─ Os jogos ainda estão em andamento. ─ Alaric anuncia solenemente enquanto os tributos da Aliança se reúnem uma última vez no telhado.

Suspiros desapontados são trocados entre o grupo, muitos dos quais estavam esperançosos de que a bomba de Peeta seria suficiente para acabar com esse pesadelo. Infelizmente, não. Dahlia se afunda no peito de Finnick enquanto ele envolve seus braços ao redor do corpo dela por trás.

─ Isso significa que o plano será colocado em ação amanhã. Protejam o Tordo, por qualquer meio necessário.─Todos acenam com a cabeça em sinal de determinação, dispostos a fazer o que for preciso para garantir que a tocha da Rebelião permaneça acesa.─ Foi uma honra, meus amigos.

A reunião de tributos começa a se dispersar, abraçando-se em abraços de despedida e desejando sorte uns aos outros para a luta que está por vir. Muitos deles sabiam que essa poderia ser a última vez que se veriam e queriam aproveitar ao máximo seus últimos momentos juntos. Alaric e Haymitch trocam um aperto de mão firme antes que o mentor do Distrito Doze os puxe para um abraço apertado.

─ Cuide-se lá dentro.─Haymitch murmura no ouvido de seu amigo mais velho, dando-lhe um tapinha nas costas antes de se separarem.

─ Não beba até morrer sem mim.─Alaric brinca com uma risada, antes de ver Dahlia conversando com outros tributos pelo canto do olho.─ Cuide da minha garotinha.─Ele suplica desesperadamente, sentindo o coração apertar no peito com a ideia de perdê-la.─ Ela é a melhor parte da minha vida.

Haymitch sorri suavemente para o casal que conseguiu encontrar uma família um no outro.

─ Duvido que ela precise de minha ajuda. Você criou uma mulher forte.─Haymitch aponta, notando o olhar carinhoso de Alaric enquanto ele observa Dahlia.─ Mas eu ficarei de olho nela.

Alaric acena com a cabeça em agradecimento ao amigo e responde:

─ Obrigado, Haymitch.

─ Eu deveria ir e dar a notícia aos meus tributos. ─Haymitch suspira enquanto se afasta, sabendo que não é a notícia que eles esperavam.─ Por favor, não morra.

─ Vou me esforçar ao máximo.─Alaric ri levemente, despedindo-se de seus amigos enquanto alguns começam a voltar para seus apartamentos.

Sentindo como se o peso do mundo tivesse caído sobre seus ombros, Alaric se encosta na grade com uma longa expiração. Suas mãos se arrastam pelo rosto em exaustão antes de passar pelo queixo barbudo. Ele não sabia como tinha acabado organizando uma rebelião secreta dentro de um Massacre Quaternário, mas o estresse estava constantemente atormentando sua mente. Por que ele havia concordado com isso?.

─ Al?.

E ali estava a resposta, o lembrete do motivo pelo qual ele concordou em se envolver. Dahlia se inclina ao lado dele na grade, olhando para o homem com preocupação nos olhos. Ela era a razão pela qual ele continuava lutando, a razão pela qual ele ainda estava vivo. A razão pela qual um sorriso surgiu instintivamente em seu rosto, mesmo em seu momento mais sombrio.

Virando-se para encará-la, ele viu que o teto estava vazio de tributos, deixando apenas os dois para conversar.

─ Sim, Flor?.

─ Você está bem? ─Dahlia pergunta ansiosamente, procurando em seus olhos qualquer indício de que algo estava errado.

─ A última vez que fiquei tão nervoso antes de um jogo, você estava planejando caçar os Carreiras.─Alaric responde com uma risada forçada, lembrando-se da garotinha determinada que ela tinha sido. Mas, novamente, não mudou muita coisa.─ Só estou preocupado, Flor.

─ Você ainda é forte, Al.─Dahlia o tranquiliza, não querendo ver o homem forte ficar tão derrotado.─ Você só precisa aguentar o tempo suficiente para tirarmos Katniss de lá e então seremos livres.─A expressão de júbilo em seu rosto era tão contagiante que Alaric não pôde deixar de sorrir para ela.─ Chega de Jogos Vorazes!

─ Não me preocupo comigo mesmo. Eu me preocupo com você.─Alaric corrige, fazendo a cabeça de Dahlia girar em confusão. Ela podia não ter tanta experiência quanto Alaric, mas era mais jovem e mais rápida. Ela era uma sobrevivente. Por que ele estava preocupado com ela? Alaric percebe sua expressão perplexa e responde à sua pergunta não dita─ Eu vivi uma vida longa, Flor. Vi coisas que nenhum homem deveria ver. Passei por dificuldades que jamais poderia descrever. Mas nunca esperei estar aqui hoje.

Dahlia permanece em silêncio enquanto Alaric expressa seus sentimentos em uma demonstração incomum de emoções.

─ Consegui tudo o que eu queria fazer na vida. Não há mais necessidade de me segurar. Mas você... Não há limite para as coisas que você pode realizar.

Dahlia balança a cabeça em discordância e começa a protestar:

─ Mas eu preciso de você, Alaric. Eu não teria chegado até aqui sem você ao meu lado. Preciso de você...

─ Não, você não precisa.─Alaric interrompe, colocando as mãos nos ombros de Dahlia e olhando-a com orgulho.─ Acho que você nunca precisou. Era eu quem precisava de você. Quando a vida parecia não ter propósito, você apareceu e provou que eu estava errado. ─E ela vem provando que ele está errado desde então.─ Você é uma jovem extraordinária, Dahlia. Quando você fala, eu juro que posso ouvir os tambores da revolução.─Os olhos de Alaric começam a se encher de lágrimas enquanto ele a olha com admiração.─ Sua história ainda não acabou.

─ Minha história nunca teria sido escrita sem você.─Dahlia murmura com sinceridade, lembrando-se de todas as vezes em que confiou em Alaric e ele esteve lá para apoiá-la.

─ Você foi minha maior conquista.
─Alaric afirma, afastando o cabelo de Dahlia dos olhos antes de notar as lágrimas que se acumulavam em seus cílios.─ E foi uma grande honra ter sido seu mentor durante todos esses anos.

─ Nós dois sabemos que você é mais do que isso.─Dahlia retruca, saltando para frente para atacar Alaric com um abraço, praticamente pendurada em seus ombros. Alaric não hesita em retribuir o abraço, fechando os olhos de contentamento enquanto saboreia o que poderia ser seu último momento juntos.─ Eu o amo, papai.

Uma única lágrima escorre pela bochecha de Alaric diante das palavras sinceras dela, que nunca se sentiu tão alegre e ao mesmo tempo melancólico em sua vida. Dahlia era uma lutadora que faria coisas maravilhosas, ele tinha certeza disso. Mesmo que ele não vivesse para vê-las.

─ Eu também amo você, Flor.

Certa vez, Alaric havia mostrado a Dahlia as tatuagens que decoravam seu corpo com os nomes de todos os Tributos que ele já havia perdido. O que ele não havia mostrado a ela era sua arte mais recente, posicionada logo acima de seu coração. Uma flor de dahlia... Para sua filha.

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Depois de uma despedida comovente, Alaric se retirou rapidamente sem dar muitas explicações, simplesmente murmurando que tinha uma última coisa para fazer. Dahlia não o pressionou para obter mais informações, pois estava desesperada para fugir para a única pessoa com quem queria passar suas últimas horas de liberdade. Finnick já estava acordado e esperando por ela quando ela entrou em seu quarto. Nenhuma palavra precisou ser trocada entre eles. Finnick simplesmente abriu os braços e Dahlia caiu em seu colo. Ele depositou um beijo delicado na linha do cabelo dela, apertando o abraço até que não houvesse espaço entre eles.

─ Por favor, não faça nenhuma besteira amanhã.─Dahlia murmurou suplicante no peito de Finnick, relaxando em seu toque enquanto ele passava os dedos suavemente pelo cabelo dela.─ Eu não quero conhecer a pessoa que eu me tornaria se você fosse tirado de mim.

─ Você sabe que não posso fazer promessas, Lia.─Finnick responde com tristeza, temendo pelo que o dia seguinte trará.─ Mas estou disposto a arriscar tudo pela chance de ter uma vida com você.─A cabeça de Dahlia se inclina para colocar o queixo no peito de Finnick, permitindo que seus olhos contrastantes se encontrem. Como o céu noturno refletido no mar, entre eles há todas as faíscas das estrelas. Pequenas luzes ardentes de paixão os conectam por toda a eternidade.─ Eu faria qualquer coisa para tirar você daquela arena... E isso não me assusta tanto quanto deveria.

─ Contanto que fiquemos juntos ─
murmura Dahlia, deslizando a mão para cima para se prender à dele, entrelaçando os dedos como se nunca tivessem sido feitos para se separar.─ Eles não podem nos matar.

E eles acreditavam nessas palavras de todo o coração. Juntos, eles poderiam enfrentar o mundo e ainda sair como os vencedores. Eles eram a maior força e a fraqueza mais preciosa um do outro.

Então, com seu mundo inteiro em seus braços, Finnick percebe o quanto deseja que essa sensação de lar dure para sempre. Em um mundo perfeito, eles teriam todo o tempo do mundo para passar juntos. Eles iriam com calma, buscariam seus sentimentos em um ritmo constante e evoluiriam naturalmente para um belo relacionamento. Eles envelheceriam juntos, apaixonando-se cada vez mais com o passar dos dias. No final de sua vida, ele seria lembrado como um homem bêbado, infinitamente intoxicado pelo amor que ela lhe dava.

Mas talvez eles nunca envelhecessem juntos, nunca vivenciassem um relacionamento sem medo. Ele nunca conseguiria mostrar a ela o quanto a ama. E esse pensamento o assusta mais do que qualquer ameaça que Snow possa fazer.

Com uma mão emaranhada no cabelo dela e os olhos pesados pela tentação do sono, ele faz uma promessa que lutaria mais do que nunca para cumprir.

─ Um dia, eu vou me casar com você.─Ele sussurra baixinho, despejando cada grama de amor que possui por ela em suas palavras.─ Então você será oficialmente minha, florzinha.

Finnick Odair sempre foi um guerreiro com uma mente de lutador. Ele era um vitorioso, um campeão. Não havia um desafio que ele não tivesse superado, nenhum competidor que ele não tivesse vencido. No entanto, Dahlia Blossom era uma batalha que ele perdia todas as vezes. Era a única luta que ele perderia de bom grado com um sorriso no rosto. A única vez que ele aceitava a derrota. Pois de que vale a vitória sem alguém com quem compartilhá-la? E tê-la ao seu lado é o único prêmio que ele poderia desejar.

Sua respiração ficou presa à confissão de Finnick, surpreendida pela determinação em sua voz. A determinação de uni-los para a eternidade, de torná-la sua para sempre. Mas quanto mais ela pensava nisso, em uma vida com Finnick, mais ela desejava que isso se tornasse realidade. Durante toda a sua vida, ela teve que compartilhar coisas. Quer fossem roupas com suas irmãs ou seu corpo com homens da Capital, ela nunca teve algo para chamar de seu. Pela primeira vez, ela queria ser egoísta. Finnick seria dela e ela seria dele, algo que eles não teriam que compartilhar com mais ninguém.

─ Eu adoraria. ─Ela responde genuinamente com um sorriso radiante que se estende por todo o seu rosto. Inclinando-se para frente, ela encosta a testa na dele e usa a proximidade como desculpa para depositar dezenas de beijos em seus lábios.─ Você é um anjo enviado dos céus, Odair.

Dahlia Blossom sempre conheceu o sabor da guerra. A morte era sua mais antiga conhecida, a dor de cabeça sua mais fiel companheira. Ela nunca se deu ao luxo de fugir de uma luta, sempre enfrentando seus oponentes, mesmo que as chances nunca estivessem a seu favor. Ela não tem certeza de como deve ser a sensação de paz, mas acha que é como a de Finnick Odair. Basta um olhar nos olhos dele para que ela se sinta um pouco menos destruída pela guerra, um pouco menos quebrada. Ele poderia curar todo o seu sofrimento com apenas um toque.

Ninguém sabia que loucura dominaria suas mentes se eles fossem separados e ninguém ousava descobrir. Mas em tempos tão incertos, nada é realmente garantido. Assim, Dahlia e Finnick saborearam seus últimos momentos de calma antes que o inferno começasse. Quem sabia o que o amanhã traria? Lutas e batalhas, dor de cabeça e morte...