─ Seu primeiro teste foi um sucesso, não concorda? ─A Madame perguntou presunçosamente com uma sobrancelha arqueada para o homem poderoso diante dela. Uma imagem da Dahlia Negra parada ferozmente atrás de Peeta foi congelada na tela para que os dois vissem com olhos julgadores e avaliassem o resultado de seu experimento.

O Presidente Snow cantarolou, inclinando-se para descansar as mãos sobre a mesa enquanto respondia:

─ Eu não tive o trabalho de apagar todas as partes de seu antigo eu apenas para que ela assumisse o papel de uma pacificadora comum.

─ Eu lhe asseguro, Presidente Snow, que ela não falhará com você. ─A Madame afirmou assertivamente, confiante de que seus métodos produziriam resultados impressionantes. Ela não tinha fé na Dahlia Negra em si, mas confiava mais em sua própria capacidade de criar armas imparáveis. Não havia como seu projeto ser considerado malsucedido.─ Coloque-a em campo.

Um silêncio se instalou entre os dois enquanto o Presidente ponderava sobre a exigência da Madame. A Dahlia Negra havia passado por semanas de treinamento extensivo em vários tipos de armas e combate, incluindo melhorias em sua furtividade e velocidade. Ela agora tinha as habilidades de batalha para apoiar seu espírito de luta e a Madame havia garantido que ela só responderia a elas. Não havia oponente que pudesse igualar suas proezas agora, nenhuma tarefa que ela não pudesse concluir com eficiência. Mas Snow tinha uma missão na manga que realmente testaria seus limites.

─ Há um cidadão do Capitólio que estou observando de perto.─Snow confessou à mulher que sorriu em vitória.─ Ela simpatiza com esses... radicais. ─A palavra foi praticamente cuspida de sua boca enquanto ele balançava a cabeça em sinal de irritação.─ Ela está vendendo produtos roubados para ajudar a financiar a luta deles. Quero que ela seja tratada.

A desonesta Madame assentiu com a cabeça, lutando para conter o sorriso presunçoso em seu rosto quando uma imagem do alvo apareceu na tela.

─ A Dahlia Negra vai garantir que esse traidor seja um exemplo. ─Ela declarou assertivamente, já se deleitando com a destruição que seu soldado causaria em seus inimigos.─ Esse projeto será um sucesso.

─ Para seu bem, é melhor que seja. ─ Snow murmurou baixinho com um tom ameaçador em sua voz.─ Confiei muito em você, Madame. Eu me arrisquei em seus métodos quando ninguém mais o fez e agora espero ver resultados.

─ Sim, Presidente Snow.─A Madame inclinou a cabeça e se retirou da sala com passos largos, pronta para soltar a Dahlia Negra em sua primeira missão.

O Presidente Snow observou a mulher sair com uma expressão impassível antes de passar os olhos pelo rosto da traidora. Ela já foi uma cidadã leal, uma serva dedicada ao Capitólio e aos Jogos. Era decepcionante que um dos seus tivesse dado as costas a tudo o que sabia, mas até mesmo os mais fiéis podem se perder. Ninguém está isento das consequências de sua traição. Portanto, o traidor deve morrer.

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A Dahlia Negra se agachou na beira de um telhado, bem em frente ao prédio de apartamentos de seu alvo. Seu terno branco se destacava contra o céu negro e escuro, fazendo-a parecer um anjo da morte na noite. Mas seus olhos escuros estavam ardendo como as brasas do Distrito Doze, um par de brasas brilhantes aparecendo acima das restrições de seu focinho. Esse era seu primeiro gosto de liberdade, mas ela não podia aproveitar o tempo para saboreá-lo. A Madame a havia avisado sobre o que aconteceria com ela.

A Madame a havia alertado sobre o que aconteceria se ela falhasse nessa missão. Eles estavam observando cada movimento seu, esperando que ela cometesse um erro, prontos para puni-la por suas falhas. Ela tinha uma tarefa a cumprir e o fracasso não era uma opção. Haveria tempo para desfrutar de sua liberdade quando ela estivesse morta.

Equilibrando-se nas pontas dos pés, ela saltou graciosamente do telhado e atravessou o vão entre os dois edifícios em um único salto. Ela se segurou do outro lado, com os pés apoiados na parede de tijolos e os dedos agarrados com força à borda. Então, com uma velocidade surpreendente, começou a descer pela lateral do prédio como uma aranha correndo. Ela nunca soube por que parecia se destacar em escaladas sem nenhum conhecimento prévio. Quase como uma habilidade aprendida em uma vida passada ou uma lembrança de uma garota que ela não conhecia mais. Tão familiar em sua mente, mas distante demais para entender.

Quando ela se abaixou no parapeito da janela, seu coração disparou ao ver o apartamento. Uma voz no fundo de sua cabeça gritava desesperadamente para que ela reconhecesse os arredores, para que se lembrasse de onde o conhecia. Mas não importava o quanto ela se esforçasse para se lembrar, havia algo bloqueando seu caminho.

─ O que está esperando? ─A voz irritada da Madame rosnou em seu fone de ouvido, trazendo-a de volta à realidade. O que ela estava esperando? Ela não conseguia se lembrar agora.─ Prossiga com a missão.

Sacudindo a cabeça para se livrar de qualquer pensamento confuso, a Dahlia Negra passou pela janela aberta e aterrissou agilmente no chão imaculado. Ao contrário do resto do Capitólio, esse apartamento era simples e minimalista, sem as cores vibrantes que ela esperava dos cidadãos. Era estranhamente calmo, como se estivesse voltando para casa.

Ela se aprofundou na sala de estar, curvada em antecipação a um ataque e com os dedos pairando sobre sua pistola subcompacta. Vários artefatos, bugigangas e objetos de decoração estavam espalhados pelo apartamento de forma desordenada. A Dahlia Negra só podia presumir que esses eram os itens roubados que estavam sendo vendidos para financiar o inimigo. Seus olhos se estreitaram ao ver aquilo, enojada com a traição de um dos seus.

Um barulho repentino vindo de trás dela fez com que a Dahlia Negra se virasse com a arma levantada e pronta para atirar. Não havia nada lá. Nada além de um par de copos de uísque de cristal lapidado colocados inocentemente na ilha da cozinha. Isso a tocou em algum lugar dentro de si. Por que ela achava que deveria saber o significado daquilo? O que há de tão especial nesses copos? Nada... Nada, tem que ser nada, ela tentou se convencer. Mas por que o leve aroma familiar de lavanda e rosas parecia inundar seus sentidos quando não havia flores à vista?.

Aproximando-se com desconfiança, com a arma ainda apontada para a direção de onde ouvira o barulho, sua mente se agitava em um turbilhão. Parecia que alguém estava cutucando seu cérebro, procurando por respostas que ela tinha certeza de não saber. Sonhos distantes a provocavam com vozes que ela não conseguia reconhecer, provocando-a com os ecos de momentos perdidos há muito tempo.

No momento em que ela começou a soltar a arma enquanto os pensamentos dominavam sua cabeça, um grito de guerra soou no apartamento silencioso e uma figura saiu das sombras. Envolvida demais em sua própria mente, a Dahlia Negra foi lenta demais para reagir e o agressor conseguiu derrubá-la no chão. A arma deslizou pelo chão, fora de seu alcance, enquanto o agressor prendia seu corpo ao chão.

─ Dahlia.─A mulher ofegou ao se deparar com aqueles olhos escuros e assassinos que ela conhecia tão bem. Ela parecia aliviada por vê-la, o que a Dahlia Negra não conseguia entender. Ela deveria conhecer uma estilista dos Jogos Vorazes?─ Sou eu... Juno. ─O nome soou como um sino para a Dahlia Negra, mas ela não conseguia identificar o motivo. Juno parecia não ter notado a confusão em seus olhos, relaxando o aperto nos pulsos de sua antiga tributo.─ Graças a Deus é você, Petal. Quando descobri que Snow estava mandando alguém atrás de mim, entrei em pânico. Eu estava me preparando para fugir e... Espere, por que você está aqui?.

A Dahlia Negra inclinou a cabeça para a mulher confiante que claramente não prestava muita atenção às transmissões do Capitólio. O mais claramente que pôde, sob a máscara incômoda presa em sua mandíbula, ela respondeu com veneno:

─ Estou aqui para matar o traidor.

Os olhos de Juno só conseguiram se arregalar com a constatação antes que a Dahlia Negra a golpeasse bruscamente no estômago. Chocada e sem fôlego, a ex-estilista rolou para fora do corpo da garota enquanto a Dahlia Negra se levantava. Ela correu até sua arma abandonada, pegando-a em poucos segundos. Ela não hesitou em puxar o gatilho, com as balas ricocheteando na parede enquanto Juno saía correndo da sala em busca de segurança. Como se isso pudesse impedir a Dahlia Negra de completar sua missão.

Ela percorreu os corredores do apartamento em busca de seu alvo, seguindo os sons de brigas frenéticas em um lugar que, de outra forma, seria pacífico. Isso a levou a um quarto simples, muito maior e mais agradável do que a cela de prisão com a qual estava acostumada. A cama parecia confortável, mas era grande demais para ela. Um tamanho perfeito para ser compartilhado com outra pessoa. Embora ela não tivesse ninguém com quem compartilhar. Ela sempre foi totalmente dedicada ao Capitólio... Não é mesmo?.

Grunhindo de frustração pelo fato de ter deixado que seus pensamentos confusos obscurecessem sua mente novamente, ela entrou na sala com a determinação de terminar essa tarefa e deixar toda a perturbação para trás. Não parecia haver nenhum outro sinal de vida na sala com ela, mas a Dahlia Negra sabia que as aparências enganavam. Sentindo movimentos atrás de si, ela fingiu estar alheia para forçar sua presa a se aproximar. Quando Juno estava a uma distância impressionante, a Dahlia Negra se virou para encará-la.

─ Boo.─ Ela murmurou friamente enquanto Juno recuava assustada. Mas a estilista estava mais preparada do que a Dahlia Negra imaginava. Juno girou rapidamente um castiçal de prata na direção da Dahlia Negra e conseguiu derrubar a arma de suas mãos.

Sabendo que essa seria sua única chance de dominar a nova arma de Snow, Juno continuou a balançar o castiçal descontroladamente na direção da garota que ela conhecia. A Dahlia Negra se esquivou sem esforço de cada golpe, mal se abalando com o patético ataque de emboscada. Esquivando-se de outro golpe mal direcionado, ela casualmente desembainhou uma das infames lâminas negras amarradas em suas costas e interrompeu o ataque de Juno em pleno ar.

─ Dahlia ─Juno ofegou sem fôlego, horrorizada com a visão dos olhos frios e sem vida da garota olhando para ela. Ela nunca esperou ser a destinatária do olhar de sua amiga. E definitivamente não esperava estar no lado mais afiado da espada de Dahlia. Mas sua amiga não era mais a pessoa por trás daqueles olhos. A Dahlia Negra estava atacando para matar, e ela não iria errar.

─ Por favor, pare com isso. Sou eu.

A Dahlia Negra não reagiu à súplica de Juno, usando suas armas conectadas para forçar a mulher a se afastar. Enquanto Juno cambaleava para trás e se agarrava à parede para recuperar o equilíbrio, a Dahlia Negra a encarava como um predador perseguindo sua presa. Com uma expressão vazia e um tom de voz distante, ela comentou insensivelmente:

─ Quem é você?.

O rosto de Juno ficou visivelmente abatido com a pergunta, magoada com o fato de que alguém que ela considerava uma amiga a desprezasse de forma tão cruel. Até que ela percebeu o vazio genuíno por trás dos olhos da garota. A Dahlia Negra não se lembrava de quem Juno era para ela. Tudo o que ela sabia era que tinha que matá-la.

─ O que eles fizeram com você? ─Juno sussurrou amargamente para si mesma, olhando com desgosto para a casca vazia de um vitorioso outrora apaixonado. Ela não conseguiu evitar as lágrimas que brotaram em seus olhos, sabendo como Alaric ficaria arrasado se visse no que o Capitólio havia transformado sua filha.

─ O que era necessário.─Dahlia respondeu impassível, girando a espada na mão enquanto avançava em direção ao seu alvo. A cada passo que se aproximava, ela repetia roboticamente as mentiras que lhe haviam sido contadas─ Sou a soldado raso de um grande império. Em minhas missões, manterei a paz. Eu sou a Dahlia Negra.

Juno balançou a cabeça profusamente, com soluços abafados escapando por seus lábios enquanto murmurava:

─ Não, você não é ─A Dahlia Negra ignorou a resposta chorosa de Juno, erguendo sua lâmina bem alto antes de derrubá-la na direção da mulher com um grunhido feroz. O candelabro de Juno encontrou a espada no meio do caminho, chocando-se com um estrondo metálico.─ Seu nome é Dahlia Blossom...

─ Não.─ A Dahlia Negra sibilou, quebrando brevemente seu foco, o que permitiu que Juno a empurrasse para trás.

Juno não perseguiu a garota, permanecendo na defensiva enquanto continuava:

─ Você foi a vencedora dos 66º Jogos Vorazes...

─ Mentiras! ─A Dahlia Negra rugiu, atacando furiosamente a mulher com golpes poderosos que ela se esforçou para bloquear.

Apesar de suas habilidades de combate precárias e de sua arma improvisada, Juno fez o possível para deter cada golpe potencialmente fatal que a Dahlia Negra desferia contra ela. Não havia como ela vencer essa batalha apenas com a força bruta. Sua única esperança era lembrar a Dahlia Negra de quem ela realmente era, e não de quem ela foi manipulada para ser.

─ Você é a filha de Joule Blossom...

A Dahlia Negra golpeou incontrolavelmente a mulher que se recusou a revidar.

─ E Alaric Silvers...

A Dahlia Negra gritava enquanto desferia ataques implacáveis.

─ Irmã de Lavender e Rosie...

─ Pare com isso! ─A Dahlia Negra gritou loucamente, com a mente se fragmentando sob a dúvida e a incerteza que invadiam seus pensamentos. Ela não sabia mais em que acreditar e estava frustrada com toda essa confusão. Quem estava dizendo a verdade? Irritada por não saber a resposta, ela atacou com tanta força que o candelabro de Juno foi arrancado de suas mãos e voou pela sala.

A Dahlia Negra estava de pé, com a espada empunhada com tanta força que os nós dos dedos ficaram brancos, com o peito arfando em pânico sob a máscara. Ela deveria fazer o que veio fazer aqui. Ela deveria matar o traidor sem remorso. No entanto, ela não conseguia fazer isso. Algo não parecia certo.

Juno podia ver a guerra interna travada em sua cabeça, um olhar atordoado e desorientado preenchendo seus olhos outrora calculistas. Esses pensamentos conflitantes deram à mulher uma sensação de esperança de que a Dahlia que ela conhecia ainda estava lá dentro. Ela só precisava trazê-la de volta.

─ A florzinha de Finnick.─Juno murmurou cuidadosamente, observando como a raiva da Dahlia Negra parecia se desfazer com a simples menção do nome do garoto.

─ O quê? ─Ela quase ofegou, afrouxando levemente o punho de sua espada.

─ É assim que Finnick costumava chamá-la.─Juno explicou gentilmente enquanto as feições da garota se suavizavam e suas defesas eram baixadas.─ Sua florzinha.

─ Finnick.─A Dahlia Negra sussurrou pesarosamente, lutando muito para lembrar por que seu coração instintivamente se acelerava ao ouvir o nome dele. Ela sabia que ele era importante para ela, podia sentir isso. Mas não sabia por quê. Uma dor surda perfurou seu crânio enquanto ela tentava se lembrar de alguma coisa, qualquer coisa que explicasse por que de repente ela ansiava por um homem do qual não se lembrava. O ambiente ao seu redor ficou embaçado e desfocado enquanto ela apertava a cabeça, irritada.

─ Posso ajudá-la a se lembrar, Petal.─Juno declarou com ternura, aproximando-se para confortar a garota oprimida. Quando ela não rejeitou a abordagem de Juno, a estilista que se tornou rebelde sorriu aliviada com a descoberta que haviam feito. Ela segurou a bochecha da vitoriosa delicadamente enquanto uma única lágrima escapava de seu olho, revelando sua verdadeira vulnerabilidade.─ Por favor, deixe-me ajudar.

Relutantemente, a Dahlia Negra se viu concordando com a cabeça enquanto Juno sorria com orgulho. Convencida de que poderia consertar tudo, a mulher do Capitólio estendeu a mão para soltar algo de seu elegante cabelo preto. Mas ela não notou a forma como o corpo da Dahlia Negra se retesou.

O fone de ouvido voltou a funcionar e a temida voz da Madame sibilou em seu ouvido:

─Termine.

Com esse lembrete de sua missão, os olhos da Dahlia Negra de repente escureceram de raiva e ela segurou a espada com mais força. Sem um momento de hesitação, ela automaticamente empurrou a lâmina para frente até que o aço negro se projetasse das costas de seu alvo. Só então ela percebeu o que Juno havia tirado de seu cabelo. Um broche de dahlia negra que parecia abrir sua porta de memórias.

Agora ela se lembrava por que esse lugar parecia tão familiar... Era seu apartamento. Sua casa longe de casa. E agora seria o local de um assassinato sem coração. O local de descanso de um velho amigo morto pelo assassino que ela ajudou a criar.