Ao se reunir novamente na linha da árvore na praia, Dahlia permaneceu em silêncio enquanto lamentava a morte de Alaric, enquanto os aliados restantes se reuniam em um círculo. O grupo tinha acabado de perder dois membros importantes e a ausência deles foi muito sentida por todos os sobreviventes. Embora suas lágrimas já tivessem secado há muito tempo, Finnick permaneceu diligentemente ao lado de Dahlia, com uma postura protetora, de olho nela e em Katniss.

─ Então, além de Brutus e Enobaria, quem sobrou? ─Katniss questiona o grupo, alguns ajoelhados na areia com ela e outros reclinados contra os galhos de uma árvore.

─Talvez Chaff.─Peeta fala por trás dela. ─ Só esses três.

─ Eles sabem que estão em menor número. Duvido que eles ataquem novamente.─Finnick acrescenta seu conhecimento especializado, olhando brevemente para Dahlia, que concorda em silêncio.─ Estamos seguros aqui na praia.

─ Então, o que vamos fazer? Vamos caçá-los? ─Johanna pergunta com impaciência, ansiosa para que esses Jogos cheguem ao fim.

Ninguém tem a chance de responder antes que o som de uma garota gritando interrompa seus esquemas. A voz que se segue é jovem, jovem demais para qualquer tributo nesses Jogos. Era o grito de uma criança:

─ Katniss, me ajude!.

─ Prim! ─Katniss grita em resposta, reconhecendo a voz da garota como a de sua irmã. Antes que alguém pudesse impedi-la, ela saiu correndo da praia, gritando pela jovem.─ Prim! Prim!.

O grupo se levanta e segue em busca de Katniss. Mas a pessoa mais próxima da garota perturbada é Finnick, que é o mais rápido a persegui-la.

─ Katniss! Katniss, espere! ─Ele grita em voz alta, correndo mais rápido do que o resto dos aliados para chegar até Katniss. Ele confia em Dahlia na companhia de Johanna, Beetee e Peeta, mas precisa manter o tordo a salvo para que possa tirar seu amor dessa arena com vida. Ao chegar em uma clareira com um grito do nome da garota, ele encontra Katniss olhando com os olhos arregalados para o que a rodeia.

─Você está bem?.

─ Finnick! ─A voz de uma mulher grita, seguida de um lamento angustiado. Seu corpo congela diante do som horrível, a cor de seu rosto se esvai com o medo.

Katniss conhece o processo de pensamento pelo qual ele está passando, pois acabou de passar pela mesma situação.

─ Finnick! ─Ela exclama, tentando detê-lo enquanto ele passa correndo por ela.─ Não! Não é ela.

─ Lia! ─Ele grita desesperadamente, correndo mais para dentro da selva para chegar até ela.─ Lia! ─Ele tinha acabado de vê-la, ela estava bem. Por que ele a deixou para trás? Ele deveria ter se certificado de que ela estaria com ele o tempo todo, não deveria tê-la perdido de vista. Ele nunca a tinha ouvido soar tão torturada.─ Lia! Lia!

─ Finnick! Não é ela.─Katniss explica, agarrando duramente o ombro do homem e forçando-o a ouvi-la.─ É apenas um jabberjay. Não é ela.

─ Bem, como você acha que eles conseguiram esse som? ─Finnick retruca, paranoico com o fato de que algo terrível aconteceu com Dahlia nos meros momentos em que estiveram separados.─Jabberjays copiam.

Desta vez, é uma voz masculina que chama o nome de Katniss, que ela identifica como Gale, enquanto uma voz feminina diferente grita por Finnick. Annie, a garota que ele considerava uma irmã. Os jabberjays cercam os dois tributos, descendo e provocando-os com os lamentos assombrosos de seus entes queridos. O som horrível os segue enquanto eles recuam na direção de onde vieram. Finnick tenta bloquear os gritos o máximo que pode, mas a voz de Dahlia penetra em seus ouvidos.

Ele deveria tê-la protegido.

Ela já perdeu muito.

Ele falhou com ela.

Mas ele pode ver Dahlia ao longe, com um olhar de preocupação estampado em seu rosto. É a sua luz no fim do túnel, guiando-o para fora da escuridão. Seu rosto se ilumina ligeiramente com a simples visão dela e ele corre ainda mais rápido para alcançá-la. Ele quase pode ouvi-la, quase pode segurá-la em seus braços. Só mais alguns passos...

Dahlia é forçada a observar enquanto Finnick corre para o campo de força, uma fina barreira que separa os amantes um do outro. Seu olhar se alarga em angústia quando ele descobre a distância entre eles. Maldito seja o Capitólio por sua insistência em mantê-los separados. Lágrimas brotam em seus olhos quando ele dá socos e golpes no campo de força, desejando que ele se quebre para que possa se reunir com sua florzinha. Ela é tudo o que ele sempre quis e tudo o que ele sempre precisará.

Agora, com os gritos devastadores dela ecoando em sua cabeça, ele percebe o quanto eles precisam derrubar o regime de Snow. Enquanto ele estiver no comando, Dahlia continuará sofrendo como está sofrendo agora. Ele se juntou à Aliança para segui-la. E agora ele se juntará à Rebelião para lutar por ela. Como sempre fez.

Balançar para frente e para trás sobre os joelhos com as mãos pressionadas firmemente contra os ouvidos é a posição em que ele permanece pelo resto da hora. Cada minuto que ele passa preso nesse pesadelo é mais um pedaço de sua sanidade que é arrancado.

Dahlia encosta a testa no campo de força, querendo ficar ao lado de Finnick assim que a hora acabar. É torturante para ela e Peeta serem forçados a ver seus entes queridos sofrerem, sabendo que não há nada que possam fazer.

No momento em que o campo de força é levantado, Dahlia está ao lado de Finnick e o envolve em um abraço apertado. Seu corpo estremece com respirações trêmulas, seus dedos se agarram com força à pele dela apenas para se assegurar de que ela está realmente ali.

─ Eu estou bem. Você está bem.─Dahlia sussurra repetidamente em seu ouvido, deixando que ele se agarre a ela pelo tempo que precisar. Johanna se aproxima dos dois, preocupada com o estado mental de seus amigos. Ela se ajoelha ao lado deles, colocando a mão nas costas de Finnick de forma reconfortante e olhando para Dahlia com preocupação. Embora aprecie a presença da garota, Dahlia a afasta, percebendo que não há muito mais que possam fazer para aliviar Finnick

Levantando-se, a atenção de Johanna é então capturada pela divagação de Katniss sobre a segurança de sua irmã e a garantia de Peeta de que Prim estava ilesa.

─ Seu noivo está certo. O país inteiro ama sua irmã.─Johanna confirma com severidade, não sendo a melhor em lidar com emoções.─ Se eles a torturassem ou fizessem qualquer coisa com ela, esqueça os distritos, haveria tumultos no maldito Capitólio.─Katniss não tinha certeza se aquelas palavras contribuíam para confortá-la, mas Johanna havia tentado ajudar à sua maneira, e aquele foi o gesto mais gentil que ela fez até agora. Mas Johanna ainda não havia terminado, declarando em voz alta─ Ei, o que você acha, Snow? E se nós... E se colocarmos fogo no seu quintal? ─Ela direciona essas palavras para cima, esperando que sejam capturadas pelas câmeras que inevitavelmente registram todos os seus movimentos.─ Sabe, não dá para colocar todo mundo aqui dentro!.

O grupo olha para Johanna com descrença, até mesmo Dahlia, que se lembra de ter causado uma cena semelhante no final de seus próprios Jogos. Embora suas palavras tenham sido muito menos... rebeldes.

─ O quê? ─Johanna pergunta mais calmamente ao perceber o olhar coletivo. ─ Eles não podem me machucar.─Ela murmura baixinho com um toque de amargura em seu tom.─ Não há mais ninguém que eu ame.─Os olhos de Katniss se desviam de Johanna para Dahlia, ambas as garotas que venceram os Jogos e depois perderam tudo. Katniss percebeu que esse era o destino que a aguardava se ela saísse. Ela também perderia tudo. Johanna suspirou com o silêncio que saudou suas palavras e murmurou─ Vou pegar um pouco de água para você.

Enquanto Johanna se afastava do grupo para buscar água, Dahlia ajudava Finnick a ir tropeçando até a praia, com os demais seguindo atrás. Ao chegar à areia, Finnick imediatamente puxou Dahlia com ele para a água e se ajoelhou. As ondas batiam em seus corpos de forma terapêutica, passando suavemente sobre suas mãos conectadas. Os olhos de Finnick se fecharam lentamente, respirando de acordo com o fluxo da água. Dahlia não falou, apenas deixou que ele segurasse sua mão para confortá-la e esperou que ele estivesse pronto.

─ Quando fecho meus olhos, posso fingir que estou de volta ao Distrito Quatro.
─Ele murmura, tão levemente que suas palavras quase são levadas pelo vento. Mas Dahlia o ouviu. Ela sempre ouviria sua voz, não importava o quão alto o vento soasse.─ Quando tudo isso acabar, vou levá-la até lá. Você vai adorar.

Dahlia adoraria estar em qualquer lugar, desde que Finnick estivesse lá também. Mas, ansiosa para se distrair de sua dor, ela concentrou toda a sua atenção nele e insistiu:

─ Descreva-o para mim.

Ele não precisou ser perguntado duas vezes. Seu distrito era seu orgulho e ele não poupou detalhes ao contar a Dahlia exatamente como poderia ser a vida deles. Mercados coloridos e banhos matinais, brisa do mar refrescante e pores do sol celestiais. Ele lhe arranjaria uma casa na praia e lhe traria conchas e pérolas todos os dias. Eles poderiam agir como crianças, amar tão livremente quanto quisessem. Mas o mais importante é que eles seriam livres. Finnick estava descrevendo o sonho que o manteve vivo por anos. A imagem que o resgatou em seus dias mais sombrios. Uma vida com Dahlia em que ele poderia amá-la como ela merecia. Essa é a fantasia que eles estavam lutando para transformar em realidade.

Enquanto isso, Katniss estava observando a dupla da costa até que a curiosidade levou a melhor.

─ Quem é Annie? ─Ela perguntou a Johanna, que tinha acabado de voltar da coleta de água e se sentou ao lado dela na areia.

─ Annie Cresta. A garota para quem Mags se ofereceu como voluntária.
─Johanna esclarece, desviando o olhar de Katniss ao se lembrar da conexão que Annie tem com Dahlia e Finnick.─ Ela ganhou, tipo, quatro anos... Cinco anos atrás.

─ Foi ela que ficou um pouco...─Katniss se atrasa, mas faz implicações com o suposto estado mental frágil de Annie. Johanna acena com um zumbido afirmativo, mas não entra em mais detalhes.─ E ela não é do Finnick...

─ Oh, Deus, não! ─Johanna exclama, afastando qualquer ideia de um relacionamento entre Annie e Finnick.─ Olha... você sabe como a irmã da Dahlia morreu nos Jogos, certo? ─Katniss acena lentamente com a cabeça, sem saber onde Johanna quer chegar com isso.─ Annie era a vencedora dos Jogos. Lavender Blossom era sua aliada.─ A revelação foi chocante para Katniss, mas Johanna ainda não havia terminado.─ E a irmã mais velha de Annie, Cove, era aliada de Dahlia.

As sobrancelhas de Katniss se franziram diante da possibilidade de algo assim acontecer e ela murmurou baixinho:

─ Mas isso... Isso não pode ser...

─ Coincidência? ─Johanna interrompe com um sorriso conhecedor.─ Não é. Dahlia prometeu a Cove que cuidaria de Annie, o que é difícil se você não mora no mesmo bairro. Então, ela pediu ajuda à única pessoa do Distrito Quatro em quem ela achava que podia confiar.

─ Finnick.─ Katniss afirma com confiança, finalmente entendendo a teia emaranhada que estava tecendo em sua mente.

─ Ding ding.─Johanna diz, sem entusiasmo, com um sorriso apertado.─ Annie é como uma irmãzinha para Finnick, mas nada se compara ao amor que ele tem por sua florzinha.─ Katniss se lembra de ter ouvido Finnick mencionar esse apelido quando ele fez o discurso dedicado durante sua entrevista. Naquela época, ela ainda não tinha se lembrado de quem poderia ter sido. Agora, não há espaço para dúvidas.─ O amor é estranho.

Katniss desvia o olhar de Johanna para a dupla perdida em seu próprio mundo. Em seguida, seus olhos se voltam para Peeta. O garoto por quem ela havia negado ter sentimentos, mas que estava disposta a arriscar tudo para salvar. Ela definitivamente concorda com Johanna, o amor é estranho.

De repente, Beetee se senta e declara com firmeza para as duas garotas:

─ Tenho um plano.