Enquanto Jackson e Boggs explicavam a situação para Katniss, Gale, Mitchell, Homes e a equipe de filmagem, Finnick e Dahlia foram temporariamente colocados em observação de Peeta com as irmãs Leeg. Dahlia não protestou contra suas ordens, mas não tinha certeza se era sensato que ela fosse uma das primeiras pessoas que Peeta visse fora do confinamento. Da última vez que ele se lembrava dela, ela era um soldado do Capitólio, uma figura severa e imponente encarregada de mantê-lo na linha durante as entrevistas. Ela provou que estava certa no segundo em que os olhos de Peeta pousaram nela.

Todo o seu corpo ficou rígido, a cor rapidamente se esvaiu de seu rosto enquanto seus olhos começaram a lacrimejar. Ficou claro que ele estava absolutamente apavorado com ela, apesar do sorriso gentil que ela tentava dar. Seu lábio inferior tremeu enquanto ele murmurava trêmulo.

─ A... A Dahlia Negra.

─ Não, Peeta.─ Finnick rapidamente o assegurou, notando a mágoa nos olhos de Dahlia ao mencionar o que ela costumava ser e o medo que costumava inspirar nas pessoas.─ Ela não é assim.

─ Não é... Não é? ─ Peeta repetiu, olhando de um lado para o outro para a mulher que ele pensou ter reconhecido em confusão.

Sorrindo suavemente para o garoto sentado, Dahlia cuidadosamente se ajoelhou na frente dele e se apresentou.

─ Meu nome é Dahlia Odair. Prazer em conhecê-lo, Peeta Mellark.

O garoto não pareceu registrar completamente que o nome que ela havia dito era o seu, apesar de seus murmúrios maníacos para se lembrar de quem ele era. Mas ele notou que o primeiro nome era um que ele nunca tinha ouvido antes. Dahlia... Odair? Ele se lembrava vagamente de outra pessoa com esse sobrenome. Com as sobrancelhas franzidas enquanto lutava para recordar suas memórias, ele murmurou timidamente.

─ Houve um casamento... no Distrito Treze.

Dahlia sorriu com a lembrança de seu casamento e explicou.

─ Esse foi o meu casamento. Com Finnick.

De onde ele pairava atrás dela, um sorriso de adoração se espalhou nos lábios de Finnick ao ver o orgulho que Dahlia demonstrava pela união deles. Também foi uma bela visão vê-la sendo tão gentil e compreensiva com Peeta, quase como uma mãe confortaria seu filho. Era incomum vê-la baixar a guarda na frente de um grupo de estranhos, especialmente depois de tudo pelo que ela havia passado. Mas parece que suas experiências só serviram para torná-la mais empática. Afinal de contas, ninguém entendia melhor o que Peeta estava passando do que ela.

─ Eu fiz o bolo. Decorei-o também.─ Peeta murmurou ao se dar conta disso, suas feições se iluminaram só de lembrar de colocar a cobertura no bolo. Era quase terapêutico para ele, voltar às suas raízes e ao que ele sabia que era real.

─ Obrigado por fazer isso.─ Dahlia murmurou sua apreciação, vendo um olhar de surpresa se espalhar no rosto de Peeta pela gratidão e respeito que ela estava mostrando a ele. Ele estava acostumado com as pessoas o tratando como um vira-lata perigoso ou uma bomba prestes a explodir. Mas Dahlia e Finnick o tratavam como se ele fosse um homem comum. Como se ele fosse apenas um ser humano normal.

─ Foi lindo.

Um pequeno sorriso surgiu na borda dos lábios de Peeta em resposta ao elogio, seus olhos se desviaram entre as duas pessoas que lhe mostraram bondade. Mas assim que seu corpo começou a relaxar na companhia delas, Katniss passou pelo grupo e seus ombros ficaram tensos mais uma vez. Dahlia podia ver os pensamentos ressentidos que giravam em sua mente sobre a garota, lutando duramente contra o que ele achava que sabia e o que lhe haviam dito que era verdade. Ela conhecia a luta que ele estava enfrentando porque ela passava exatamente pela mesma coisa. E controlar os impulsos que o Capitólio havia programado neles era uma luta difícil de vencer sozinho. Peeta não poderia fazer isso sem Katniss, assim como Dahlia não poderia ter feito isso sem Finnick. Não importa o quanto tentassem negar, esses dois precisavam um do outro. Eles simplesmente não conseguiam ver isso ainda

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A noite desceu rapidamente e os soldados estavam alternando o turno de quem ficava de olho em Peeta. Katniss era quem estava de plantão naquele momento, enquanto o resto do esquadrão tentava ao máximo ignorar o som dos bombardeios à distância e descansar pelo menos algumas horas. Embora o chão frio de concreto não fosse o local mais confortável para dormir, Dahlia e Finnick conseguiram se aconchegar o máximo que puderam um ao outro. Com uma das mãos ainda segurando suas armas por precaução, Dahlia tinha a cabeça encostada no peito de Finnick enquanto ele a segurava ao seu lado. Mesmo dormindo, eles protegeriam um ao outro até o fim.

Eles conseguiram cochilar um pouco antes de Finnick acordar quando a voz de Peeta ficou mais alta de raiva. O movimento repentino de seu marido fez com que Dahlia temesse o pior, fazendo com que ela se levantasse em pânico e se preparasse para um ataque. Quando ela foi desembainhar sua lâmina, Finnick colocou sua mão sobre a dela, confortando-a.

─ Está tudo bem, Lia.─ Ele a assegurou em um sussurro calmo, afastando o cabelo do rosto dela enquanto tentava acalmar seu coração acelerado. Orientando-a a guardar a espada, ele esfregou os olhos cansados e murmurou ─ Desculpe por acordá-la.

Dahlia acenou com o pedido de desculpas com desdém porque, na verdade, não estava em um sono profundo, apenas cochilando em um sono leve. Era difícil encontrar paz de verdade em uma zona de guerra. Ela imaginava inimigos por toda parte, com olhos brilhando para ela na escuridão como lasers. Ela nunca conseguiria dormir direito até ter certeza de que eles estavam seguros.

Sua atenção logo foi atraída para a fonte do distúrbio, que estava olhando para os pés com vergonha e confusão.

─ Sinto muito.─ Peeta murmurou docilmente, evitando contato visual com todos ao seu redor.─ Eu simplesmente não consigo mais saber o que é real e o que é inventado.

─ Então pergunte.─ Finnick falou, sentindo a mão de Dahlia escorregar para a sua e a cabeça dela cair em seu ombro. Beijando delicadamente seus cabelos e sorrindo suavemente para ela, ele explicou ─ Foi o que Lia fez para ajudá-la a se lembrar.

─ Perguntar a quem? ─ Peeta questionou com amargura, sentindo-se sozinho e isolado, apesar de estar cercado de pessoas. Ele achava que nenhuma delas queria estar perto dele. Tudo o que eles viam era um traidor e um vira-lata. Eles não se importavam com o que ele tinha a dizer. Ou assim ele pensava.

─ Nós ─ Dahlia respondeu simplesmente enquanto Finnick e Jackson acenavam com a cabeça em concordância.─ Somos sua unidade agora. Temos que nos manter unidos.

A cabeça de Katniss pareceu cair diante daquelas palavras de união, a culpa dominando sua mente quando ela se lembrou de seu plano de partir com Gale. Dahlia e Finnick sempre a protegeram. Seguir com o plano parecia uma traição a tudo o que eles haviam sacrificado por ela. Eles arriscaram suas próprias vidas para protegê-la durante o massacre quaternário, perderam um ao outro nas consequências e agora a seguiram no meio de uma guerra quando poderiam ter ficado escondidos em segurança no Distrito Treze. Ela não podia abandoná-los depois de tudo isso.

Enquanto Katniss lutava consigo mesma para decidir qual seria o melhor curso de ação, a mente de Peeta estava cheia de dezenas de perguntas não respondidas que ele estava desesperado para saber a verdade. Havia tanta coisa que ele queria perguntar, tanta coisa que ele queria saber. No final, ele se fixou em um detalhe que nunca conseguiu esquecer.

─ Sua cor favorita é verde ─ A cabeça de Katniss se voltou para o garoto em choque, não esperando que ele se lembrasse disso nem que perguntasse a ela sobre isso.─ Isso é real?

Dahlia notou que os olhos da garota se suavizaram com a pergunta, balançando a cabeça lentamente enquanto respondia:

─ Sim. Isso é real ─ Então, as palavras seguintes escaparam de seus lábios antes que ela tivesse a chance de detê-las ─ O seu é laranja ─ Peeta olhou para cima com surpresa, observando Katniss cuidadosamente enquanto ela elaborava ─ Não é laranja brilhante. Suave, como o pôr do sol.

─ Obrigado ─ Peeta murmurou, olhando para o espaço enquanto seus olhos brilhavam em reconhecimento.

Katniss observou a reação dele, o espírito se elevando com esperança quando ela viu o lampejo de lembrança. Estimulada por esse pequeno momento de otimismo, ela continuou.

─ Você é um pintor. Você é um padeiro ─ Peeta levantou a cabeça para ouvir enquanto os olhos de Katniss se enchiam de lágrimas de melancolia.─ Você sempre dorme com as janelas abertas. Nunca põe açúcar no chá. Você sempre dá um nó duplo nos cadarços dos sapatos.─ Mas as emoções se tornaram muito fortes para ela, um caroço apareceu no fundo de sua garganta enquanto ela balançava a cabeça desesperadamente.─ Você estava certo ─ Ela murmurou para Jackson em derrota, pegando seu arco enquanto Peeta a observava ir embora e Dahlia e Finnick suspiravam em desapontamento.─ Eu não posso fazer isso.

Enquanto Katniss jogava suas coisas no chão ao lado de Gale e caía ao lado dele, Dahlia se virou para Finnick.

─ Coin quer usar Peeta contra Katniss da mesma forma que Snow tentou me usar contra você.─ Ela sussurrou para ele, olhando para Peeta com o canto do olho e vendo que ele estava olhando com saudade para o local onde Katniss estava sentada.─ Agora que o fim da guerra está à vista, ela não precisa mais do Tordo.

Ela quer Katniss fora de cena.

─ Coin vê Katniss como uma ameaça.─ Finnick murmurou, percebendo imediatamente do que sua esposa estava falando. Tanto Coin quanto Snow estavam subestimando o efeito poderoso que o amor poderia ter em uma alma perdida e, em vez disso, confiando na dor devastadora que uma emoção tão forte pode causar.

Ao destruir Katniss com algo que ela amava, Coin esperava enfraquecê-la ou até mesmo matá-la antes que a influência do Tordo se tornasse forte demais para competir com ela.Acenando com a cabeça em concordância, Dahlia resmungou.

─ Ela deve ter percebido que ninguém fora de seu próprio distrito gosta tanto dela assim.

Finnick bufou divertido e comentou sarcasticamente.

─ Qual será a alma corajosa que teve a coragem de lhe dizer isso na cara?

Mas enquanto Finnick ria baixinho para si mesmo, uma pontada de horror de repente atingiu Dahlia.

─ Eu ─ Ela respondeu em meio ao choque, fazendo com que a risada de Finnick parasse imediatamente.─ Fui eu.

Em quem você acha que os distritos acreditarão?

Ela havia provocado Coin com sua popularidade reduzida em comparação com a do Tordo e agora a Presidente estava agindo. Dahlia sabia que a mulher não gostaria de ceder seu poder, mas nunca pensou que ela usaria Peeta como uma arma para ajudá-la a manter o controle. Esse tipo de exploração era algo que ela só esperava de um presidente diferente. Um que eles estavam atualmente tentando derrubar. E ocorreu a Dahlia que talvez eles estivessem trocando um ditador sem coração por outro.

─ Não podemos deixar que Coin tenha sucesso nisso.─ Dahlia declarou apaixonadamente a Finnick.─ Não vou deixar que ela transforme Peeta em seu bode expiatório.

─ Prometo que não deixaremos isso acontecer ─ Finnick assegurou a ela, alisando sua mão ao longo de seu cabelo enquanto a sentia ficar angustiada com a ideia de Peeta ser usado como ela tinha sido. ─ Nós vamos proteger os dois, certo?─ Com as palavras de consolo e o olhar suave de Finnick, Dahlia se acalmou sob seu toque.─ Mas nada vai acontecer hoje à noite e você precisa descansar, florzinha.

─ Você também.─ Dahlia retrucou com os olhos estreitados de forma brincalhona, apontando para ele com um olhar severo de repreensão.

Rindo da adorável insistência dela em cuidar dele, Finnick acenou com a cabeça em sinal de concordância e se abaixou com os braços estendidos.

─ Venha cá, então.─ Ele acenou para que ela o abraçasse, recusando-se a dormir sem que ela o abraçasse. E Dahlia ficou mais do que feliz em obedecer.

Enquanto isso, do outro lado da extensão de seu abrigo temporário, Gale murmurava para Katniss com desapontamento.

─ Acho que não vamos mais embora.

─ Não vamos a lugar nenhum sem esse Holo.─ Katniss respondeu com determinação antes de seus olhos se voltarem para onde Dahlia e Finnick estavam descansando.─ E eu não vou deixar Finnick e Dahls para trás.