VI - O ARREMESSADOR DE BEXIGAS DE ÁGUA
❝𝗛𝗮́ 𝘂𝗺𝗮 𝗶𝗻𝗼𝗰𝗲̂𝗻𝗰𝗶𝗮 𝗻𝗮 𝗺𝗲𝗻𝘁𝗶𝗿𝗮 𝗾𝘂𝗲 𝗲́ 𝗼 𝘀𝗶𝗻𝗮𝗹 𝗱𝗮 𝗯𝗼𝗮 𝗳𝗲́ 𝗻𝘂𝗺𝗮 𝗰𝗮𝘂𝘀𝗮.❞
- Nietzsche
EU NUNCA GOSTEI DE MENTIRAS, mas não imagino que há alguém que sim. Desde muito pequena nunca fui uma grande mentirosa, sempre fico nervosa ou gaguejo. No fim de todas as vezes em que tentei contar uma mentira, sempre acabei chorando por isso e indo pedir desculpas depois. O que me deixa intrigada é a maneira como me adaptei a mentir constantemente para mim mesma.
Ainda que eu abomine inverdades, as outras pessoas não parecem ter essa compaixão e verdade comigo. Já caí em muita pegadinha dos meus antigos amigos e até mesmo acreditei na maior mentira da minha vida, o amor. Mas não posso me colocar nisso tudo como completamente inocente, porquê, no fundo, eu sempre soube da verdade, mas escolhi não admitir em voz alta.
Seja como for, acabou. Eu sacudo a cabeça e tento mudar o rumo dos meus pensamentos. A minha vida parece estar progredindo agora, depois de tanta peleja eu estarei voltando ao mercado de trabalho em breve. A parte social também caminha bem, posso dizer que estou me tornando bem amiga de Changbin e Jisung.
Talvez amigos não seja a melhor palavra para falar da minha relação com o Han, mas estamos quase lá. É claro que durante uma de nossas conversas ficou meio que implícito que nosso relacionamento será completamente platônico, mas eu estaria mentindo se dissesse que ele não me atrai. Penso nele como mais que um amigo, porém há certos limites que eu tenho que respeitar. Não devo investir nisso agora, ou devo? Talvez eu precise de um sinal, algo indicando o caminho correto.
De repente, alguém bate a porta.
É o meu sinal? Se sim, o que significa?
Caminho até a porta, preguiçosamente, enquanto ouço a campainha sendo acionada mais uma vez. Deve ser algum dos meus vizinhos. Nem procuro pelo olho mágico, vou direto abrir a porta, por isso há surpresa em ver quem realmente ocupa o lado oposto.
- NUNA¹ (누나)! - meu irmãozinho grita alto, se jogando nos meus braços. Ele se agarra a mim feito um carrapato. A minha mãe, que o acompanha, observa a cena rindo. - Olha só, caiu outro dente. - ele exibe empolgado a janelinha na frente do seu sorriso, sem nem mesmo me largar.
- Woah! - exclamo com uma animação maior que a habitual. - Jihoon, se seus dentes continuarem caindo assim, você vai ter que usar uma dentadura igual a da vovó.
A criança presa em mim gargalha, fazendo uma caretinha de nojo ao pensar na dentadura. Dou dois tapinhas no seu ombro para que ele entenda que já está bom de aperto, ele se solta e eu convido os dois para entrar.
Meu irmão mais novo é o primeiro a adentrar a casa, mamãe vem logo atrás, cheia de bolsas. Ajudo-a com uma, levando até o balcão que divide a cozinha e a sala de estar.
- O que são todas estas sacolas? - pergunto.
- Não é nada demais. Eu fiz comida sobrando e trouxe pra você, minha princesinha. - ela diz.
- A senhora fez comida para um batalhão? - questiono. É comida para caramba. - Eu sou apenas uma, tem muita coisa. Mãe, a senhora não deveria ter se preocupado em fazer isso, eu estou bem aqui.
- Que bobagem! - ela me ignora. - Guarde na geladeira, se preferir ponha no congelador que demora mais para estragar.
Faço como a mais velha pede, guardo tudo na geladeira. Mesmo achando que é muita comida, vai cair super bem. Parece que ela estava adivinhando, pois realmente minha geladeira está praticamente vazia. Acho que isto é um sexto sentido de mãe.
- E o meu pai, onde está? - questiono sentando-me com eles no sofá.
- Seu pai precisou resolver algumas coisas aqui na cidade, ele passa aqui para nos buscar e vocês se veem.
- Então vocês já vão hoje mesmo? - eu pergunto. - Não querem dormir aqui e ir só amanhã?
- Nós temos que ir, não podemos deixar a casa sozinha, você sabe. Mas você pode ir nos visitar sempre que quiser. - ela refaz o convite pela terceira vez esta semana. - Na verdade eu vim aqui só para te ver. Como que você está se sentindo?
Suspiro, me esparramando no sofá. Nesta hora, posso ver os olhinhos curiosos do meu dongsaeng² (동생), que antes estavam presos nas bonecas russas que enfeitam a minha estante, intercalados entre mim e mamãe.
- Estou bem. - digo na tentativa de a tranquilizar. - Acabei de fechar contrato com uma nova marca, começo na segunda-feira.
- Sério, filha? Que notícia boa. - ela sorri contente. Eu sei que a minha mãe deve ter se preocupado muito comigo desde que o meu namoro, quase noivado, acabou. Por mais que eu seja uma mulher adulta, ela sempre vai se preocupar. - Mas e o seu coraçãozinho, como está? Você e Huye já se acertaram?
Eu queria mesmo era acertar a cara dele.
- Não. - respondo, sem querer entrar muito em detalhes.
- Por que, filha? - ela questiona. Ah, se ela soubesse. - Ele é um menino tão educado, de uma família tão boa. Vocês se davam tão bem, não entendo como um relacionamento tão longo acabou tão de repente. Quando achei que finalmente iriam se casar, descobri que terminaram. - a mais velha esboça uma reação tristonha.
É claro que eu não contei para os meus pais que fui corna, já é humilhante o suficiente que eu saiba.
Está aí mais uma das coisas que eu nunca entenderei. Eu fui traída, ele o traidor, mas se a história vazar quem vai servir de chacota sou eu. É estranho como a vítima é quem tem que ouvir todo tipo de piadinha sobre isso, enquanto o mal caráter passa despercebido.
- Não era 'pra ser. - uso a desculpa clássica. - Está sendo melhor assim, na verdade.
- Então você já tem um namorado novo, nuna? - Jihoon se intromete na conversa. - Eu quero conhecer ele.
- Calma lá, eu não tenho namorado coisa nenhuma. - digo para a criança agitada. - Eu estou bem, é sério. Acho que eu preciso mesmo aproveitar um pouco do meu tempo comigo mesma depois de tanto tempo me dedicando a um relacionamento. - explico esta última parte para a minha mãe.
- Tudo bem, filha. Você é quem sabe. - ela resolve aceitar as minhas desculpas e não procura se aprofundar muito no assunto com o meu ex.
Mamãe e eu continuamos conversando sobre a minha vida, se estou me alimentando direito, se estou saindo com alguém, como anda Soojin, quando pretendo visitá-la e tudo o que não e já conversamos pelo celular. Agora quem aproveita o meu celular mesmo é Jihoon, ele está faz quase uma hora assistindo vídeos no YouTube.
- Nuna, quem é "Han Jisung?" - ele lê com certa dificuldade o remetente da mensagem que surge na central de notificações do meu celular.
- Desde quando você sabe ler? - interrogo pegando rapidamente o objeto da mão dele. Não confio em Jisung me mandando mensagem.
- Desde a última vez que você foi em casa. - ele diz. - Por que não tem nenhum coraçãozinho no nome do seu namorado?
- Ele não é meu namorado, é meu vizinho. - explico.
- O que ele quer com você? - ele pergunta. Não sei a quem puxou tão curioso.
- Só me entregar alguma coisa que eu deixei por lá. - respondo. - Agora volta a brincar, acabaram as perguntas por hoje.
- Você tem vizinhos novos? - mamãe é quem questiona agora. - A senhora Kim ainda mora aqui?
Acho que minha mãe é a única pessoa que suporta minimamente a senhora Kim. Não é que a mulher seja um monstro cruel e arrepiante, ela é apenas muito conversadora. Kim Juyeon é o tipo de pessoa que você não deseja encontrar se estiver com pressa, por isso na grande maioria das vezes se torna chato estar perto dela.
- Sim, ela continua aqui. Os meninos se mudaram para o 315. - respondo.
- A gente pode ir lá dar um "oi" 'pra eles? - a criança pergunta, novamente.
- Se eu disser que não, você não vai me deixar em paz, não é? - interrogo. Ele balança a cabeça, concordando com um sorriso sapeca. - Então, tá. Vamos que eu aproveito e já pego minhas coisas também.
Vamos apenas meu irmão e eu, mamãe fica, disse que passará uma vassoura na casa antes que o lixo tome de conta. Eu deveria ficar ofendida, mas se eu reclamasse ela não limparia mais.
Dou três batidinhas na porta alheia esperando ser atendida. É estranho eu ter esquecido algo aqui que nem me lembro? Ou talvez seja apenas uma desculpa de Jisung para me trazer até aqui. Não, agora eu realmente sinto que esqueci algo. Mas o que será?
Meu celular está comigo, não perdi nenhuma chave, dinheiro não pode ser porquê todas as vezes em que saio de casa eu levo apenas o cartão e ele está agora na capinha do meu celular. Então só pode ser algo que eu esqueci da primeira vez que estive por lá. Mas, novamente, meu celular está comigo. Então, o que seria?
O que foi que eu perdi? E por que eu sinto que não vai sair coisa boa daqui?
Ai. Meu. Deus. Não pode ser.
- Olha só o que eu encon... - Jisung sai para fora de casa com um sorriso estampado no rosto e um dos meus sutiãs na mão esquerda. Assim que me vê, ou melhor, vê quem me acompanha, ele se interrompe e joga a peça de roupa íntima para dentro do apartamento. - Oh, olá... criança! - ele cumprimenta o meu irmão, completamente sem jeito.
- Olá, eu sou Lee Jihoon. Tenho cinco anos. - o pequeno se apresenta com entusiasmo e formalidade ao conhecer o mais velho. - Você é o namorado da minha irmã?
Alguém, por favor, me mata agora.
Eu estava pronta para brigar com o pestinha por insistir nesse assunto, mas o grito de Changbin de dentro do 315 chama mais atenção. Ele grita o nome de Jisung com tanta força que minha mãe pode ter escutado, ou até a senhora Kim no 313.
- Ôh, seu filhote de cruz-credo... - ouço seus passos vindo em nossa direção. - Por que é que tem a porra de um su... - e mais uma vez, a peça de roupas que deveria ser escondida é exibida novamente, do mesmo modo de outrora, e jogada para dentro novamente quando a presença de um ser de cinco anos é notada. - Ah... oi.
- Olá, eu sou Lee Jihoon. Tenho cinco anos. - ele se apresenta para o outro. - Por que você tem um sutiã se você não usa? - ele questiona com as sobrancelhas franzidas.
- O quê? Aquilo? - Changbin fica pálido tentando arrumar uma desculpa convincente para contornar a situação. - Aquilo não era um sutiã, era um... um... o que era aquilo mesmo, Jisung?
- Um arremessador de bexigas d'água! - Han diz claramente a primeira coisa que vem na cabeça, porque é uma explicação horrível. - Você amarra os dois lados em uma parede, coloca as bexigas com água nos dois buracos, puxa e arremessa nos seus coleguinhas.
- Woah! - ele abre a boca em um perfeita "o", provavelmente fantasiando uma guerrinha de bexigas. É uma desculpa ridícula que apenas uma criança de cinco anos ou menos acreditaria. - Que legal! - ele diz, saltitante. - A gente pode brincar de guerrinha de bexigas com ele? Por favor, nuna.
- Eu adoraria que pudéssemos ficar aqui e brincar com eles, mas nós temos que voltar para casa. - eu quero sumir. - Dê tchau para os meninos. - indico e ele acena com a mão.
De todos os dias desde aquele, Han teve que me entregar isso logo hoje que estou com visitas? O universo realmente me odeia.
- Jiwoo, espera aí. - Changbin me chama antes que eu suma e me afogue em constrangimento. - Você ainda vai hoje à noite, certo? - ele pergunta sobre o show que eu disse que iria no dia em que nos conhecemos.
- Eu não perderia. - confirmo presença.
- Para onde vocês vão? - meu irmão volta com seu interrogatório. - Eu posso ir junto?
- Nós vamos é para casa. - eu não vou levar uma criança para um pub, assistir a banda de Changbin tocar. Principalmente porque quando começar ele já deve estar no seu terceiro sono e voltando para casa. - Até mais tarde. - me despeço.
Eu arrasto a criança de volta para casa, antes que ele ouça ou veja mais alguma coisa que não deve. Ainda bem que ele é só um bebê inocente que acreditou nessa lorota. Está aí uma mentira que eu não vou me sentir mal por ter contado.
Quando voltamos para meu apartamento mamãe está limpando os armários, eu retiro o paninho verde de suas mãos e insisto que ela vá sentar-se, que eu continuo o resto. Ela já tem muito trabalho cuidando do capetinha do meu irmão e a fazenda, todos os dias, não quero que ela venha a minha casa para ter mais um afazer.
Depois que termino o que ela começou, pergunto se eles não querem comer algo, mas como mamãe arrumava os armários, deve saber que tudo o que tem neles são laméns, cookies e arroz. Já na geladeira apenas água e duas caixinhas de suco de uva. Para minha sorte, meu irmão não é exigente com o paladar e minha mãe não está com fome. De todo modo ainda poderíamos comer o que trouxeram, mas acho que depois de tantos anos comendo da própria comida, minha mãe deve estar cansada dela.
- Você precisa fazer compras. - ela diz.
- Eu irei fazer amanhã - respondo. Já fazem anos que não moramos mais juntas e eu estou por conta própria, mas ela está sempre me dizendo o que fazer. Eu entendo que ela só está tentando cuidar de mim, mas algumas vezes ela fala o óbvio como se fosse uma tremenda novidade para mim.
- Mamãe, os amigos da minha irmã são muito legais! - o pequeno diz com a boca cheia. - A senhora sabia que eles tem um arremessador de bexigas d'água? Ele parece com...
- Jihoon, não fale de boca cheia! - o repreendo antes que ele entregue o que realmente aconteceu ali. A figura inocente atende ao meu pedido, mas faz biquinho. - Como estão todos por lá? - pergunto a minha mãe.
- Estão todos bem. Ah, Jinni te mandou um abraço e disse que não vê a hora de vocês se reencontrarem. Vá nos visitar em breve, quando puder. Você adorava aquele lugar antigamente, mas agora quase nunca aparece... talvez seus gostos possam ter mudado.
- Não é nada disso. Eu vou sim, prometo que quando tiver um tempo eu apareço. - e com "um tempo" eu quero dizer quando voltar a ser o motivo de orgulho da minha família e eles puderem me exibir para todos os amigos deles.
- Está bem, nós te esperamos por lá, mas agora é hora de ir. - minha mãe diz, depois de uma longa digitação no seu celular. Eu nem sabia que ela tinha se rendido à tecnologia. - Seu pai está nos esperando na portaria.
- Está bem, então eu acompanho vocês até lá. Quero ver o meu pai também.
(•••)
Quando a noite caiu, eu me arrumei e fui para o local combinado. Convidei Soojin para me acompanhar, ela disse que virá assim que resolver um pequeno probleminha no restaurante. Sendo assim, aqui estou eu, em um dos bancos do bar, tomando uma dose de whiskey puro e sem gelo.
Ainda não vi sinal de Changbin, mas o local está bem movimentado hoje, talvez seja por ter um show ao vivo. Dou um gole na minha bebida enquanto observo o local. Não é tão grande, pode ser um dos motivos de parecer tão lotado também. Há o bar em que estou, várias mesas nas laterais do salão, uma jukebox pertinho daqui e um palco no canto direito do local. Imagino ser o local onde a banda se apresentará, a julgar pelos equipamentos sendo posicionados lá por alguns caras.
- Olá, moça bonita... - tomo um susto ao ouvir voz conhecida de Jisung pouco atrás de mim. Nem preciso me virar para o ver, pois ele dá a volta e se senta ao meu lado. - Por que o susto, está devendo a alguém? - ele questiona.
- Um agiota ou dois, nada importante. - brinco.
- Já faz tempo que você chegou? - ele pergunta. Nego com a cabeça. - E a que devo a honra da sua presença aqui esta noite? - ele me pergunta, nem se esforça e seu tom de voz já soa completamente galanteador. - Não veio buscar o seu sutiã, não é?
- Muito engraçado. - não foi, mas por alguma razão ele me faz sorrir. - Changbin me convidou para vir assistir ele e alguns amigos tocarem.
- Então, de certa forma, você também veio para me ver. - ele se exibe.
- Bem, eu deveria ter imaginado.
- De todo modo, fico feliz que você não veio pelo sutiã, porque eu não pretendo te devolver. - ele sorri sapeca. - Ficarei com ele como o símbolo de uma boa lembrança. Ótima, na verdade.
- Por acaso você está flertando comigo? - interrogo, dando um cruzar de pernas que não passa despercebido por ele.
- E se eu estiver? - ele se insinua, inclinando-se um pouco na minha direção, sobre o balcão. - É um problema?
- Problema algum. Eu só achei que fôssemos amigos.
- Jiwoo... - ele aproxima-se do meu ouvido, como se fosse contar-me um segredo. - Quem insiste em ficar nos chamando de amigos é você, eu nunca concordei abertamente com isto.
Suas palavras me arrepiam. Todo este tempo se eu respeitei certos limites foi por achar que eles existiam, mas agora nem os consigo ver, de tão perto que seu rosto está do meu.
Minha respiração é quase audível de tão pesada e ele parece se divertir com a maneira que meu corpo reage chamando por ele. Minha boca umedecendo-se ansiosa pelo toque suave e macio da sua. Ele deve estar adorando tudo isso, mais ainda quando se afasta e um suspiro sôfrego me escapa.
- Mas talvez eu não esteja flertando. - ele sorri, fingindo não ter nenhuma intenção quando diz coisas assim de maneira tão descarada.
- Esteja você flertando comigo ou não, nem pense em mostrar aquilo para o meu irmão outra vez. - relembro a tragédia de mais cedo. - Quando voltamos para casa ele contou sobre "o arremessador e bexigas de água" à minha mãe, por sorte eu consegui contornar a situação.
- Foi sem querer. - o safado tem a coragem de rir. - Mas foi bem engraçado.
- Você acharia a mesma graça se fosse ao contrário? - falo, mas não seria, Jisung deixa qualquer papo descontraído. É uma droga nem parecer brava quando estou com ele. Talvez ele que esteja me drogando sem que eu saiba, tomarei cuidado com o que for beber.
- Você quer uma cueca minha para testar? - ele sugere, novamente me deixando travada. - Eu te dou, mas tem uma condição, você vai ter que me dar a sua calcinha também.
Jisung me deixa tão desestabilizada que me faz querer tirá-lo dessa postura e dizer alguma coisa que o abale também. Eu fico um pouco tímida e nervosa, mas também adoraria ver seu rosto tomando cor ou sua voz bobear. Talvez eu esteja meio alterada - com o um único copo de álcool que tomei - ou eu só queria surtir alguma reação nele quando me aproximo e sussurro apenas para ele ouvir:
- E quem disse que eu estou usando calcinha?
Quando eu me afasto as reações são exatamente as esperadas. Han está parado e meio surpreso, os olhos nos meus como se me interrogasse silenciosamente se o que ouviu está correto.
Eu não fico para responder suas dúvidas, encontro minha amiga Soojin passando pela porta e o deixo para trás imaginando o que quiser. Sua cabeça deve estar lotada com dezenas de pensamentos e eu confesso achar divertido quando olho para trás e ele continua imóvel me observando andar. Mas não fiz nada demais. Eu não estava flertando.
Mais a frente, Soojin aparenta estar um pouco perdida na multidão. Eu vou me encontrar com ela, que sorri e suspira aliviada ao me encontrar no meio de tanta gente. A cada segundo que passa, o local fica mais cheio. A primeira coisa que a loira me diz é que precisa ir ao banheiro, então eu a acompanho. A princípio pensei que ela falava sobre suas necessidades biológicas, mas o que queria mesmo era conferir a maquiagem.
Fico de braços cruzados ao lado de um dos espelhos, esperando que ela retoque a maquiagem.
- Então... qual dos três gatinhos é que você está gostando? - Seo pergunta de repente, fazendo careta enquanto aplica a máscara de cílios preta.
- Que três? - eu fico confusa.
- Da banda, né Jiwoo! - ela fala como se fosse óbvio, mas a verdade é que eu não sei nada sobre eles, só conheço meus dois vizinhos e nem sei quem é o terceiro.
- Nenhum. - digo. - Dois deles moram no apartamento ao lado do meu, já o outro eu nunca o vi. Como sabe que são três?
- Eu dei uma pesquisada antes de sair. - ela explica, fechando o rímel e agora pegando seu típico batom vermelho. - Fiquei interessada, se a música fosse ruim eu teria que me preparar, ou arrumar uma desculpa para não vir.
- E o que achou deles?
- São ótimos! - ela exclama após terminar de aplicar a maquiagem. - Acabei, podemos ir.
A belíssima mulher e eu então saímos do banheiro. Um amontoado de pessoas se reúne agora de frente ao palco, nós resolvemos chegar mais perto para ter uma boa visão dos garotos.
Enquanto esperamos, Soojin vai me contando o que descobriu sobre a banda. Além de Jisung e Changbin, descubro sobre o terceiro membro, Chan. Segundo minha amiga ele é loiro, gratíssimo e australiano. Foram as três características que ela atribuiu à ele. Pelo que ela soube eles fazem alguns covers de bandas famosas, mas ultimamente estão focados em produzir seu próprio som e se chamam de 3RACHA.
No palco, os garotos estão dando alguns ajustes no equipamento. Não parece que o show vai começar agora, mas já tem uma galera aqui esperando. Seo Changbin me vê na plateia, eu aceno para ele e logo nos é feito um convite. Binnie nos chama para perto deles, Soojin e eu nem pensamos duas vezes antes de subir.
- Oi, Ji, faz tempo que você chegou? - ele me cumprimenta, saindo da bateria. - Olá! Você eu ainda não conheço. - ele cumprimenta Seo Soojin.
- Changbin, esta é a minha melhor amiga, Seo Soojin. Soojin-ah, este é Seo Changbin, meu vizinho, amigo e baterista da banda. - eu faço as formalidades.- Nós chegamos faz pouco tempo. - respondo a pergunta que me foi feita. - Vocês ainda vão demorar muito para começar?
A cada segundo que passa eu fico mais curiosa sobre o som deles. O único membro que eu ouvi algo foi Han, e se todos forem tão bons quanto ele, este grupo vai se tornar um hit.
- Não muito. - ele responde. - Deixa eu apresentar vocês a galera. Ei gente, chega aqui. - ele chama pelos amigos.
Quase imediatamente os outros dois chegam até nós. Soojin estava certa quando atribuiu o adjetivo "gratíssimo" à Chan. O cabelo loiro com leves ondulações o faz parecer fofo, muito contrastante com os jeans wide leg rasgados e pretos, a regata branca que deixa os seus músculos aparentes e a bandana pesa na sua cintura, que dão a ele uma aura rebelde e sexy.
- Este é Han Jisung, nosso guitarrista. - Bin começa apresentando o amigo que eu já conheço, mas a outra mulher não. - No baixo, o orgulho da nossa nação: Bang Chan. - agora sim sou apresentada ao terceiro.
- Olá, Chan. Sou Lee Jiwoo, é um prazer te conhecer. - estendo a mão para loiro, para que ele aperte. Mas, ao contrário do que eu esperava, ele dá um beijinho nela.
- É um prazer te conhecer também, Jiwoo. - ele sorri tão bonito. - Espero que possamos nos dar bem.
Oh, eu também espero.
Me permito dar uma checada nas costas alheias enquanto ele conversa com Soojin. A luz do refletor cai perfeitamente bem no seu corpo e no a tatuagem que não consigo ver perfeitamente pois é parcialmente coberta pela camisa. Até de costas ele é definido.
Eu achei que esta minha encarada tinha passado despercebida, mas é claro que Jisung notou.
- Já está me trocando pela segunda vez? - a voz baixa de Han ecoa no meu ouvido direito.
Uma risada deixa meus lábios. É um jogo divertido e eu posso me acostumar com isso. Talvez eu esteja empolgada por estar flertando pra valer com alguém pela primeira vez, já que no meu antigo relacionamento nós progredimos da relação de ódio para a romântica. Eu nunca estive assim flertando com alguém antes e a ideia me deixa empolgada.
- E quando foi que eu te escolhi? - sussurro de volta, apenas para o ver assoprar o ar pelas narinas e sorrir com deboche.
- Adoro quando você se faz de boba. - ele continua no pé do meu ouvido. - Mesmo eu sendo o único aqui que sabe que de boba você só tem a mão.
Se você estiver andando na rua agora e avistar um semáforo em sinal de pare, não se engane, é apenas uma das minhas bochechas.
- Cuidado, Han. Você está entrando em um caminho perigoso. - o alerto, ignorando o pane no meu sistema e voltando para o jogo de sedução que é papear com Jisung.
- Não se preocupe, eu gosto do perigo. - ele diz. - Gosto se for com você.
- Olha só, parece que alguém está se apaixonando por mim. - eu digo convencida, Jisung ri. - Cuidado, você pode estar cometendo um erro.
- Então eu vou torcer para que todos os nossos erros sejam tão bons quanto foi o primeiro.
Minha barriga formiga, meu mundo gira e o ar se torna escasso. É apenas Han Jisung existindo. Se eu olhei com outros olhos para Chan, agora já nem me lembro. Sung é tão bonito e tem essa magia secreta em que toda vez que me olha faz minhas pernas perderem a força. Eu sou tão brutalmente atraída em direção à ele que tenho medo de estar caindo em uma cilada e me apaixonando.
- Estão todos prontos para começar? - Bang interroga aos seus companheiros.
- Nós vamos descer então. - comunico em tom audível para os meus amigos, agarrando-me no braço da loira em seguida. - Eu não sei se na música vocês tem as mesmas tradições que no teatro ou na dança, mas na dúvida, quebrem a perna e muita merda pra vocês. - eu desejo.
Soojin e eu descemos do palco para ficar junto dos outros clientes, esperando que o show comece. Segundos depois a luz diminui e é a imagem perfeitamente esculpida de Chan quem anuncia o grupo, o tão esperado 3RACHA.
Imediatamente o público se anima, mas vai à loucura quando ouve-se o primeiro verso da reconhecível Beggin', do Måneskin, mas com uma pegada tão única que faz parecer que a música é deles. Sem dúvidas uma ótima maneira para se começar. Todos cantam juntos as músicas conhecidas e gritam e aplaudem nas originais deles. Bang é quem lidera a parte vocal, ele é o vocalista principal do grupo. O que me deixou supresa mesmo foi a bela voz de Jisung, que até então eu nunca tinha ouvido cantar.
Os meninos parecem estar felizes tocando os seus sons e mais ainda pela recepção da plateia. Eu estaria admirando cada um se os meus olhos não estivessem grudados em Han Jisung. Há algo na maneira como ele toca a guitarra que me deixa louca. Cada vez que o vejo com o instrumento ele parece mais atraente, no entanto, ele me atrai de qualquer forma, estando ou usando absolutamente nada.
Talvez seja tarde de mais para eu pedir socorro. Estou caindo nesta armadilha em forma de coração, de novo.
Glossário
1.┊Nuna (누나) : pronome de tratamento usado por homes para se referir à mulheres mais velhas.
2.┊Dongsaeng (동생) : pronome de tratamento usado para se referir carinhosamente a pessoas mais novas.
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