O primeiro ano de Dahlia como Mentora foi difícil, pois ela tentou lidar com a perda de sua mãe e irmã. Tripp e Astrid foram seus primeiros tributos, ambos mais jovens do que ela. Aos doze e treze anos, as chances de sobrevivência deles eram pequenas e Alaric lhe dizia repetidamente para não ter muitas esperanças. Mas ela não deu ouvidos. Ela dedicou toda a sua energia para ajudá-los, como ele havia feito com ela. Ensinou-lhes tudo o que sabia, passou adiante todas as informações que recebeu, guiou-os por cada estágio com precisão militar... Apenas para ver a morte horrível deles no banho de sangue. Foi uma experiência desanimadora, mas necessária. De repente, para Dahlia, fazia sentido o fato de Alaric ter se oposto tanto a ajudá-la no início.

Seu segundo ano como mentora também não deu muitos resultados, com a infeliz colheita de uma dupla de irmão e irmã. Eles foram separados em um banho de sangue e morreram sozinhos, longe um do outro. Dahlia sentiu um pedacinho de si mesma murchar a cada tributo que enviava à morte deles, então se fechou como uma flor que se recusava a desabrochar e liderou com a cabeça, não com o coração.

A única razão pela qual ela suportou a tortura da tutoria foi a rara alegria de ver Finnick no Capitólio. Para a dupla, certamente é verdade que a ausência faz o coração ficar mais apaixonado. Vê-los juntos tornou-se uma visão familiar para os vitoriosos que retornavam, que sabiam que os dois compartilhavam uma conexão que ninguém poderia começar a entender. Ela era a âncora na tempestade dele e ele era a luz na escuridão dela.

No entanto, Finnick estava escondendo dela certos aspectos de sua vida. Eles compartilhavam abertamente seus traumas um com o outro, muitas vezes discutindo seu tempo nos Jogos até tarde da noite. Mas ele nunca contava a ela sobre as coisas que Snow o obrigava a fazer. As mulheres para as quais ele foi vendido. Dahlia foi uma das pessoas que Snow usou para manipular Finnick, assim como Mags e Annie (que ele passou a ver como uma irmã mais nova). Ele se recusou a permitir que elas fossem prejudicadas e sabia que não deveria testar Snow, por isso cumpriu todas as exigências do Presidente. Sua única esperança era que Dahlia fosse poupada do mesmo destino.

Mas Snow estava recebendo muito interesse na jovem de muitos cidadãos de alto escalão do Capitólio. Quem era ele para negar a eles o que queriam? Dahlia não havia se comportado de forma estranha após o assassinato de sua família, mas ele nunca poderia ter certeza do que se passava na mente dela. Ela era um foguete esperando para explodir. Se ela ficasse muito confiante, poderia lhe causar alguns problemas irritantes. Era melhor lembrá-la de quem tinha o poder real, como apertar as rédeas de seu cavalo premiado.

─ Ah, senhorita Blossom.─Ele a cumprimentou educadamente quando ela entrou na sala.─ Por favor, sente-se.─ Dahlia fez o possível para disfarçar o terror que sentiu ao ver o homem tão de perto. Ela havia conseguido evitar a interação com ele desde a Turnê da Vitória, mas sua sorte obviamente havia se esgotado.─ Parabéns pela perda de seus tributos. Achei que o Distrito Cinco poderia ter outro vencedor em suas mãos.

─ Eles mostraram potencial.─ Dahlia concordou com a cabeça, desejando que suas mãos parassem de tremer tanto. ─ Mas as chances não estavam a favor deles dessa vez.

─ De fato.─ Snow cantarolou, analisando a garota com os olhos cheios de beiços. ─ Que pena, considerando o talento de seu mentor.

─ Presumo que você não tenha me chamado aqui para discutir a morte dos meus tributos. ─Dahlia respondeu com um sorriso discreto, tentando não desagradar Snow e, ao mesmo tempo, descobrir por que ela realmente estava aqui.Snow riu baixinho:

─ Você tem uma mente afiada, Srta.Blossom fico feliz por podermos pular as formalidades desnecessárias.─ Inclinando-se para frente sobre a escrivaninha, Snow junta as mãos para falar sobre o assunto propriamente dito.─ Você tem uma família muito pequena, não é? Apenas sua irmã mais nova, eu acho.─ Dahlia fica paralisada, já não gostando do rumo que a conversa está tomando. Ela consegue fazer um pequeno aceno de cabeça em resposta enquanto Snow a observa atentamente.

─ Vocês são próximos?.

─ Nós costumávamos ser.─Dahlia responde com amargura, engolindo o nó que se forma em sua garganta. A verdade é que Dália faria qualquer coisa por Lavender, mas a garota mais jovem não faria o mesmo.─ As coisas mudaram quando voltei dos Jogos.

─ Estou vendo.─Snow fica pensando, as engrenagens de seu cérebro mudando. Se Dahlia achava que poderia sair dessa alegando que seu relacionamento com os irmãos estava desgastado, ela estava sendo otimista demais. Ela sabia que não deveria subestimar Snow.

─ Mas eu sei que você se tornou muito próxima de alguns dos nossos Vencedores.─Com os punhos cerrados em pânico, o rosto de Dahlia permanece impassível para não revelar nada. Mas Snow sabe.Ele sempre sabe.─ O Sr. Silvers e o Sr. Odair, em particular... Seria uma pena se algo acontecesse com eles após a trágica perda de sua mãe e irmã.

Os dentes de Dahlia rangem de raiva e as unhas de seus dedos começam a se cravar dolorosamente na palma de sua mão enquanto ela tenta conter seu temperamento.

─ Onde você quer chegar com isso?.

O canto dos lábios de Snow se curvam com uma sugestão de sorriso. Ele a tem exatamente onde quer.

─ Tenho certeza de que está ciente da sua popularidade aqui no Capitólio, Srta. Blossom.

─ Você me lisonjeia demais.─Dahlia afirma com um tom direto, seus olhos se estreitaram em suspeita diante das palavras indiretas de Snow. Ela queria que ele fosse direto ao ponto.

─ Muitos dos meus cidadãos pagariam muito bem pelo prazer de sua companhia.─ Snow revela, um olhar sombrio se instala em seu rosto quando Dahlia se dá conta.─ Se você os atender, posso garantir que nenhum mal ocorrerá às pessoas com quem você se importa.

─ Você quer que eu venda meu corpo? ─ Dahlia pergunta horrorizada, lutando para manter os traços de repulsa em seu rosto.

─ Mente afiada, de fato.─ Snow observa com um aceno de cabeça, confirmando as suposições de Dahlia.─ Você já viu do que sou capaz, não viu, Srta. Blossom? ─ Flashes de encontrar sua mãe e Rosie com ferimentos de bala no crânio, lençóis encharcados de sangue. O grito que rasga sua própria garganta quando ela cai no chão. Snow sorri ao ver o olhar assombrado e distante nos olhos dela.─ Sim, acho que sim.

─ Só... Só para deixar claro ─a respiração de Dahlia fica entrecortada enquanto ela tenta conter as lágrimas.─ Se eu concordar com isso, as pessoas que eu amo estarão seguras.

─ Você tem minha palavra. ─Snow lhe garante com um sorriso sádico.

─ Eu não confio em sua palavra.─Dahlia se abre antes que seu cérebro possa impedi-la.─ Como sei que você não vai trair nosso acordo?.

Snow se recosta em sua luxuosa cadeira, sem querer admitir o quanto está impressionado com a confiança da garota.

─ Você é uma garota inteligente, Srta. Blossom.─ Ele murmura com uma inclinação da cabeça.─ Eu sempre me perguntei como uma garota normal do Distrito Cinco conseguiu se tornar um vitorioso tão temível. E agora eu tenho a resposta.─ Ele tem um brilho nos olhos ao observar a mulher de rosto duro à sua frente que, mesmo tendo tudo a perder e nada a ganhar, ousa morder a mão que acaricia sua cabeça.─ A beleza, Srta. Blossom, pode ser perigosa. Mas a inteligência... A inteligência é letal.

─ Não me importo muito com seus elogios, Presidente Snow. ─Dahlia afirma com firmeza, começando a perder a paciência com esse homem enquanto ele tenta andar em círculos ao redor dela. ─ Tampouco me interessa refletir sobre os eventos de meus Jogos. O que me interessa é a segurança daqueles que me são caros. As mesmas pessoas que você está ameaçando.─Seu tom é feroz e implacável, afiado o suficiente para cortar as defesas endurecidas de Snow.─ Então, vou perguntar novamente: como pretende me mostrar que nosso acordo não será traído?.

Com uma expressão ilegível, Snow contempla a pergunta e, mais importante, sua resposta. Essa batalha de raciocínio o divertiu e despertou seu interesse. Ele não se deixou enganar pelo caráter de Dahlia, como muitos outros no Capitólio, mas nunca imaginou que ela tivesse uma mente tão perspicaz escondida sob a superfície. Ela é uma garota teimosa, firme em suas crenças e com uma determinação que não pode ser subestimada. Ele se vê entendendo como ela conseguiu sobreviver por tanto tempo.

Rapidamente, ele tira a rosa branca da lapela de seu paletó e gira o caule entre os dedos. O aroma perfumado envolve seus sentidos com um buquê floral enquanto ele admira a perfeição da flor.

─ Sua mãe e seu pai devem ter sido bons jardineiros, Srta. Blossom, para dar a você e suas irmãs o nome de uma variedade tão grande de flores.

─ Na verdade, não. ─Dahlia diz, sem se divertir com o homem contornando a questão.─ Eles mal conseguiam manter vivas as plantas da casa. Minha mãe acabou se acostumando a decorar com plantas falsas.

─ Minha favorita é uma rosa.─ Snow divulga, segurando a rosa branca para que Dahlia a veja.─ Pura e perfeita. Uma flor sem defeitos.

─ Minha mãe costumava nos dizer que somente flores falsas são perfeitas.─ Dahlia argumenta, com os lábios franzidos em exasperação.─ Até as rosas mais bonitas têm seus espinhos.

Olhando para a rosa mais uma vez, Snow encontra um espinho minúsculo, porém afiado, saindo do caule.

─ Tem razão, Srta. Blossom.─Uma gota de inspiração perturba seu rio de pensamentos e uma ideia se forma em sua mente.─ Por que não selamos esse acordo com sangue? ─Ele não dá a Dahlia a chance de questioná-lo e pica o dedo no espinho, permitindo que seu sangue escorra ligeiramente antes de limpá-lo nas pétalas imaculadas.─ Senhorita Blossom?─Snow oferece a rosa à garota, que a examina com desconfiança.

─ Nenhum mal acontecerá àqueles com quem me preocupo? ─Dahlia verifica, ainda desconfiada com esse acordo.

Colocando a mão no peito para demonstrar sua honestidade, ele habilmente faz um voto:

─ Juro que eles não sofrerão por minhas mãos.─Mordendo o lábio inferior, Dahlia sente sua hesitação afundar.─ Minha oferta não será válida para sempre.─ Com a pressão sutil de Snow, ela arranca a rosa da mão dele e acrescenta seu próprio sangue ao acordo. O furo arde apenas por um momento, mas Dahlia segura o dedo em sua mão com o arrependimento inundando seu corpo.─ Foi um prazer fazer negócios com você, Srta. Blossom.

Snow tinha um sorriso diabólico no rosto, satisfeito com o acordo que havia sido fechado. Mas Dahlia não podia deixar de sentir que havia vendido sua alma ao diabo.