𝟷𝟹. 𝚃𝚒𝚖𝚎 𝙵𝚛𝚊𝚐𝚖𝚎𝚗𝚝𝚜
𝐴𝑙𝑙 𝑜𝑓 𝑡𝘩𝑖𝑠 𝑡𝑜 𝑠𝑎𝑦:
𝐼 𝘩𝑜𝑝𝑒 𝑦𝑜𝑢'𝑟𝑒 𝑜𝑘𝑎𝑦
𝐵𝑢𝑡 𝑦𝑜𝑢'𝑟𝑒 𝑡𝘩𝑒 𝑟𝑒𝑎𝑠𝑜𝑛
𝐴𝑛𝑑 𝑛𝑜 𝑜𝑛𝑒 𝘩𝑒𝑟𝑒'𝑠 𝑡𝑜 𝑏𝑙𝑎𝑚𝑒
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Lis e Steve voltaram para 2023 com um leve brilho dourado ao redor de suas figuras, o barulho suave da máquina de tempo desaparecendo atrás deles. A familiaridade do presente os envolveu novamente, e a realidade do mundo em que pertenciam se sobrepôs ao breve refúgio que haviam compartilhado.
Bruce, Sam e Bucky estavam de pé, à espera, observando-os com sorrisos satisfeitos. Sam, com os braços cruzados, foi o primeiro a quebrar o silêncio.
— Vocês conseguiram — ele disse, uma ponta de alívio na voz.
Bruce deu um pequeno aceno com a cabeça, estudando os monitores por um segundo antes de se virar para eles.
— Bem-vindos de volta. Aqui, não se passou mais que alguns momentos, mas pela expressão de vocês... — Ele sorriu de leve, olhando com curiosidade. — Diria que foi mais do que isso.
Bucky, sempre atento, manteve o olhar fixo em Steve e Lis, lendo nas expressões deles algo que os outros talvez não percebessem. Havia uma leveza ali, algo no modo como os dois se olhavam que não existia antes.
— Tudo certo, Steve? — perguntou Bucky, com um tom que só o melhor amigo entenderia.
Steve trocou um breve olhar com Lis antes de responder, os olhos dele carregando a profundidade de tudo o que havia acontecido nos últimos momentos.
— Sim, tudo certo. — ele disse, embora o peso de ter finalmente cumprido a missão e o que ela significava para ambos ainda pairasse no ar.
Lis olhou em volta, sentindo o peso da transição do tempo. Por mais que a missão estivesse completa, e por mais que nada houvesse mudado ao redor deles, ela sabia que algo dentro de si, e de Steve, havia mudado para sempre. O presente os recebia de volta, mas o eco do passado ainda sussurrava nos cantos de suas mentes.
A Stark sentiu o peso do tempo colidindo com sua mente assim que voltou à realidade de 2023. Por mais que tivessem retornado, uma inquietação pulsava em suas veias, algo que a viagem no tempo havia desencadeado. Era como se seu cérebro estivesse em overdrive, tentando processar tudo ao mesmo tempo: as memórias, as missões, o encontro com Howard Stark, o peso de carregar todo esse passado em si. Ela precisava se concentrar, resolver problemas, fazer algo com aquela energia acumulada.
Sem dizer uma palavra, ela começou a caminhar em direção às suas coisas, o olhar focado, determinada. O silêncio entre ela e Steve não era desconfortável, mas carregava um entendimento profundo. Ele a observava, conhecendo bem aqueles sinais. Sabia que, quando ela ficava assim, era melhor deixá-la ocupar a mente com trabalho. Mas também sabia que ela precisava de um lugar para canalizar tudo isso.
— Lis. — chamou Steve suavemente, mas firme o suficiente para chamar sua atenção.
Ela parou e virou-se, os olhos ainda carregados de pensamentos dispersos.
— Eu preciso trabalhar, Steve. Preciso de um lugar para... — ela fez um gesto vago, como se tentasse agarrar as palavras no ar. — Resolver. Processar. Sinto que minha cabeça está prestes a explodir com tudo isso.
Ele sorriu de leve, compreendendo mais do que ela imaginava.
— Eu sei. Eu te levo para a S.H.I.E.L.D. — disse ele, com aquela calma que sempre a ajudava a reencontrar um pouco de paz em meio ao caos.
Lis hesitou por um segundo. Parte dela queria apenas se isolar, mergulhar no trabalho e esquecer o que havia visto, o que havia sentido. Mas ao mesmo tempo, o tom seguro de Steve e a promessa implícita de apoio o tempo todo eram reconfortantes. Ela sabia que, não importa onde fosse, ele estaria ali.
— Ok. — ela suspirou, passando uma mão pelos cabelos. — A S.H.I.E.L.D. é um bom começo.
Steve assentiu, caminhando em sua direção, e quando ficou ao lado dela, colocou a mão nas costas de Lis, num gesto silencioso de apoio enquanto ambos seguiam em direção à saída.
Sabendo que, para ela, trabalho sempre foi um refúgio, ele apenas torcia para que, enquanto se afundava em suas pesquisas e planos, ela não se perdesse na agitação que corria em sua mente.
A viagem de carro foi silenciosa, mas carregada de pensamentos. Lis observava a paisagem de 2023 passar pela janela, com os reflexos das luzes da cidade projetando-se em seu rosto. Embora estivessem de volta ao presente, algo dentro dela ainda permanecia ancorado no passado. Os eventos recentes haviam mexido com ela de formas que não sabia explicar, e a necessidade de trabalhar, de se concentrar em algo tangível, era quase visceral.
Quando finalmente chegaram ao prédio onde Lis atuava como líder da S.H.I.E.L.D., ela soltou um suspiro, aliviada ao ver que tudo o que havia se esforçado para reconstruir ainda estava ali, intacto. Havia uma certa paz em saber que seu trabalho, mesmo após tudo que aconteceu, não havia sido em vão.
Steve estacionou o carro, desligando o motor. Ele observou Lis enquanto ela encarava o prédio. Seus olhos refletiam mais do que simples lembranças; eles carregavam uma mistura complexa de alívio e desconforto.
— Está tudo como você deixou. — comentou ele, com um sorriso tranquilo. — Parece que tudo sobreviveu ao caos.
Lis deu um sorriso fraco, mas não respondeu imediatamente. Por fora, o prédio estava intacto. As operações, provavelmente, estavam em pleno funcionamento. Mas o que ninguém sabia era como ela se sentia: como uma intrusa em seu próprio posto. A liderança da S.H.I.E.L.D. e das Indústrias Stark havia sido algo que ela lutara para assumir, mas depois de cinco anos longe, sem poder exercer seu papel, tudo parecia... diferente.
— É estranho, Steve — murmurou ela, finalmente quebrando o silêncio. — Voltar para uma posição que, tecnicamente, sempre foi minha, mas agora... me sinto uma penetra.
Ele franziu a testa levemente, inclinando-se em sua direção.
— Você não é uma penetra, Lis. Eles precisaram de você, ainda precisam. Você reconstruiu isso. O fato de ter ficado afastada por cinco anos não muda nada.
Ela balançou a cabeça, ainda olhando para o prédio.
— E se mudou? — ela sussurrou, sua voz quase um eco. — E se, nesses cinco anos, as coisas seguiram em frente, e eu... eu fiquei para trás? Voltar para a S.H.I.E.L.D., para as Indústrias Stark... é como se eu estivesse ocupando o lugar de outra pessoa. Eu as abandonei, Steve.
— Você não as abandonou. Você não teve escolha. — Steve tocou o ombro dela suavemente, a força em sua voz carregada de compreensão e empatia. — Eles seguiram em frente porque precisavam, mas isso não significa que você não seja essencial. Você é parte disso, Lis, parte de tudo isso.
Ela suspirou, sentindo o peso de suas palavras. Sabia que ele tinha razão, mas a culpa e o medo de ser irrelevante a corroíam por dentro.
— Parece que estou retomando algo que nem deveria ser meu. Como se, durante esses cinco anos, todos tivessem encontrado um novo caminho, menos eu — disse, finalmente admitindo o que a estava perturbando.
Steve olhou para ela por um momento, o silêncio entre eles carregado de significado.
— Você não perdeu seu caminho. Talvez você só precise de tempo para se lembrar de quem você é. — ele falou, a voz suave, mas firme. — E eu vou estar aqui, ao seu lado, o tempo todo.
Lis sorriu, com um brilho de gratidão nos olhos.
— Você sempre tem uma resposta pronta, não é?
Steve deu um sorriso de canto, abrindo a porta do carro.
— Nem sempre. Mas nesse caso, eu sei que estou certo. Vamos?
Ela assentiu e, juntos, saíram do carro. À medida que caminhavam em direção à entrada do prédio, Lis respirou fundo, tentando afastar as dúvidas e a incerteza. Talvez, com o tempo, ela pudesse encontrar seu lugar de novo. Talvez, como Steve disse, ela só precisasse se lembrar de quem era.
Eles entraram no prédio, a familiaridade do ambiente atingindo Lis como um vendaval. Pessoas que trabalhavam ali, muitas delas que haviam estado sob sua liderança antes do Blip, a cumprimentavam com acenos e olhares respeitosos. Apesar do tempo que passara longe, o respeito por ela ainda permanecia. Steve caminhava ao lado dela, trocando palavras e sorrisos com alguns funcionários que também o reconheciam. Ele tinha assumido algumas responsabilidades em sua ausência, e Lis sabia que ele havia mantido a S.H.I.E.L.D. em pé.
— Parece que você fez muitos amigos por aqui — ela comentou, com um leve sorriso.
— Bom, alguém tinha que segurar as pontas enquanto você estava fora — respondeu Steve, dando de ombros. — Não foi fácil preencher o seu lugar.
Eles passaram por mais alguns agentes antes de entrarem em uma ala mais restrita, onde as pesquisas confidenciais eram conduzidas. Lis olhava ao redor, tentando absorver tudo o que havia mudado, mas parte de sua mente ainda estava presa nas incertezas.
— Então, me conta — ela começou, olhando de relance para Steve. — O que você descobriu sobre a Hydra enquanto eu estava fora?
Steve fez uma pausa enquanto abria a porta de uma sala de conferências, acenando para que ela entrasse. Ele se apoiou na mesa, cruzando os braços enquanto ponderava a resposta.
— Encontramos algumas coisas. Não tanto quanto gostaríamos, mas o suficiente para saber que eles ainda têm raízes por aí. Nada organizado como antes, mas pequenos núcleos ainda estão operando — ele explicou. — E quanto a Grant Ward... ele também foi blipado.
Lis parou por um momento, processando a informação. Ward, um nome que ela não ouvia há tempos, mas que ainda lhe trazia um leve arrepio pela espinha.
— Ele foi blipado? — ela repetiu, surpresa. — E o que aconteceu com ele? Ainda tem alguma conexão com a Hydra?
Steve balançou a cabeça, pensativo.
— Não, pelo menos não que tenhamos descoberto. Depois que ele voltou, ele não parece ter mais nenhuma ligação direta com a Hydra. De alguma forma, ele... desapareceu do radar. Seja lá por que ele tentou sequestrar você anos atrás, ainda é uma incógnita. Mas, até onde sabemos, ele não representa uma ameaça ativa agora.
Lis suspirou, cruzando os braços e olhando para o chão. O nome de Ward trazia lembranças amargas de uma época em que a S.H.I.E.L.D. quase caiu, e quando sua própria vida esteve por um fio.
— É estranho pensar que ele ainda está por aí. Parece que, com o passar dos anos, as coisas que antes nos assombravam estão cada vez mais no passado. Mas, de certa forma, é como se eu ainda estivesse esperando que tudo voltasse — ela comentou, com a voz um pouco distante.
Steve a observou por um momento, tentando medir o que estava se passando em sua mente. Ele sabia que, para Lis, os fantasmas do passado nunca desapareciam completamente. Sejam traumas pessoais ou ameaças como a Hydra, tudo sempre parecia pairar ao redor dela.
— Pode ser que Ward nunca mude, Lis, mas você mudou. Você está em um lugar diferente agora — Steve disse, sua voz calma, mas cheia de firmeza. — E nós vamos lidar com qualquer coisa que surgir. Seja o que for.
Ela olhou para ele, com uma expressão que misturava ceticismo e gratidão. Mesmo depois de tudo, Steve sempre conseguia encontrar uma maneira de confortá-la.
— Você realmente nunca desiste de me acalmar, não é? — disse ela, arqueando uma sobrancelha, mas com um sorriso quase imperceptível.
— Não. — Ele sorriu de volta. — E também não vou deixar você fazer isso sozinha. Vamos trabalhar nisso juntos.
Lis cruzou os braços, olhando ao redor da sala com um leve sorriso no rosto, mas seu pensamento estava longe, focado em algo que pesava no fundo de sua mente. Por um momento, ela se permitiu sentir alívio ao ouvir que a Hydra parecia estar, pelo menos temporariamente, longe do radar. A ideia de estar distante de ameaças como essa era tranquilizadora, mas, ao mesmo tempo, uma parte dela sabia que a Hydra nunca realmente terminava. Ela havia visto isso mais vezes do que gostaria — a organização sempre ressurgia das cinzas, de alguma forma.
— Eu gostaria de acreditar que estamos finalmente livres deles, Steve. — Lis admitiu, sua voz baixa, quase pensativa. — Mas algo em mim sempre acha que eles vão voltar, de alguma maneira. E isso me assusta.
Steve se aproximou, colocando uma mão suave no ombro dela.
— Eu entendo. — ele respondeu. — Mas vamos estar prontos, como sempre estivemos. E agora temos ainda mais pessoas ao nosso lado.
Ela respirou fundo, absorvendo as palavras dele, mas sua mente estava já se movendo para outro lugar. A inquietude dentro dela não cedia, e ela sabia que havia algo mais que precisava fazer. Trabalhar. Resolver problemas. Isso sempre a ajudava a silenciar os pensamentos.
— Preciso ir ao laboratório. — disse ela de repente, afastando-se de Steve. — Minha cabeça está a mil, e preciso me focar em algo.
Steve apenas assentiu, sabendo como ela funcionava.
Eles caminharam em silêncio até o laboratório, e logo na entrada Lis avistou duas figuras familiares. Fitz e Simmons estavam mergulhados em algum experimento, cercados por equipamentos tecnológicos e monitores piscando. Ambos pareciam tão absortos que mal notaram a chegada dela e de Steve até que ela os cumprimentou.
— Ei, mentes brilhantes! — Lis chamou com um sorriso genuíno.
Fitz levantou os olhos primeiro, um sorriso imediatamente se espalhando em seu rosto.
— Ah, Lis! — ele exclamou, tirando os óculos de proteção. — Que bom te ver de volta! Perdemos você por aqui.
Simmons logo se virou também, os olhos brilhando com aquela curiosidade intelectual constante.
— Sempre ocupados, sempre inteligentes e encantadores. — Lis brincou, cruzando os braços com uma expressão de satisfação.
— Ah, por favor. — Jemma Simmons disse com um sorriso modesto, mas os dois claramente apreciaram o elogio.
— Bem, não tão encantadores quanto você, que acabou de viajar no tempo, pelo que soubemos. — Fitz acrescentou, piscando para ela.
Lis riu, mas havia uma tensão subjacente. Mesmo em meio às boas-vindas, sua mente continuava acelerada.
Ela se aproximou da bancada no laboratório e começou a mexer em alguns dispositivos, a mente já mergulhada em uma série de teorias. Como se tivesse apertado um interruptor, as palavras começaram a fluir.
— Bom, considerando o que aconteceu com a nossa viagem no tempo, eu estive pensando. — disse ela, seu tom rápido e intenso, enquanto Fitz e Simmons imediatamente sintonizavam na mesma frequência. — Se o espaço e o tempo são realmente fluidos, como estamos pensando, então, tecnicamente, nossa interferência não criou ramificações. Mas... e se os eventos são maleáveis ao ponto de influenciar múltiplas realidades sem que percebamos?
— Exatamente! — Fitz interrompeu, animado. — Isso vai de encontro à teoria de realidades divergentes, onde cada decisão cria uma ramificação, mas... se as ramificações forem tão sutis que não as notamos de imediato, o impacto ainda existe, certo?
— Sim, mas aí você entra na questão do determinismo. E se, no final, o destino de certas realidades for sempre o mesmo, independentemente de pequenas mudanças? — Simmons entrou no diálogo com a mesma empolgação.
— Essa é a parte intrigante. — continuou Lis, os olhos brilhando enquanto ela movia as mãos de forma expressiva. — Nós alteramos pequenos detalhes no passado, mas a linha principal da realidade parece se manter estável. Talvez haja uma força maior guiando certos eventos, como um "fluxo" que corrige tudo.
Steve, por outro lado, estava em outra dimensão. Ele observava o entusiasmo de Lis, a maneira como ela se movia, os olhos brilhando com a intensidade das teorias, a forma rápida e precisa com que ela articulava cada ideia. A cada vez que Simmons ou Fitz faziam um comentário inteligente, ela respondia à altura, acompanhando e expandindo as conversas. Para ele, era como se estivessem falando em outra língua.
Ciência nunca tinha sido o forte dele. Ele era mais prático. Ele sabia lutar, liderar... mas mexer com teorias de espaço e tempo? Isso era território completamente desconhecido. Ele mal entendia o básico do que estavam discutindo, e cada vez que um novo conceito era jogado na mesa, ele se sentia mais perdido.
Mas, mesmo sem entender metade da conversa, Steve não conseguia tirar os olhos dela. Com um sorriso bobo nos lábios, ele apenas observava Lis, a paixão que ela exalava, a maneira como falava com tanta segurança e inteligência. Para ele, ela ficava linda assim, completamente absorvida em algo que amava.
— Não que eu tenha entendido muito bem... — Steve finalmente murmurou, brincando, quando houve uma pausa na conversa entre os três. — Mas vocês parecem estar se divertindo.
Lis olhou para ele, percebendo o sorriso dele e rindo suavemente.
— Ah, Steve, você sabe... espaço-tempo, multiversos, coisas normais de segunda-feira. — ela disse com um brilho divertido nos olhos. Steve deu de ombros.
— Pra mim, é como se vocês estivessem falando em uma língua alienígena... mas eu gosto de ouvir você falar.
Lis sorriu para ele, sentindo o carinho na simplicidade do comentário. Enquanto ela se voltava para continuar a discussão com Fitz e Simmons, Steve continuou ali, observando-a com aquela expressão suave, absorvendo não as palavras, mas a pessoa que ele amava.
Com Fitz e Simmons já ocupados com seus próprios projetos, o laboratório ficou em silêncio, exceto pelo som dos rabiscos rápidos de Lis. Ela estava curvada sobre um caderno, desenhando diagramas e anotações com uma intensidade que Steve reconhecia. Era a mesma expressão que ela tinha quando algo estava fervilhando em sua mente, quando uma ideia a consumia por completo. Ele a observava com atenção, mas havia uma inquietação no ar que ele não conseguia ignorar.
— O que você está fazendo, Lis? — Steve perguntou finalmente, sua voz suave, mas carregada de curiosidade.
Ela não respondeu imediatamente, os olhos ainda fixos no papel à sua frente. Seu rosto estava iluminado pela tela de um computador próximo, onde ela havia aberto várias pastas com arquivos, fotos e dados. Steve deu um passo à frente, esperando que ela o incluísse naquele momento, como costumava fazer. Mas, para sua surpresa, quando Lis finalmente falou, havia uma barreira invisível entre eles.
— Não posso te dizer, Steve. — Sua voz era controlada, quase distante, como se ela estivesse deliberadamente se contendo.
Steve franziu a testa, sentindo uma onda de preocupação subir em seu peito. Não era como ela, não quando se tratava deles. Eles sempre foram abertos um com o outro, compartilhando medos e preocupações, especialmente depois de tudo o que haviam passado. Ele confiava nela completamente, mas o que poderia estar acontecendo para que ela decidisse não compartilhar isso com ele?
— Não pode me dizer? — Ele repetiu, a inquietação em seu tom. — Lis, o que está acontecendo?
Ela parou de escrever por um momento, os dedos ainda segurando a caneta, mas seus olhos continuavam fixos no papel, como se estivesse debatendo algo internamente. Ela suspirou, mas não olhou para ele, a tensão visível em seus ombros.
— Steve, eu... preciso trabalhar nisso sozinha, por enquanto. — Havia algo em sua voz, um tom que ele não gostava. Algo que soava mais como uma desculpa do que uma explicação.
Ele sentiu o peito apertar. A última coisa que ele queria era pressioná-la, especialmente depois de tudo o que tinham acabado de passar na viagem no tempo. Ele sabia que aquilo havia mexido profundamente com ela, mas algo a estava empurrando para longe dele, para um lugar que ele não conseguia alcançar.
— Você está bem? — Ele perguntou, tentando sondar de forma cuidadosa, mas ao mesmo tempo preocupado demais para deixar passar. — Desde que voltamos, parece que você está... distante.
Ela finalmente ergueu os olhos, seus dedos ainda segurando a caneta com firmeza. Havia uma luta silenciosa em seu olhar, e Steve sentiu o impacto. Ela estava dividida, claramente abalada por algo que ele não conseguia identificar. Algo que estava corroendo seus pensamentos, e agora a estava levando a esconder coisas dele.
— Eu só... preciso de um tempo pra processar tudo, tenho algumas ideias... Mas vai ficar tudo bem.
Steve a conhecia bem demais para acreditar que era só isso. Claro, a viagem havia sido intensa, mas ele podia ver que tinha algo mais. E o fato de ela estar escondendo aquilo, trabalhando em segredo, o deixava desconfortável. Sua mente já começava a se encher de possibilidades, cenários que ele não queria imaginar. Será que ela estava lidando com algum novo problema que não queria dividir com ele? Ou será que havia algo mais sombrio, algo que a estava consumindo sem que ele soubesse?
— E isso que você está fazendo agora, essa coisa que você não pode me contar... — Ele hesitou, olhando para o caderno. — Tem a ver com o seu pai? Ou com o Tony?
Lis mordeu o lábio inferior, hesitante por um momento. Ela olhou para o caderno como se estivesse pesando as opções, e então fechou-o com um movimento rápido.
— Talvez, mas é complicado. — A resposta dela foi evasiva, o que só fez a preocupação de Steve crescer. — Steve, confie em mim, ok? Eu só preciso de um pouco de espaço para entender isso tudo.
Ele deu um passo à frente, as mãos descansando suavemente nos ombros dela. Ele podia sentir a tensão acumulada ali, o peso das responsabilidades que ela carregava. Mas havia algo mais, algo que ele não conseguia decifrar.
— Eu confio em você, Lis. Sempre confiei. — Ele disse com suavidade, embora a inquietação não tivesse diminuído. — Mas me avisa se precisar de ajuda, tá? Não precisa passar por isso sozinha.
Ela assentiu, mas ele sentiu que aquilo não era o suficiente. Ela estava escondendo algo, e ele temia que, ao tentar lidar com isso sozinha, estivesse se colocando em um caminho perigoso.
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