XXXIII - ALEXA, TOCAR A PLAYLIST MAIS TRISTE DE TODOS OS TEMPOS.
❝𝗘𝘂 𝗲𝗿𝗮 𝘂𝗺𝗮 𝗰𝗿𝗶𝗮𝗻𝗰̧𝗮, 𝗲𝘀𝘀𝗲 𝗺𝗼𝗻𝘀𝘁𝗿𝗼 𝗾𝘂𝗲 𝗼𝘀 𝗮𝗱𝘂𝗹𝘁𝗼𝘀 𝗳𝗮𝗯𝗿𝗶𝗰𝗮𝗺 𝗰𝗼𝗺 𝗮𝘀 𝘀𝘂𝗮𝘀 𝗺𝗮́𝗴𝗼𝗮𝘀.❞
- Jean-Paul Sartre
DEPOIS DE MUITA INSISTÊNCIA da parte de Changbin, eu tomei um banho. Falando assim parece até que eu sou o maior hater de uma ducha que existe, mas o que acontece é que eu não estou sentindo vontade em levantar da cama.
- Talvez você deva aproveitar para limpar esse lixão também, vai ser terapêutico. - ele diz.
E sim, isso pode até parecer uma sugestão, mas outra vez eu não tenho escolha. Quando me dou conta, estou limpando o quarto, enquanto o meu melhor amigo prepara algo na cozinha. Eu já o disse que estou sem fome.
Para iniciar a faxina, começo com a trilha sonora. Nos últimos dias eu estive fazendo a playlist mais triste de todos os tempos, é ela mesma que eu ligo e quando "To My Youth" do Bolbbalgan4 começa a tocar, eu vejo que ela faz mesmo jus ao nome. Depois de deixar o celular tocando na cabeceira, eu vou arrumar a cama.
É doloroso que tudo até na minha própria casa me lembre dela. Os lençóis onde ficamos deitados durante o dia inteiro ainda tem o seu cheiro, na mesa de cabeceira ainda tem um dos seus protetores labiais de melancia, no meu guarda-roupas há o blusão do Pink Floyd Live On Stage de 1972, que ela sempre vestia para dormir. Não consigo mais olhar para os meus meiões da época que jogava futebol e não pensar que sempre tinha que acabar colocando um par nos pés dela no meio da noite porquê eles ficavam muito gelados. No meu banheiro, sua escova de dentes continua ao lado da minha.
Não consigo me desfazer disso. Não são objetos, são memórias, somos nós dois. Eu não estou pronto para dar um fim em tudo, mesmo que para nós dois não tenha mais volta.
Assim como a música que passa, "Turbulence" do Ateez, eu estou tão sobrecarregado por se eu mesmo. Será que alguém pode só me abraçar? Eu quero estar onde você está.
No meio de toda a arrumação, eu paro. Deixo a vassoura de lado, sento-me no chão limpo e revejo as nossa mensagens antigas. São centenas de mensagens aleatórias. Posts que ela achava engraçados e me enviava, mensagens de "bom-dia" que eram trocadas todas as manhãs, figurinhas de cachorrinho, fotos de Mingi e trocas de carinho.
Me dói, dói tanto ouvir a sua voz em cada áudio, porque sei que agora não deve ter a mesma alegria em sua voz. Sinto saudade. Quero a abraçar, a beijar e pensar que vai ficar tudo bem. É com o desejo de ouvir a sua voz, nem que seja pela última vez, que eu acabo ligando para ela.
Não é surpresa que ela não atende.
Largo o celular no chão. Respiro fundo. Passo as mãos pelos cabelos e descanso o rosto nos joelhos dobrados. "Fine" da Taeyeon ecoa pelos meus ouvidos e eu sofro para conter o choro, porque é claro que não está nada bem.
- Jisung, está pronto. - meu melhor amigo anuncia da porta do quarto.
- Não estou com fome. - repondo com a cabeça baixa, evito olhar nos seus olhos, não quero que ele veja as lágrimas que circundam meus olhos.
- Vem comer, depois a gente vai dar um passeio com o Mingi. - ele diz. - O cachorro. - ele se encarrega de ser claro. - Agora desliga essa música, pelo amor de Deus. - ele pede. - Se vai colocar alguma coloca Rollin', Toutch My Boddy, Gee. Músicas 'pra te ressuscitar.
Nem mesmo elas conseguiriam me animar agora. Minha playlist continua ligada até o fim, seguido de "Me After You" do Paul Kim e por fim, "Love Poem" da IU.
Eu só queria poder voltar no tempo e dizer não para o meu pai quando tive a chance pela primeira vez. Tudo isso por causa de uma palavra, "sim".
Eu seco os olhos e em seguida vou para a mesa, almoçar com Changbin.
Mal toco na comida. E não é por estar ruim, é que simplesmente não me desce. Quando estou triste, ansioso, preocupado ou com raiva, não consigo comer de jeito algum. É um saco, porque eu sei que preciso comer, mas até mastigar parece difícil.
- O que você está esperando para ir atrás dela? - Changbin questiona, seu olhar direcionado à tela do celular, demonstrando desinteresse na conversa, mas sei que ele está para me colocar dentro de um porta-malas e me levar até ela.
- Eu não posso.
- Não pode, ou não quer? - ele finalmente larga o celular.
- Você está de brincadeira, não é? - sua pergunta me chateia. - Tudo que eu mais queria era estar ao lado dela.
- Sério? Porque não é isso que parece. - seu tom de voz é sério. - Tudo que eu vejo é você se lamentar e não fazer nada.
- Não é como se eu tivesse alguma escolha.
- Nós sempre temos uma escolha. - é o que ele diz. - Você ainda pode ir até ela e tentar consertar tudo. Não precisa se casar, Jisung. Sei que está preocupado com Sana, mas ela é uma mulher adulta e pode dar um jeito no próprio problema. Se quiser ajudar, se envolva de outra forma.
- Me diz como então.
- Você pode ficar ao lado dela como um amigo. Os pais dela não podem fazer ela se casar a força, é ela quem diz a palavra final. - ele garante. - O máximo que podem fazer seria a deserdar, mas ela é a única da família que pode assumir os negócios no futuro.
- Mesmo que este problema esteja resolvido, tenho outro maior para me preocupar. - eu lembro. - Não posso deixar que o meu pai faça algo contra ela.
- O que ele teria para usar contra ela?
- Eu não quero expô-la, foi um episódio no passado, um erro que ela cometeu envolvendo Huye.
- Você é muito ingênuo. - por algum motivo, ele ri. - Se você está falando sobre a vez que ela provocou uma reação alérgica no ex-namorado sem querer, ela me falou sobre isso. Ela não sabia e era uma criança, não vai ser julgada por isso. E se for, não vai dar em nada, ela não sabia e tem testemunhas, burrão.
Talvez tenha um pouco de razão no que Changbin diz. Só talvez, exista uma brecha, uma possibilidade de "nós" voltarmos a existir.
- Jisung-ah... - ele chama a minha atenção de volta. - Por acaso você tem acesso ao escritório do seu avô?
- Não seria difícil entrar lá. - respondo, mas então me resta a curiosidade. - Por quê?
- Porque lá você deve encontrar todo tipo de papelada financeira e todo o sistema que seu pai operou na empresa e seu avô está encobrindo. - ele responde. - Se você conseguir isso, pode denunciar ele por fralde e corrupção.
Eu não acredito que esta frase estará presente nos meus pensamentos, mas Seo Changbin é muito inteligente.
Pegar estes documentos não será difícil. Além do meu avô, sou o único que sabe a senha do cofre. Eu prometi no passado que não faria nada com os documentos, pelo meu avô, mas se for o único jeito de impedir essa tragédia de acontecer, pode valer a pena usar essa cartada.
- Agora a pergunta é: Você vai continuar aqui parado sem fazer nada? - ele questiona.
Mais uma vez, ele parece saber o que fazer. Conseguir os documentos será a parte fácil, o difícil é ter a coragem de denunciar o meu próprio pai. Querendo ou não, ele ainda é parte da minha família. Ele é meu pai, meu sangue.
Me sinto tão confuso. Eu não quero sacrificar a minha felicidade, mas também não sei se me sinto confortável ameaçando o meu pai. Isso com certeza é algo que afetará o meu avô também, ele se preocupa muito com o filho, como o meu pai nunca se importou comigo.
Ah Jiwoo, o que eu devo fazer?
Quando fecho os olhos e imagino o seu rosto, ele está tão triste, decepcionado ao olhar para mim. Eu te machuquei, magoei e descumpri a promessa que fiz de que estaria ao seu lado sempre. Eu falhei com você. Mas talvez ainda não seja tarde de mais, certo?
Num momento repentino de coragem, eu me levanto da cadeira, pego o meu celular e a chave do carro, para só então dizer:
- Eu estou indo atrás dela. - sinto meu corpo sendo recarregado de energia. - Tranca a porta quando sair, leva Mingi com você, cuida bem dele.
Não espero uma confirmação sua, pois sei que ele fará exatamente o que pedi. Tudo o que importa nesse momento é encontrá-la e pedir perdão.
Eu entro no carro, coloco o cinto de segurança, checo os espelhos, ligo o carro, retiro o freio de mão e piso no acelerador. Honestamente, não estou preocupado com o limite de velocidade, tenho medo de demorar muito para chegar e toda essa coragem sumir do meu corpo.
Não demora para chegar na empresa. Entro correndo feito louco, todos aqui agora me veem como um. Passo pelas catracas com uma certa impaciência, e, pela primeira vez aqui, eu uso do meu privilégio e vou no meu elevador.
Paro no seu andar e neste momento pouco me importa de estar em um local de trabalho - local este que eu faltei por "estar doente" -, não ligo que todos descubram sobre nós, se é que ainda existe alguma mínima chance para nós.
- Onde está Lee Jiwoo? - eu interrogo quando não a vejo em lugar nenhum. Mesmo com a pouca corrida do elevador até aqui, já me sinto um pouco ofegante.
- Ela tirou alguns dias de licença, senhor. - Lee Chaeryeong me responde, confusa com a minha aparição repentina. - Pensei que soubesse.
E eu sabia, só não me lembrava. Mas agora eu recordo de quando Hyunjin veio até mim, falar sobre isso.
- Você sabe onde ela está agora?
- Não. Sinto muito.
Não, não, não! Onde ela poderia estar agora? Minha mente tenta trabalhar nisso, mas estou tão afobado que leva um tempo para pensar no local mais óbvio, o seu apartamento.
Agradeço Lee pela informação e eu vou embora, não fico um segundo mais, volto para o carro.
Novamente volto a dirigir. Neste momento, pouco me importam multas de trânsito, sinais vermelhos e os motoristas que me xingam ao fazer manobras perigosas. É burro da minha parte, arriscar a minha vida assim quando o que estou querendo fazer mesmo é recuperá-la.
Ao chegar no prédio, estaciono meu carro em qualquer lugar, outra vez sem me importar, agora que ele seja rebocado. Adentro rapidamente o condomínio e nem preciso pedir permissão do porteiro para isso, ele já me conhece bem o suficiente para me dar passagem.
Direciono-me rapidamente ao elevador, este que costumava estar sempre vazio, mas como nada nunca é fácil, agora ele está ocupado pela vizinha do 313.
- Senhor Han, já faz quanto tempo não te vejo por aqui? - a senhora Kim, sindica de condomínio, me cumprimenta. - Você veio visitar seu amigo, o senhor Seo? Ele não está em casa, querido.
- Não. - respondo simples.
- Omo! Então veio ver a senhorita Lee? - ela questiona, sempre curiosa. - Vocês dois estão namorando? - ela nem espera por uma resposta. - Eu sempre achei que vocês formam um casal adorável. Vocês combinam tanto!
É estranho elevadores serem conhecidos como o método mais rápido de se arrastar pelos andares.
- Que bom que vocês estão juntos. Você sabe o moço do 207, não é? - ela continua falando. - Eu vejo que ele está interessado nela. - isso com certeza não é algo que eu queria saber. - Eu vi hoje como ele ajudou ela com aquelas malas, ele está caidinho por ela. Mas eu sempre torci por vocês dois, não se preocupe, querido. Dá para ver na maneira como ela te olha que é de você que ela gosta.
- A senhora disse "malas"? - eu interrogo a única parte que ouvi.
Ela não me responde, pois, de repente, as portas abrem e ela sai.
- Senhora Kim, a senhora falou sobre malas. - eu volto a mencionar. Não posso sair daqui sem uma resposta.
- Não eram bem malas, eram algumas bolsas. Ela comentou algo sobre ir visitar os pais. - ela responde, enfim. - Ela não te contou? Estão com problemas no relacionamento? Vai ficar tudo bem, querido. Bem... eu fico por aqui, até mais.
Quando as portas do elevador ameaçam fechar-se, eu impeço, aperto o botão para abri-las. Kim se vira e volta a dar seus paços curtos em direção à casa.
- Espera um pouco. - eu peço, um pouco alto pela distância. - A senhora sabe onde fica a casa dos pais dela?
- Eu não, meu querido. Mas você deveria. - é a última coisa que ela diz, antes de entrar em casa.
Está tudo dando errado hoje. Será que é um sinal do destino dizendo para ficarmos longe um do outro?
Volto para o meu carro, bato a porta do automóvel - que não foi rebocado -, mesmo ele não tendo culpa de nada do que está acontecendo, eu sim tenho. Me sinto furioso, culpado, como o verdadeiro covarde que eu sou.
Frustrado, eu deito o rosto no volante. Me assunto com o barulho que a buzina faz.
Ela foi para a casa dos pais dela e eu não faço a menor ideia de como chegar lá. Eu sou um namorado horrível, nem mesmo sei como chegar à casa dos meus sogros, ex-sogros. Ela sabe que eu não tenho a menor ideia de onde seja, por isso foi, para ficar longe de mim.
Eu estraguei tudo, outra vez. Ela agora me odeia, está fugindo de mim, é o sinal mais claro do universo que eu devo me afastar. Mas que se foda tudo, eu não vou deixar isso acontecer.
- Resolveu? - Changbin pergunta assim que atende a ligação, despreocupado, mastigando algo, chuto ser uma maçã. Depois de tanto tempo vivendo de e produzindo música, meus ouvidos ficaram treinados para sons.
- Não. - ainda. - Por acaso você tem o número de Soojin? Eu lembro que você trabalhou de garçom para ela uma vez.
- Tenho. - ele responde. Eu suspiro aliviado. - Para que você quer?
- Me manda logo. Depois eu te explico.
Bin não contesta. Desligo a chamada e espero pela mensagem com o contato da melhor amiga da minha namorada. Eu me recuso a chamá-la de ex.
Assim que tenho o número desejado em mãos, não perco mais tempo, eu ligo imediatamente. Agora, tudo que tenho que fazer é implorar pelo endereço e torcer para Soojin não desligar na minha cara.
- Alô, quem fala? - ela me questiona quando atende.
- Sou eu, Han Jisung. - respondo, ouvindo um "ah, não!" do outro lado da linha. - Espera, não desliga! - imploro. - Eu preciso conversar com a Jiwoo, urgentemente, mas me falaram que ela está na casa dos pais dela, você pode me passar o endereço, por favor?
- Me convença. - ela diz.
- Eu estou tentando consertar as coisas, Soojin. - eu resolvo que a melhor abordagem é ser honesto e direto. - Por favor, preciso da sua ajuda, não sei mais para quem ligar.
- Achei que você fosse se casar.
- A única mulher com quem eu poderia me casar, é ela. - respondo honestamente, mas sei que deveria dizer isso para ela e não à sua amiga. - Eu sei que pisei feio na bola e como melhor amiga dela você só está tentando a proteger. Eu sei porque era o que eu estava tentando fazer também.
- Você sabe que mesmo que eu te dê o endereço, isso não significa que ela vai querer voltar para você. Ela está muito puta, cara. Você não faz ideia.
- Eu imagino, também estaria. - digo. - Eu sei que o que vou dizer agora é muito clichê, mas é verdade. O que eu sinto por ela, nunca senti por ninguém. Ela me faz sentir vivo, ela faz parecer que este mundo horrível é realmente um lugar bom. Por favor, me deixa dizer isso à ela também.
Soojin suspira do outro lado da linha, eu aguardo ansiosamente a sua resposta. É imprevisível, ela pode me passar o endereço ou simplesmente me mandar à merda.
Eu já estou roendo as unhas, ansioso.
- Ah, que se dane. Ela provavelmente vai me matar por isso, mas eu faço tudo em nome do amor. - Soojin respira fundo. - Anota aí, vou te passar a localização.
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