
{29} Aniversário de morte
Não demorou a chegar outubro, espalhando, pelos jardins, uma friagem úmida que entrava pelo castelo. Madame Pomfrey, a enfermeira, esteve muito ocupada com uma repentina onda de gripe entre professores, funcionários e alunos. Sua poção reanimadora fazia efeito instantâneo, embora deixasse quem a bebia fumegando pelas orelhas durante muitas horas. Ginny que andava pálida, foi intimada por Percy a tomar a poção. A fumaça saindo por baixo dos seus cabelos muito vivos dava a impressão de que a cabeça inteira estava em chamas. Gotas de chuva do tamanho de balas de revólver fustigavam as janelas do castelo durante dias seguidos; as águas do lago subiram, os canteiros de flores viraram um rio lamacento, e as abóboras de Hagrid ficaram do tamanho de um barraco. No entanto os treinos de quadribol parecia cada vez mais regulares, era notório que os meninos estavam preocupados com o fato da Slytherin ter Nimbus 2001 e treinavam cada vez mais, queria poder fazer algo para ajudar eles, só não sabia o quê.
Draco não me deixou em paz um só dia, sempre me ameaçando e dizendo que ia ter troco, já quem andava saltitante de felicidade era Colin que finalmente conseguiu uma foto com Harry e ainda mais autografada, ele nem se importou em ainda ter que cumprir detenção por duas semanas, ele parecia bem contente, assim como eu, que já estava a espera do Halloween.
Estávamos eu, Rony e Mione no Salão Comunal fazendo nossas lições, quando Harry, que estava aparentemente cansado depois de um cansativo treino de quadribol sentou-se ao nosso lado, logo após um bom banho e começou a nos contar sobre o assombroso convite que tínhamos recebido do Nick-Quase-Sem-Cabeça.
— Ele me disse que vai dar uma festa em uma das masmorras maiores e que seria uma honra pra ele que nós quatro fôssemos. — Explicou mais uma vez
— Uma festa de aniversário de morte? — Disse Hermione muito interessada — Aposto que não existe muita gente viva que possa dizer que foi a uma festa dessas, vai ser fascinante!
— Mas, por que alguém iria querer comemorar o dia em que morreu?! — Exclamou Rony, que estava quase terminando o dever de Poções, mal-humorado — Me parece uma coisa mortalmente deprimente...
— Eu achei interessante, mas meio assombroso, mesmo assim, acho que deve ser legal, uma festa cheia de fantasmas. — Falei aparentemente empolgada — O que será que eu visto?
— Não sei se percebeu, mas você recebeu um convite para uma festa de aniversário de morte, e não para encontrar marido. — Disse Ron, impaciente me fuzilando com os olhos
— Mas bem que eu poderia arrumar um marido lá, né? — Brinquei só pra o irritar
— E tu vai casar com um morto é, idiota? — Exclamou dando um peteleco na minha cabeça
— Tá bom, vocês dois, Harry quer falar. — Mione logo nos repreendeu e nos calamos
— Então... Eu disse a ele que íamos, ele parecia meio triste porque foi recusado em uma caça sem cabeça, disseram que ele não atingia os requisitos já que não tinha sido totalmente decapitado, entenderam?
— Claro que nós vamos, temos cara de quem íamos perder uma festa dessa? — Logo exclamei animada
A chuva continuava a açoitar as janelas, que agora estavam pretas feito tinta, mas dentro da sala tudo parecia claro e alegre. As chamas da lareira iluminavam as inúmeras poltronas fofas
onde ambos os alunos estavam sentados lendo, conversando, fazendo o dever de casa ou, no caso de Fred e George, tentando descobrir o que aconteceria se a pessoa fizesse uma salamandra comer um fogo Filibusteiro, pobre animal. Fred “salvara” ( Se é que pode se chamar de salvar ) o lagarto de couro laranja, que vive no fogo, de uma aula de o Trato das Criaturas Mágicas, e ele agora fumegava suavemente em cima de uma mesa rodeada de meninos curiosos.
Harry estava nos contando algo sobre Filch e o curso Feiticexpresso quando, de repente, a salamandra saiu rodopiando descontrolada pelo ar, soltando fagulhas e estampidos. Alguns do Salão rapidamente se despuseram a gargalhar, e logo a visão de Percy berrando de ficar rouco com Fred e George, a exibição espetacular de estrelas cor de tangerina que jorravam da boca da salamandra e sua fuga para a lareira, acompanhada de explosões, logo afugentaram Filch e o envelope do Feiticexpresso da cabeça de nós quatro.
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Até chegar o Dia das Bruxas, não só eu, como Harry já pareciamos ter se arrependido de sua ideia de ir à festa do aniversário de morte. O resto da escola estava animado com a proximidade da Festa das Bruxas; o Salão Principal fora decorado com os morcegos vivos de sempre, as enormes abóboras de Hagrid tinham sido recortadas para fazer lanternas tão grandes que cabiam três
homens dentro, e havia boatos de que Dumbledore contratara uma trupe de esqueletos dançarinos para divertir o pessoal.
— Promessa é dívida. — Mione lembrou a Harry com ar de mandona — Você disse que iria ao aniversário de morte. Então nós quatro vamos.
— Mas eu não prometi nada. — Intervenho, mas Mione me fuzilava seriamente e logo entendo recado ficando calada
Então, às sete horas do dia 31 de outubro, eu, Ron, Harry e Mione passamos direto pela porta do Salão Principal apinhado de gente, que brilhava convidativo com pratos de ouro e velas, e tomamos o caminho das masmorras.
O corredor que levava à festa de Nick Quase Sem Cabeça tinha sido iluminado, também, com velas em toda a sua extensão, embora o efeito não fosse nada alegre: eram velas longas, finas e pretas, de luz azul, que projetavam uma claridade fantasmagórica mesmo nos rostos de gente viva. A temperatura caía a cada passo que davam. Quando eu estremeci e puxei as vestes mais para junto do corpo, pude ouvir um som que lembrava mil unhas arranhando um imenso quadro-negro.
— Será que isso é música? — Ron cochichou
— Espero que não. — Falei de volta no mesmo tom
Quando dobramos um canto, pudemos ver Nick Quase Sem Cabeça parado em um portal adornado com reposteiros de veludo negro.
— Meus caros amigos. — Disse ele pesaroso — Sejam bem-vindos, sejam bem-vindos... Fico tão contente que estejam aqui... Por pouco pensei que não viriam...
E tirou o chapéu emplumado fazendo uma reverência e indicando a porta.
Era uma cena incrível e amedrontadora, eu diria. A masmorra continha centenas de pessoas esbranquiçadas e translúcidas, a maioria deslizando por uma pista de dança, valsando ao som medonho de trinta serrotes musicais, tocados por uma orquestra reunida em cima de uma plataforma drapeada de negro. Um lustre no alto projetava uma luz azul-meia-noite com outras mil velas negras. A nossa respiração se condensava, formando uma névoa bem à nossa frente, parecia que estavamos entrando em uma câmara frigorífica.
— Melhor darmos uma circulada. — Sugeriu Harry
— Eu acho ótimo. — Falei abraçando meu próprio corpo
— Tomem cuidado para não atravessar ninguém. — Ron recomendou, nervoso, e nós quatro saímos contornando a pista de dança
Passamos por um grupo de freiras soturnas, um homem vestido de trapos que usava correntes e o Frei Gorducho, um alegre fantasma da Hufflepuff, que conversava com um cavalheiro que tinha uma flecha espetada na testa. Não me surpreendi nenhum pouco ao ver que os outros fantasmas davam distância ao Barão Sangrento, um fantasma da Slytherin.
— Ah, não! — Exclamou Mione, parando de repente
— Que foi, louca?
— Melhor voltarmos. Deem meia-volta, deem meia-volta. Eu não quero falar com a Myrtle Que Geme...
Logo pude ver que realmente a Myrtle estava na festa, e entendi porque Mione queria se esconder.
— Quem? — Perguntou Harry assim que tomamos o caminho de volta
— Ela assombra um boxe no banheiro das meninas no primeiro andar. — Explicou Mione.
— Ela assombra um boxe?
— Não, Rony, ela assombra o dormitório dos meninos, nunca viu ela lá!?
Ron só revira os olhos mediante a minha fala e Mione torna a falar.
— Sim, ela assombra o boxe. Ele esteve quebrado o ano inteiro porque ela não para de ter acessos de raiva e inundar o banheiro. Eu evito o máximo entrar lá, é horrível tentar fazer xixi com ela gemendo do lado...
— Olhem, comida! — Eu e Ron exclamamos em coro
Do lado oposto da masmorra havia uma longa mesa, também coberta de veludo negro. Nos aproximamos pressurosos, mas no instante seguinte paramos de chofre, horrorizados. O
cheiro era bem desagradável. Grandes peixes podres estavam dispostos em belas travessas de prata; bolos carbonizados estavam arrumados em salvas; havia uma grande terrina de picadinho de miúdos de carneiro cheio de vermes, um pedaço de queijo coberto de uma camada de mofo esverdeado e, o orgulho do bufê, um enorme bolo cinzento em forma de sepultura, com os dizeres em glacê de asfalto:
SIR NICOLAS DE MIMSY-PORPINGTON FALECIDO EM 31 DE OUTUBRO DE 1492.
Observamos, espantados, um fantasma imponente se aproximar da mesa, abaixar-se e atravessá-la, a boca aberta de modo a engolir um salmão fedorento.
— O senhor pode provar a comida quando a atravessa? — Harry perguntou-lhe curioso
— Bem... Quase. — Respondeu o fantasma triste e se afastou
— Imagino que tenham deixado o peixe apodrecer para acentuar o gosto. — Disse Mione em tom de quem sabe das coisas, apertando o nariz e se debruçando para examinar o picadinho pútrido
— Podemos ir andando? Estou me sentindo enjoado. — Disse Ron olhando ainda aterrorizado para a comida
— Eu também, maninho. — Concordei
Nem tínhamos se virado direito, quando um homenzinho saiu voando de repente de debaixo da mesa e parou no ar diante de nós.
— Oi, Pirraça. — Comprimentei de forma cautelosa
Ao contrário dos fantasmas à volta, Pirraça, o poltergeist, era o oposto de pálido e transparente. Usava um chapéu de festa laranja-vivo, uma gravata-borboleta giratória e exibia um largo sorriso no rosto largo e maldoso.
— Olá, aluninhos. Aperitivos? — Falou simpático, oferecendo uma tigela de amendoins cobertos de fungo
— Não, muito obrigada. — Mione falou depressa
— Eu ouvi você falando da coitada da Myrtle. Que grosseria com a coitada. — Pirraça logo tomou fôlego e berrou: — OI! MYRTLE!
— Ah, não, Pirraça, não conte a ela o que eu disse, ela vai ficar realmente chateada. Não falei por mal, ela não me incomoda, nadinha. — Mione cochichou frenética — Ah, oi, Myrtle.
O fantasma atarracado de uma moça logo deslizou até nós. Tinha o rosto mais triste que eu já tinha visto, meio oculta por cabelos escorridos e espessos, e óculos perolados. Só tinha a visto uma vez, mas já tinha escutado muito falarem, ou melhor reclamarem dela.
— Que foi? — Ela perguntou aborrecida
— Como você está, Myrtle? — Comprimentou Mione fingindo animação — Que bom ver você fora do banheiro.
A fantasma fungou.
— A Senhorita Granger estava mesmo falando em você... — Disse Pirraça sonsamente ao ouvido da Myrtle
— Bom, eu só estava dizendo... Dizendo... Como você está bonita esta noite. — Ela completou, fechando a cara para Pirraça.
Myrtle olhou para Mione desconfiada.
— Você está caçoando de mim? — Perguntou com lágrimas prateadas marejando rapidamente os seus olhos penetrantes
— Não, sério, eu não acabei de falar que a Myrtle está muito bonita? — Mione falou nos cutucando dolorosamente nas costelas.
— Sim, e eu concordei, você está muito bonita Myrtle... — Falei depressa lhe dando um sorriso
— Ah, claro...
— Plenamente...
— Não mintam para mim! — Ela exclamou, com as lágrimas agora escorrendo livremente pelo rosto, enquanto Pirraça, feliz, dava risadinhas por cima do ombro dela — Vocês acham que não sei como as pessoas me chamam pelas costas? Myrtle Gorda! Myrtle Feiosa! Myrtle infeliz! Chorona! Apática!
— Você esqueceu do espinhenta. — Sibilou Pirraça ao ouvido dela
A Myrtle Que Geme prorrompeu em soluços aflitos e fugiu da masmorra. Pirraça disparou atrás dela, jogando amendoins mofados e gritando.
— Espinhenta! Espinhenta!
Tive que me segurar pra não soltar uma risada.
— Ah, meu Deus! — Lamentou-se Hermione
— Sim, sim, que horrível, não é? — Tentei disfarçar o fato de que eu tinha achado um pouco engraçado
Nick Quase Sem Cabeça agora deslizava por entre os convidados indo em nossa direção.
— Estão se divertindo?
— Ah, claro. — Mentimos
— Um número de convidados bem grande. — Nick falou orgulhoso — A rainha viúva veio lá de Kent... Estou tão feliz... Está quase na hora do meu discurso, é melhor eu ir avisar à orquestra...
A orquestra, porém, parou de tocar naquele exato instante. E, todas as pessoas na masmorra se calaram, olhando para os lados excitadas, ao ouvirem uma trompa de caça.
— Ah, lá vamos nós. — Disse Nick amargurado
Pelas paredes da masmorra irromperam doze cavalos fantasmas, cada um montado por um cavaleiro sem cabeça. Grande parte dos convidados aplaudiram calorosamente; Eu e o os meninos tínhamos começado a aplaudir, também, mas paramos depressa ao ver a cara de Nick.
Os cavalos galoparam até o meio da pista de dança e pararam, levantando e baixando as patas dianteiras. À frente da cavalgada havia um fantasma corpulento que segurava a cabeça sob o braço, posição de onde ele tocava a trompa. O fantasma apeou, levantou a cabeça no ar de modo que pudesse ver as pessoas (todos riram) e se dirigiu a Nick, recolocando a cabeça sobre o pescoço.
— Nick! — Ele rugiu — Como vai? A cabeça ainda pendurada?
Ele soltou uma gargalhada cordial e deu uma palmadinha no ombro de Nick Quase Sem Cabeça.
— Bem-vindo, Patrício. — Nick falou secamente
— Gente viva! — Exclamou Sir Patrício, logo ao nos ver, e dando um grande pulo fingindo espanto, de modo que sua cabeça tornou a cair (os convidados gargalharam)
— Muito engraçado. — Nick falou com ferocidade
— Não liguem para o Nick! — Gritou a cabeça de Sir Patrício lá do chão — Deve estar aborrecido porque não o deixamos se associar à Caçada! Mas quero dizer... Olhem só para ele...
– Acho. — Disse Harry depressa, a um olhar significativo de Nick — Nick é muito... Assustador e...
— Ha! Aposto como ele lhe pediu para dizer isso, não foi? — Gritou a cabeça do fantasma
— Se todos pudessem me dar atenção, está na hora do meu discurso! — Avisou Nick em voz alta, caminhando com firmeza até o pódio e tomando posição sob a luz de um refletor azul-gelo.
“Meus saudosos cavalheiros, damas e senhores, tenho o grande pesar...
Mas, ninguém parecia prestar muita atenção ou ouvir muito mais do que isso. Sir Patrício e os Caçadores Sem Cabeça começaram uma partida de hóquei de cabeça e as pessoas foram se virando para assistir. Nick tentou em vão reconquistar sua plateia, mas desistiu quando a cabeça de Sir Patrício passou navegando por ele em meio aos berros de vivas.
Eu já estava quase tremendo, abraçada ao meu próprio corpo de tanto frio, e rangendo os dentes, para não falar na fome enorme que eu estava sentindo.
— Acho que não dá para aguentar muito mais que isso. — Murmurou Rony, os dentes batendo, quando a orquestra tornou a entrar em ação, e os fantasmas voltaram à pista de dança
— Concordo. — Minha voz saiu fraca
— Vamos. — Disse Harry
Logo saímos os quatro em direção à porta, acenando com a cabeça e sorrindo para todos que nos olhavam, e um minuto depois estávamos andando depressa pelo corredor cheio de velas.
— Pode ser que talvez o pudim ainda não tenha acabado. — Ron falou, esperançoso, seguindo à frente em direção à escada do saguão de entrada
Eu assim como meu irmão, estava morrendo de fome, então andava depressa, até que, se repente, Harry parou quase tropeçando, enquanto se apoiava na parede de pedra, olhando para os lados e apertando os olhos para os dois sentidos do corredor mal iluminado.
— Harry, que é que você...?
— É aquela voz de novo, fiquem quietos um minuto...
Paramos e olhamos para os lados tentando ouvir alguma coisa, mas não ouvi nada além do silêncio do corredor.
— Ouçam! — Disse Harry com urgência
Ron e Mione também não pareciam ouvir nada, já Harry parecia estar com uma mistura de medo e excitação enquanto fixava o olhar no teto escuro.
— Vamos, por aqui! — Ele gritou e começou a subir correndo as escadas para o saguão
Logo pudemos ouvir o vozerio na festa do Salão Principal que ecoava pelo saguão. Harry subiu correndo a escadaria de mármore até o primeiro andar, com eu, Rony e Mione nos seus calcanhares.
— Harry, que é que estamos...
— PSIU!
Harry parou mais uma vez, olhando para os lados e com os ouvidos apurados, no entanto, eu ainda não ouvia nada.
— Vai matar alguém! — Gritou ele, sem dar atenção aos nossos rostos perplexos
Harry subiu correndo o lance seguinte de escada, três degraus de cada vez, logo precipitou-se pelo segundo andar, eu, Ron e Mione já estávamos ofegantes atrás dele, que não parou até entrar no último corredor deserto.
— Harry, dá pra nos explicar o que tá acontecendo? — Exigi — Você tá bem?
— Sim Harry, do que é que você está falando? — Ron perguntou, enxugando o suor do rosto — Eu não ouvi nada...
Mas logo Hermione soltou uma súbita exclamação com seu indicador apontado para o corredor.
— Olhem!
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