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❝Você não pode fugir de seu destino.❞ - Obi-Wan Kenobi
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Sentei na minha cama e me encolhi nela, dobrando meus joelhos para abraça-los. Meu treinamento com o mestre Luke já tinha acabado e ainda ia demorar um pouco para dar o horário do toque de recolher, mas decidi ir logo para a minha cabana depois da refeição.
Fazia cinco dias que eu estava treinando com Luke Skywalker. Cinco dias sem ver meus pais e sem ter notícias deles. Eu chorava todos os dias depois dos treinos, com saudades da minha família. Nunca fiquei tanto tempo longe deles, sem vê-los, não estava acostumada.
De repente, atrapalhando meus pensamentos e as lágrimas que ainda não tinham caído, senti tudo ficar em silêncio. Eu ainda estava em meu quarto, mas algo estava diferente. Eu estava sentindo algo que nunca senti antes.
— O que você está fazendo aqui?
Pulei em minha cama com o susto e me virei na direção que a voz veio após soltar minhas pernas. Ben Solo estava parado na entrada da minha pequena cabana, que era igual as dos outros aprendizes, com o cenho franzido.
— Eu estou na minha cabana! — exclamei, como se fosse óbvio. — O que você está fazendo aqui?
— Não — disse ele, também como se fosse óbvio. —, esta é a minha cabana.
Olhei em volta para verificar se estava ficando louca e tinha entrado na cabana errada. Minha mochila estava do lado da cama, meus papéis, alguns objetos pessoais e um copo com água estavam sobre minha mesinha de cabeceira.
— Não, aqui é a minha cabana. Minhas coisas estão aqui — falei.
— Eu também estou vendo as minhas coisas — rebateu Ben.
Nós dois nos fitamos em confusão. O que estava acontecendo com a gente?
— Se você está na sua cabana e eu estou na minha... como isso é possível? — questionei, curiosa.
— Eu não sei — Ben entrou na cabana e se sentou na minha cama. Ou na dele. Aquilo era confuso.
— Será que isso é coisa do mestre Luke? — semicerrei os olhos.
— Não — ele balançou a cabeça. —, tio Luke não faria algo assim. Nem sei se ele conseguiria fazer algo assim.
— Então o que é isso que está acontecendo com a gente?
Ben deu de ombros e virou a cabeça para me observar.
— Você estava chorando?
Abaixei a cabeça, envergonhada. Eu não tinha começado a chorar quando ele chegou, mas meu rosto provavelmente guardou indícios de que isso aconteceria.
— Não precisa ficar com vergonha, é normal sentir falta dos pais. Eu sempre sinto — Ben sussurrou a última parte.
Fiquei surpresa com o que ele disse, porque pareceu que ele tinha lido meus pensamentos, mas sorri para ele.
— Obrigada, Ben.
Ele retribuiu o sorriso e falou:
— Não sei o que é isso que está acontecendo com a gente, mas que bom que é com você. Você é legal.
— Você também é legal.
Ben estendeu a mão para mim.
— Amigos? — apertei sua mão, sentindo uma leve corrente elétrica com o toque.
— Amigos.
⊹⊱•••《 ✮ 》•••⊰⊹
Meu mestre estava certo, eu sabia para onde deveria ir. O impacto entre a luz e as trevas era quase impossível de não ser sentido através da Força de tão forte e intenso que era. Bastou segui-lo na velocidade da luz para eu chegar a um planeta bem distante de onde eu estava, um planeta envolto em gelo, com montanhas e árvores altas.
Reconheci que aquele planeta se tratava de uma base militar, no entanto, o conflito na Força não vinha da parte armada, ele vinha de uma floresta. Assim, fiz o x-wing planar e depois descer com cautela. Estava de noite, havia muitas árvores e estava nevando, nada favorecia minha quase inabilidade de pilotar.
Quando o x-wing estava perto do chão, perdi o controle e a pequena nave despencou, adentrando os centímetros de camada de neve. Soltei a respiração que havia prendido por causa do impacto e saí do x-wing, depois tirei o capacete e o joguei no chão.
Sem esperar nem mais um segundo, corri por entre as árvores segurando meu sabre de luz, indo para onde sentia que deveria ir, para onde a Força me guiava.
Avistei marcas feitas por sabres de luz nos troncos das árvores e passei a segui-las. Quando cheguei ao local que a luz encontrava as trevas, meu coração deu um solavanco, apertando pela presença masculina que estava bem a minha frente. Aquela estava sendo a primeira vez que eu via Kylo Ren, e não Ben Solo, e doeu como eu nunca pensei que doeria.
Kylo Ren estava lutando com uma garota de pele branca e cabelo castanho amarrado, que usava roupas que, definitivamente, não eram adequadas para o clima do planeta. Minha análise sobre a garota durou um segundo, e foi inevitável arregalar os olhos assim que percebi que a Força que eu senti durante a meditação vinha dela. Aquela energia ainda crua, mas determinada.
A Força, ainda que que diferente e enigmática, era poderosa nela.
Uma cratera enorme estava aberta no chão, e Ren, com seu sabre de luz vermelho no sabre azul da garota, a deixava muito perto de cair. Senti a hesitação nele, mesmo que mínima, porém não esperei para ver no que aquilo ia dar, a garota podia acabar caindo se não usasse aquele sabre corretamente para se defender ou se lhe faltasse habilidades para isso.
Aproveitando que minha presença ainda não tinha sido notada, ergui a mão esquerda e, utilizando a Força, lancei Kylo Ren para longe da garota. Ele caiu de costas para a neve de forma brusca, o que fez seu sabre de luz voar de sua mão.
A garota arregalou os olhos, surpresa com o ato repentino. Ela observou Kylo Ren por alguns segundos, ainda tentando compreender o que tinha acabado de acontecer, então seus olhos encontraram os meus. Sua boca ficou semiaberta e seus olhos se arregalaram um pouco mais assim que percebeu o sabre de luz em minha mão. Eu sentia o misto de surpresa e confusão nela, a adrenalina em seu corpo.
Kylo Ren utilizou a Força para pegar seu sabre de luz de volta e se levantou do chão, raiva correndo pelo seu corpo, sendo refletida em seu rosto. No entanto, quando seus olhos encontraram os meus, eles se arregalaram e seu corpo ficou estático. Os olhos castanhos de Ren transpareceram um pouco de dor e confusão, e era como se ele estivesse vendo um fantasma naquele momento, e, considerando nossa história, era como eu fosse mesmo.
Aquele momento de observação mútua durou apenas alguns segundos, mas pareceu durar a eternidade dentro de mim. Era ele, me recordei com dor no coração, mas eu não podia ficar parada, não podia desistir do que deveria fazer. Agora eu era uma cavaleira Jedi, defendia o Lado Luminoso, tinha deveres a cumprir e toda uma jornada pela frente.
Com esse pensamento em mente, ergui meu sabre de luz, segurando-o com as duas mãos ao lado do rosto, e o acionei, sua luz amarela refletindo em meu rosto e na floresta ao meu redor. Afastei as pernas em posição de ataque e encarei o homem, determinada. Ren fez o mesmo, o sabre refletiu a luz vermelha no rosto do homem que eu já não conhecia mais.
Kylo Ren correu até mim, ignorando a garota ao passar por ela, esquecendo-se de que queria jogá-la na cratera, e me atacou. Defendi-me de seu golpe com maestria, inclinando o sabre, então ele golpeou mais vezes. Seus movimentos eram brutos contra mim, mas um pequeno brilho de hesitação transpareceu em seus olhos dominados pela escuridão, os quais ainda carregavam a surpresa em saber que eu estava viva.
A luta era de igual para igual, com movimentos rápidos e certeiros, os sabres colidindo sem parar. Não éramos mais duas crianças aprendendo como segurar e utilizar um sabre de luz, agora éramos dois adultos muito bem treinados lutando pelo que acreditávamos, o que, infelizmente, significava estar em lados opostos.
Bloqueei o golpe de Kylo Ren e fui rápida em girar meu corpo para ataca-lo, fazendo-o deslizar consideravelmente para trás. Suspirei internamente, fitando seus olhos de forma breve. Eu precisava saber se podia manter minhas esperanças sobre ele, se o meu propósito de trazê-lo para o Lado Luminoso não seria em vão.
O que eu tinha em mente seria algo arriscado a se fazer, mas eu precisava saber se valeria a pena ou não os meus esforços para ter Ben Solo novamente, porque não conseguiria viver em paz comigo mesma se não confirmasse minhas suspeitas.
Deixei um buraco em minha defesa de propósito e Ren se aproveitou dele, me desarmando com um movimento. Em vez de me ferir quando ergui a mão para pegar o sabre de volta utilizando a Força, ele a utilizou para me lançar em direção a uma árvore. Gemi de dor quando minhas costas encontraram o tronco e eu caí no chão, um pouco tonta pelo impacto.
Kylo Ren andou até mim e ergueu o sabre de luz para dar o golpe final, mas parou na metade do movimento, as mãos erguidas no alto da cabeça. Eu estava caída no chão, parada e ofegante, apenas o encarando. Então, no fundo dos seus olhos, eu vi... a mesma hesitação de minutos atrás, mas agora mais forte. Eu via – sentia – a batalha em seu olhar, era clara. Uma parte dele, a parte vinculada ao Lado Sombrio, queria me matar, mas a outra parte, a parte do Lado Luminoso que ainda habitava nele, hesitou.
Aquela foi a confirmação que eu precisava e ansiava. Ben Solo estava vivo. Ainda havia esperança para ele, e eu não descansaria até tê-lo de volta. Ben deixaria as trevas e se juntaria a luz novamente, eu sabia disso.
Em um segundo, estávamos nos encarando, no seguinte, antes que ambos pudéssemos perceber e fazer qualquer coisa, a garota veio e atacou Kylo Ren com brutalidade, me defendendo. Ergui a mão e o sabre voou ao meu encontro, o agarrei enquanto levantava e corri para me juntar a ela. Embora a garota mostrasse ter talento para manusear um sabre de luz, ela não tinha técnica, o que podia ser perigoso, talvez até fazendo com que ela se machucasse sem querer.
Assim que cheguei até os dois, lutei ao lado da garota, entretanto, de maneira diferente de antes. Minha maior preocupação no momento, além de fazer Kylo Ren desmaiar sem feri-lo, era defender a garota, tanto dele quando de si mesma, para que não se machucasse.
Desviei de um golpe lateral de Ren e o fiz perder o equilíbrio, a garota foi rápida e o atingiu no braço. Ele ficou com mais raiva por ter sido atingido e tentou ataca-la na coxa, mas eu a defendi, bloqueando o movimento. O barulho dos sabres colidindo ecoou pela floresta.
Com meu sabre ainda no de Kylo Ren, em um movimento muito rápido para os meus olhos acompanharem com precisão, a garota ergueu o sabre em suas mãos e, com um grito, o atingiu no rosto, o fazendo cair. Deixei a mão cair ao meu lado com o sabre ainda acionado e prendi a respiração automaticamente, olhos arregalados e boca entreaberta, o coração acelerando gradativamente em temor. Um suspiro baixo de alívio escapou dos meus lábios assim que Kylo Ren levantou a cabeça, então apoiou-se sobre os cotovelos.
Ele estava vivo e relativamente bem. O golpe dado pela garota acarretou em um corte na parte direita de seu rosto, que ia da bochecha até um pouco acima do olho. Mas ele estava vivo, e era isso que importava.
A terra sob meus pés começou a tremer violentamente, não demorou para outra cratera ser aberta, separando Kylo Ren de mim e da garota, terminando a luta de vez.
Ainda fiquei observando o homem do outro lado por um tempo, até que a garota tocou meu braço e disse, com uma voz mais forte, porém gentil, do que eu esperava dela:
— Venha comigo, temos que sair daqui.
Olhei uma última vez para Kylo Ren, aliviada ao sentir a presença de pessoas se aproximando rápido do outro lado, provavelmente para procura-lo. No entanto, fiquei um pouco tensa e surpresa ao sentir algo despertar em mim assim que nossos olhos se encontraram. Fazia tantos anos que eu não sentia aquilo, aquela ligação que me trazia tanta alegria quando eu era mais nova.
Deixando-o para trás com a certeza de que ele sairia vivo dali, desliguei meu sabre de luz e corri ao lado da garota para sairmos daquele lugar, o qual se destruía aos poucos a cada instante. Passávamos por entre as árvores com velocidade até a garota parar ao lado de um homem caído no chão. Ela se jogou ao lado dele, sacudindo-o.
— Finn, Finn — disse a garota, com a voz trêmula, então começou a chorar.
Ele estava vivo, mas ferido. Queria fazer alguma coisa por ele para que o ajudasse a melhorar, mas aquele não era o melhor momento, precisávamos sair daquele lugar com urgência.
Quando eu ia falar para a garota para levantarmos o homem e leva-lo, uma luz muito brilhante ofuscou a minha visão. Meus olhos foram se acostumando aos poucos com a iluminação repentina, e finamente notei que se tratava de luz vinda de uma nave. No entanto, para a minha surpresa, não era uma nave qualquer. Era a famosa Millennium Falcon.
A Millennium Falcon pousou no solo a uma distância segura para não colidir com nenhuma árvore e, poucos minutos depois, Chewbacca saiu de dentro dela e andou até nós. Mantive o olhar na rampa da nave, aguardando Han Solo sair também, mas ele não apareceu. Fiquei confusa com isso, mas ignorei meus pensamentos e abri um sorriso de orelha a orelha quando o grandão colocou seus olhos em mim.
— Chewie — sussurrei.
O wookiee abriu a boca em surpresa e urrou alto de felicidade, agitado. A garota nos olhava sem entender.
— Vamos sair daqui — falei. —, aí podemos nos cumprimentar melhor.
Chewie pegou o tal Finn no colo sem nenhuma dificuldade e saiu correndo para a Millennium Falcon, eu e a garota corremos a seu encalço. Entramos na Falcon e o homem foi colocado em uma espécie de cama da lateral da nave, segui a garota e o wookiee até a cabine e me sentei na parte de trás, vendo-os decolar e mais uma vez perguntando a mim mesma sobre o paradeiro do verdadeiro piloto da Millennium Falcon.
A garota tinha assumido a responsabilidade de pilotar, e tinha que admitir que ela era talentosa, com certeza uma das melhores pilotas que eu já tinha visto – bem diferente de mim.
Assim que deixamos o planeta, ele explodiu, e Chewie, aproveitando que estávamos seguros, se levantou de seu lugar e andou até mim para me abraçar. Ele me ergueu alguns centímetros no ar e eu gargalhei, sentindo o coração ficar quentinho com sua demonstração de afeto, a saudade de anos sendo refletida naquele abraço.
— Também senti sua falta, grandão.
Chewie grunhiu depois que me soltou.
— Não, eu não morri — falei, diante da sua exclamação. — Todos devem pensar isso.
— Quem é você? — a garota indagou, nos interrompendo. Os olhos carregados com confusão. — Como conhece Chewie?
Abracei o wookiee pela lateral, sorrindo.
— Somos amigos de longa data — respondi, então estendi a mão para a garota. — Sou Lyra.
— Rey — ela se apresentou, segurando a minha mão.
Rey abriu a boca para falar alguma coisa, mas precisou voltar a controlar a nave, visto que estávamos passando por uma turbulência. Chewie se juntou a ela para fazer seu dever como copiloto, então deixei os dois sozinhos e fui até o homem desacordado, Finn. Sentei ao seu lado e o analisei, a cabeça inclinada. Sua pele cor de ébano brilhava pela fina camada de suor que a cobria, o cabelo escuro curto e crespo combinava com os traços do seu rosto, seu corpo aparentava ser forte sob a jaqueta marrom clara.
Certamente ele era da Resistência.
Finn estava ferido, mais do que os olhos podiam ver. Eu estava muito cansada para curá-lo, mas poderia, pelo menos, facilitar o processo.
Coloquei minha mão direita sobre o seu abdômen, respirei fundo e fechei os olhos para me concentrar. Passei o máximo de energia que podia para ele de modo que não me afetaria, dessa forma ele não ficaria tanto tempo desacordado. Os curandeiros da Resistência conseguiriam obter sucesso no resto.
Quando abri os olhos, encontrei Rey parada perto de nós, me encarando com curiosidade e uma pitada de desconfiança.
— O que você fez com ele? — ela questionou.
Sorri levemente diante da sua preocupação. Era quase palpável o quanto Rey se preocupava com Finn.
— Transferi um pouco de energia da Força — falei, calmamente, para tranquilizá-la. — Estou mais cansada do que percebi antes, então não consegui acordá-lo, mas seu amigo já não está mais em um estado crítico.
A preocupação e desconfiança nos olhos de Rey foram substituídas por surpresa e gratidão.
— Obrigada!
Sorri.
— Não precisa agradecer.
— Preciso, sim — Rey insistiu. — Não só por ajudar o Finn, mas também por me salvar na floresta.
Apenas assenti, um pouco envergonhada diante de seus elogios. Ainda era estranho receber elogios por fazer algo que eu considerava como o meu dever: ajudar a galáxia e todos que precisavam de ajuda. Mas era bom sentir gratidão genuína vindo das pessoas, pois significava que mais pessoas compartilhavam dos meus ideais e valores.
Levantei-me e brinquei com meu sabre de luz no cinto, Rey acompanhou meus movimentos.
— Pensei que não houvesse mais Jedi — disse.
— E não há. Quer dizer, não havia. Mas, quando o Lado Sombrio cresce, o Lado Luminoso da Força cresce também — fitei os olhos verdes de Rey. — Imagino que seja por isso que você está aqui também. A Força é muito poderosa em você.
— Acho que também sinto isso em relação a você — disse, meio incerta.
Tudo isso devia ser muito novo para ela, mas Rey tinha um potencial inegável para ser uma cavaleira Jedi, iria aprender os caminhos da Força. E eu poderia ajuda-la, se ela permitisse.
— Rey, posso te fazer uma pergunta?
Eu precisava tirar aqueles pensamentos da minha mente e saber a verdade, mesmo temendo a resposta.
— Claro — Rey balançou a cabeça.
— Onde está Han?
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