcada, um joelho ainda enganchando-a por baixo, o braço direito pendurado inútil – o balaço retornava a toda para um segundo ataque, desta vez mirando o seu rosto –, Harry desviou-se.
— Ai meu Merlim. — Falei nervosa quase pulando da arquibancada
Através da névoa de chuva e dor, ele mergulhou em direção à cara debochada abaixo dele e Draco arregalou os olhos de medo, com certeza achou que Harry ia atacá-lo.
Harry tirou a mão boa da vassoura e tentou agarrar o pomo às cegas; sentiu os dedos se fecharem sobre a bola fria, mas agora só estava preso à vassoura pelas pernas, e ouviu-se um urro das arquibancadas quando ele rumou direto para o chão. Meu coração saltava, mas o que raios ele estaria fazendo!?
Antes que Harry batesse no chão, levantando lama, e rolasse para o lado para desmontar da vassoura. Ela acabou trombando em Draco que desnorteado acabou também caindo de sua vassoura e se chocando feio sobre o solo.
O braço de Harry continuava pendurado num ângulo muito estranho; mesmo imaginando a dor que ele estava sentindo, a plateia gritava e assobiava. Só nesse instante foi que Harry pareceu perceber o pomo seguro na mão boa.
Joguei o binóculo e saí correndo em direção ao campo, vi Malfoy se debatendo no chão, parecia com dor, queria perguntar como ele estava, mas isso seria estranho, então corri até Harry, eu queria saber como estava meu melhor amigo.
— Harry, você está bem? — Perguntei depressa
— Aha. — Ele disse vagamente erguendo o pomo — Ganhamos. — E desmaiou
Comecei a balançar ele tentando o acordar e logo Rony e Hermione vieram até mim, mas alguém nos afastou dele. Harry não demorou a voltar a si, com a chuva batendo no rosto, ainda deitado no campo, agora com alguém quase desbruçado sobre ele. Ele logo avistou um brilho de dentes.
— Ah, o senhor, não. — Ele gemeu
— Ele não sabe o que está dizendo. — Falou Lockhart em voz alta para o ajuntamento de alunos da Gryffindor que assim como nós cercavamos ansiosos os dois — Não se preocupe, Harry. Já vou endireitar o seu braço.
— Ninguém vai fazer nada? Ele vai terminar de quebrar o braço do menino. — Cochichei para Ron que me mandou ficar quieta se segurando para não rir
— Não! — Exclamou Harry. – Vou ficar com ele assim, obrigado...
O garoto tentou se sentar, mas pelo visto a dor foi terrível. Ele ouviu um clique conhecido ali por perto.
— Não quero uma foto deste momento, Colin. — Ele disse em voz alta
— Deite-se, Harry. — Mandou Lockhart tentando o acalmar — É um feitiço muito simples que já usei muitíssimas vezes...
— Por que não posso simplesmente ir para a ala hospitalar? — Disse Harry com os dentes cerrados
— Também acho que seria uma boa opção. — Falei
— Ele devia ir mesmo, professor. — Disse um enlameado Wood, que não pôde deixar de sorrir mesmo com o seu apanhador machucado — Grande captura, Harry, realmente espetacular, a melhor que já fez, eu diria...
Mesmo com a multidão, tentei esticar meu pescoço para ver se já tinham ido ajudar Malfoy, e notei que enquanto Harry estava cercado de quase todos da Gryffindor e alguns de outras casas, ninguém se preocupara com Draco, além da Madame Pomfrey, nem mesmo seu pai, que me recordo de o ter visto nas arquibancadas, nem sequer seus amigos, senti uma leve pena dele, mas assim que passei o olhar mais uma vez no campo pude ver Fred e Gerge lutando para enfiar o balaço errante numa caixa e tive que me segurar para não rir deles. A bola continuava a resistir ferozmente.
— Afastem-se. — Pediu Lockhart, enrolando as mangas de suas vestes verde-jade
— Não... Não faça isso... — Disse Harry com a voz fraca, mas Lockhart agitava a varinha e um segundo depois apontou-a diretamente para o braço de Harry
E algo bem estranho aconteceu, foi como se o braço de Harry estivesse se esvaziando. Ele nem se atreveu a verificar o que estava acontecendo. Fechara os olhos e virara o rosto para longe do braço, mas os seus piores temores se confirmaram, as pessoas em volta exclamaram e Colin Creevey começou a fotografar furiosamente. Seu braço nem de longe parecia mais com um braço.
— É o feitiço do Braços-Gelatina, professor? — Ironizei perplexa
— Ah, não se preocupem. — Disse Lockhart — É, às vezes isso pode acontecer. Mas o importante é que os ossos não estão mais fraturados.
— Claro, nem sequer ossos tem. — Revidei, mas ele literalmente me ignorou
— Então, Harry, acho bom você dar uma chegada na ala hospitalar, ah, Sr. Weasley, Srta. Granger e a Srta. Weasley podem acompanhá-lo?, Creio que Madame Pomfrey poderá... Hum... Dar um jeito nisso. — Prosseguiu o Professor
Quando Harry se levantou, sentiu-se estranhamente inclinado para um lado. Tomando fôlego, olhou para baixo, para o braço direito. O que ele viu quase o fez desmaiar de novo. Pela manga das vestes saía uma coisa que lembrava uma grossa luva de borracha cor de pele. Ele tentou mexer os dedos. Nada aconteceu. Estava óbvio que Lockhart não emendara os ossos de Harry. Ele os removera.
Agora era só questão de levarmos Harry até a enfermaria, mas por alguma estranha razão eu estava preocupada com Draco.
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