Finnick!

O grito de Dahlia fez com que o garoto acordasse, seu corpo encharcado de suor enquanto ele lutava para respirar. O rosto dela assombrava sua mente a cada hora do dia e agora seu sono era atormentado pelos gritos dela. Ele não encontraria paz até que ela voltasse para o seu lado e não poderia se permitir descansar enquanto soubesse que ela estava em perigo.

Seus dedos se contorceram em agitação, fazendo-o estender a mão em busca de uma corda para tecer e ocupar seus pensamentos acelerados. O fio era azul, como o bracelete que ele havia feito para ela há muitos anos. Aquela que ele prometeu refazer, mas nunca o fez. Oh, o quanto ele se arrepende disso agora. Soluços abafados escaparam de seus lábios enquanto ele murmurava mais promessas quebradas e vazias sob sua respiração, espere por mim... eu a encontrarei... aguente firme... Logo estarei aí.Mas será que ele realmente conseguiria cumprir suas promessas desta vez? Ele não sabia, mas Finnick agora sabia como era a sensação de perder a cabeça lentamente.

─ Finnick. ─A voz áspera de Katniss fez com que ele ficasse tenso no lugar e seus dedos parassem de tecer.

Aparentemente, ele não estava conseguindo silenciar seus gritos tão bem quanto pensava. Ele nem sequer a tinha ouvido entrar. Agora que ela estava aqui, ele não conseguia suportar olhar para ela. Dahlia sacrificou tudo para resgatar o tordo e o que ela ganhou com isso? Nada.

─ Eu queria voltar por Peeta e Johanna e...─ Finnick se sentiu tão patético. Ele não conseguia nem dizer o nome dela sem que as lágrimas atrapalhassem sua visão. Inalando bruscamente, ele continuou a torcer a corda, mas com mais violência dessa vez, canalizando toda a sua raiva e frustração em cada movimento.─ Mas eu, uh... eu não conseguia me mexer.

Katniss não respondeu. Ela apenas olhou para o garoto debruçado sobre a cama com seus nós de corda. Diante do silêncio dela, Finnick finalmente levantou a cabeça e permitiu que ela visse o quanto ele estava quebrado. O vitorioso, que fora forte, havia se desintegrado para revelar o esqueleto de um homem que havia perdido seu propósito na vida. E isso não estava longe da verdade. Sua pele estava tão pálida que alguém poderia confundi-lo com um fantasma vagando pelos corredores. As olheiras haviam se tornado uma característica permanente sob seus olhos, que haviam perdido todo o brilho e a vitalidade. O último prego no caixão eram as bochechas encovadas e a pele desbotada, o que realmente reforçava a aparência de um homem morto andando. É seguro dizer que Katniss nunca o tinha visto tão derrotado.

─ Eles também têm a Annie. Eles a levaram. ─Finnick revelou, sentindo a culpa se acumular dentro dele pela prisão dela. Eles só a levaram por causa de sua associação com ele e Dahlia. Eles sabiam que ela era inocente, mas a levaram mesmo assim.─ Ela está no Capitólio com, uh... Com Lia... Minha Lia─As palavras dele foram imediatamente interrompidas por um soluço que tomou conta de todo o seu corpo, com as mãos arrastando o rosto em desespero.─ Você sabia que eles a deixaram para trás? Ela arriscou tudo por eles e eles escolheram deixá-la para trás.

Katniss não tinha sido informada dos detalhes que envolviam a captura de Dahlia. Ela acreditava que não havia escolha na questão, que Dahlia ainda tinha seu rastreador, assim como Johanna e Peeta. Isso deixou perguntas sem resposta na mente do tordo. Será que eles escolheram deixar Peeta para trás também?.

─ Eu queria que ela estivesse morta.─ Finnick murmurou desanimado, sabendo que a morte seria um lugar muito mais gentil para aqueles que estavam presos no Capitólio.─ Eu gostaria que todos eles estivessem mortos e nós também.

Os olhos vidrados de Finnick se arregalaram de onde estavam olhando para o chão e encontraram Katniss já temendo a resposta que viria. Essa era uma pergunta que eles se faziam com frequência. Como eles poderiam saber se algum dos vitoriosos ainda estava vivo? Talvez Snow enviasse o corpo de Dahlia para ele em uma cama de rosas brancas. Talvez ele a enforcasse como um aviso para todos aqueles que pudessem se rebelar. E se ela estivesse esperando que ele se juntasse a ela na morte e aqui estivesse ele, ainda chafurdando na terra dos vivos? Mas ele sabia que não era esse o caso.

─ São as armas dele ─Ele respondeu friamente, com a verdade tendo um gosto amargo em sua língua.─ Você não pode matar uma arma.

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A Dahlia Negra foi levada de volta pelos corredores onde os vitoriosos eram mantidos, muitos deles pressionando o rosto contra o vidro de suas celas para observar as figuras que se aproximavam. Mas a garota que eles viram não era uma que eles conheciam. Dahlia Blossom havia sido forçada a entrar naquela sala, mas uma pessoa diferente havia saído de lá.

Seus olhos eram mais escuros, quase negros como breu. Era como olhar para as profundezas de um abismo e saber que não havia chance de sobrevivência. Mas não havia nada por trás de seu olhar, nenhum pensamento ou sentimento. Apenas escuridão pura. Um quadro em branco. Onde antes havia uma mente forte e crenças firmes, agora havia um robô sem emoções, fácil de se submeter à vontade dos outros. E, embora ela tivesse que ser arrastada por um exército de pacificadores momentos atrás, agora ela estava livre para andar sozinha, como se estivesse fazendo isso por vontade própria. Como se eles confiassem nela.

─ Dahlia.─Annie sussurrou docilmente, tentando chamar a atenção da garota enquanto passava por ela. Ela pensou que Dahlia não a tivesse ouvido, porque ela continuou como se Annie não estivesse ali. Então ela tentou novamente─ Dahlia ─ Dessa vez, ela falou mais alto do que nunca quando estava presa no Capitólio, desesperada para saber se sua amiga estava bem. Desesperada por qualquer reconhecimento. Mas Dahlia a ignorou. Ela ignorou todos eles. O coração de Annie acelerou em pânico com o estranho que Dahlia havia se tornado e ela soube instantaneamente que algo não estava certo.─ O que você fez com ela? O que você fez! ─Ela gritou em meio às lágrimas, batendo as palmas das mãos contra o vidro enquanto Dahlia se afastava.─ Dahlia!.

Mas Snow havia se certificado de que ela não era mais Dahlia. Não havia mais nada de quem ela era antes, apenas o que ela seria. A Dahlia Negra . Sua arma definitiva. Um símbolo de medo, um farol de pavor. A resposta do Capitólio ao tordo.

Isso era tudo o que ela sabia, tudo de que se lembrava. E, até onde ela sabia, servir ao Capitólio era a única razão de sua existência.

Eles a afastaram dos outros prisioneiros para evitar confraternizações, isolando-a como seu precioso novo soldado. Deram-lhe um quarto, pequeno, com espaço suficiente apenas para uma cama de metal, com uma porta de ferro grossa que eles trancaram atrás dela. As paredes eram feitas de um concreto cinza opaco e não havia janelas. Era uma gaiola para exibir seu animal de estimação exótico, uma cela de prisão para abrigar um bem perigoso.

Ela também ganhou um novo visual. O traje preto que as pessoas estavam acostumadas a ver já não existia mais. Agora ela era uma extensão do Capitólio e, portanto, deveria se adequar ao papel. Foi encomendado um traje branco, que causaria terror no coração dos rebeldes e incentivaria a paz entre os cidadãos de Panem. Ela se encaixaria perfeitamente com os pacificadores. Mas antes que pudesse ser colocada em ação, ela precisava ser treinada para se tornar a arma definitiva. E Snow já havia escolhido a mulher perfeita para o trabalho.

─ A Dahlia Negra ─Uma mulher conhecida apenas por seu apelido, a Madame da Dor, pensou ao entrar na cela em que Dahlia estava sendo mantida. A garota estava sentada ereta na beirada da cama como uma estátua, mal reconhecendo a presença da Madame. Era como se ela não pudesse se mover a menos que recebesse uma ordem.─ Eu a observei desde o início. Eu sabia exatamente o que você era. ─Ela falou lentamente, percorrendo a sala para cima e para baixo com olhos analíticos.─ Eu podia sentir o cheiro do sangue que você derramaria. Foi o que você nasceu para fazer. ─A Madame parou em frente ao seu novo projeto, encarando a jovem com um olhar sinistro. ─ Snow quer que eu a transforme em uma arma, uma máquina. Mas eu tenho uma ideia muito melhor...

A Madame arrastou uma unha em forma de garra pelo rosto da garota, da têmpora à mandíbula, com o lábio superior curvado em um rosnado animalesco. A Dahlia Negra não reagiu, nem sequer reconheceu a presença da mulher. Ela manteve os olhos fixos na parede sem graça à sua frente, sem emoções por trás de seu olhar e sem vida em sua alma.

Com os lábios franzidos em escrutínio, as garras da Madame perfuraram a pele do queixo da Dahlia Negra e puxaram seu rosto para cima. Finalmente, o olhar vazio da Dahlia encontrou a escuridão sinistra da Madame. Um sorriso sorridente se insinuou nas feições da mulher mais velha diante do potencial dessa jovem lutadora. Agora que elas haviam apagado a luz de sua vida e removido todos os pensamentos que a distraíam, ela poderia se tornar exatamente o que a Madame sempre quis que ela fosse.

─... Vou fazer de você um monstro.