01. Friends with no memory
❛❛ Doze semanas em um quarto frio, esse pode ser meu maldito caixão. Se eu fumar, estou tossindo. Pessoas desconhecidas tentando entrar... Não fale, eu não te conheço. ❜❜
— Cold Nights, Chase Atlantic.
𖤐
OLIVIA
Abro os olhos com o impacto da minha cabeça batendo fortemente em algo extremamente duro. Isso doeu muito, foi exatamente por isso que acordei. Meu subconsciente sabia o que era, já meu raciocínio demorou alguns segundos para funcionar.
As grades ao meu redor cobriam um espaço pequeno, fazendo-me sentir quase claustrofóbica. Pisquei diversas vezes, contendo a vontade de desistir e voltar a dormir, como se isso fosse resolver os problemas que estavam vindo à seguir.
Meus pensamentos são cortados quando Thomas — que estava até segundos atrás desmaiado no centro dessa caixa que chamam de elevador — acorda ofegante, com a respiração cortada, como se simulasse uma parada cardíaca.
Arqueei as sobrancelhas, observando o rosto, iluminado por pequenos fragmentos de luz, do rapaz se tornar um poço de confusão. Eu sabia que eles chegavam com a mente em branco, com uma confusão que eu jamais poderia descrever, mas estar vivendo isso nesse exato momento era totalmente fora do que imaginei.
── Olá? ── Disse pela primeira vez, mas não para mim, para si mesmo, como se testasse o som da própria voz.
O desespero dele começou a ficar mais evidente quando a velocidade desse elevador minúsculo aumentou, ocasionando minhas mãos agarrarem a grade fortemente.
── Ajuda... ── Tentou gritar, porém não saiu mais do que um sussurro engasgado.
Tentei me esconder entre as diversas caixas de suprimentos, assim que notei as movimentações dele ficarem mais presentes, mas não tive muito sucesso nisso. O metal fizera um barulho estridente nesse elevador frio e escuro, fazendo o olhar de Thomas — que antes não tinha uma direção exata — ir diretamente à mim.
── Quem é você? ── Thomas questionou com os olhou arregalados. Ele estava chocado por não ter notado minha presença antes e, infelizmente, agora não irá parar de falar perguntas. Assim que desviei o olhar, pensando em algo para responde-lo, sua voz me parou. ── Ei! Por que estamos aqui? ── Ele se aproximou, engatinhando rapidamente, apenas esperando pela minha resposta que não ouviria. Fiquei em completo silêncio. ── Eu preciso sair daqui!
Pulei levemente com o grito, forçando meu corpo à isso. Se presumisse que estou aterrorizada tanto quanto ele, não faria mais perguntas. Deixei meus próprios olhos saltarem, fazendo-os arder instantaneamente.
── Eu...
Eu não sei o que dizer. Não havia planejado uma linha sequer do que eu possivelmente precisaria falar e Ava não me deu um manual de como responder às perguntas de Thomas.
Eu o encarei, levantando os olhos para que os cílios conseguissem bater na sobrancelha e mordi os lábios com um falso nervosismo.
Pense em coisa triste. Automaticamente, as lembranças de três anos atrás se fez fresca em minha memória; a despedida sem dizer uma só palavra, o quanto eu sofri em silêncio com tudo isso e como tive que ser forte por mim e pela minha irmã.
Lentamente, a primeira lágrima caiu no canto dos meus olhos. E, de repente, não consigo mais controlar. Minhas mãos começaram a tremer suavemente — para não aparentar exagero — e as maças do meu rosto estavam inundadas pela água.
O garoto à minha frente arregalou os olhos, como se fosse ele quem estava tendo uma crise de ansiedade. Tentei forçar alguns soluços para saírem da garganta e pareceu funcionar, pois ele começou a falar atropelando as palavras.
── É... Calma, tudo bem, não precisa chorar ── Oh, sério, Thomas? Ele nunca soube aconselhar alguém, de qualquer forma. ── Vamos achar um jeito de sair daqui. Juntos, tá?
A palavra juntos, com todas as malditas letras, ecoou em meus pensamentos. Mas, em vez de abrir a boca para comentar algo que desnecessariamente seria desconfiável, eu apenas assenti.
O tempo em que fazíamos esse teatrinho, o elevador chacoalhou fazendo um barulho alto nos assustar. Não íamos nunca achar um jeito de sair daqui juntos pois eu tinha quase certeza de que estávamos chegando à clareira, como eles apelidaram. Ou seja, caminho sem volta.
E, isso aconteceu no segundo seguinte. O elevador parou com um baque, o que fez Thomas gritar pelo tremendo susto que havia levado. Foram questão de milésimos, para que a escotilha fosse aberta e o sol da clareira ardesse meus olhos, que definitivamente não estavam acostumados com essa claridade.
── Dia um, novato ── Um garoto pulou bem na frente de Thomas, não pude o ver, mas sabia que estava sorrindo.
Thomas ainda estava completamente confuso e suava como um porco, o menino o ajudou a sair dali em seguida. Entretanto, passou os olhos pelas caixas com suprimentos e seus olhos familiares pararam nos meus.
Gally.
Com a sobrancelha arqueada, o choque era claro nas suas expressões e isso me deixava repleta de ansiedade. Não sabia que me sentiria assim ao chegar.
── Não... ── Neguei com a cabeça, abraçando meu próprio corpo. Patética.
Gally engoliu em seco, preso em um transe difícil de sair. Talvez estivesse pensando que me reconhecia de algum lugar. Ou não, até porque era meio impossível receber as memórias roubadas de volta.
── Uma... ── Ele engasgou nas próprias palavras, enquanto eu tentava permanecer quieta. ── Alby, temos um problema.
O garoto não tirava os olhos de mim, acho que temendo me perder de vista — mesmo que seja impossível — ou eu ser apenas uma ilusão de seu cérebro com fome.
── O que é? ── Uma risada cortou a tensão curiosa que se instalava entre nós dois. ── Tire logo ele daí, Gally!
── Não é... ── Ele coçou a garganta quando tentou manter segundos de contato visual comigo. Parecia curioso, já que sua sobrancelha estava arqueada. ── Acho que precisa ver com seus próprios olhos.
── Uma garota?
Assim que Alby proferiu as exatas palavras em um tom audível, eu poderia assumir que os rostos de todos eles estavam em puro choque. Digo, era esse o propósito, não é?
Os burburinhos começaram logo após, do tipo "vão começar a enviar garotas agora?", "por que dois de uma vez?", "nunca vi uma garota antes, mas ela é bonita" e por aí vai. Eu já sabia que isso iria acontecer, mas estando de fato acontecendo, é meio assustador.
Quando Alby fez menção ao se aproximar, eu recuei imediatamente, com as mãos inevitavelmente trêmulas. Só não sabia se isso fazia realmente parte do fingimento.
── Está tudo bem, não vamos te machucar. ── Ele assegurou, sem aquela carranca inicial e tocou no meu braço esquerdo. ── Newt, venha me ajudar. ── Eu congelo no mesmo lugar, engolindo em seco.
Newt. Meu deus, como eu sentia falta dele e isso rasgava meu peito todos os dias. Porém, ser melhor amiga dele não ajudou em não deixa-lo ir para o labirinto. Eu tinha apenas dezesseis anos na época, não sabia o que fazer para ele ficar comigo. Talvez eu ainda não saiba.
O loiro logo desceu para o elevador, obedecendo fielmente o primeiro no comando e caminhando até mim. Newt pegou meu braço direito, enquanto Alby segurava o outro, talvez estivessem com medo do que eu faria.
O choque do toque dele fez-me encolher automaticamente, mas não perceberam, pois me ajudaram a subir, fazendo assim eu ter aquela vista linda da clareira que só via pelas telas. Era totalmente fascinante.
── Ei, fedelha! Qual seu nome?
Então, eu percebi. Estavam todos me encarando penetrantemente, alguns até me assustaram. Abri a boca, mesmo não sabendo o que falar, mas nada saiu. Aqueles mesmos rostos familiares estavam ali, depois de anos.
Eu sinto tudo. Todos os sentimentos reprimidos ao longo dos anos. Tudo voltou. Ao encara-los e perceber que, sim, passou muito tempo desde a última vez, me faz querer chorar igual uma criança. Mas isso não está permitido.
Quando percebo a ardência crescer nos meus olhos, me contento com o que eu sei fazer de melhor. Fingir. Então, eu berro ao ver todos aqueles garotos me encarando, como se realmente estivesse assustada em estar junto de tanta testosterona.
── Meu deus ── Não consegui identificar o dono da voz, por causa da adrenalina e do quanto meu coração estava acelerado. ── Acho que fiquei surdo.
Contive a pequena risadinha que queria sair após vê-los de olhos com o rosto estupefatos e as mãos no ouvido para abafar o som do meu grito. Eles definitivamente não sabiam como garotas agiam.
E, em seguida — não me orgulho disso, porém foi o melhor que pude fazer nessa circustância —, ainda com a mesma expressão de menininha assustada, deixo meu corpo cair sobre o chão, fechando os olhos fortemente, agindo como se eu tivesse acabado de desmaiar.
Meu corpo estava rígido, enquanto sentia dois pares de mãos cuidadosas tentarem me posicionar sobre o que eu achava ser um tipo de maca. Fazia apenas alguns minutos que havia fechado os olhos, mas parecia ser uma eternidade.
E confesso, foi um pouco difícil escutar os gritos e risadas deles para Thomas e não abrir os olhos para ver o que estava acontecendo.
Eu queria levantar dessa posição desconfortável e comer algo, qualquer coisa, porém não podia. Principalmente porque escutei passos se aproximando e, mesmo sem saber quem era, eu sabia de quem os passos pertenciam.
── Clint, preciso de algo para cobrir um arranhão que fiz no... ── Uma voz bastante familiar, que não havia ouvido mais cedo, apareceu onde estávamos. Entretanto, pude senti-lo travar ao encarar minha silhueta inconsciente. ── Oh, oh. Que droga é essa?
── Ela chegou junto do novato ── Deu de ombros, como se fosse normal receber garotas todo mês. ── Talvez agora comecem a enviar garotas. Alby não te contou?
── Não! ── Respondeu, de forma completamente indignada. Então, Clint ficou em silêncio, provavelmente preparando algo para me fazer sentir melhor. ── Por que todo mundo está agindo normalmente? Ela provavelmente deve ter sido um dano colateral. ── Mordi minha bochecha, já que não podia revirar os olhos. Tecnicamente, eu era um dano colateral, mas eles não sabiam disso. ── Deveríamos dar essa trolha para os verdugos!
Verdugos. Mas, nem ferrando. Essas criaturas feitas excepcionalmente pelo CRUEL, são horripilantes e aterrorizantes. Parecem aranhas gigantes com sensores de movimento, me dá falta de ar só de pensar.
E esse trolho quer me matar? Como é que é?
Trolho? Ah, não. Meu Deus, acho que já estou sentindo os primeiros sintomas em ser a primeira clareana aqui. E não de uma forma amigável.
── Minho. ── Clint o repreendeu e soube que estava balançando a cabeça negativamente, rejeitando esse comportamento, mesmo que o outro não dê a mínima. ── Gally tentou falar com Newt, mas segundo ele, devemos trata-la como um de nós.
Contive a vontade de sorrir, apenas sentindo o efeito daquelas palavras sobre meu coração. Foi como assistir ao mais lindo pôr do sol. Era isso que eu mais gostava nele, Newt fazia de tudo para todos se sentirem acolhidos e incluídos.
── Que besteira ── Posso presumir que o garoto havia revirado os olhos. Eu também teria revirado os meus, se não estivessem fechados completamente.
Ele se aproximou, com a respiração ofegante pela corrida que havia feito no labirinto. Eu sabia disso. Há tempos eu os expectava, como se fosse meu programa de televisão favorito. A maior fã.
── Não chegue perto dela, Minho ── Clint tentou alerta-lo, porém esse garoto nunca escuta nada. Já era de se esperar, nem quando criança ele obedecia.
Senti sua mão direita tocar no meu cabelo, como se estivesse curioso com uma nova espécie, uma que nunca havia visto. Foi aí que tive que abrir os olhos.
Minha impulsividade falou mais alto.
Acertei minha mão na sua cabeça. Ou seja, um tapa. Ele cambaleou para trás, com as mãos cobrindo o local machucado. Desculpa, Minho, eu precisava parecer convincente o suficiente.
── Droga! ── Resmungou audivelmente, acariciando a cabeça.
Levantei, completamente assustada e meus olhos correram pelo lugar — que parecia ser um tipo de enfermaria — em busca de algo. Até que encontrei, meus dedos dormentes se enrolaram em volta daquele facão — nem eu sei porque eles guardavam aquilo aqui —, e rapidamente me movi para fora da maca.
── Não dê mais nenhum passo ── Eu exclamei, apontando a faca na direção dele, quando o vi tentando se aproximar.
Minho havia levado susto com a minha reação e, ao olhar para Clint, viu que não estava diferente, apenas com a boca aberta em choque. Respirei, cortando o ar dos meus pulmões, em ansiedade.
── Ei, calma... Não quis ofender ── Levantou as mãos, em sinal de rendição e logo virou a cabeça lentamente, sussurrando para o garoto socorrista. ── Clint, chame Newt. ── Soltou uma risada nervosa, assim que terminou de falar. O amigo assentiu e correu para fora da enfermaria.
Não deu nem um minuto direito, Newt vinha rapidamente para perto de nós, arregalando os olhos ao entender a situação.
O loiro colocou as mãos na frente do corpo, como uma maneira de tentar me intervir. Eu não o machucaria — nem em mil anos, fala sério —, mas ele não sabe disso.
Meu coração me traiu ao errar uma batida, assim que nossos olhos se conectaram. Parecia um choque de realidade. Confesso que senti uma imensa saudade da sua voz.
── Está tudo bem...
Tentou me tranquilizar, colocar um pouco de ordem naquele lugar, porém o interrompi, cortando essa mínima chance do garoto poder controlar sem Alby por perto.
── Não está! ── Eu gritei, fazendo-o dar um leve pulo pelo pequeno susto. Tenho que parar de gritar, daqui a pouco eles realmente vão me dar para os verdugos. ── Quem são vocês? Por que estou aqui? ── Minho fez uma careta ao ouvir as perguntas disparadas que saíam sem parar da minha boca. ── E por que sou a única garota?
Eu não estava os deixando responder de propósito, tentando manter a personagem desesperada. Quando ia fazer a próxima pergunta, Newt começa a falar, suspirando antecipadamente.
── Novata, calma ── Ele piscou lentamente, revezando o olhar entre mim e o objeto que seguro com toda a força do mundo. ── Precisa vir comigo. ── Finalmente o loiro deixou um mini sorriso escapar, provavelmente tentando passar conforto. ── Mas, primeiro, abaixe o facão.
FADE OUT
Estou emocionada em fi-
nalmente postar o primeiro
capítulo dessa fanfic que estou
me dedicando tanto para
escrevê-la!
Não mostrou muito as reações
do Thomas, porque lembrando:
estamos lendo no ponto de vista
da Olivia, então algumas coisas
podem estar mal explicadas,
pois é o jeito em que ela
enxerga aquilo.
Queria apenas dar uma última
palavra antes do próximo capí-
tulo. A Liv é linda e não sei quem
tem mais sorte nesse relaciona-
mento, o Newt ou ela.
- xoxo, lua💋
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