
𝑹𝒆𝒂𝒍
Nos dias seguintes, Finnick permaneceu fiel à sua promessa, ajudando Dahlia a recuperar mais de suas memórias reprimidas e a descobrir a verdade por si mesma. Ele foi paciente e compassivo, nunca reclamando das constantes perguntas dela e respondendo a cada uma delas com o máximo de detalhes possível. E a cada dia, Dahlia se apaixonava mais e mais por ele. Porque sem Finnick, Dahlia não estava completa. Ele era o pedaço dela que estava faltando o tempo todo.
─ Sua cor favorita é azul. Real ou não?.
─ Real.
Com o incentivo dele, a vida de Dahlia começou a fazer mais sentido e todas as histórias começaram a se encaixar na linha do tempo de sua existência. Ela se lembrou de pessoas importantes que o Capitólio havia tentado apagar, relembrou suas experiências angustiantes nos Jogos e reviveu alguns dos piores momentos de sua vida. Encontrar sua mãe e irmã mortas, ver Lavender morrer nos Jogos, segurar Cove enquanto ela dava o último suspiro... Ela desprezava Snow e a Madame por terem roubado essas lembranças dela. Elas a haviam transformado na mulher que era, tornando-se sua razão para continuar lutando. Quanto mais ela começava a se lembrar, mais furiosa ficava.
─ O Capitólio me ensinou a manejar uma espada. Real ou não?.
─ Não é real.
Essa raiva só aumentou quando Finnick lhe contou a história de Alaric Silvers. Seu pai. Não por sangue ou legalidade, mas em todo o resto. O homem que a criou. O homem que a salvou. Ele a ensinou a sobreviver, a vencer e a suportar. E ela o ensinou a continuar lutando. Ela não estaria viva se não fosse por ele, e o Capitólio havia tirado isso dela. Eles mancharam seu legado e destruíram seu sacrifício. Ela nunca poderia perdoá-los por isso.
E quando ela finalmente criou coragem para assistir às filmagens de seus Jogos, Finnick ficou ao seu lado o tempo todo. Juntos, de mãos dadas, eles a viram se tornar uma assassina pela primeira vez. Apollo, a morte que se tornou o início de um massacre. Ela se forçou a assistir à morte de cada tributo, a cada vida que tirou, e a lembrar seus nomes. Porque se ela não o fizesse, quem o faria?.
Apollo, Crystal, Caspian, Victoria, Ryker, Jean... Wyatt.
Sete crianças que nunca tiveram a chance de crescer, por causa dela.
─ Não é real ─ Finnick lhe disse no momento em que ela pronunciou essas palavras.─ Por causa do Snow. A culpa é dele. Não sua.
Por causa do Snow.
Mas essas não foram as últimas vítimas de Dahlia. Havia aqueles que se machucaram ao longo do caminho simplesmente por estarem associados a ela.
Cove, Lavender, Annie, Rosie, sua mãe...
Aqueles que ela perdeu no Massacre Quaternário.
Alaric, Mags, Wiress e os outros membros da Aliança que caíram...
Aqueles que ela recebeu ordens para matar.
Juno, dezenas de rebeldes inocentes...
As listas poderiam continuar sem parar, e a culpa permaneceria para sempre. A culpa era real.
─ Mas você não pode deixar que isso controle sua vida.─ Finnick a aconselhou quando ela confidenciou a ele.─ O passado não pode ser mudado, esquecido, editado ou apagado. Ele só pode ser aceito.─ Se ele podia aceitar todas as coisas repugnantes que ela havia feito, então ela também podia. Não fazia sentido se apegar ao passado quando tudo o que ela podia ver era um futuro com ele. Mas antes que ela pudesse imaginar uma vida com Finnick, recebeu a visita da própria Presidente Coin.
─ Ouvi dizer que você está fazendo um grande progresso.─ A mulher refletiu enquanto caminhava pela sala com uma careta de julgamento no rosto. Dahlia não respondeu, apenas acenou com a cabeça enquanto pegava cegamente a mão de Finnick atrás de si. Era a primeira vez que ela se encontrava com Alma Coin e, até agora, não era uma grande fã. A mulher parecia estar cercando o casal entrelaçado como um falcão, tentando farejar qualquer sinal de fraqueza. Mas ela não conseguiria nada de Finnick e Dahlia. Eles eram impossíveis de serem decifrados e ainda mais fortes quando estavam juntos.─ Algum deslize?.
─ Nenhum.─ Dahlia respondeu obedientemente, mantendo os olhos no da Presidente o tempo todo. Sua experiência no Capitólio a ensinou a ser cautelosa com aqueles que gostavam de suas posições de poder. Não há como dizer o que eles fariam se esse poder fosse ameaçado.
─ Hmm.─ Coin cantarolou cinicamente, balançando a cabeça enquanto pensava profundamente ─ Você já teve algum ataque de... fúria homicida? Um desejo repentino de matar? ─ Dahlia olhou para trás para lançar um olhar de incredulidade a Finnick, mas ele tinha a mesma expressão de descrença em seu rosto.
Coin estava agindo como se Dahlia fosse um predador cercado de presas, lutando para suprimir sua fome e lutando para controlar seus impulsos selvagens. A Presidente não tinha nenhum conhecimento da situação, nenhuma ideia de que Dahlia estava em completo controle de si mesma. Coin só estava questionando Dahlia por causa de seus próprios medos, não por preocupação com a garota em si.
─ Algum momento de loucura ou raiva?.
─ Agora mesmo.─ Dahlia resmungou irritada, fazendo com que Finnick se abaixasse e abafasse sua risada em seu cabelo. Diante do olhar de confusão e suspeita de Coin, Dahlia respondeu rapidamente com uma resposta muito mais apropriada ─ Não, Senhora Presidente. Graças aos esforços de Finnick e Haymitch, eu fui completamente reabilitada.
A mulher olhou para os dois com cautela enquanto eles exibiam sorrisos inocentes, com o queixo de Finnick apoiado no ombro de Dahlia por trás e os braços dele envolvendo a cintura dela. Por fim, Coin ignorou o comportamento infantil deles e declarou.
─ Ótimo. Então, vocês dois estarão prontos para a ação se forem necessários.
─ Pronto para a ação? ─ Finnick repetiu, todo o humor desaparecendo de seu rosto enquanto ele apertava o corpo de Dahlia. ─ Você está querendo nos colocar em campo?.
─ Eventualmente.─ Coin confirmou, com um sorriso presunçoso puxando a borda de seus lábios.─ Vocês são dois dos melhores lutadores que os Jogos Vorazes já produziram. Suas habilidades são inestimáveis para a nossa causa. Mas todo mundo tem que fazer a sua parte no Distrito Treze e isso inclui os Vencedores. Espera-se que vocês provem sua lealdade.
Os olhos de Dahlia se voltaram para Finnick, que parecia desanimado com a sugestão de realmente lutar na guerra. Ele estava exausto. Ambos estavam. Nenhum deles queria deixar a bolha de paz que haviam criado nos últimos dias. Mas parecia que Coin tinha vindo para interromper sua feliz ilusão e reintroduzi-los à realidade externa. Eles não estavam interessados na guerra, mas a guerra estava interessada neles. E Dahlia sabia que seria difícil sair dessa.
─ Tudo bem.─ Dahlia cedeu sem muita discussão, surpreendendo Finnick e a Presidente Coin.─ Mas faremos isso em nossos próprios termos. Escolheremos nossa luta. Escolheremos quando e onde seremos enviados. E você não fará de nós seus peões pessoais em outra edição dos Jogos Vorazes.
Suas palavras não eram perguntas, eram afirmações. Dahlia não estava dando a Coin uma escolha. Era do jeito dela ou de jeito nenhum. E ela sabia que Coin precisava da dupla mais do que eles precisavam dela. Então, ela teve que concordar com os pedidos assertivos de Dahlia.
─ Tudo bem, Senhorita Blossom.─ Coin concedeu educadamente, seu sorriso caindo ligeiramente. Ela estava tentando disfarçar seu orgulho ferido, mas Dahlia podia ver que ela estava secretamente furiosa por dentro. Coin não gostava de ter seu poder desafiado e, no momento, ela estava tendo que ceder a muitas exigências dos vencedores. Isso estava começando a lhe dar nos nervos ─ Mas, no final, sua colocação final será decidida por mim, não importa qual seja sua própria decisão.
─ Veremos.─ respondeu Dahlia, resistindo às tentativas da mulher de recuperar o controle e reivindicar o domínio da conversa. Agora, mais irritada do que nunca, Coin deu meia-volta e saiu pela porta sem dizer mais nada.─ Temos certeza de que ela é uma opção melhor do que Snow?.
─ Nenhuma delas é particularmente ideal.─ Finnick murmurou em desaprovação, balançando seus corpos conectados para frente e para trás em conforto.─ Mas pelo menos Coin não tentou suprimir suas memórias e fazer uma lavagem cerebral para que você assassinasse os inimigos dela.
─ Ainda assim.─ Dahlia acrescentou sombriamente, sentindo que o líder do Distrito Treze não era seu maior fã.
Girando Dahlia pelos quadris até ficarem frente a frente, Finnick se inclinou para pressionar a testa contra a dela. Enquanto olhavam nos olhos um do outro, Finnick analisou a expressão dela e perguntou
─ Tem certeza de que está bem em participar dessa guerra?.
─ Na verdade, não.─ Dahlia respondeu com sinceridade, sabendo que não havia sentido em tentar mentir para Finnick quando ele a olhava com tanta atenção. ─ Mas estamos envolvidos nessa luta desde o início. Não podemos parar agora.─ Finnick podia ver o fogo ardendo nos olhos dela, como pedaços de carvão alimentando a chama da rebelião, e ele sabia que tinha sua Dahlia de volta. Instintivamente, as mãos dele subiram pelo corpo dela com um toque de penas enquanto ela continuava ─ Somos parte da razão pela qual a guerra começou. Deveríamos ser a razão pela qual ela chega ao fim.
Quando as mãos de Finnick alcançaram a mandíbula dela e se fixaram em suas bochechas, um sorriso orgulhoso apareceu em seu rosto.
─ Aí está minha florzinha.─ Ele murmurou com carinho, antes de fechar a distância entre eles e pressionar seus lábios nos dela.
Ele a beijou como um homem faminto saboreando a mais doce das frutas, com as mãos abraçando o rosto dela com tanto cuidado e desespero. Dahlia espelhou a paixão dele, serpenteando os dedos para agarrar a nuca dele e puxar os cabelos dourados que descansavam contra sua pele. Os meses de separação, os dias de dúvida e confusão, tudo isso estava sendo derramado nesse abraço ardente. Eles respiravam um ao outro como oxigênio, puxando seus corpos para mais perto até que suas almas pareciam se fundir em uma só. Finalmente, eles se sentiram completos. Finalmente, haviam encontrado seu lar. E era real.
Quando foram forçados a se separar para respirar, Dahlia sentiu as barreiras que a Madame havia construído em sua mente se abrirem e suas lembranças voltaram com força total. De repente, ela se lembrou de cada momento que havia compartilhado com Finnick. Cada toque persistente, cada sorriso vertiginoso, cada olhar de saudade.
Ela sempre o amou e, nos últimos dias, havia se apaixonado por ele mais uma vez.
Pegando a mão de Finnick com a sua, Dahlia sorriu para ele com um olhar de felicidade que ele desejava ver desde que a perdera. E então ela apertou sua mão três vezes.
─ Eu amo você, Finn. Eu te amo muito. ─ Ela anunciou com confiança, com lágrimas de felicidade se acumulando em seus olhos com a confissão ─ Mesmo quando eu não souber meu próprio nome, sempre me lembrarei do seu. Sempre me lembrarei de você, Finnick Odair.
Finnick não conseguiu se impedir de mergulhar de volta e capturar os lábios dela mais uma vez. Os dois se viram sorrindo durante o beijo, irradiando um brilho que rivalizava com o dos raios de sol.
─ Eu amo você, minha florzinha.─ Finnick murmurou entre dezenas de pequenos beijos, sempre insatisfeito quando tinha que se afastar. Ele tinha um desejo insaciável que somente Dahlia poderia satisfazer.
Mas enquanto eles permaneciam abraçados, um medo profundo atingiu Dahlia. Eles logo estariam entrando em uma zona de guerra. Quem sabia se eles conseguiriam sair vivos? Coin certamente não se importaria se eles vivessem ou morressem, mas Dahlia se importava. Ela se recusava a morrer sem se tornar oficialmente ligada a Finnick, e ele a ela. Ela sabia o que queria fazer.
Relutantemente, ao se separar de Finnick, Dahlia olhou para ele com olhos calorosos e declarou timidamente.
─ Você disse que um dia se casaria comigo... Real ou não?.
As sobrancelhas de Finnick se franziram em confusão com a pergunta repentina, agarrando-se às bochechas de Dahlia enquanto ele respondia.
─ Real.
Com um sorriso nervoso, Dahlia fez sua última pergunta.
─ Você ainda quer se casar comigo... agora? Real ou não?.
─ Real.
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