Com os joelhos trêmulos e incapaz de suportar o resto do corpo, Dahlia se afunda ao lado de Cove. Suas mãos pressionam desesperadamente o ferimento, tentando manter a pressão sobre ele. Ela sabe que é tarde demais, sabe que não há nada a ser feito. Mas sua mente simplesmente não consegue aceitar que Cove esteja morrendo em seus braços.

─ Cove... Por favor, eu...─Dahlia gagueja entre seus soluços violentos. ─ Eu não posso... eu não posso fazer isso... eu não...

Quando Dahlia beira a hiperventilação, a mão trêmula de Cove chega ao seu pescoço. Ela puxa a bainha de sua camisa para baixo para revelar um colar preso em sua garganta. Seu símbolo.

─ Pegue... ele.─ Ela ordena fracamente, fazendo com que Dahlia puxe a corrente para revelar o pingente. Uma flor de dália dourada agora coberta com o sangue de Cove.

─ Cove...

─ Ganhe.─ A loira gagueja, lutando contra sua morte iminente pelo máximo de tempo que pode.─Você... t-tem que... Por mim.

Dahlia acena com a cabeça enquanto as lágrimas correm livremente, choramingando:

─ Eu vou... Eu prometo.

A mão de Cove agarra fracamente a de Dahlia, ignorando o líquido vermelho que cobre sua pele. Dahlia envolve as mãos de Cove com as suas, apertando-as três vezes para transmitir seu amor com mais do que apenas palavras. Cove delicadamente aperta de volta com toda a força que consegue reunir.

Uma vez...

Duas vezes...

Nada. O grito de angústia de Dahlia sacode a arena enquanto a mão de sua irmã cai sem vida. Os olhos vibrantes de Cove perderam todo o brilho, olhando sem expressão para o céu. Seu rosto permanece jovem, como permanecerá por toda a eternidade, condenado a nunca envelhecer.

Um estrondo do canhão marca sua morte, despedaçando o coração de Dahlia no processo. Há um buraco em seu peito que ficará vazio para sempre. Uma marca de mão invisível em sua alma deixada por um amigo. Sua promessa final paira pesadamente no ar. Dahlia tem que vencer agora. Não há outra opção. Porque agora é só ela e o assassino de Cove.

─ Esqueci de mencionar minhas habilidades com uma lança? ─Seu assassino fala, com uma voz presunçosa, provocadora e... familiar.

─ Wyatt.─Dahlia rosna, com o corpo de Cove ainda em seus braços. O garoto se levanta confiante e orgulhoso, tão diferente da pessoa que Dahlia conhecia. Ele parecia irreconhecível em relação ao que havia se apresentado como sendo.

─ É incrível o quão longe você pode ir quando se sente como se já estivesse morto.─Ele comenta com os braços abertos para aproveitar a glória.─ Eu sobrevivi sem você. Sobrevivi sem o Alaric. Provei a mim mesmo para todos. Para todos aqueles que duvidaram de mim.

─ Você poderia ter sobrevivido sem mim ─ a voz de Dahlia está fumegando com uma raiva silenciosa. O veneno está presente em cada palavra que ela cospe, como uma cobra enrolada pronta para atacar.─ Mas você sobreviverá a mim?─A ameaça não perturba muito o garoto, mas tira o sorriso do rosto dele.─ Uma morte não faz de você um Vitorioso.

─ Duas mortes farão.─Wyatt responde com agressividade, olhando para Dahlia.

─ Eu não vou deixar você ganha.─A garota protesta, com os dedos dançando sutilmente em direção ao cinto de Cove, onde sua última adaga estava guardada.

Wyatt zomba em descrença:

─ Eu gostaria de ver você tentar me impedir. ─ Dahlia consegue colocar a faca em seu próprio cinto sem ser notada, preparando-se para usá-la na confecção de sua última obra de arte.

Sua vitória será mais satisfatória se for conquistada por suas próprias mãos. Até onde Wyatt sabe, os dois estão sem armas. O Capitólio ficará entusiasmado em saber que a última batalha será travada por meio de combate corpo a corpo. Eles terão um final emocionante este ano.

─ Eu fiz uma promessa.─Dahlia explica calmamente, levantando-se com firmeza. Ela olha para o corpo de Cove uma última vez, prendendo o símbolo em seu pescoço.

Permitindo que uma única lágrima triste deslize por sua bochecha, a tristeza de Dahlia se transforma em raiva. Ela terá sua vingança e obterá sua vitória. Para Cove.

─Pretendo honrar essa promessa agora.

─ Uma promessa?. ─Wyatt zomba com desdém, tirando sarro de Dahlia como se ela fosse uma criança. Ele bufa sarcasticamente: ─Oh, estou apavorado.

Os olhos de Dahlia escurecem de fúria, parecendo negros como carvão para o público que está assistindo. Seu lábio se contrai em um rosnado e seus punhos se fecham com tanta força que quase se quebram completamente.

─ Você deveria estar.─ Ela lhe diz com firmeza. Sua sanidade estava por um fio, cada vez mais desgastada a cada vida que ela tirava. Com a morte de Cove, algo estalou dentro dela. Algo psicótico, algo ameaçador. Os historiadores apontam esse momento como o dia em que Dahlia Negra ganhou seu nome.

Wyatt foi pego de surpresa quando Dahlia o empurrou. Ele se viu jogado de costas em uma pedra, fazendo com que pedaços voassem pelo chão enquanto Dahlia se aproximava. Não havia pensamentos por trás de seus olhos, apenas um olhar assassino que aterrorizaria Panem pelos próximos anos.

Despreparado para tanta fúria, Wyatt se viu lutando desesperadamente para se levantar. Um soco fraco foi dado em direção a Dahlia, que o agarrou sem esforço. Com um aperto firme em sua mão, ela girou o garoto e torceu seu braço até ouvir um estalo.

Dahlia solta o braço dele com uma carranca não impressionada enquanto ele grita e cai no chão.

─ Eu esperava mais de você, Armstrong ─ Ela afirma com sarcasmo, sem humor em sua voz.─ Você só fala, mas não tem nada para sustentar.─ Rosnando de frustração, Wyatt chuta a perna no abdômen de Dahlia e faz com que ela tropece alguns passos para trás. Forçando-se a se levantar, ele se surpreende ao encontrar Dahlia rindo loucamente para si mesma.─Assim é melhor!.

Avançando, os dois trocam uma série de socos para frente e para trás. Dahlia tem uma expressão enlouquecida no rosto, um sorriso inquietante com um risinho ocasional de vez em quando. Nada parece incomodá-la. Não importa quantos golpes ele acerte em seus braços ou quantos golpes ela receba no estômago, ela se recupera com o dobro da força. Quando ela bloqueia o punho dele com o antebraço e lhe dá um soco forte na mandíbula, ele é jogado de volta ao chão com um novo corte na pele.

─ Vamos lá, Wyatt!─Dahlia aplaude, jogando as mãos para cima e girando em um círculo.─ Era isso que você queria, Snow?─Ela grita para a arena vazia, com a cabeça inclinada para o céu.─ É esse o grande show que você estava esperando?─ Wyatt geme de seu lugar no chão, cansado e fraco pela exaustão da batalha. Dahlia se aproxima do garoto e bate com a bota na bochecha dele com um grunhido. ─Isso é suficiente para você?─Tirando a adaga do cinto, ela gira a lâmina entre os dedos. ─Você quer um show? Eu lhe darei um show!.

Ajoelhada ao lado do garoto, Dahlia ergueu a cabeça dele pelos cabelos.

─ Não, por favor.─ Ele suspira em meio a lágrimas de medo enquanto ela coloca a faca sobre seu rosto.

─ Sorria.─Ela ordena com uma expressão fingidamente alegre, colocando a ponta da lâmina contra o canto da boca dele. Wyatt uiva em agonia quando a faca começa a rasgar sua pele, batendo o corpo em uma tentativa desesperada de escapar.─ Fique quieto.─Satisfeita com seu trabalho no lado esquerdo do rosto dele, ela começa a trabalhar no lado direito. O sangue escorre pela bochecha dele, cobrindo as mãos dela e escorrendo para a boca dele. Ele começa a se engasgar com o próprio sangue, com o gosto metálico na garganta.

O aperto de ferro de Dahlia em sua mandíbula não cede até que ela tenha feito a última incisão. Só então ela joga a cabeça dele para trás com desdém e se levanta, repetindo as primeiras palavras que disse a ele:

─ Controle-se.

Wyatt tosse e cospe infinitas poças de sangue no chão coberto de poeira.

─Você está...─ Ele suspira, encolhendo-se de dor a cada palavra que diz. ─Você é louco.

─ Oh, você ouviu isso, Snow? ─Dahlia grita, sem prestar atenção ao líquido vermelho que escorre de suas mãos. ─ Estou louca!─ Ela ri de forma provocante, cambaleando como uma garota bêbada de loucura. ─Eu sou o que você fez de mim, Snow!─ Voltando sua atenção para Wyatt, ela sorri maniacamente. ─Eu sou a maldita Dahlia Negra! Está orgulhoso de sua criação?─ Aproximando-se do garoto ferido, Dahlia joga a faca para um lado e se posiciona sobre ele de forma intimidadora.

─Por favor...─Ele se lamenta pateticamente, as lágrimas escorregando pelo rosto e se misturando com os rastros de sangue. ─Seja rápido.

Dahlia se agacha ao lado dele com um zumbido pensativo:

─ Hmm... Não sou uma grande fã de misericórdia.─Inclinando-se para perto do rosto dele, Dahlia sussurra em seu ouvido: ─ Eu disse que meu rosto seria o último que você veria.─Agarrando uma pequena pedra, ela ergue a nova arma bem alto no ar e faz uma pausa para prolongar ainda mais o sofrimento dele. Em seguida, ela enfia a pedra no corpo de Wyatt, canalizando toda a raiva acumulada com a morte de Cove.

Muitos espectadores tiveram que desviar o olhar nesse momento, pois Dahlia batia repetidamente com a pedra em seu corpo. A cena sangrenta foi mais violenta para alguns do que o banho de sangue. Seu ataque foi implacável e parecia não ter fim. Ela prosseguiu mesmo com o sangue espalhado em seu rosto. Mesmo depois de ter certeza de que o garoto estava morto. Mesmo depois de o canhão ter soado para confirmar sua morte. Ela só parou quando o anúncio foi feito.

─ Senhoras e senhores ─a voz reverberou pela arena, o que foi estúpido, pois Dahlia era a única pessoa viva para ouvi-la. ─ Apresento-lhes a vencedora dos 66º Jogos Vorazes... Dahlia Blossom.

Das cinzas de seu parceiro do Distrito, a Dahlia Negra floresceu com sangue pingando de suas pétalas.