ㅤㅤㅤ
ㅤㅤㅤ
ㅤㅤㅤ

ㅤㅤㅤ
ㅤㅤㅤ
ㅤㅤㅤ
Jade estava encarregada de alimentar os cavalos no estábulo. Enquanto realizava essa tarefa, a garota ouviu passos atrás de si e percebeu que Reiner, Bertholdt e Annie também haviam sido designados para alimentar os cavalos ali. Ela revirou os olhos e continuou enchendo o caixote com cenouras e maçãs, observando que Bertholdt se aproximou dela junto com Annie.

- Com licença, você poderia nos dizer onde encontramos mais aventais como esse? ─ questionou o moreno, apontando para o avental que ela usava.

- No depósito do quartel.

- Obrigada. ─ agradeceu Annie, saindo do estábulo em direção ao quartel.

Agora, a moça encontrava-se sozinha na presença daqueles dois rapazes, o que a deixou levemente constrangida, mas fez de tudo para não permitir que o nervosismo tomasse conta de seu corpo. "Bertholdt Hoover e Annie Leonhart provavelmente também estarão entre os 10 melhores da turma", pensou ela, apertando os punhos e considerando a possibilidade de não ficar entre os melhores. Apesar de ser uma das mais habilidosas entre todos os outros cadetes, Jade ainda se esforçava para ser a melhor entre os melhores. O primeiro lugar precisava de um dono, e seria ela.

- Ainda não fez amigos? ─ perguntou Reiner, aproximando-se de Jade e ficando ao lado dela.

- E isso é da sua conta? ─ respondeu ela com outra pergunta.

- Reiner... Ela não quer conversar.

- É, Reiner. Ouça seu amigo. ─ disse Jade, dando de ombros.

Era comum ver a jovem Fleury agir daquele jeito, sempre evitando fazer amizades ou se envolver com outras pessoas, mas era irritante a forma como ela agia sempre que alguém tentava se aproximar. Talvez fosse por isso que os cadetes não suportavam ela e a achavam mesquinha, exceto por Reiner e Bertholdt, que já tinham aquela personalidade por causa de Annie.

- AH! PULGUENTO! ─ gritou a garota dos cabelos claros, dando uma bofetada no focinho do cavalo, que relinchou em resposta.

- O que aconteceu!? ─ indagou Reiner, olhando-a assustado, observando uma marca vermelha na mão esquerda de Jade.

- O cavalo mordeu a mão dela... ─ respondeu o moreno, preocupado.

Preocupado com o estado da colega, Reiner tentou se aproximar dela para pegar na mão ferida, mas, por não ter medido sua força, acabou apertando o local e arrancando um grito de Jade. No impulso, a garota chutou a canela de Reiner, que escorregou e caiu no chão, sujando-se.

- Você é idiota ou o quê?! ─ perguntou Bertholdt, abaixando-se para ajudar o amigo caído.

- Por que você fez isso?! ─ Reiner vociferou, enfurecido, juntando um punhado de terra e atirando em direção à moça, sujando-a também.

- Isso é culpa sua! Eu não te dei o direito de me tocar, seu idiota! ─ reclamou Jade, escondendo a mão esquerda dentro de sua jaqueta.

- O quê...

Quando Keith entrou no estábulo, deparou-se com Reiner caído no chão, Bertholdt ao seu lado e Jade de pé, diante deles, em modo de defesa. Isso fez com que ele compreendesse que os dois rapazes haviam tentado fazer algo com ela, resultando em um castigo para os dois: dar banho em todos os cavalos e dar 500 voltas ao redor do quartel. Isso deixou Reiner e Bertholdt furiosos com Jade, que não teve a oportunidade de explicar o que realmente havia ocorrido naquele momento.
ㅤㅤㅤ
ㅤㅤㅤ
ㅤㅤㅤ

ㅤㅤㅤ
ㅤㅤㅤ
ㅤㅤㅤ
★ Jade Fleury ★

Apesar de estar sentindo culpa pelo fato dos rapazes estarem dando banho nos cavalos até agora, sou orgulhosa demais para ir me desculpar. Além disso, não estou nada disposta a cuidar dos cavalos ou a dar voltas pelo quartel, pois isso prejudicaria minha boa reputação. Imagina, eu, Jade Fleury, uma das melhores da 104ª turma de cadetes, sofrendo um castigo? De maneira alguma! Isso não combina comigo. Além disso, meu irmão jamais gostaria de saber que fui punida. Bem, ele está falecido, então tanto faz eu receber ou não um castigo.

Há algum tempo, venho percebendo olhares de hostilidade vindos dos outros cadetes, mas quem se importa? Provavelmente, sentem inveja de mim. Afinal, sou incrível! É natural que me odeiem por aspirarem a ser como eu, o que nunca ocorrerá, é claro. Daqui a um ano, estaremos nos formando e finalmente poderemos escolher em qual unidade do Reconhecimento queremos ingressar. E, como certamente estarei entre os 10 melhores, terei a chance de entrar para a Polícia Militar... Mas não é isso que desejo. Eu quero e preciso escapar desta prisão, desse aprisionamento que vivo desde o meu nascimento. Meu lugar é lá fora, explorando o desconhecido.

- Ei, garota. ─ uma voz surgiu atrás de mim, soando raivosa. No entanto, não consegui identificar a pessoa, então virei-me.

- Ah, é você. O que você quer?

- Aqueles dois imbecis não foram punidos por causa do que fizeram com você, não é verdade? Fala a verdade, vadiazinha de merda. ─ disse Annie, aproximando-se lentamente.

- Veio aqui para defender seus amigos, é? Ah, poupe-me, Leonhart! Tenho mais o que fazer...

Antes que eu pudesse concluir minha frase, Annie me agarrou, derrubando-me no chão e aplicando uma chave de braço em meu pescoço, esfregando meu rosto no solo.

- Escuta aqui, mesmo que não pareça... eu me importo demais com aqueles dois, então não ouse prejudicá-los novamente, senão juro que transformo sua vida em um inferno.

- Me solta, Annie! ─ balbuciei, quase sem ar, enquanto sentia lágrimas de agonia encherem meus olhos.

Na mesma hora em que a loira percebeu os espasmos do meu corpo, ela me soltou, deixando-me caída no chão. Respirei fundo para recuperar o fôlego. Enxuguei algumas lágrimas que haviam escapado e bati algumas vezes no meu peito, ainda um pouco tonta pelo que tinha ocorrido, mas atenta à forma como Annie me observava com desdém. Devo admitir que sempre tive um certo receio de me envolver com ela, agora compreendo o porquê.

- Aviso dado. Espero que tenha entendido, caso contrário, terei que encontrar algum lugar para esconder seu corpo. ─ sussurrou ela, retirando-se do local.

- Eu entendi, sim...

Após a surra que recebi, comecei a duvidar da minha capacidade de estar entre os melhores... Maldição, Leonhart! Foi uma humilhação, mas graças às Deusas, estávamos apenas nós duas no dormitório; caso contrário, me tornaria motivo de piadas.
ㅤㅤㅤ
ㅤㅤㅤ
ㅤㅤㅤ

ㅤㅤㅤ
ㅤㅤㅤ
ㅤㅤㅤ
Acordei e notei que algumas garotas me observavam, sendo elas: Christa, Sasha e Mina Carolina, todas com expressões preocupadas. Inicialmente, achei estranho aquele súbito comportamento, pois nunca havia recebido tal atenção, especialmente daquela maneira. Antes que eu pudesse me levantar, porém, uma dor percorreu todo o meu corpo e minha garganta começou a incomodar, fazendo-me perceber a situação: estava resfriada.

- Nem pense em sair da cama hoje, Jade! ─ era Sasha quem me acolhia, colocando uma mão na minha testa, enquanto a outra segurava a cabeceira da cama.

- Sua mão está enfaixada e você está ardendo em febre! Deveria parar de sair tão tarde, por isso adoeceu. ─ Christa acrescentou, com os braços cruzados.

- Não se preocupe, já avisamos que você está doente. Aliás, recomendaram que você vá até a enfermaria para ser examinada. ─ mencionou Mina Carolina, com um sorriso amável.

- Porra nenhuma! Não estou doente, posso muito bem ir treinar. ─ protestei, levantando-me rapidamente da cama.

Senti uma leve tontura ao fazer isso, e minha visão embaçou um pouco, mas logo me recuperei e desci da cama, ficando de pé. Andei lentamente até a porta do dormitório, apoiando-me na parede e olhando para as três garotas que me fitavam com preocupação.

- Estou bem, não perceberam? Basta um banho e essa febre vai embora. Podem ficar tranquilas, meninas. ─ falei, esboçando um sorriso falso, na tentativa de parecer bem.
ㅤㅤㅤ
ㅤㅤㅤ
ㅤㅤㅤ

ㅤㅤㅤ
ㅤㅤㅤ
ㅤㅤㅤ
• Narrador •

Enquanto tomava banho, Jade lembrou-se da expressão de raiva no rosto de Reiner. Aquela tinha sido a primeira vez em que ela o vira daquela maneira, pois o loiro estava sempre com um sorriso largo no rosto, ajudando e dando apoio a todos ao seu redor, sendo um verdadeiro irmão mais velho para todos. Por um momento, Jade sentiu remorso por ter levado Reiner e Bertholdt a serem punidos por algo que não havia acontecido, mas logo seu orgulho a dominou e ela decidiu que ficar calada seria melhor.

Pelo menos para ela.

Enquanto Jade sonhava em ser uma pessoa incrível como seu irmão, ela nem percebia que estava se tornando o oposto do que o rapaz representava. Austin era bondoso, honesto, gentil e se esforçava para ser uma boa pessoa, ao contrário de Jade, que alegava ser igual a ele. No entanto, ela era apenas uma mentirosa, falsa, hipócrita, egoísta e orgulhosa, e quem se importava? A garota não se importava, não passava de uma pessoa problemática.

- Talvez eu devesse me desculpar com eles. Mas só vou fazer isso no dia da formatura. ─ disse ela, consciente de que a formatura estava a um ano de distância.