─ Eu me ofereço como tributo.

Sua voz ecoa pela multidão com uma força que Dahlia nunca sentiu que poderia ter. Mil pensamentos sussurrantes corriam em sua cabeça como um tornado, mas um era mais alto do que todos os outros. Não vou deixar que levem minha irmã.

─ Temos um voluntário.─ Magenta anuncia com entusiasmo, batendo palmas enquanto Dahlia surge. Seus jogos acabaram de começar. Ela sabe que precisa entrar no jogo se quiser voltar para casa viva. Ela não pode deixar que vejam o quanto ela tem medo, em vez disso, ela deve se tornar alguém que os outros temerão. Com os ombros para trás e o queixo erguido, ela caminha em direção aos pacificadores sem nenhum sinal de terror em seu rosto.

─ Dahlia.─ Lavender sussurra em choque enquanto sua irmã avança confiante. A fachada de Dahlia quase se rompe ao ver o rosto de coração partido da garota quando Lavender tenta agarrar sua mão.

─ Não! Dahlia! ─Ela grita enquanto é arrastada por um pacificador. Lavender luta e se debate nos braços do soldado, mas ela não é páreo para ele. Dahlia continua determinada, bloqueando os gritos da irmã e franzindo os lábios para conter as lágrimas.

Alaric se levanta com interesse. Em todos os seus anos, ele nunca tinha visto um tributo do Distrito Cinco parecer tão ameaçador quanto uma Carreira. Mas aqui estava uma garota para provar que ele estava errado. Ela subiu os degraus do palco como se já fosse a vencedora e se posicionou de forma assertiva na frente da multidão. Sem mencionar que o tom escuro de seu vestido e cabelo a destacava entre seus colegas. Como se a própria Morte tivesse subido ao palco.

─ Agora, minha querida, qual é o seu nome? ─ Magenta pergunta enquanto Dahlia olha para a multidão com um rosto impassível. Ela vê sua mãe e suas irmãs se amontoando na parte de trás e tem que desviar os olhos rapidamente. Haveria tempo para chorar quando seu rosto não estivesse sendo transmitido para todos os seus concorrentes.

─ Dahlia Blossom.─ Ela responde calmamente, apesar de sentir como se tivesse acabado de colocar seu pescoço no laço do carrasco.

─ Oh, que nobre. Ser voluntário para uma irmã. Maravilhoso.─ Magenta proclama como se fosse uma honra para Dahlia se voluntariar para morrer. Ele tenta incentivar a multidão a aplaudir batendo palmas bem alto no microfone. Seu público não está muito entusiasmado em obedecer. ─ Certo, bem... Passando rapidamente para os garotos.─ Dahlia olha fixamente para a frente, sem se virar para ver como Magenta gira os nomes com um sorriso no rosto. Seu estômago afunda com a percepção do que ela fez e ela precisa de todas as suas forças para não vomitar a refeição desta manhã na primeira fila. Ela precisa se lembrar de que o Capitólio e os outros tributos observarão as colheitas de perto. Ela precisa manter a calma e causar uma boa impressão.─ Wyatt Armstrong.

A multidão se dispersou como uma onda para revelar um garoto, mais velho que Dahlia, com cabelos castanhos bem penteados e uma expressão horrorizada. Ele definitivamente precisava de uma lição para mascarar suas emoções, pois parecia usar o coração na manga. Os pés de Wyatt Armstrong se recusavam a se mover, como se seus sapatos estivessem colados ao chão. Dahlia podia ver sua forma trêmula, mesmo do palco, quando um dos meninos ao lado dele o empurrou para frente. Lentamente, ele arrasta os pés pelo cascalho, olhando em volta na esperança de que alguém pudesse se oferecer para ele, como Dahlia havia feito com Lavender. Mas ninguém consegue olhar para ele.

As sobrancelhas de Dahlia se franzem quando os sapatos de Wyatt param e sua respiração se acelera. Então, ele faz a pior coisa que poderia ter feito: Ele tenta fugir. Empurrando um pacificador para longe, ele corre de volta para o corredor enquanto os espectadores se afastam em choque. Magenta suspira dramaticamente com a reviravolta dos acontecimentos, mas Dahlia garante que seu rosto permaneça rígido. A tentativa é inútil, pois ele é agarrado por vários pacificadores e facilmente subjugado. Wyatt soluça desesperadamente enquanto os pacificadores o levam de volta ao palco, onde Magenta tem de agarrar o braço do garoto para puxá-lo pelas escadas.

─ Bem, no final das contas, chegamos lá.─ Magenta comenta, tentando aliviar a tensão na área. Não é preciso dizer que ele não teve sucesso. ─ Nossos Tributos do Distrito Cinco.─ Seus braços se estendem para apresentar os dois infelizes às crianças sortudas que sobreviveram a mais um ano. Dahlia se mantém alta e forte em comparação com os gritos de desespero vindos de Wyatt. ─ Agora, sejam bons esportistas e apertem as mãos, vocês dois.─ Magenta vira Wyatt pelos ombros e o força a se aproximar de Dahlia, que já está esperando com a mão estendida.

Quando ele relutantemente coloca sua mão na dela, Dahlia a segura com força.

─ Controle-se. ─ Ela sibila para o garoto choroso antes de soltá-lo e se virar para a multidão com um sorriso apertado. Ela sabe que é duro, mas este mundo o derrotará repetidas vezes até que você se curve a todas as suas vontades. Dahlia não quer dar muita satisfação ao Capitol. Se eles quiserem um show, ela ficará feliz em dar-lhes um. Desde que eles a recompensem levando-a para casa em segurança.

─ Feliz Jogos Vorazes e que as chances estejam sempre a seu favor.─ Magenta pronunciou com um último floreio de sua mão. Ele fez um gesto para que Dahlia e Wyatt entrassem no Edifício da Justiça, ao que a garota obedeceu com uma compostura majestosa. Wyatt, por outro lado, ficou congelado onde estava. Magenta, resmungando o tempo todo, teve de tirá-lo do lugar e puxá-lo para longe do palco.

Dahlia foi direcionada para uma sala grande, mobiliada com poltronas pretas de pelúcia, nas quais ela imediatamente se acomodou. Agora, sem câmeras à vista, ela cobre o rosto com as palmas das mãos enquanto suas emoções reprimidas inundam seu corpo. O que ela fez? Ela salvou sua irmã, mas pode ter se perdido. Os Jogos Vorazes têm um jeito de trazer à tona o que há de pior nas pessoas, e Dahlia realmente não quer conhecer a pessoa que está prestes a se tornar.

─ Você é tão estúpida, Dahlia! Por que você faria isso? ─ Lavender grita quando sua família entra pela porta. Dahlia se levanta da cadeira bem a tempo de pegar sua irmã histérica que se lança em sua direção.

─ Eu lhe fiz uma promessa, Lav. E pretendo cumpri-la.─ Dahlia responde, finalmente permitindo que as lágrimas escorram pelo rosto enquanto ela se agarra a Lavender. Joule e Rosie se juntaram ao abraço, lembrando Dahlia de seu abraço em grupo na cozinha. Como ela gostaria de poder voltar àquele momento. Apenas algumas horas antes, ela não era a homenageada do Distrito Cinco. Ela não estava se preparando para deixar sua família pelo que poderia ser a última vez. Ela não estava sendo mandada embora para lutar por sua vida.

Lágrimas escorrendo infinitamente pelo rosto, Lavender murmura no ouvido da irmã:

─Você tem que vencer.

─ Vou tentar, Lav. ─ Dahlia sussurra entre fungadas, sem querer dar esperanças à irmã. Vinte e quatro tributos entram na arena e apenas um sai vivo. As chances não parecem estar a favor de Dahlia.

─ Não. ─Lavender declara com força, afastando-se do abraço. ─Você tem que vencer. Não há outra opção. Estou presa a você, lembra? Você tem que manter essa promessa também.

Dahlia olha em volta para os rostos de sua família, tentando memorizar cada pequeno detalhe. Sua mãe, Joule, que trabalha incansavelmente para apoiá-los e sempre coloca suas necessidades em primeiro lugar. Sua irmã, Lavender, que Dahlia sabe que fará grandes coisas um dia. E depois, a pequena Rosie. O bebê da família e a mais inocente de todas. Como ela suportaria deixá-las?

─ Ela tem razão, minha flor.─ Sua mãe deu um passo à frente, segurando a bochecha da menina. Joule mal conseguia se controlar, mas tentava não deixar que Dahlia visse seu medo. ─ Você é inteligente e aprende rápido. Você pode vencer isso... E precisa vencer.

─ Eu acredito em você, Dahlia.─ Rosie murmura suavemente, olhando para sua irmã mais velha, sua heroína, com grandes olhos castanhos.

Dahlia se ajoelha com um sorriso cheio de lágrimas e abraça a garotinha.

─ Isso é tudo o que eu preciso.─Ela murmura no ouvido de Rosie, dando um beijo carinhoso na bochecha da menina. Ela se levanta enquanto enxuga as lágrimas.─ Você terá a cama só para você, Rosie.

A jovem balança a cabeça vigorosamente enquanto começa a chorar.

─ Eu não quero a cama inteira. Eu quero você.─ Rosie envolve os braços na cintura de Dahlia e soluça sobre o material preto. ─ Por favor, volte.

─ Eu vou.─ Dahlia murmura, esfregando as costas de Rosie enquanto seus olhos se fixam em Lavender. Desta vez, ela diz com mais confiança ─ Eu vou.

Joule respira fundo enquanto enxuga suas próprias bochechas.

─ Tudo o que eles querem é um show, minha flor... Dê a eles o que eles querem.

Dahlia acena com a cabeça antes de correr para os braços de sua mãe. Ela se sente como uma garotinha novamente quando é envolvida pelo calor de sua mãe. É uma pena que, neste mundo, as meninas não permaneçam pequenas por muito tempo.

─ Eu te amo, mamãe.

─ Eu te amo...

─ Acabou o tempo! ─ Um pacificador anuncia quando as portas se abrem dramaticamente. O coração de Dahlia cai quando eles reúnem sua família para conduzi-los para fora. Lavender rapidamente agarra a mão de Dahlia e a aperta três vezes. Dahlia repete a mensagem antes que suas mãos sejam arrancadas e Lavender seja, mais uma vez, arrastada por um pacificador. A porta se fecha atrás delas e Dahlia é deixada sozinha. Ela se recosta no assento, com as unhas cravadas no couro.

Se ela tiver alguma chance de vencer, precisará ser inteligente. As táticas são tão importantes quanto as habilidades, e ela precisará aprender o máximo possível. Mas, acima de tudo, ela deve se apresentar para o Capitol. Interprete um personagem em uma tela. Os olhos de Panem a estão observando agora, esperando para descobrir quem ela é.

Tudo o que eles querem é um show... Dê a eles o que eles querem.