Dahlia não estava nervosa para sua avaliação de habilidades. Não como da última vez. Desta vez, ela tinha um plano e sabia exatamente o que precisava ser feito. Então, sentada ao lado de Alaric naqueles bancos de metal frio, não havia nenhum traço de medo em sua expressão e nenhum indício de trepidação em seu corpo. Apenas um olhar severo decorando suas feições e um brilho duro em seus olhos.

O único momento em que sua fachada fria vacilou foi quando Finnick sorriu para ela com um sorriso malicioso. Era tão fraco que quase ninguém notava uma mudança em suas feições. Mas Finnick conhecia todas as suas peculiaridades. A ligeira contração dos lábios dela mostrou a ele que ela estava disfarçando o próprio sorriso. Um leve abrandamento de seu olhar severo lhe deu um vislumbre da garota por trás da máscara. E o olhar de adoração reservado apenas para ele lembrou ao garoto pelo que ele estava lutando.

─ Distrito Quatro. Finnick Odair. Relatório para avaliação individual. ─Uma voz masculina sem emoção ecoa pela sala gelada, chamando o próximo tributo para se apresentar.

Finnick se recusou a mostrar a forma como seu coração se afundou no estômago ao ouvir o anúncio ou a forma como sua expressão arrogante caiu por um momento. Mas Dahlia podia ver através do ato. A ansiedade estava corroendo sua confiança e fazendo-o duvidar de si mesmo.

Ao se levantar, ele olhou sutilmente por cima do ombro para Dahlia, que estava sentada no banco atrás dele. A única garantia que ela podia lhe dar, sob tantos olhos atentos, era um aceno de cabeça encorajador. Mas, para Finnick, o simples fato de saber que ela estava torcendo por ele era todo o incentivo de que ele precisava. Com a confiança restaurada, ele entra na sala com um salto em seu passo.

─ Pare de se preocupar, Flor. Ele vai ficar bem. ─Alaric murmura em voz baixa, tomando cuidado para não chamar a atenção dos outros tributos.

Sem tirar o olhar da porta pela qual Finnick havia desaparecido, Dahlia sussurra uma resposta impassível:

─ Como você sabe que estou preocupada com ele?.

Alaric zomba levemente, virando-se para encarar a garota com um olhar de descrença ofendida e murmurando:

─ Porque eu conheço você, Flor. Você não pode esconder coisas de mim.

Não demorou muito para que o nome de Mags fosse chamado, depois o de Alaric, e logo Dahlia se viu desejando que o tempo passasse mais rápido. Paciência não era uma característica pela qual a garota era conhecida e ela não gostava de esperar que as coisas acontecessem. Ela ansiava por saber como havia sido a avaliação de Finnick, o que Mags havia apresentado, em qual estação Alaric havia se concentrado... Mas, principalmente, ela só queria acabar com essa merda.

─ Distrito Cinco. Dahlia Blossom. Apresente-se para avaliação individual. ─ O homem fala como um robô sem graça, mas Dahlia já havia se levantado de seu assento.

─ Finalmente.─Ela resmunga irritada, revirando os olhos enquanto passa pelos outros tributos. A única que reagiu à sua pequena explosão foi Johanna, que simplesmente riu como uma maníaca. Katniss parecia enojada com as duas garotas, demonstrando sua repulsa com os lábios franzidos e uma sacudida de cabeça.

Ao entrar na sala, Dahlia passa por Alaric, que parece satisfeito com o resultado de sua avaliação. O homem pisca para a garota de forma encorajadora antes de sussurrar:

─ Faça o seu pior.─Dahlia sorri e acena com a cabeça em sinal de concordância. Os tributos darão aos criadores de jogos um inferno absoluto.

─ Senhorita Blossom.─Plutarch a cumprimenta quando ela se aproxima do painel de homens elegantemente vestidos. Eles a encaram com olhos luxuriosos, olhando para ela de sua poderosa fortaleza, seguros de que ela não pode machucá-los quando eles estão protegidos por seu campo de força.─ Você tem 10 minutos para apresentar a habilidade que escolheu.

Muitos esperavam que ela usasse as lâminas que a haviam servido fielmente durante sua curta participação nos Jogos. Alguns propuseram a ideia de que ela surpreenderia a todos com uma nova habilidade que estava praticando em segredo, como sua grande revelação da última vez.

Ela definitivamente não poderia oferecer a eles uma flor de dahlia ensanguentada ou atirar uma flecha perto de suas cabeças. Todos esperavam que ela fizesse um grande show. O que ninguém esperava era a simplicidade da apresentação.

Ela não falou, não pegou uma arma. Em vez disso, submergindo as mãos na tinta, Dahlia ficou orgulhosa diante dos homens e desenhou um sorriso vermelho-sangue ao longo da pele de suas bochechas. Era a primeira vez que o símbolo icônico da Dahlia Negra era visto publicamente desde a brutalidade violenta do assassinato de Wyatt. Isso fez com que o painel se lembrasse de quem estava diante deles. Pois ela pode ser um vitorioso altamente admirado, mas era um Tributo notoriamente implacável.

A tinta vermelha cobria seus braços como mangas de sangue, pingando sem parar no chão de pedra. Seus olhos escuros, envoltos por um delineador preto, contribuíam para a imagem marcante de uma mulher sanguinária com um apetite perigoso pela anarquia. O infame olhar mortal estava em plena exibição enquanto Dahlia olhava para cada um dos homens que se moviam desconfortavelmente em seus assentos. De repente, eles se sentiram um pouco menos seguros.

Enquanto seus companheiros de jogo engoliam nervosamente e olhavam uns para os outros com inquietação, Plutarch se esforçava para evitar um sorriso. Alaric havia feito muitas promessas fantasiosas sobre a garota e, ele tinha que admitir, tinha suas dúvidas sobre ela. Mas aqui estava ela, provando que ele estava errado. Ela era uma lutadora nata com uma ferocidade que ele nunca poderia ter previsto. Um verdadeiro trunfo para quem quer que lhe fosse leal. E Plutarch ficou aliviado por ela não estar contra ele. Pois sua mensagem estava sendo transmitida em alto e bom som: A Dahlia Negra está de volta e não está para brincadeira.

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Entretanto, ao contrário da avaliação de habilidades, Dahlia estava incrivelmente nervosa para a entrevista com Caesar. Para isso, ela não tinha nenhum plano. Nada para chocar a plateia, nada para impressionar o público. Suas mãos estavam vazias. Ela não tinha nada a oferecer.

─ Lá está ela! ─Juno suspira, entrando na sala com um floreio extravagante.─ Minha pequena assassina, que performance impressionante você está fazendo.─Dahlia nem se dá ao trabalho de forçar um sorriso pouco convincente em seu rosto diante da tentativa de elogio da mulher.─ Você está deixando todos nós orgulhosos.

─ Estou sendo enviada para a minha morte, Juno. Não estou participando de um concurso de beleza.─Dahlia retruca com um tom agudo e uma expressão impassível. Ela despreza o quanto os cidadãos do Capitólio adoram os Jogos Vorazes. Eles são realmente cegos para a verdade e o sofrimento por trás disso.

─ Ora, ora.─Juno a repreende em uma voz cantante, sem se incomodar com o humor miserável da garota.─ Não devemos nos queixar da mão que nos foi dada, mas simplesmente aproveitar ao máximo as cartas que temos em mãos.─Dahlia revira os olhos diante da visão alegre da estilista sobre sua terrível situação. Ninguém no Capitólio teria sobrevivido ao que ela e os outros vitoriosos passaram. Certamente não sairiam de lá com seu otimismo e entusiasmo intactos.─ Vamos tirar essa carranca do seu rosto e começar a parecer o vitorioso ameaçador que eu sei que você é. Esta é a última vez que você será visto em público antes dos Jogos. Você precisa causar uma impressão duradoura.─Juno ordena, batendo as palmas duas vezes para iniciar a preparação.

Os assistentes correram ao sinal com maquiagem e produtos de cabelo nos braços e, sob a cuidadosa instrução de Juno, começaram a trabalhar na criação de um monstro. O olhar de Dahlia permaneceu permanentemente enraizado em seu rosto, mesmo quando o grupo de estilistas se agitava ao seu redor. Ela permitiu que eles fizessem seu trabalho em paz, mas isso não significava que ela iria fingir gratidão ou bondade. Não era isso que eles esperavam dela.

Finalmente, Juno tirou o vestido que havia criado para a última aparição de Dahlia. Preto, como sempre. Pouca cobertura, como de costume. Não havia nada de especial nele. Apenas um conjunto previsível que todos estariam esperando dela. Isso lhe ofereceu pouca inspiração para a entrevista e a deixou ainda mais desanimada do que antes.

De pé, sozinha em um pedestal, olhando para seu reflexo no espelho, Dahlia odiava a mulher que a olhava de volta. Ela estava desprovida de qualquer brilho, sem qualquer paixão. Não era ela, nem mesmo a Dahlia Negra. Era apenas a casca de uma pessoa. Pouco mais que um fantasma assombrado por sua própria mente.

─ Com licença.─O som de uma voz áspera, porém brincalhona, atrás dela fez com que Dahlia se virasse para encarar a porta. Alaric permanece na porta do quarto vazio, já vestido de preto e com uma caixa nos braços.─ Acho que vim para o quarto errado.─
Ele diz em tom de provocação, colocando a caixa em uma cadeira próxima para poder entrar na sala.─ Eu esperava encontrar a jovem obstinada e determinada que criei. Não uma garotinha que parece ter desistido antes mesmo de começar.─
Os olhos de Dahlia se endurecem em um olhar feroz que faz Alaric rir baixinho.─Ah, lá está ela.

─ Eu lhe disse que o encontraria nos bastidores. ─Dahlia responde severamente com um olhar incisivo.─ Não quero que as pessoas me vejam com isso por mais tempo do que o necessário.

Alaric olha para o traje revelador com um olhar de repulsa, que depois se transforma em um sorriso quando ele diz:

─ Não sei... Acho que o Finnick iria gostar bastante.

Com as bochechas coradas de calor e os olhos arregalados de horror, Dahlia salta do pedestal para dar um golpe firme no braço de Alaric. O homem apenas ri com vontade, aceitando o merecido golpe com dignidade.

─ Você veio aqui para me dar um incentivo para a entrevista ou para me envergonhar até a morte antes dos Jogos? ─Dahlia pergunta com um tom irritado, cruzando os braços sobre o peito como uma criança amuada.

─ Nenhum dos dois.─Alaric responde, fazendo com que o rosto de Dahlia se curve em confusão. Alaric sorri maliciosamente, sem revelar nada, enquanto Dahlia levanta uma sobrancelha em questionamento.─ Estou aqui para lhe dar uma mudança de roupa.─Isso deixa Dahlia com mais perguntas do que respostas antes de Alaric acabar com seu sofrimento.─ Dê uma olhada na caixa.

Ele acena com a cabeça para o pacote misterioso que a está provocando do outro lado da sala. Olhando com curiosidade para seu antigo mentor, Dahlia se aproxima da caixa com certa hesitação, imaginando o que poderia estar escondido lá dentro. Ao levantar a tampa com cuidado, seu coração para ao ver o objeto brilhando para ela. Lágrimas lhe saltam aos olhos e, desta vez, ela permite que elas caiam sem resistir.

─ C... Como... Por que...─Ela gagueja para encontrar algo a dizer, com todas as perguntas paradas na ponta da língua.

─ Para lembrá-lo de sobreviver por aqueles que você perdeu.─Alaric explica com tristeza enquanto Dahlia o olha com olhos agradecidos.─ E lutar por aqueles que ainda podemos salvar.

Essas palavras simples e o presente significativo de Alaric são tudo o que ela precisa para reencontrar seu espírito de luta. Ela sobrevive porque a morte ainda não está pronta para levá-la. Ela ainda tem trabalho a fazer, lutando arduamente pelas pessoas que não podem lutar por si mesmas. A revolução está chegando. E, com ela, um novo dia se iniciará. Dahlia só espera estar lá para se aquecer no calor de uma luz que ela ajudou a acender.

─ Obrigada.─Ela sussurra com sinceridade, com os olhos agora endurecidos pela determinação e o corpo revigorado pela força.

Alaric acena com a cabeça orgulhosamente para ela, antes de transmitir suas últimas palavras de incentivo:

─ Dê a eles um show.