⚝ 𝟎𝟏 ─── A rivalidade de Potter e Avery
⚝ A RIVALIDADE DE POTTER
E AVERY.
Capítulo um.
7.270 palavras.
01 de outubro 1976
HEATHER AVERY subiu um pouco a saia antes de entrar no trem, querendo passar o menos de tempo possível na plataforma, que cheirava a fumaça e ecoava despedidas de pais chorosos. Talvez fosse um pouco amargurada, mas esse tipo de demonstração de afeto a irritava.
Ela arrastou seu malão por de dentro do corredor apertado do trem, procurando a cabine onde estariam seus amigos. A loira viu Stella, sua amiga mais próxima, entrar em um vagão ao lado de Regulus Black. A cena não a surpreendeu. Stella e Regulus, embora mais jovens, sempre agiam como um casal de idosos casados: inseparáveis e avessos a barulho ou multidões.
Sem querer atrapalhar a privacidade de Stella e Regulus, ela seguiu até onde o vagão onde sabia que os rapazes da Sonserina estariam. Mas seus planos foram frustrados quando Potter esbarrou nela, fazendo Heather derrubar sua mala, incluindo a gaiola que estava apoiada na mesma. Cinnamon, sua coruja, começou a se debater após ser alarmada, enquanto Heather bufava de irritação.
— Por que você usa óculos, Potter, se nunca enxerga o que está bem na sua frente? — disparou a loira, abaixando-se para recolher suas coisas, a expressão carregada de desdém.
James, que com toda sua animação corria para encontrar seus amigos, parou abruptamente. Ao ver a raiva estampada no rosto de Avery, ele não pode conter um sorriso de deboche que apenas a irritou ainda mais.
— Olha só, Avery, se eu soubesse que ia encontrar você, teria trazido flores. — Ele arqueou uma sobrancelha, inclinando-se casualmente contra a parede estreita do corredor.
Heather ergueu o olhar, fulminando-o com uma expressão de puro desprezo.
— Não me provoque, Potter. Já estou tendo o desprazer de respirar o mesmo ar que você.
Ele riu, aquele riso fácil que parecia ecoar pelo corredor, ignorando completamente o tom gélido da sonserina.
— Sai da frente, Potter. — Heather disse, erguendo o queixo com altivez enquanto ajustava a gaiola de Cinnamon.
James permaneceu onde estava, bloqueando o caminho propositalmente, com os braços cruzados e o sorriso ainda mais desafiador.
— Sempre tão educada, Avery. Como alguém pode resistir a essa doçura?
Ela estreitou os olhos, o tom de irritação crescendo em sua voz.
— Vou dizer pela última vez: saia. Da. Frente.
James inclinou a cabeça, fingindo refletir sobre o pedido, mas não se moveu.
— E se eu preferir ficar aqui? — Ele perguntou, o tom carregado de falsa inocência. — Afinal, é raro encontrar você fora da toca, longe do seus amiguinhos.
Heather não respondeu, ao invés disso, ela puxou sua mala, forçando a passagem e fazendo que as rodinhas passassem pelo pé do Potter, que se inclinou e soltou um grito abafado de dor.
— Porra, mulher! — Ele xingou entre os dentes, quase caindo para trás, enquanto sentia a pressão no pé.
A loira não olhou para trás, o pé de James com certeza era a menor de suas preocupações. Não se importava com o drama que acabara de causar, nem com a irritação de Potter.
James, ainda se recuperando da dor no pé, gritou após ela, a voz carregada de desprezo.
— Tenha uma boa viagem com as suas cobras, Avery! — Ele chamou, seu tom sarcástico e zombeteiro. — Maldita. — ele murmurou a última parte mais baixo, mas com certeza ela ouviu.
Enquanto a Avery caminhava em direção ao vagão, sentia um peso crescente de irritação ao pensar em James Potter.
Ele era insuportável, sempre se metendo onde não era chamado, com aquele sorriso deboche e a necessidade de chamar atenção. E o pior de tudo: ela sabia que ele a odiava na mesma medida, embora não conseguisse lembrar exatamente quando isso havia começado.
Talvez fosse algo gradual, uma irritação silenciosa que foi crescendo com o tempo, até se transformar nessa animosidade mútua.
Heather se lembrou da vez em que ele fez seu cabelo brilhar no escuro, no terceiro ano, quando ela ainda estava lutando para se ajustar à escola, e ele no quarto. A humilhação foi tão grande, tão absurda, que ela se lembrava até hoje das risadinhas dos outros alunos enquanto ela tentava esconder o brilho que, por uma semana inteira, fazia com que seu cabelo parecesse mais uma lâmpada ambulante.
James Potter, com todo o seu charme irritante e superioridade de Gryffindor, parecia se divertir com aquilo. Desde então, o ódio havia se consolidado, crescendo cada vez mais, até que se tornasse um sentimento inevitável, entrelaçado com cada passo que ela dava ao vê-lo.
Antes de entrar no seu próprio vagão, Heather não pôde evitar lançar um olhar na direção em que James se dirigia. Ele estava cumprimentando Lily Evans, com aquele sorriso idiota no rosto, como se fosse algo totalmente natural e não irritante
O rapaz também cumprimentou Sirius Black, que estava ao lado de Athelina Faith, a namorada de Sirius, com seu cabelo ruivo brilhando sob a luz do trem. Athelina, sendo de Lufa-Lufa, tinha conquistado Sirius de uma forma que ainda parecia inexplicável para Heather, mas o fato de que ambos, Sirius e James, estavam tão irritantemente atraídos por duas sangue-ruins ruivas era o que realmente a fazia revirar os olhos.
Heather continuou observando, vendo o quarteto entrar no vagão onde Remus e Peter já o esperavam.
A porta do vagão onde ela sabia que seus amigos estavam já estava entreaberta. Dentro, estavam Severus Snape e Lucius Malfoy, ambos do sétimo ano, e Barty Crouch Jr., que estava no sexto, como ela. Os três a olharam assim que ela entrou, seus olhares maliciosos percorrendo seu corpo de cima a baixo, como se estivessem a avaliando.
Lucius foi o primeiro a sorrir, o sorriso frio e calculista que sempre exibia. Severus, com sua expressão usual de desdém, apenas a observou em silêncio, mas seu olhar sombrio não passava despercebido. Já Barty Crouch, o mais irreverente do trio, deu um sorriso torto.
— Que bom ver que você ainda sabe como causar uma cena, Avery — disse Barty com sua voz suave e irônica, um brilho divertido nos olhos.
Heather o ignorou, indo direto para seu lugar. Sentou-se com uma postura altiva, cruzando as pernas e deixando claro que não estava interessada em interagir com eles, mas o sorriso nos lábios de Lucius dizia o contrário.
— Você parece um pouco tensa hoje, Avery — Lucius disse, a voz suave e cheia de uma confiança que só ele parecia ter. Seus olhos percorriam cada movimento dela com uma atenção que sugeria algo além de mera curiosidade. — Está tudo bem?
Heather manteve a expressão impassível, embora por dentro estivesse se perguntando até onde ele iria para mostrar seu controle sobre a situação. Ele se inclinou um pouco mais perto, como se quisesse que todos ali vissem o reconhecimento implícito entre eles. Severus observava em silêncio, com um toque de desdém, enquanto Barty parecia se divertir com a troca silenciosa de olhares.
— Tudo perfeito, Lucius. — respondeu Heather, seu tom frio, mas os olhos desafiadores que ela lançou para ele falavam mais do que qualquer palavra.
O Malfoy sorriu para mais nova, claramente satisfeito e recostou-se no banco. Barty, sempre mais ousado, soltou uma risada baixinha, como se estivesse ciente da dinâmica, mas preferisse observar o desenrolar das coisas sem intervir. Severus, por outro lado, manteve-se em silêncio, observando a troca com o olhar de quem sabia que havia algo mais nas entrelinhas, algo que ele não pretendia discutir ali.
Heather ajustou a gaiola de Cinnamon com um suspiro profundo, voltando seus olhos para o horizonte através da janela do trem.
A loira continuou olhando para a janela, o olhar distante e sem pressa, como se quisesse se afastar de tudo ali dentro. A paisagem que se desenrolava do lado de fora era muito mais interessante do que as piadas de Lucius, e ela sabia que ele gostava de se exibir para os outros, especialmente quando se tratava de fazer comentários que apenas ele e seu pequeno círculo de seguidores achavam engraçados.
Ela ouviu, no entanto, as risadinhas abafadas dos outros meninos, um coro de aprovação enquanto Lucius despejava mais uma de suas piadas supremacistas, tentando deixar claro, mais uma vez, seu lugar elevado. Heather não precisou olhar para ele para saber exatamente o que estava acontecendo. Já estava acostumada com esse espetáculo.
— Os nascidos-trouxas nunca aprenderão. — Lucius disse com um sorriso torto, enquanto Barty e Severus trocavam olhares cúmplices.
Heather continuou olhando pela janela, sua expressão fria e indiferente, enquanto as palavras de Lucius continuavam a ecoar ao fundo, sem que ela se sentisse afetada por elas.
03 de dezembro 1976
OS DIAS EM HOGWARTS, embora rotineiros, estavam passando rápido. Já era dezembro e as decorações natalinas começavam a ganhar espaço dentro de Hogwarts.
Heather ficava frustrada vendo os alunos que durante todos os anos se voluntáriavam para decorar os salões com feitiços que normalmente acabavam mal. Avery odiava o natal.
Naquela manhã, ela notará que Stella estava diferente, talvez algo entre frustrada e incomodada. Por mais que Avery tentasse desvendar o que estava acontecendo com sua colega de quarto, ela não conseguiu.
Heather e Stella dividiam o quarto desde que a Avery estava no segundo ano.
Em seu primeiro ano, a loira teve o privilégio de ter um dormitório exclusivo, muito provavelmente, por influência — ordem — de seu pai.
No entanto, no ano seguinte quando Stella Scarpim entrou em Hogwarts e foi selecionada para Sonserina, Heather teve que abrir mão de seu privilégio e dividir o dormitório com a mais nova.
Isso nunca realmente a incomodou, Stella vinha de uma linhagem pura e era elegante assim como sua família. E o mais importante: era silenciosa e não fazia muitas perguntas. Então logo, as duas se tornaram amigas.
A Scarpim parecia sempre viver em um mundinho só dela — e de Regulus Black, seu namorado de infância —. Mas Heather notou que a mais nova estava agindo esquisito desde a volta às aulas.
Quando Stella afirmou que estava bem, Heather decidiu que não iria insistir: daria espaço para a amiga, mas ficaria de olho no comportamento dela. Não por querer se intrometer, mas por estar preocupada.
Heather e Stella saíram do dormitório juntas, até que a mais nova se despediu apressada, indo em direção à sala de Poções, onde o professor Slughorn, como sempre, tinha a habilidade de fazer a matéria parecer tanto interessante quanto entediante ao mesmo tempo.
Sozinha, Heather respirou fundo, sentindo a leveza de finalmente ter um período vago — algo que, para ela, era um verdadeiro milagre. Avery deu alguns passos, descendo as escadas e ignorando as pinturas tagarelas, quando chegou no próximo corredor uma voz familiar cortou o silêncio.
Heather deu mais alguns passos pelo corredor, sentindo a tranquilidade da solidão. Seus pensamentos se perderam por um momento, até que uma voz familiar cortou o silêncio.
— Heather.
Ela olhou para o lado e avistou Lucius Malfoy, seguido de dois de seus amigos mais próximos. Ele estava impecável, como sempre, com seu cabelo loiro e perfeitamente penteado e um olhar que sempre parecia um tanto distante, como se o mundo ao redor fosse irrelevante.
— Lucius. — respondeu ela, com um sorriso sutil. Ele se aproximou dela, seus passos elegantes ecoando pelo corredor vazio.
— O que está fazendo sozinha? — perguntou, o tom de voz carregado de uma curiosidade possessiva que ela já havia aprendido a reconhecer. Lucius não fazia perguntas à toa.
— Só aproveitando o tempo livre. — ela respondeu, sem esconder o leve sorriso nos lábios.
Os amigos de Lucius, um pouco mais atrás, trocavam olhares discretos, mas nenhum deles ousava interromper. A cena era habitual. Lucius e Heather eram a elite da Sonserina. Era natural que estivessem juntos, mesmo que ninguém ousasse colocar um rótulo sobre o que quer que estivesse acontecendo entre os dois.
— O que você propõe, Malfoy?
Ele sorriu, um sorriso frio e confiante.
— Vamos dar uma volta. E, depois... talvez algo mais.
Os dois se afastaram dos outros, indo em direção a um dos corredores mais afastados. Os olhares furtivos dos amigos de Lucius não passaram despercebidos, mas Heather não se importava.
Enquanto Heather e Lucius se afastavam pelos corredores mais vazios, uma figura ruiva, vestindo a capa característica da Lufa-Lufa, esbarrou neles abruptamente, espalhando livros e pergaminhos pelo chão.
Heather deu um gritinho de susto, quase tropeçando para trás, mas logo recobrou o equilíbrio. Seus olhos se estreitaram ao reconhecer a garota.
— Por Merlim, ninguém mais olha por onde anda? — reclamou, sua voz carregada de irritação.
A garota ruiva se abaixou rapidamente para recolher seus pertences espalhados pelo chão, murmurando um pedido de desculpas apressado.
Era Athelina Faith, uma lufana que Heather já desprezava por vários motivos: ela era uma nascida trouxa, namorada de Sirius Black — alguém que Heather achava insuportável — e, para completar, amiga de Potter.
Heather cruzou os braços, lançando um olhar de desdém enquanto Athelina tentava recolher seus livros. Quando ergueu os olhos para Lucius, esperando alguma reação de solidariedade à sua indignação, ficou surpresa.
Lucius estava olhando para a lufana de um jeito quase intrigado, talvez até admirado. Seu semblante geralmente impassível tinha uma pequena, quase imperceptível, expressão de curiosidade, algo que Heather raramente via.
— Não sabia que os corredores eram tão estreitos, Faith, ou é apenas falta de atenção? — Heather comentou, sua voz afiada como uma lâmina, mas os olhos de Lucius permaneceram fixos na ruiva.
Athelina se levantou, segurando seus livros com firmeza, e respondeu com um tom controlado, mas firme:
— Talvez se algumas pessoas não monopolizassem os corredores, isso não aconteceria.
Heather abriu a boca, pronta para disparar mais um comentário ácido, mas Lucius a interrompeu, finalmente falando:
— Está tudo bem. — Sua voz soou calma, quase inesperadamente cortês, enquanto ele inclinava ligeiramente a cabeça para a lufana. — Certifique-se de ter mais cuidado da próxima vez.
Athelina o encarou por um momento, visivelmente desconfortável, antes de murmurar:
— Vou fazer isso.
Ela passou por eles rapidamente, desaparecendo no final do corredor.
Heather virou-se para Lucius, ainda surpresa com sua atitude.
— Certifique-se de ter mais cuidado da próxima vez? — ela repetiu, zombando do tom que ele usou. — O que foi isso?
Lucius não respondeu imediatamente. Ele olhou por alguns segundos na direção que Athelina tinha ido, com uma expressão que Heather não conseguia decifrar completamente, antes de dar um leve sorriso.
— Apenas sendo educado, Heather.
Mas Heather não acreditou nem por um segundo.
Heather cruzou os braços, estreitando os olhos para Lucius. Sua indignação aumentava a cada segundo.
— O que foi isso, Lucius? — perguntou, a voz carregada de irritação. — Desde quando você se dá ao trabalho de ser educado com... com pessoas assim?
Lucius finalmente desviou o olhar na direção de Heather, sua expressão voltando ao habitual desdém. Ele deu de ombros, mas Heather percebeu que havia algo nos olhos dele, ainda distante, como se a breve interação tivesse deixado uma impressão que ele tentava ignorar.
— Não há necessidade de perder tempo com alguém tão irrelevante, Avery. — ele respondeu com o tom frio, mas sem a convicção de costume.
Heather bufou, cruzando os braços com mais força.
— Irrelevante é pouco! — ela disparou, a voz cheia de veneno. — Athelina Faith é tudo o que há de errado com Hogwarts. Uma nascida trouxa na Lufa-Lufa, tentando agir como se pertencesse a esse mundo, como se tivesse o direito de dividir os mesmos corredores que nós. E ainda tem a audácia de andar por aí como se fosse importante só porque o traidor do Sirius Black, resolveu perdê-la de vista por mais de cinco segundos!
Lucius arqueou uma sobrancelha, finalmente sorrindo com aquele toque característico de arrogância.
— Você tem razão. É até cômico.
Encorajada pela aprovação, Heather deu mais um passo, sua voz ficando mais baixa, mas ainda carregada de desprezo.
— Não sei o que Sirius vê nela. Ele claramente perdeu o juízo. Uma garota sem classe, sem linhagem... Parece até um desespero da parte dele. É patético.
— O que é patético?
A voz familiar e ameaçadora cortou o ar, fazendo Heather e Lucius congelarem.
Eles se viraram e encontraram Sirius Black parado atrás deles, os braços cruzados e uma expressão que parecia uma mistura de fúria e divertimento.
— Vamos lá, Avery. — continuou Sirius, seu tom gélido. — Repita o que disse. Quero ouvir direitinho.
Heather endireitou os ombros, tentando manter a compostura.
— Eu disse que sua escolha de companhia é patética, Black. — Ela forçou um sorriso frio. — Você, sempre tão cheio de si, deveria saber que pode fazer melhor.
Os olhos de Sirius estreitaram e sua postura relaxada ficou levemente mais tensa.
— Cuidado com o que você diz, Avery. — Sua voz era baixa, mas havia um aviso claro ali. — Athelina tem mais dignidade em um único fio de cabelo ruivo do que você tem no corpo inteiro.
Lucius, que observava a troca com atenção, deu um passo à frente, interrompendo antes que a tensão aumentasse ainda mais.
— Está tentando nos intimidar, Black? Não é muito apropriado para alguém que já abandonou tudo o que a sua família representa.
Sirius riu, mas era um riso sem humor, carregado de desdém.
— Ah, Malfoy, sempre tão previsível. Talvez eu tenha abandonado os costumes da família, mas ao menos não sou um cãozinho obediente como você. Agora, se me dão licença... — Ele lançou um último olhar gelado para Heather. — Espero que pense melhor antes de abrir a boca para falar de alguém que você jamais será digna de limpar as botas.
Sirius passou por eles, seguindo pelo corredor, mas Heather podia sentir a tensão ainda pairando no ar. Lucius ficou em silêncio por um momento, antes de soltar uma risada baixa e desdenhosa.
— Black e seus sermões. Sempre um show à parte.
Mas Heather não conseguia relaxar. Ela odiava quando alguém desafiava sua superioridade, e odiava ainda mais o fato de Lucius ter se comportado de maneira tão estranha.
— Vamos sair daqui. — disse ela, tentando esconder a irritação.
E os dois seguiram adiante, deixando para trás um corredor ainda cheio de ressentimentos e tensões.
JAMES POTTER ESTAVA DRAMATICAMENTE FRUSTRADO, tudo naquele ano parecia estar indo bem... até agora. Ele estava sentado à sombra de um carvalho junto com Sirius e Remus, tentando não deixar que sua irritação estragasse a manhã.
Sirius estava inclinado contra o tronco da árvore, completamente relaxado, rindo tão alto que o som ecoava pelo campo.
Remus segurava um livro, mas os outros dois sabiam que ele não estava realmente lendo; o sorriso discreto no rosto do amigo dizia que ele estava mais interessado em observar as interações ao redor.
James, por outro lado, bufava repetidamente, os braços cruzados de forma exagerada. Ele estava fazendo o possível para ignorar o olhar divertido de Sirius e a provocação que, ele sabia, estava a caminho.
— James levou um fora. — começou Sirius, triunfante, enquanto se ajeitava para um discurso dramático. — E eu, como sempre, fui um bom amigo e observei, aplaudi e capturei o momento perfeito!
— Padfoot, cale a boca. — James se virou para ele, os olhos arregalados de frustração.
Sirius ignorou completamente a interrupção e continuou, com ainda mais entusiasmo:
— "James, eu gosto de você, mas vejo você como um amigo." A amizade, James, a maldita amizade! O que você vai fazer agora, hein?
James fechou os olhos por um momento, inspirando profundamente antes de responder.
— Eu não pedi sua opinião, Sirius. — Sua voz saiu mais irritada do que ele pretendia, mas não importava. Ele já estava cansado da situação. — Evans vai perceber que sou o único para ela. Só é questão de tempo.
Antes que Sirius pudesse continuar com sua habitual torrente de provocações, James notou Regulus se aproximando com Stella e Peter logo atrás.
Regulus estava mais sério do que o habitual, e James o observou com curiosidade. Ele não tinha nada contra o irmão mais novo de Sirius, e até gostava do esforço de manterem as interações cordiais. Afinal, Sirius o amava e isso era o suficiente para James.
O sonserino deixou-se cair no chão ao lado deles, puxando Stella para se sentar entre suas pernas. A cena parecia íntima, mas James desviou o olhar antes que pudesse pensar demais nisso.
— Regulus? — chamou Sirius, a voz carregada de zombaria. — Está tão quieto hoje. O que, você não vai rir da minha piada sobre o James?
O Black mais novo levantou os olhos para o irmão mais velho, o rosto sem a menor sombra de humor.
— Não estou no humor para piadas agora, Sirius.
James franziu as sobrancelhas, mas não disse nada. Ele sabia quando era melhor não intervir nas dinâmicas complicadas dos Black.
Nesse momento, Peter finalmente chegou mais perto, parecendo animado demais para perceber o clima tenso.
— E então, pessoal, vamos ao campo de Quadribol mais tarde? — ele sugeriu, com um sorriso ansioso.
James lançou-lhe um olhar cansado antes de responder, sem esconder o aborrecimento.
— Isso não vai me fazer esquecer o que aconteceu, Peter. — James murmurou, cruzando os braços, ele mal teve tempo de reagir quando Heather Avery, com sua usual postura impecável, surgiu diante deles.
Potter observou Heather falar brevemente com Regulus e Stella, algo que James não entendeu bem, mas era relacionado a Avery estar preocupada com Stella, o que era milagre, que aquela loira esnobe se preocupasse com qualquer um que não fosse ela mesma.
A tensão aumentava, mas antes que pudesse refletir mais sobre isso, sua deixa estava ali. A provocação sempre foi sua especialidade, e ele não pensava duas vezes.
— Ora, ora, se não é a senhorita Avery. — James não pôde evitar. O sarcasmo escapou com a facilidade de um truque velho. — Surpreso que você conseguiu encontrar o caminho até aqui sem alguém para carregar sua coroa de ouro.
Ele viu os olhos de Heather se estreitarem quase instantaneamente, o desafio típico entre os dois se acendendo como sempre. James sabia que ela responderia de forma afiada, e ele estava preparado.
— Ah, Potter, sempre tão espirituoso. — A voz dela era suave, mas a lâmina da provocação estava ali, afiada. — É um milagre que você consiga pensar em algo inteligente enquanto está tão ocupado seguindo Lily como um cachorrinho perdido.
A palavra "cachorrinho" atingiu em cheio, e James bufou, sentindo a raiva começar a borbulhar. Sirius deu uma gargalhada, claramente se divertindo. Peter revirou os olhos, e James só se sentiu mais irritado com o que parecia ser um círculo de piadas sem fim.
James apenas apertou os dentes, tentando não deixar a irritação transparecer mais do que já estava evidente. O olhar desdenhoso de Heather ainda estava queimando em sua mente, e ele sabia que ela tinha o poder de deixá-lo ainda mais nervoso, como se suas palavras fossem facas afiadas. Ele desviou o olhar por um instante, observando Regulus beijar o topo da cabeça de Stella, e não pôde deixar de sentir uma pontada de inveja. Regulus, o sonserino quieto e sério, parecia tão natural e tranquilo. Ele, por outro lado, só conseguia se afundar em uma maré de frustração e raiva.
— Já terminou, Heather? — Regulus perguntou finalmente, sua voz calma, mas com um sutil tom de cansaço que fazia James se perguntar se ele também estava se irritando com a situação.
Heather lançou um último olhar desdenhoso para James antes de se virar para Stella.
— Sim, só queria ter certeza de que a nossa pequena Stella está em boas mãos. — Ela lançou um sorriso para Regulus, mas este não respondeu.
Heather finalmente se afastou, mas James sentiu que ainda havia algo mais que ele poderia dizer, algo para provocá-la ainda mais. Mas ele sabia, sabia que era melhor se calar. James bufou novamente, incapaz de conter a irritação que fervia sob a sua pele, e, sem pensar, lançou o primeiro golpe verbal:
— Avery é uma completa idiota. Sempre foi e sempre será.
Peter, ainda rindo da troca anterior, decidiu provocar ainda mais.
— Relaxa, Prongs. Aposto que ela gosta de você e é péssima em demonstrar.
— Isso é loucura, cara! — James respondeu, indignado, gesticulando exageradamente. — Se ela gosta de alguém, é do espelho dela ou do Malfoy. Eu seria a última opção no mundo dela.
Remus, que até então observava a discussão com um sorriso contido, finalmente falou, em um tom reflexivo:
— Você pode não gostar dela, mas tem que admitir... Heather Avery é bonita. — Ele deu de ombros, como se a beleza da jovem fosse um fato inquestionável.
James o encarou como se ele tivesse acabado de sugerir algo absurdamente herético. Como assim, bonita? Não fazia sentido. Não quando ela era uma Sonserina arrogante, metida e... tudo o mais que James estava morrendo para dizer. Como é possível alguém ter o mínimo de simpatia por ela, especialmente com tudo o que ela representava?
— Bonita? Ela é uma Sonserina arrogante, metida e insuportável! — Ele retrucou, com mais raiva do que o necessário, mas não se importou.
Sirius gargalhou, mas o tom de sua risada tinha um fio de escárnio, como se estivesse rindo da própria desgraça.
— Claro que é, e muito mais. Supremacista, fria, manipuladora... Ela deve ter um retrato de Salazar Sonserina ao lado da cama pra se inspirar todos os dias. E você ainda está dizendo que ela é bonita, Moony? Ela pode até ser, mas a beleza dela não esconde o fato de que é uma cobra de sangue-puro até os ossos.
Stella estava entre as pernas de Regulus, em silêncio, mas seus olhos denunciavam a crescente agitação. Ela revirou os olhos discretamente e James percebeu como isso a incomodava. Ele sabia o que ela pensava, ou pelo menos imaginava: Heather poderia ser arrogante, metida e uma verdadeira dor de cabeça, mas ela tinha seus momentos, e para Stella, isso era suficiente para justificar sua lealdade. Ele não entendia isso, não conseguia.
Regulus, sempre tão tranquilo, apertou levemente a cintura de Stella, como se estivesse tentando acalmá-la, ou talvez apenas sinalizando que ele a via, que estava atento. E pronto para defender a amiga da namorada dele, caso fosse isso que ela queria.
— Você já acabou de cuspir veneno sobre ela, Sirius? Ou vai continuar atacando pessoas que não estão aqui para se defender? — A voz de Regulus era calma, mas o tom afiado denunciava que ele estava começando a perder a paciência. James observou Sirius, esperando pela resposta, mas antes que qualquer coisa fosse dita, Stella, que estava quieta até então, finalmente falou.
— Heather só veio ver se eu estava bem. Ela pode ser muitas coisas, mas é uma boa amiga. — A firmeza na voz de Stella fez James dar um passo atrás. Ele a olhou com surpresa, sentindo o peso de suas palavras. Por um momento, ele se perguntou se estava sendo injusto com Heather.
Sirius, como esperado, não deixou a provocação passar em branco.
— Uma boa amiga? Uma boa amiga que provavelmente vai te entregar à próxima oportunidade que tiver. Gente como a Avery não é confiável, Stella. Ela se importa com sangue puro e status, e só por isso se importa com você. — As palavras de Sirius caíram como uma bomba, e James viu os olhos de Stella se arregalarem.
Stella, com a voz trêmula, respondeu:
— E você acha que a conhece tão bem, Sirius? — Ela estava visivelmente abalada, mas sua resposta foi firme. — Heather pode ser arrogante, mas ela nunca me tratou mal. Ela esteve ao meu lado quando precisei. E honestamente, ela não merece ouvir essas coisas, ainda mais sem estar aqui para se defender.
James observou o rosto de Sirius, os olhos se estreitando. Ele estava prestes a abrir a boca, quando Sirius, mais uma vez, retrucou com raiva.
— Eu não preciso conhecê-la tão bem para saber o que ela é. — Sirius soava desdenhoso, mais do que nunca. — Vocês Sonserinas são todas iguais. Falsidade em primeiro lugar, manipulação em segundo.
Remus, que até então observava a discussão com um sorriso contido, franziu a testa e levantou a cabeça do livro que segurava.
— Sirius, por que você está tão bravo? — perguntou, com um tom calmo, mas com uma curiosidade genuína, como se tentando entender o que realmente estava por trás da raiva de seu amigo.
James pigarreou, visivelmente incomodado com a intensidade da conversa. Ele nunca fora de ficar em cima do muro, mas isso estava tomando proporções que ele não gostava.
— Eu não acredito que estou dizendo isso, mas... talvez o Sirius esteja exagerando um pouco. — Ele desviou o olhar para Stella e depois para Sirius. — Avery é insuportável, claro, mas... sei lá, ela não parece uma ameaça de verdade.
Sirius bufou, uma risada seca escapando de seus lábios, e James sabia que ele estava prestes a fazer mais uma provocação.
— Claro, Prongs, defenda a princesinha da Sonserina. Talvez se você tivesse se esforçado tanto assim com a Evans, ela não tivesse dito que só te vê como um amigo.
As palavras de Sirius atingiram James como um soco no estômago. Ele abriu a boca para retrucar, mas antes que pudesse fazer qualquer coisa, Sirius se virou novamente para Stella, seus olhos brilhando com algo mais sombrio do que o usual.
— Não estou dizendo que gosto dela, mas, sinceramente, essa implicância toda não faz sentido.
— Claro que faz sentido! — Sirius disparou com uma raiva tão deslocada, tão errada, que James se perguntou o que estava realmente acontecendo com seu amigo. Ele girou os olhos para Stella, como se buscando um alvo mais próximo. — Mas você sabe como é, não é, Stella? Sempre tão ocupada protegendo sua amiga "leal".
Stella franziu a testa, visivelmente confusa e ofendida.
— O que você quer dizer com isso, Sirius?
Sirius, com um olhar mais cortante do que antes, disparou:
— Quero dizer que talvez você devesse se perguntar o que significa lealdade quando você vive tão confortável na companhia de gente como ela. Ou, quem sabe, se a lealdade dela é igual à sua.
James olhou para Sirius, completamente perplexo. Ele nunca imaginou que o garoto que ele conhecia tão bem poderia ser capaz de algo assim. Ele podia não gostar de Heather, mas isso... isso estava além da conta.
Cada palavra que saia da boca de Sirius parecia mais agressiva do que a anterior, e ele, incapaz de desviar o olhar, viu o momento em que as palavras de Sirius cortaram fundo em Stella, que estava prestes a explodir.
— Você fala como se fosse alguma autoridade moral, Sirius, mas talvez devesse prestar atenção na sua própria vida. Ou melhor, na escolha de companhia que faz. Porque, francamente, sua própria "namorada" não é nada mais do que uma... sangue-ruim insignificante que jamais deveria ter saído do seu devido lugar.
James arregalou os olhos. Ele nunca imaginara que Stella fosse dizer algo assim, e a ideia de ver Sirius, normalmente tão seguro de si, abalado daquela maneira era tão desconcertante quanto o próprio comentário de Stella. O silêncio no ar era pesado, sufocante, e ele se pegou olhando para Remus e Peter, ambos tão paralisados quanto ele.
Sirius parecia incapaz de reagir de imediato. Seu rosto estava impassível, como se estivesse tentando processar o golpe. James sentiu um nó no estômago ao ver a incredulidade nos olhos do amigo.
Stella não deu mais nenhuma resposta, simplesmente virou-se e saiu.
O Potter engoliu em seco, mais uma vez assombrado pelo que acabara de acontecer. Ele não acreditava no que acabara de ouvir. Stella podia ser uma sonserina de sangue-puro e família rica, mas nunca agiu daquela forma, ela não era só cunhada de Sirius, ele sempre a tratou como praticamente uma irmã.
O próprio Regulus estava chocado com o comportamento dela, como se não a reconhecesse. Mas ainda assim, a defendeu, mandando Sirius medir as palavras que usava para se referir a ela. E então ele foi atrás da própria namorada.
— O que deu em vocês dois? Vocês eram... — Remus começou, mas a dúvida na sua voz foi cortada por Sirius.
— Não importa o que éramos. — Sirius respondeu, a voz mais rouca e fria do que James jamais ouvira. Ele estava tentando se proteger de algo, mas não conseguia entender o que exatamente estava acontecendo dentro de Sirius.
James engoliu em seco ao ouvir isso. Ele conhecia Regulus o suficiente para entender que aquele comentário não era apenas um aviso, mas algo mais profundo, mais pessoal.
— Merlin, os Black têm um jeito especial de destruir qualquer atmosfera, não é? — James murmurou, tentando aliviar a tensão com uma piada, mas sabia que estava sendo inapropriado.
— Não acho que seja hora para piadas, James. — Remus suspirou, seus olhos se fixando em Sirius, que estava parado, os punhos ainda cerrados, seu olhar fixo no vazio. — Isso foi... pessoal demais até para eles.
O Potter se aproximou de Sirius, ainda processando o que acabara de acontecer. Ele precisava perguntar, por mais indiscreto que fosse.
— Pads. — começou James. — Você realmente está brigando com a sua cunhada por causa da Heather?
Sirius, com os olhos cheios de frustração, olhou para James.
— Ela está envenenando a cabeça da Stella, James! Fala sobre pureza de sangue, essas porcarias... tudo vindo dessa maldita! — exclamou, irritado. — Ela ainda falou mal de Athelina hoje. Você não sabe a discussão que rolou.
James franziu a testa.
— Mas... Stella não é assim. Ela nunca pensou dessa forma.
Sirius deu uma risada amarga.
— Não era, até começar a andar com aquela maluca! A Heather a deixou com essa ideia nojenta de superioridade, e ainda falou que a Lina não deveria estar com alguém da nossa família.
James ficou em silêncio, digerindo as palavras de Sirius. Ele sabia o quanto ele se importava com Athelina.
— Athelina? — perguntou, preocupado.
— Disse que ela é "sangue-ruim" e que eu deveria rever minhas companhias.
James tentou compreender.
— Então, você está brigando com Stella e com a Heather por causa disso?
Sirius fechou os olhos, cansado. James o olhou, entendendo a dor de Sirius, que provavelmente estava começando a se arrepender de ter brigado com a cunhada só por estar com raiva da amiga dela.
— Vai ficar tudo bem, Sirius. — disse James, tentando dar alguma tranquilidade. — Eu vou dar uma liçãozinha na Heather. Ela precisa aprender que não pode sair falando o que quiser por aí.
A LUZ SUAVE DE FIM DE TARDE refletia nas pedras do corredor, tingindo tudo de tons dourados e laranjas, enquanto o céu, já carregado de nuvens escuras, deixava claro que uma chuva estava prestes a cair. O ambiente estava tranquilo, quase deserto, sem ninguém por perto, o que tornava o lugar mais silencioso.
James estava encostado na parede, quando ele viu Heather, o sorriso travesso se espalhou por seu rosto.
— Ah, olha quem está aqui. — James disse, dando um passo em direção a ela com um sorriso irônico. — Procurando o Malfoy, Heather? Ou está só passeando por aí, como uma cachorrinha sem dono?
Heather o olhou de cima a baixo, os olhos estreitados, mas sua postura era de quem estava se segurando. Ela não queria se envolver em mais uma briga, mas a provocação de James parecia ter atingido um ponto sensível.
— Se acha engraçado, Potter? Perdeu a capacidade de fazer as próprias piadas e agora copia as minhas? — Ela respondeu, a voz calma, mas com uma ponta de desprezo.
James deu um sorriso de canto, divertido com a resposta, mas não deixou de perceber o tom desafiante na voz de Heather. Ele sempre gostou de cutucar as pessoas, especialmente aquelas que, como ela, tentavam manter a compostura
— O que posso dizer? — James deu de ombros, sua postura relaxada, mas seus olhos brilhando com uma provocação que ele não conseguia esconder. — Até as piadas mais ruins podem ser melhores do que suas tentativas de se esconder atrás dessa fachada de "sou forte e imbatível". Sério, Heather, você não precisa fingir ser a dama da corte.
Heather o encarou, sua mandíbula apertada, mas ela não deu o gosto de reagir com raiva.
— Não importa o que você pense. Não importa o que eu faça. Eu não vou me rebaixar ao seu nível.
O Potter, com seu sorriso travesso ainda no rosto, observou Heather por um momento, os olhos brilhando com um misto de diversão e malícia. A chuva do lado de fora batia com força nas janelas, criando uma cortina de som que parecia apagar o resto do mundo, deixando-os isolados naquele corredor.
Com um movimento quase imperceptível, ele deslizou a varinha de dentro da manga, mantendo-a oculta enquanto se aproximava ainda mais dela. Seu olhar nunca saiu de seu rosto, atento a cada expressão, a cada micro-movimento. Ele murmurou uma palavra quase inaudível, um feitiço suave, mas eficaz, e de repente, as roupas de Heather começaram a mudar.
A camiseta casual que ela usava se transformou rapidamente em um suéter da Grifinória, com as cores vermelho e dourado vibrando contra o tecido, enquanto sua calça se tornava uma saia vermelha, curvando-se ao redor de seus quadris. A transformação foi rápida demais para que Heather tivesse tempo de reagir.
James não conseguiu se segurar e soltou uma risada baixinha, mas cheia de satisfação. Ele se afastou um pouco, a varinha já novamente escondida.
— Hm, eu tenho que admitir... — ele disse, com a voz calma, mas com aquele tom de sarcasmo evidente. — Acho que esse suéter fica até melhor em você do que em mim, Heather. Quem diria?
Heather, que até então estava tentando manter a compostura, olhou para suas roupas de repente, percebendo o que havia acontecido. A confusão tomou conta dela, e logo foi substituída por uma raiva feroz. Ela olhou para James com os olhos arregalados, seu rosto agora tingido de um vermelho intenso, como se estivesse prestes a explodir.
— O que você fez?! — Ela gritou, a raiva clara em cada palavra. Seu olhar passou freneticamente pelas suas roupas, como se ainda estivesse tentando entender como aquilo aconteceu. — Você é um... um idiota, Potter!
James cruzou os braços, observando com diversão o surto de Heather. Não havia nada que ele gostasse mais do que ver alguém perder a calma com ele, especialmente quando se tratava de Heather, que estava sempre tão controlada, tão segura de si.
— Oh, não é tão ruim assim, Heather. — Ele disse, com um sorriso malicioso, passando uma mão pelos próprios cabelos de maneira despretensiosa. — Eu acho que com esse visual fica quase bonita.
Heather estourou. Ela avançou para ele, os olhos brilhando com fúria, e as mãos se levantaram, como se estivesse pronta para arrancar aquele sorriso sarcástico de seu rosto.
— Desfaz isso agora, Potter! — Ela gritou, os punhos cerrados e os dentes apertados. — Eu não vou ficar com essas roupas ridículas!
— Ah, não querida. Fica ótimo em você. — Ele disse com uma gargalhada debochada, como se se divertisse com a irritação dela. — Você vai ter que voltar para comunal assim, aposto que o Lucius vai adorar a visão.
Em um movimento rápido, ela tentou agarrar a varinha dele. James, surpreso com a rapidez, deu um passo para trás, mas ela não desistiu. Ambos começaram a se debater no corredor vazio, lutando pela varinha, os corpos se chocando contra as paredes de pedra enquanto tentavam se desvencilhar.
— Você vai se arrepender disso! — Heather rosnou, tentando puxar a varinha de James de sua mão.
James não estava disposto a ceder tão facilmente. Ele se esquivou, empurrando Heather para trás, mas ela era rápida. Eles se arrastaram pelos corredores, cada movimento mais frenético, até que, em um instante de descuido de ambos, ambos caíram desajeitadamente para o chão, no lado oposto do corredor, perto da escada que levava à Torre de Astronomia.
A varinha de James escapou de sua mão durante o movimento, voando para longe, desaparecendo pelo corredor. Eles ficaram ali, caídos no chão, ofegantes e enlameados com a água que começava a cair sobre eles, a chuva se misturando com a tensão palpável no ar. Ambos estavam imundos, molhados até os ossos, mas James ainda manteve seu sorriso travesso, mesmo sem a varinha e com a sensação de que talvez agora tivesse ido longe demais.
— Isso não é engraçado, Potter! — Ela gritou, sua voz agora abafada pela chuva que caía com força sobre o castelo. Mas não teve tempo para mais palavras. Ela se aproximou da porta, tentando abri-la, esperando que a chave de passagem estivesse ali para ela fugir daquela situação humilhante. Só que a porta não se moveu.
Ela tentou novamente, desesperada, puxando a maçaneta com força. Nada. A porta estava travada.
— O que... O que está acontecendo? — Ela rosnou, olhando para James, que ainda estava no chão, como se não se importasse nem um pouco com a situação.
James observava com um sorriso ainda mais largo em seu rosto. Ele se levantou lentamente, dando um passo para perto dela, os olhos brilhando com malícia.
— Parece que estamos presos, Heather. — Ele disse, a voz tranquila, mas com um toque de diversão. Ele olhou para ela e então para a porta novamente. — E sem varinhas... parece que você vai ter que aguentar mais um pouco da minha companhia. Não me parece tão ruim, né?
— Isso é um pesadelo... — Ela murmurou, quase sem acreditar no que estava acontecendo. Ela estava presa com James Potter, no meio da chuva, com roupas da grifinória.
— Sabe Avery, eu nunca achei que ia te ver toda molhada. — ele provocou segurando a risada, enquanto tentava inutilmente se esconder da chuva.
Ela o encarou com uma fúria crescente, e a chuva parecia tornar o momento ainda mais intenso.
— Não sei o que você tem na cabeça, Potter, mas você vai se arrepender disso. — ela disse, a voz carregada de desprezo. — O que você estava fazendo antes disso? Mais uma ronda sem propóstio?
— Ah, qual é, Heather? Você vai ficar aí reclamando ou vai admitir que a chuva está fazendo o momento um pouco mais interessante? — Ele sorriu, desafiador. — Eu aposto que se não estivesse aqui, provavelmente estaria em algum canto, dormindo com uma cobra de estimação, né?
Heather revirou os olhos, claramente exasperada com mais uma tentativa de provocação. Ela deu um sorriso sarcástico e respondeu com um tom cortante:
— Haha, muito engraçado, Potter. Que piada previsível.
James se sentiu atingido, mas manteve a postura, a provocação só acendendo mais sua irritação.
— Previsível? Eu? Cala a boca. — Ele disse, ofendido. — Mas, ei, se você não consegue parar de reclamar, talvez seja melhor parar com esse teatro e me beijar. Quem sabe o mau humor passa.
O Potter ficou em silêncio por um momento, sentindo uma leve confusão tomar conta de si mesmo. Ele não sabia o que o levou a dizer aquilo, e a sensação de ter ido longe demais começou a se infiltrar em seus pensamentos. Mas antes que ele pudesse tentar se justificar ou encontrar alguma saída, algo inesperado aconteceu.
Heather, com uma rapidez que o surpreendeu, deu um passo à frente e o puxou, selando seus lábios nos dele. O choque foi imediato, mas logo a intensidade do beijo tomou conta de ambos. A chuva caía forte ao redor deles, os respingos de água se misturando ao calor do momento. James se entregou ao beijo, sentindo o gosto doce do brilho labial de mentol nos lábios dela, a sensação fresca e única que o fez querer mais.
Quando finalmente se separaram, ambos ofegantes e molhados, o coração de James ainda batendo forte no peito, ele não sabia o que dizer. Ele olhou para ela, ainda atônito com o que acabara de acontecer. Mas Heather, com uma expressão de puro desdém, apenas deu uma risada seca e revirou os olhos.
— O mau humor não passou, Potter. — ela disse, a voz cheia de ironia.
James ficou completamente chocado. Seu cérebro estava em um turbilhão de pensamentos, tentando processar o que acabara de acontecer. Ela não parecia ter a menor intenção de suavizar as coisas, e a reação dela o pegou de surpresa, como se tudo o que tivesse feito não tivesse importância alguma para ela.
Ele ficou ali, sem palavras, enquanto a chuva continuava a cair ao redor deles, seus olhos ainda fixos nela, tentando entender o que havia acabado de acontecer.
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