{02} O Chapéu seletor
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02. O Chapéu
Seletor
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Quem sabe sua morada é a Gryffindor, Casa onde habitam os corações indômitos.
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A porta abriu-se de chofre. E apareceu uma bruxa alta de cabelos negros e vestes verde-esmeralda. Tinha o rosto muito severo e meu primeiro pensamento foi que era uma pessoa a quem não se devia aborrecer.
— Alunos do primeiro ano, Profa. Minerva McGonagall. — Informou Hagrid
— Obrigada, Hagrid. Eu cuido deles daqui em diante.
Ela escancarou a porta. O saguão era extremamente enorme, maior do que eu imaginava. As paredes de pedra estavam iluminadas com archotes flamejantes, o teto era alto demais para se ver, e uma imponente escada de mármore em frente levava aos andares superiores. Acompanhamos a Profa. Minerva pelo piso de lajotas de pedra. Ouvi o murmúrio de centenas de vozes que vinham de uma porta à direita – o restante da escola já devia estar reunido. Mas a Profa. Minerva levou os alunos da primeira série a uma sala vazia ao lado do saguão. Nos agrupamos lá dentro, um pouco mais apertados do que o normal, olhando, nervosos, para os lados.
— Bem-vindos a Hogwarts. — Disse a Profa. Minerva — O banquete de abertura do ano letivo vai começar daqui a pouco, mas antes de se sentarem às mesas, vocês serão selecionados por casas. A Seleção é uma cerimônia muito importante porque, enquanto estiverem aqui, sua casa será uma espécie de família em Hogwarts. Vocês assistirão a aulas com o restante dos alunos de sua casa, dormirão no dormitório da casa e passarão o tempo livre na sala comunal.
“As quatro casas chamam-se Gryffindor, Huflepuff, Ravenclaw e Slytherin. Cada casa tem sua história honrosa e cada uma produziu bruxas e bruxos extraordinários. Enquanto estiverem em Hogwarts os seus acertos renderão pontos para sua casa, enquanto os erros a farão perder. No fim do ano, a casa com o maior número de pontos receberá a taça da casa, uma grande honra. Espero que cada um de vocês seja motivo de orgulho para a casa à qual vier a pertencer.
“A Cerimônia de Seleção vai se realizar dentro de alguns minutos na presença de toda a escola. Sugiro que vocês se arrumem o melhor que puderem enquanto esperam.”
O olhar dela se demorou por um instante na capa de Neville, que estava afivelada debaixo da orelha esquerda, e no nariz sujo de Rony. Harry, nervoso, tentou achatar os cabelos. Eu, desconfortável, tentei arrumar a saia.
— Voltarei quando estivermos prontos para receber vocês. — Disse a Profa. Minerva — Por favor, aguardem em silêncio.
E se retirou da sala. Engoli em seco.
— Mas como é que eles selecionam a gente para as casas? — Harry perguntou a mim e Rony
— Devem fazer uma espécie de teste, acho. Foi o que Charlie me disse. — Respondi — Mas ele nunca especificou como era.
— O Fred disse que dói à beça, mas acho que estava brincando. — Suspirou Rony
O meu coração deu um leve salto enquanto em mente eu implorava que Fred estivesse brincando sobre o teste. Olhei à volta, ansiosa, e vi que os outros também pareciam apavorados. Ninguém falava muito a não ser Hermione, que cochichava muito depressa todos os feitiços que aprendera, sem saber o que precisaria mostrar. Fiz força para não escutar o que ela dizia. Nunca me senti tão nervosa, nunca, nem mesmo quando acidentalmente quebrei a janela de casa jogando quadribol ou fiz um livro de Ginny pegar fogo, acidentalmente também. Mantive os olhos grudados na porta. A qualquer segundo agora a Profa. Minerva voltaria e me conduziria para o desconhecido.
— Olha só. — Falou Rony de repente — Com certeza Malfoy vai pra Slytherin, olhem pra ele. Eu não iria querer ir pra lá se fosse você, Harry.
— Muito menos eu, todos os bruxos que se tornaram mal foram da Slytherin. — Completei a fala do meu irmão
— Talvez nem todos. — Disse uma voz chata e mandona — Os queridos gêmeos cabelo de fogo estão sabendo que Merlim pertenceu à Slytherin, não é?
— NÃO FOI NÃO! — Berramos eu e Rony juntos, ambos compartilhando irritação por Hermione Granger
Antes mesmo que a garota irritante pudesse responder aconteceu uma coisa que me fez pular bem uns trinta centímetros no ar – várias pessoas atrás de mim gritaram.
— Que di...
Harry ofegou. E as pessoas à nossa volta também, incluindo eu. Uns vinte fantasmas passaram pela parede dos fundos. Brancos-pérola e ligeiramente transparentes, eles deslizaram pela sala conversando entre si, mal vendo os alunos do primeiro ano. Pareciam estar discutindo. O que lembrava um fradinho gorducho ia dizendo:
— Perdoar e esquecer, eu diria, vamos dar a ele uma segunda chance...
— Meu caro frei, já não demos a Pirraça todas as chances que ele merecia? Ele mancha a nossa reputação e, você sabe, ele nem ao menos é um fantasma. Nossa, o que é que essa garotada está fazendo aqui?
Um fantasma, que usava uma gola de rufos engomados e meiões, de repente reparou no alunos do primeiro ano.
Ninguém respondeu.
— Alunos novos! — Disse o frei Gorducho, sorrindo — Estão esperando para ser selecionados, imagino?
Alguns garotos confirmaram com a cabeça, mudos.
— Espero ver vocês na Huflepuff! — Falou o frei — A minha casa antiga, sabe?
— Vamos andando agora. — Disse uma voz enérgica — A Cerimônia de Seleção vai começar.
A Profa. Minerva voltara. Um a um os fantasmas saíram voando pela parede oposta.
— Agora façam fila e me sigam.
Sentindo-me pouco à vontade como se minhas pernas tivessem virado chumbo, entrei na fila atrás de Harry, que estava atrás de um garoto de cabelos cor de palha e fiquei na frente de Rony, e assim todos saímos da sala, tornamos a atravessar o saguão e as portas duplas que levavam ao Grande Salão.
Jamais imaginei um lugar tão diferente e esplêndido. Era iluminado por milhares de velas que flutuavam no ar sobre quatro mesas compridas, onde os demais estudantes já se encontravam sentados. As mesas estavam postas com pratos e taças douradas. No outro extremo do salão havia mais uma mesa comprida em que se sentavam os professores. A Profa. Minerva levou os alunos de primeiro ano até ali, de modo que paramos enfileirados diante dos outros, tendo os professores às nossas costas. As centenas de rostos que nos contemplavam pareciam lanternas fracas à luz trêmula das velas. Misturados aqui e ali aos estudantes, os fantasmas brilhavam como prata envolta em névoa. Principalmente para evitar os olhares fixos nele, olhei para cima e vi um teto aveludado e negro salpicado de estrelas. Ouvi Hermione cochichar:
— É enfeitiçado para parecer o céu lá fora, li em Hogwarts, uma história.
— Legal. — Retrucou uma entediada garota de cabelos negros e ondulados
Era difícil acreditar que havia um teto ali e que o Salão Principal simplesmente não se abria para o infinito.
Baixei depressa os olhos quando a Profa. Minerva silenciosamente colocou um banquinho de quatro pernas diante de nós. Em cima do banquinho ela pôs um chapéu pontudo de bruxo. O chapéu era remendado, esfiapado e sujíssimo. Reparei que todos no salão agora olhavam para o chapéu, eu olhei também. Por alguns segundos fez-se um silêncio total. Então o chapéu se mexeu. Um rasgo junto à aba se abriu como uma boca – e o chapéu começou a cantar:
Ah, vocês podem me achar pouco atraente,
Mas não me julguem pela aparência
Engulo a mim mesmo se puderem encontrar
Um chapéu mais inteligente do que o papai aqui.
Podem guardar seus chapéus-coco bem pretos,
Suas cartolas altas de cetim brilhoso
Porque eu sou o Chapéu Seletor de Hogwarts
E dou de dez a zero em qualquer outro chapéu.
Não há nada escondido em sua cabeça
Que o Chapéu Seletor não consiga ver,
Por isso é só me porem na cabeça que vou dizer
Em que casa de Hogwarts deverão ficar.
Quem sabe sua morada é a Gryffindor,
Casa onde habitam os corações indômitos.
Ousadia e sangue frio e nobreza
Destacam os alunos da Gryffindor dos demais;
Quem sabe é na Hufflepuff que você vai morar,
Onde seus moradores são justos e leais
Pacientes, sinceros, sem medo da dor;
Ou será a velha e sábia Ravenclaw,
A casa dos que tem a mente sempre alerta,
Onde os homens de grande espírito e saber
Sempre encontrarão companheiros seus iguais;
ou quem sabe a Slytherin será a sua casa
E ali fará seus verdadeiros amigos,
Homens de astúcia que usam quaisquer meios
Para atingir os fins que antes colimaram.
Vamos, me experimentem! Não deverão temer!
Nem se atrapalhar! Estarão em boas mãos!
(Mesmo que os chapéus não tenham pés nem mãos)
Porque sou o único, sou um Chapéu Pensador!
O salão inteiro prorrompeu em aplausos quando o chapéu acabou de cantar. Ele fez uma reverência para cada uma das quatro mesas e em seguida ficou muito quieto outra vez.
— Então só precisamos experimentar o chapéu! — Cochichou Rony — Vou matar o Fred, ele não parou de falar numa luta contra um trasgo.
Harry apenas sorriu sem graça, pensativo.
— Eu te disse pra não confiar nos gêmeos, Rony. — Retruquei
A Profa. Minerva então se adiantou segurando um longo rolo de pergaminho.
— Quando eu chamar seus nomes, vocês porão o chapéu e se sentarão no banquinho para a seleção. Ana Abbott!
Uma garota de rosto rosado e marias-chiquinhas louras saiu aos tropeços da fila, pôs o chapéu, que lhe afundou direto até os olhos, e se sentou. Uma pausa momentânea...
— HUFLEPUFF! — Anunciou o chapéu
A mesa à direita deu vivas e bateu palmas quando Ana foi se sentar à mesa da Huflepuff. Vi o fantasma do frei Gorducho acenar alegremente para ela.
— Susana Bones!
— HUFLEPUFF! — Anunciou o chapéu outra vez, e Susana saiu depressa e foi se sentar ao lado de Ana
— Terrence Boot!
— RAVENCLAW!
Desta vez foi a segunda mesa à esquerda que aplaudiu; vários alunos da Ravenclaw se levantaram para apertar a mão de Terrence quando o menino se reuniu a eles. Mádi Brocklehurst foi para a Ravenclaw também, mas Lavender Brown foi a primeira a ser escolhida para a Gryffindor e a mesa na extrema esquerda explodiu em vivas; vi Fred e George assobiarem quando a loira sentou-se.
Emília Bulstrode se tornou uma Slytherin, assim como a morena entediada que Hermione assediara com informações, Tracey Davis.
— Justino Finch-Fletchley!
— HUFLEPUFF!
Às vezes, reparei, o chapéu anunciava logo o nome da casa, mas outras levava um tempo para se decidir. Seamus Finnegan, o menino de cabelos cor de palha ao lado de Harry na fila, passou sentado no banquinho quase um minuto, antes de o chapéu anunciar que iria para a Gryffindor.
— Hermione Granger!
Hermione saiu quase correndo até o banquinho e enfiou o chapéu, ansiosa.
— GRYFFINDOR! — Anunciou o chapéu. Rony gemeu, eu revirei os olhos
Amélia Hughes, uma garota de cabelos negros e crespos, fora uma empata-chapéu também, superando Finnegan por quatro minutos, mas acabou indo da mesma forma para Gryffindor. Quando Neville Longbottom, o menino que não parava de perder o sapo, foi chamado, levou um tombo a caminho do banquinho. O chapéu demorou muito tempo para se decidir sobre Neville. Quando finalmente anunciou “GRYFFINDOR”, Neville saiu correndo com o chapéu na cabeça, e teve de voltar em meio a uma avalanche de risadas para entregá-lo a Morag MacDougal, que acabou indo pra Ravenclaw.
Malfoy se adiantou, gingando, quando chamaram seu nome e não foi surpresa pra ninguém a escolha do chapéu, que mal tocara sua cabeça quando anunciou:
— SLYTHERIN!
Faltava pouca gente agora. Megalos, Moon..., Nott..., Parkinson..., depois duas gêmeas, Patil e Patil..., depois Perks, Sara... e então...
— Harry Potter!
Quando Harry se adiantou, correu um burburinho por todo o salão como um fogo de rastilho.
— Potter, foi o que ela disse?
— O Harry Potter?
O chapéu demorou apenas alguns segundos em Harry, até anunciar:
— GRYFFINDOR!
O menino tirou o chapéu e se encaminhou trêmulo para a mesa de Gryffindor recebendo a maior ovação da cerimônia. Percy apertou a mão dele com energia, enquanto os gêmeos gritavam “Ganhamos Potter! Ganhamos Potter!”
E agora só faltavam quatro pessoas para serem selecionadas, tirando eu. Lisa Turpin virou uma membra da casa azul, sim a Ravenclaw, e depois foi a vez de Rony. A essa altura ele estava brancoesverdeado. Eu cruzei os dedos sob a mesa para dar sorte e um segundo depois o chapéu anunciou GRYFFINDOR!
Acompanhei todos na batida de palmas enquanto meu irmão corria para a mesa vermelha, mas então finalmente...
— Roxanne Weasley!
Merlim! Era finalmente a minha vez. Corri em direção ao banquinho com uma mescla de nervosismo e animação. A última coisa que vi antes de o chapéu me cair sobre os olhos foi um salão cheio de gente se espichando para me dar uma boa olhada. Em seguida só vi a escuridão dentro do chapéu.
— Então são gêmeos? De novo!? —Murmurou o chapéu — Parece que os Weasley não acabam nunca! Só podem estar de brincadeira comigo, você não tem mais irmãos em casa, não né?
“É, ainda tem a...”
— Certo, pode ir com seus irmãos mesmo vai. GRYFFINDOR!
Ouvi o chapéu anunciar a última palavra para todo o salão. Eu abri um enorme sorriso e saí correndo, ao som de altas palmas. Me joguei no assento ao lado de Rony, de modo que eu fiquei defronte pra Harry. Vi o fantasma com a gola de rufos que vira antes da cerimônia. O fantasma deu uma palmadinha no meu braço, produzindo-me a sensação horrível e repentina de que eu tinha acabado de mergulhar num balde de água gelada.
Agora eu via bem a Mesa Principal. Na extremidade mais próxima sentava-se Rúbeo Hagrid. E ali, no centro da Mesa Principal, em uma cadeirão dourado, encontrava-se Alvo Dumbledore. Os cabelos prateados dele eram a única coisa no salão inteiro que brilhava tanto quanto os fantasmas.
— Que legal, ficamos na mesma casa. — Disse a chata da sabe-tudo, que estava sentada a duas cadeiras próxima ao meu irmão
Eu apenas revirei os olhos, não ia com sua cara.
— Muito bem, Rox, excelente. — Disse Percy pomposamente por cima de Harry, na mesma hora em que Noah Yaxley era mandado para a Slytherin
— Qual é, sabíamos que as cópias baratas iam sair na Gryffindor como a gente. — Disse Fred que estava do outro lado de Percy
— Aliás, essa é a melhor casa de Hogwarts. — Prosseguiu George a frente de Fred
— Mas é bom saberem de uma coisa.
— Tá, vocês são gêmeos.
— E tem o sobrenome Weasley.
— Mas nunca chegarão aos nossos pés.
— Porque somos os originais.
— E vocês cópias.
Eu e Ron nos entreolhamos um tanto intrigados e assustados.
— Ok... — Dissemos juntos quando finalmente o último aluno, Blaise Zabini, foi para Slytherin
A Profa. Minerva enrolou o pergaminho e recolheu o Chapéu Seletor. Baixei os olhos para o prato dourado e vazio diante de mim. Acabara de perceber como estava faminta. As tortinhas de abóbora pareciam ter sido comidas havia anos.
Alvo Dumbledore se levantara. Sorria radiante para os estudantes, os braços bem abertos, como se nada no mundo pudesse ter-lhe agradado mais do que vê-los todos reunidos ali.
— Sejam bem-vindos! — Disse — Sejam bem-vindos para um novo ano em Hogwarts! Antes de começarmos nosso banquete, eu gostaria de dizer umas palavrinhas: Pateta! Chorão! Destabocado! Beliscão! Obrigado.
E sentou-se. Todos bateram palmas e deram vivas. Eu não sabia se ria ou não.
— Ele é... um pouquinho maluco?— Perguntou Harry, incerto, a Percy.
— Maluco? — Disse Percy, despreocupado — Ele é um gênio! O melhor bruxo do mundo! Mas é um pouquinho maluco, sim. Batatas, Harry?
O queixo de Harry caiu. Os pratos diante de nós agora estavam cheios de comida. Eu nunca vi tantas coisas que gostava de comer em uma mesa só: rosbife, galinha assada, costeletas de porco e de carneiro, pudim de carne, ervilhas, cenouras, molho, ketchup e, por alguma estranha razão, docinhos de hortelã, deveria ter algo com abóbora, eu adoro abóbora... ah, é, tinha sim.
Enchi meu prato com um pouco de cada coisa, incluindo o purê de abóbora cabotiá e a salada de quinoa com abóbora assada. Estava tudo uma delícia. O suco de beterraba e laranja sempre foi um dos meus favoritos e estava excelente.
— Isto está com uma cara ótima. — Disse o fantasma de gola de rufos observando, tristemente, todos a comer
— O senhor não pode...?
— Não como há quase quatrocentos anos. — Explicou o fantasma — Não preciso, é claro, mas a pessoa sente falta. Acho que ainda não me apresentei? Cavalheiro Nicholas de Mimsy-Porpington às suas ordens. Fantasma residente da torre da Gryffindor.
— Eu sei quem o senhor é! — Exclamei inesperadamente
— É o Nick Quase Sem Cabeça! — Ron prosseguiu, me interrompendo
— Sim, nossos irmãos nos falaram do senhor.
— Eu prefiro que você me chame de cavalheiro Nicholas de Mimsy. — O fantasma começou muito formal, mas foi
interrompido por Seamus Finnegan
— Quase Sem Cabeça? Como é que alguém pode ser quase sem cabeça?
Sir Nicholas parecia muitíssimo aborrecido, como se aquela conversinha não estivesse tomando o rumo que ele queria.
— Assim... — Disse com irritação. E agarrou a orelha esquerda e puxou. A cabeça toda girou para fora do pescoço e caiu por cima do ombro como se estivesse presa por uma dobradiça. Era óbvio que alguém tentara decapitá-lo, mas não fizera o serviço direito. Satisfeito com a cara de espanto que fizemos, Nick Quase Sem Cabeça empurrou a cabeça de volta ao pescoço, tossiu e disse: — Então, novos moradores da Gryffindor! Espero que nos ajudem a ganhar o campeonato das casas este ano! Gryffindor nunca passou tanto tempo sem ganhar a taça. Slytherin tem ganhado nos últimos seis anos!
Me virei para a mesa da Slytherin, mas somente para perceber que Malfoy já me observava, encarando-me, cínico.
— O barão Sangrento está ficando quase insuportável! — Nick Prosseguiu — Ele é o fantasma da Slytherin.
Dei uma olhada na mesa de Slytherin mais uma vez e vi um fantasma horroroso sentado lá, os olhos vidrados, uma cara muito magra e vestes sujas de sangue prateado.
— Como foi que ele ficou coberto de sangue? — Perguntei, interessada
— Não sei, nunca perguntei. — Respondeu Nick Quase Sem Cabeça, educadamente
Depois que todos comemos tudo o que podíamos, as sobras desapareceram dos pratos deixando-os limpinhos como no início. Logo depois surgiram as sobremesas. Tijolos de sorvete de todos os sabores que se possa imaginar, tortas de maçãs, tortinhas de caramelo, bombas de chocolate, roscas fritas com geleia, bolos de frutas com calda de vinho, morangos, gelatinas, pudim de arroz, torta de abóbora...
Quando me servia das roscas fritas com geleia, a conversa se voltou para as famílias.
— Eu sou meio a meio. — Disse Seamus — Papai é trouxa. Mamãe não contou a ele que era bruxa até depois de casarem. Teve um choque horrível.
Os outros riram.
— Tô na mesma. — Disse a garota de cabelos negros, Amélia Hughes — Meu pai também é trouxa, mas morreu antes que eu pudesse ter alguma lembrança dele, então só fui criada por minha mãe, bruxa.
— E você, Neville? — Perguntou Rony
— Bom, minha avó me criou e ela é bruxa, mas a família achou durante anos que eu era completamente trouxa. Meu tio-avô Algi vivia tentando me pegar desprevenido e me forçar a recorrer à magia. Ele me empurrou pela borda de um cais uma vez, eu quase me afoguei. Mas nada aconteceu até eu completar oito anos. Meu tio Algi veio tomar chá conosco e tinha me pendurado pelos calcanhares para fora de uma janela do primeiro andar, quando a minha tia-avó Enid lhe ofereceu um merengue e ele sem querer me deixou cair. Mas eu desci flutuando até o jardim e a estrada. Todos ficaram realmente satisfeitos. Minha avó chorou de tanta felicidade. E vocês deviam ter visto a cara deles quando entrei para Hogwarts. Achavam que eu não era bastante mágico para entrar, entendem. Meu tio Algi ficou tão contente que me comprou um sapo.
— Que legal. — Comentei enchendo a boca de bomba de chocolate
Do outro lado de Harry, Percy e Hermione conversavam sobre as aulas.
— Espero que elas comecem logo, tem tanta coisa para a gente aprender, estou muito interessada em Transfiguração, sabe, transformar uma coisa em outra, claro, dizem que é muito difícil; a pessoa começa aos poucos, fósforos em agulhas e coisas pequenas assim.
Eu estava começando a me sentir aquecida e cheia de sono, olhei outra vez para a Mesa Principal. Hagrid tomava um grande gole de sua taça. A Profa. Minerva conversava com o Prof. Dumbledore. Tinha um professor com um turbante ridículo, que conversava com um outro professor de cabelos negros e oleosos, nariz de gancho e pele macilenta.
Finalmente, as sobremesas também desapareceram, e o Prof. Dumbledore ficou de pé mais uma vez. O salão silenciou.
— Hum... só mais umas palavrinhas agora que já comemos e bebemos. Tenho alguns avisos de início de ano letivo para vocês.
“Os alunos do primeiro ano devem observar que é proibido andar na floresta da propriedade. E alguns dos nossos estudantes mais antigos fariam bem em se lembrar dessa proibição.”
Os olhos cintilantes de Dumbledore faiscaram na direção de Fred e George.
— O Sr. Filch, o zelador, me pediu para lembrar a todos que não devem fazer mágicas no corredor durante os intervalos das aulas.
“Os testes de quadribol serão realizados na segunda semana de aulas. Quem estiver interessado em entrar para o time de sua casa deverá procurar Madame Hooch. E, por último, é preciso avisar que, este ano, o corredor do terceiro andar do lado direito está proibido a todos que não quiserem ter uma morte muito dolorosa.”
Harry riu, mas foi um dos poucos que fez isso.
— Ele não está falando sério! — Cochichou
— Deve estar. — Respondeu Percy franzindo a testa para Dumbledore — É estranho porque em geral ele sempre nos diz a razão por que somos proibidos de ir a algum lugar. A floresta está cheia de animais selvagens, todo o mundo sabe disso. Acho que poderia ter dito aos monitores, pelo menos.
— E agora, antes de irmos para a cama, vamos cantar o hino da escola! — Exclamou Dumbledore. Reparei que os sorrisos dos outros professores tinham amarelado
Dumbledore fez um pequeno aceno com a varinha como se estivesse tentando espantar uma mosca na ponta e surgiu no ar uma longa fita dourada, que esvoaçou para o alto das mesas e se enroscou como uma serpente formando palavras.
— Cada um escolha sua música preferida. — Convidou Dumbledore — E lá vamos nós!
E a escola entoou em altos brados:
Hogwarts, Hogwarts, Hoggy Warty Hogwarts,
Nos ensine algo por favor,
Quer sejamos velhos e calvos
Quer moços de pernas raladas,
Temos as cabeças precisadas
De ideias interessantes
Pois estão ocas e cheias de ar,
Moscas mortas e fios de cotão.
Nos ensine o que vale a pena
Faça lembrar o que já esquecemos
Faça o melhor, faremos o resto,
Estudaremos até o cérebro se desmanchar
Todos terminaram a música em tempos diferentes. E por fim só restaram Fred e George cantando sozinhos, ao som de uma lenta marcha fúnebre. Dumbledore regeu os últimos versos com sua varinha e, quando eles terminaram, foi um dos que aplaudiram mais alto.
— Ah, a música. — Disse secando os olhos — Uma mágica que transcende todas que fazemos aqui! E agora, hora de dormir. Andando!
Eu juntamente com os novos alunos da Gryffindor seguimos Percy por entre os grupos que conversavam, até sairmos do Salão Principal e subimos a escadaria de mármore. As minhas pernas pareceram chumbo outra vez mas só porque eu estava muito cansada e saciada. As pessoas nos retratos ao longo dos corredores murmuravam e apontavam enquanto a gente passava, com certeza deviam estar falando de Harry. Duas ou três vezes Percy nos conduziu por portais escondidos atrás de painéis corrediços e tapeçarias penduradas. Subimos outras tantas escadas, bocejando e arrastando os pés, e eu comecei a me perguntar quanto ainda faltava para chegar quando de repente paramos.
Um feixe de bengalas flutuava no ar à nossa frente, e quando Percy avançou um passo em sua direção, começaram a assaltá-lo.
— Pirraça. — Percy cochichou para nós — Um Poltergeist. — E falou em voz alta: — Pirraça, calma.
Um som alto e grosseiro, como o ar escapando de um balão respondeu:
— Quer que eu vá procurar o barão Sangrento?
Ouvimos um estalo e um homenzinho com olhos escuros e maus e a boca escancarada apareceu, flutuando de pernas cruzadas no ar, segurando as bengalas.
— Oooooooooh! — Disse com uma risada malvada — Calourinhos! Que divertido!
E mergulhou repentinamente contra nós. Todos nos abaixamos de imediato.
— Vá embora, Pirraça, ou vou contar ao barão, e estou falando sério! — Ameaçou Percy
Pirraça estirou a língua e desapareceu, largando as bengalas na cabeça de Neville. Ouvimos o partir zunindo, fazendo retinir os escudos de metal ao passar.
— Vocês tenham cuidado com o Pirraça. — Recomendou Percy, quando retomamos a caminhada — O barão Sangrento é o único que consegue controlá-lo, ele não dá confiança aos monitores. Chegamos.
No finzinho do corredor havia um retrato de uma mulher muito gorda vestida de rosa.
— Senha? — Pediu ela
— Cabeça de Dragão. — Disse Percy, e o retrato se inclinou para a frente revelando um buraco redondo na parede. Todos passamos pelo buraco. Neville precisou de um calço. E se vimos na sala comunal da Gryffindor, um aposento redondo cheio de poltronas fofas
Percy indicou às garotas a porta do nosso dormitório e, aos meninos, a porta do deles. Olhei para Ron na mesma hora, eu já sabia que íamos ficar separados, mas estava adiando esse pensamento, eu não estava muito preparada pra ficar longe do meu irmão, sempre fizemos tudo juntos.
— Er... — Ele se virou pra mim acanhado e deu um sorriso fraco — Nos vemos amanhã, Rox.
— Tchau, Ron. — Também dei um sorriso sem vida
Era só pra dormir, nos veríamos nos outros momentos, estava tudo bem.
Comecei então subir as escadas em formato de caracol, até que bem no alto – era óbvio que o dormitório estava em uma das torres – entrei em uma porta encontrando finalmente o que seria meu quarto. Havia cinco camas com reposteiros de veludo vermelho-escuro. As malas já haviam sido trazidas.
Me sentei na cama que estava com minhas coisas e logo mais quatro garotas entraram, dentre elas, pra minha infelicidade, Hermione Granger. Eu estava separando meu pijama quando vi uma garota de cabelos louros e ondulados sentar-se na cama do meu lado direito, ela me olhou muito interessada, como se quisesse conversar.
— Oi, eu sou a Lavender. Lavender Brown, mas todos me chamam de Lav.
Eu sabia quem ela era, foi a primeira de todos os alunos a ser selecionada para Gryffindor, embora ela me passasse uma vibe de pessoas da Huflepuff.
— Rox Weasley. — Me apresentei sem o mínimo de empolgação
Estava cansada demais para falar muito, tudo o que eu queria era me enfiar no pijama e cair na cama. Ao contrário de mim, as meninas pareciam mais interessadas em conversar, as três, menos Hermione que assim como eu estava mais interessada em ir dormir o mais depressa possível. Me joguei na minha cama, me enrolei nas cobertas e puxei as cortinas da cama, de modo que eu não pudesse mais ver as meninas no quarto, só as ouvir. Além de Hermione Granger e Lavender Brown, no meu dormitório também estava Parvati Patil e Amélia Hughes. Pelo que eu ouvi, a indiana Parvati também é gêmea, mas por alguma consequência do destino sua irmã Padma foi para Ravenclaw. Parvati parecia triste delas terem se separado. É, eu também não estava muito bem longe de Rony... até o ronco daquele babaca fazia falta, quem diria que seria tão difícil ficar longe dele, né? Ele era tão irritante, mesmo assim é o meu irmão gêmeo, e afinal dividimos até o útero, é difícil ficar longe dele.
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