𝟢𝟥𝟥. 𝘜𝘯𝘢𝘳𝘮𝘦𝘥 𝘣𝘶𝘵 𝘰𝘯 𝘢𝘭𝘦𝘳𝘵
Na manhã seguinte, quando Theressa abriu os olhos, James ainda estava dormindo. Ele parecia relaxado, o peito ainda despido subindo e descendo levemente, enquanto fios de cabelo caiam sobre o rosto dele e o braço metálico frio estava envolvendo firmemente a cintura de Theressa, mas não era nenhum pouco desconfortável.
Ela esfregou os olhos, tentando afastar a sonolência, seu corpo ainda estava mole e dolorido devido às atividades da noite anterior.
Thessa se perguntava internamente como as coisas seriam agora, ela queria levar aquilo de maneira leve e talvez até casual, pois sabia que ambos ainda estavam em um processo de libertação das amarras do passado.
No entanto, não podia se dizer que estava realmente levando aquilo de maneira casual, afinal, a única pessoa que ela havia dormido antes dele, fora Brock Rumlow, e na época ela pensava ser outra pessoa devido às lavagens cerebrais da HYDRA. Agora, apenas lembrar disso já era o suficiente para deixá-la enojada.
Ela fechou os olhos e se mexeu levemente para encontrar uma posição mais confortável, seja lá quais fossem as consequências dessa noite, e por mais paranoica que isso pudesse a deixar, ela não queria encarar isso agora.
Puxou o cobertor para cima dos dois e afundou o rosto no travesseiro, bem próximo ao rosto de James, que apenas a puxou para mais perto em um gesto quase que automático e inconsciente. Com um pouco de esforço, Theressa conseguiu relaxar e adormecer novamente, ignorando totalmente as luzes da manhã que entravam pelas frestas da cortina entreaberta.
O Barnes acordou algum tempo depois disso, ele, por sua vez, sentia o seu corpo leve. Ele não sabia se era por gastar muita energia na noite anterior ou por outra razão, mas havia dormido muito bem, muito melhor do que há muito tempo não dormia.
Mesmo sem o programa do soldado invernal em sua mente e mesmo estando na segurança do apartamento de Theressa, Bucky ainda tinha pesadelos vividos sobre o seu passado. Mas de alguma forma, nessa noite dormiu como uma pedra, sem nenhum sonho indesejado para interromper sua noite de descanso.
Ele bocejou e olhou para Theressa, usou sua mão de carne para traçar o rosto dela cuidadosamente e depois tirou o braço metálico de envolta da cintura dela, ela resmungou alguma coisa, porém não acordou.
Bucky se levantou e foi tomar um banho gelado. A mente dele estava leve e ele, no fundo, gostaria que fosse sempre assim, sem preocupações ou sombras de memórias que ele preferia esquecer, mas que não conseguia. E, de certa forma, parte dele sabia que logo o peso da rotina e das lembranças começaria o sufocar novamente.
Após o banho gelado, ele vestiu uma calça de moletom e foi para a cozinha do apartamento. O lugar era pequeno, porém arrumado e aconchegante. Bucky nunca foi especialista em arrumação ou em manter as coisas organizadas, mas estava realmente se esforçando de maneira árdua para não fazer bagunças desnecessárias ou sujar a casa de Theressa, afinal ele não queria ser um incômodo.
O corpo dele ainda se mexia quase no automático e quando se deu conta, estava preparando o café da manhã. Ele deu um pequeno sorriso quando notou e balançou a cabeça para esquecer aqueles pensamentos.
Ele sabia que não era justo esquecer todo o passado e histórico que ele tinha com Theressa — o tempo na Sala Vermelha, na HYDRA, o fato de ele ser o culpado por ela ser uma Viúva Negra e também pela morte dos pais dela — e focar apenas na noite anterior.
Mas era confuso. A situação toda era confusa e contraditória e, embora nenhum dos dois fosse admitir, os dois se sentiam confusos e sem saber o que fazer ou como agir. Ambos não queriam demonstrar que estavam presos no passado, mas também não queriam agir como emocionados, embarcando de cabeça nesse novo relacionamento, se é que assim pudesse ser nomeado.
Quando Theressa apareceu na cozinha, encostando-se delicadamente ao batente da porta, Bucky quase derramou o café que estava passando do bule para garrafa, mas forçou um sorriso de quem dizia que tudo estava bem e sobre o controle.
— Bom dia, precisa de ajuda? — Ela disse, a voz rouca de sono e as marcas dos chupões no pescoço dela o deixavam meio desnorteado.
— Estou bem. — James respondeu ainda com aquele sorriso meio estranho que parecia forçado.
— O cheiro está ótimo. — Thessa respondeu, começando a passar os ovos para um prato e levar as coisas prontas para mesa, ainda tentando agir casualmente, tanto quanto Bucky também estava se esforçando para. — Aliás, obrigada por cozinhar.
— Espero que goste — Dessa vez havia um tom genuíno de orgulho em sua voz, como se estivesse genuinamente feliz ou satisfeito por estar fazendo algo para ela. Como se essas pequenas coisas pudessem a compensar.
Os dois se sentaram frente a frente na mesa de madeira, eram apenas duas cadeiras e a manhã parecia quente e agradável do lado de fora.
Bucky esperou Theressa dar a primeira mordida na comida antes de começar a comer, e sorriu satisfeito quando ela engoliu a omelete e fez uma cara de quem havia gostado do sabor.
— Precisa comprar mais ovos. — ele diz finalmente, quebrando o silêncio antes que ficasse constrangedor. — Esses ai foram os últimos.
— Podemos ir no mercado mais tarde. — Theressa respondeu casualmente, não realmente dando importância para os ovos, apenas continuando a comer e aproveitando o conforto da manhã e do café.
Mais tarde, conforme combinado, Bucky e Theressa estavam no mercado. Eles arrastava o carrinho casualmente, o cabelo longo, dessa vez estava ajeitado. Thessa havia insistido para ele prender para trás, e ele obedeceu mesmo que contra gosto.
Alguns itens já estavam no carrinho que Barnes empurrava seguindo a garota pelos corredores cheios de prateleiras. Tais como frutas e pacotes de massa.
Theressa parou subitamente em frente a uma prateleira de cereais, analisando as opções com uma sobrancelha arqueada.
— A gente vai mesmo levar isso? — perguntou Bucky, apontando para uma caixa de cereal colorido e chamativo que Thessa segurava.
— Sim! Não tem como resistir. E, além disso, você precisa experimentar coisas novas.
James revirou os olhos, mas continuou seguindo a mais nova e empurrando o carrinho de compras. Theressa tinha o cabelo preso em um coque, vestia um suéter de moletom preto e um jeans simples.
Os dois viraram para o próximo corredor, chegando ao corredor de higiene pessoal. Bucky, sem muita cerimônia, começou a pegar aleatoriamente alguns sabonetes de diferentes fragrâncias e jogá-los no carrinho, o que fez Thessa revirar os olhos.
— Você tem algum critério para isso, James? — brincou ela.
Antes de James formular sua resposta sobre os sabonetes serem todos iguais e servirem para a mesma coisa, uma senhora de idade se aproximou, ela tinha cabelos grisalhos e andava um pouco devagar. Parecia hesitante e confusa, e para surpresa de Bucky e Theressa, ela segurava nas mãos uma caixa de preservativos.
— Jovem, será que você poderia me ajudar a ler o que está escrito aqui? Meus óculos ficaram em casa, e essas letras são tão pequenas... — disse a idosa, estendendo a caixa na direção do Barnes.
James pegou a caixa da mão dela e respirou fundo, enquanto Theressa se encostava na prateleira e tentava não rir. O homem limpou a garganta e começou a falar em tom baixo e claramente desconfortável:
— São preservativos. Essa caixa contém vários... sabores. — ele fechou os olhos por um instante, quase rindo mas ainda pressionado pelo próprio constrangimento. — Textura suave e são tamanho M.
— Ah, muito obrigada filho. — a idosa sorriu satisfeita. — E não se preocupem, é para o meu sobrinho que irá se casar, eu não preciso disso. — disse ela com um riso travesso. — Mas vocês dois deveriam comprar! — Ela se virou para Theressa e apontou diretamente para Bucky com um pequeno sorriso nos lábios. — Ainda mais com um marido gostoso desse.
Bucky apertou os lábios para segurar o riso, enquanto Theressa ficou imediatamente corada, sem saber se ria ou se se enfiava embaixo do carrinho.
— Ah... nós... — Theressa tentou responder, mas apenas acenou com a cabeça, atônita.
A idosa piscou para ela antes de se afastar pelo corredor, murmurando algo sobre como os jovens de hoje em dia tinham sorte.
— Não ria! — Theressa sussurrou, lançando um olhar de advertência.
— Eu não estou rindo. — respondeu ele, disfarçando o riso mas não conseguindo conter um pequeno sorriso. — Eu respeito os mais velhos.
— Aquela senhora provavelmente tem a sua idade, Barnes. — Theressa retrucou, revirando os olhos, ela pegou a caixa da mão dele, devolveu a prateleira e voltando a andar.
Ele a seguiu, ainda empurrando o carinho e então adentraram o próximo corredor a esquerda. Bucky parou em frente a uma prateleira abarrotada com vinhos polidos, em seus diversos tamanhos e preços e começou a olhar atentamente para as embalagens, como se estivesse procurando por um em especial ou escolhendo o melhor entre as opções.
— Para que vinho? Você sempre bebe coisas mais fortes que isso. — Theressa apontou enquanto tentava espiar por trás do ombro dele.
— Não posso querer variar? Podemos fazer um jantar diferente, algo elegante e tomar um vinho. — Ele sugeriu com um sorriso ladino nascendo no canto da boca.
Theressa engoliu seco com a insinuação e deu ombros, mas antes que pudesse responder, uma figura familiar entrou no corredor. Tyler tinha os cabelos louros bagunçados de uma forma despojada, vestia uma calça jeans e uma camisa branca, diferente das outras vezes que Bucky tinha o visto, quando ele estava apenas com trajes de advogado.
A presença inesperada do vizinho fez o sorriso sair dos lábios de James e dar lugar a uma expressão de puro tédio. Não era como se Bucky não gostasse do homem, afinal, a ajuda de Tyler fora de grande valia para livra-lo dos processos legais contra seus crimes como Soldado Invernal.
— Theressa, que coincidência encontrar você por aqui. — disse Tyler, os olhos azuis brilhando com um sorriso que mostrava mais do que simples cortesia.
— Tyler, oi! Sim, coincidência mesmo. — respondeu ela, tentando manter o tom leve. Bucky notou o leve rubor em seu rosto e a forma como ela parecia um pouco mais animada do que o usual. James transferiu totalmente a sua atenção para o rótulo de um vinho, tentando ignorar a cena que se desenrolava ali.
— Barnes, como vai? — Tyler se virou para Bucky, estendendo a mão em um gesto amigável. Bucky o encarou por um segundo antes de apertar a mão com firmeza, mantendo um sorriso cordial que não alcançava os olhos.
— Tudo bem, Donovan. Bom te ver por aqui. — respondeu Bucky, a voz baixa e controlada.
— Parece que você e Theressa estão aproveitando o dia para fazer compras juntos, hein? — Tyler disse, com um sorriso malicioso. — Sabe, Theressa, se precisar de ajuda para carregar essas sacolas depois, você sabe onde me encontrar. — Ele piscou de forma divertida, o tom claramente insinuante. Theressa soltou uma risadinha involuntária, jogando o cabelo para trás.
— Vou me lembrar disso, Ty. — respondeu, com um brilho travesso nos olhos.
Bucky sentiu uma onda de irritação, mas respirou fundo. O homem o ajudara no passado, então ele não queria ser rude, mas a forma como Tyler olhava para Theressa estava testando sua paciência.
— Tyler, agradecemos a oferta, mas acho que estamos bem por aqui. — disse Bucky, o tom ligeiramente mais afiado do que pretendia. Tyler ergueu as sobrancelhas e sorriu, notando a tensão.
— Claro, Barnes. Só queria ser prestativo. — Ele se voltou para Theressa. — De qualquer forma, se quiser passar lá em casa para uma taça de vinho qualquer dia desses, a porta está sempre aberta.
Theressa riu, um pouco nervosa, mas antes que pudesse responder, Bucky deu um passo à frente, assumindo uma postura protetora ao lado dela.
— Tenho certeza de que Theressa vai lembrar disso, Tyler. Agora, precisamos continuar com as compras. — O sorriso de Bucky era educado, mas seus olhos transmitiam uma mensagem clara.
Tyler assentiu, o sorriso se tornando um pouco mais contido.
— Claro, claro. Até mais, vocês dois. — E com isso, ele se afastou pelo corredor.
Theressa olhou para Bucky e viu a tensão em seus ombros.
— Você está bem? — perguntou ela, com um sorriso divertido. Bucky soltou um suspiro e relaxou os ombros.
— Sim. Mas talvez eu deva escolher um vinho mais forte do que o planejado. — Ele disse com um meio sorriso, fazendo-a rir enquanto o clima começava a suavizar novamente.
James colocou a garrafa que estava em suas mãos no carrinho e então mais uma de Whiskey e outra de vodka barata, os dois saíram andando novamente pelos corredores do mercado, pegando alguns itens que ainda estavam faltando para completar a lista, antes de pagarem por suas compras e seguirem andando de volta para o apartamento.
Durante todo o caminho ele fez questão de carregar todas as sacolas, e ela não o parou, mesmo ela tendo, teoricamente, a mesma força de super soldado que ele. Se ele queria ser um cavalheiro ela não iria o impedir.
O resto do dia passou tranquilamente. Quando chegaram em casa, guardaram as compras em seus devidos lugares em silêncio, e então cada um foi para o seu quarto.
A tarde passou rapidamente. Theressa tomou um banho demorado, submersa na água morna da banheira, enquanto conversava com Tony por mensagens de texto.
Ela tentava manter o máximo de contato com ele, afinal, sabia que ele se preocupava muito. Na verdade, se dependesse de Stark, ela estaria morando com ele agora. Mas Tony entendia que Theressa gostava de privacidade e que ainda não aceitava totalmente todos os privilégios de ser uma Stark.
Então, ela fazia questão de manter Tony informado, pois ele era seu irmão. Mesmo que tivesse passado parte da vida sem ter a menor noção disso, ela sabia que tinham uma conexão que não poderia ser explicada — era apenas um sentimento natural, talvez o sangue falando mais alto.
No entanto, ela não podia contar tudo para ele. Theressa sabia que Tony odiava Bucky com todas as forças, e, de certa forma, tinha razão para isso. Quando mencionou que Barnes ficaria temporariamente hospedado em sua casa, Tony achou um absurdo.
Stark xingou por vários minutos ao telefone, mas depois não tocou mais no assunto, assim como Theressa. Ela se perguntava como ele reagiria se soubesse que ela havia dormido com o assassino de seus pais na noite anterior. Era uma ideia completamente desagradável de se considerar. Mas, ao contrário de Tony, ela trabalhava a mente para se lembrar de que Bucky Barnes e o Soldado Invernal eram como pessoas distintas, da mesma forma que ela não era apenas a arma da Sala Vermelha.
Theressa releu a última mensagem de Tony, que mencionava algo sobre Pepper, e bloqueou a tela do celular. Saiu da banheira, enrolou uma toalha branca no cabelo e vestiu um roupão.
Ao sair do banheiro do quarto, considerou se jogar na cama e tirar um cochilo antes de se preocupar em se vestir ou secar o cabelo. No entanto, o som de música suave vindo do lado de fora chamou sua atenção.
Ela saiu do quarto, e o frio do piso sob os pés descalços fez um arrepio percorrer sua espinha. Logo, a melodia de uma música antiga e romântica chegou aos seus ouvidos, arrancando-lhe uma risada baixa. Ela seguiu em direção à cozinha, onde o cheiro de massa fez seu estômago roncar.
Bucky estava cozinhando.
Theressa parou à entrada da cozinha, observando a cena com um sorriso divertido. Bucky estava de costas para ela, movendo-se com a concentração de quem não estava acostumado a tarefas domésticas, mas determinado a acertar. Ele usava uma camiseta cinza ajustada, que realçava os músculos de suas costas e braços, e o cabelo preso de forma displicente em um coque baixo.
— Isso cheira bem — disse ela, interrompendo o silêncio com a voz suave.
Bucky se sobressaltou levemente, virando-se para encará-la. Seus olhos percorreram rapidamente o roupão de Theressa, e um sorriso involuntário apareceu em seus lábios.
— Você tem um jeito de aparecer sem aviso que quase me faz queimar o jantar — brincou ele, mostrando uma panela em que mexia um molho que ameaçava transbordar.
Theressa riu, cruzando os braços diante do peito.
— Quase? Pelo cheiro, acho que você está indo muito bem. Mas precisa de ajuda, soldado?
Ele deu uma risada baixa e se aproximou um pouco, ainda segurando a colher.
— Não me subestime. Fiquei anos sobrevivendo com comida de combate. Isso aqui é praticamente gourmet.
Theressa ergueu uma sobrancelha, desafiadora.
— Ah, então essa é a sua ideia de impressionar uma garota? Um prato de massa e um molho que, se você não tivesse sorte, já estaria na parede?
Bucky revirou os olhos de forma dramática e deu um passo para o lado, esbarrando de leve em uma panela, fazendo-a cambalear perigosamente. Theressa, sem pensar, avançou rápido para segurá-la, o que a fez ficar próxima o suficiente para sentir o calor do corpo dele. Ele segurou a panela ao mesmo tempo que ela, e por um momento os olhares se encontraram, uma centelha se acendendo entre os dois.
— Obrigado pela salvação — murmurou Bucky, a voz mais baixa e cheia de uma intensidade que fez Theressa se arrepiar.
Ela soltou a panela devagar, sem quebrar o contato visual, um sorriso travesso brincando em seus lábios.
— Da próxima vez, talvez eu deixe você se virar sozinho. Assim você aprende a não se distrair.
— Com você de roupão por perto? Acho que será um aprendizado difícil — respondeu ele, sem perder a oportunidade de flertar, com um sorriso que revelava os resquícios do antigo Bucky, aquele que tinha facilidade com palavras e charme natural.
Ela riu de forma espontânea, um som que pareceu iluminar o ambiente.
— Cuidado com o molho, Barnes.
Ele piscou para ela antes de voltar ao fogão, onde quase deixou a colher escorregar de suas mãos por um instante, e Theressa se permitiu sorrir, sabendo que havia algo especial entre eles que nem o tempo nem as circunstâncias poderiam apagar.
Theressa sorriu com a resposta de Bucky, um brilho divertido nos olhos.
— Acho que é melhor eu me trocar antes de te distrair mais, Barnes — disse ela, girando nos calcanhares para voltar ao quarto.
Bucky arqueou uma sobrancelha e, com um sorriso meio travesso, respondeu:
— Que pena... Eu não reclamaria se você continuasse me distraindo mais um pouco.
Ela riu, um som leve e genuíno, e desapareceu pelo corredor. Bucky a observou sair, balançando a cabeça com um sorriso ainda estampado no rosto, enquanto voltava sua atenção para a massa que fervia na panela.
Poucos minutos depois, Theressa retornou à cozinha vestindo uma calça de moletom cinza e uma camiseta larga, os cabelos ainda úmidos caindo pelas costas. Bucky já estava colocando os pratos na mesa, a música de fundo ainda tocando suavemente.
— Chegou na hora certa — disse ele, colocando um prato fumegante na frente dela. — Espero que esteja à altura dos padrões da senhorita.
Ela se aproximou da mesa, os olhos analisando a refeição com curiosidade.
— Tem cheiro maravilhoso — elogiou, sentando-se enquanto Bucky puxava a cadeira para ela. — Vamos ver se o gosto faz jus ao cheiro, Soldado.
Ele riu baixinho, sentando-se em frente a ela e servindo vinho nos copos. Seus olhares se encontraram por um momento que pareceu mais longo do que deveria, a faísca familiar dançando entre eles antes que ambos desviassem para pegar os talheres.
— Bon appétit. — ele murmurou, levantando o copo em um brinde improvisado.
O jantar transcorreu com risos e conversas leves, uma sensação de normalidade que parecia rara em meio ao caos de suas vidas. Quando terminaram a refeição, Bucky se levantou e trouxe uma tigela com morangos frescos que havia preparado como sobremesa.
Theressa pegou um morango e o mordeu, o doce suco espalhando-se pelo paladar enquanto ela olhava para ele com um sorriso suave.
— Não sabia que você sabia cozinhar tão bem, Barnes. Vou ter que pedir isso mais vezes.
Bucky riu, pegando um morango e girando-o entre os dedos antes de dar uma mordida. A música suave ainda ecoava pela cozinha, criando uma atmosfera quase íntima. Eles continuaram conversando, as palavras fluindo com naturalidade, tocando em lembranças, piadas internas e fragmentos de memórias que compartilhavam.
De repente, o semblante de Bucky ficou sério, os olhos azuis desviando-se por um momento antes de encontrarem os dela. Ele inspirou fundo, como se reunisse coragem para uma pergunta que pesava em sua mente há algum tempo.
— Theressa... por que você é tão boa para mim? — Sua voz saiu rouca, carregada de uma vulnerabilidade que raramente deixava transparecer. — Mesmo quando eu não mereço?
O sorriso de Theressa diminuiu, mas não desapareceu. Ela colocou o morango de volta na tigela e encarou Bucky com um olhar firme e carinhoso.
— Porque eu sei quem você é, Bucky. Não quem você foi forçado a ser, mas quem você é de verdade. E ninguém merece ser julgado pelo que fizeram quando estavam sob o controle de outra pessoa. Acho que nós dois sabemos muito bem disso.
Bucky olhou para as mãos unidas, o calor do toque dela se espalhando por ele como uma âncora em meio à tempestade. Um pequeno sorriso apareceu em seus lábios, a gratidão brilhando em seus olhos. Theressa apertou a mão dele de leve, como uma promessa silenciosa.
O silêncio que se seguiu foi quebrado apenas pelo som suave da música ao fundo e pela respiração deles. A cozinha parecia menor, mais quente, como se a energia entre os dois tivesse mudado repentinamente. Theressa manteve os olhos fixos nos de Bucky, sentindo o coração acelerar, cada batida ecoando nos ouvidos.
Os dedos dele roçaram a pele do braço dela, um toque tão leve que fez um arrepio percorrer-lhe a espinha. Ele inclinou a cabeça ligeiramente, o olhar se intensificando. As mãos que sempre pareceram tão fortes agora tremiam ligeiramente com a tensão do momento.
Theressa prendeu a respiração quando a distância entre eles diminuiu, e ela sentiu o calor do corpo dele se fundir ao dela. O perfume masculino de Bucky, uma mistura de madeira e algo indomado, invadiu seus sentidos. Ela sabia que havia algo inevitável naquela proximidade, um desejo que ambos tentavam ignorar havia tempo demais.
Sem aviso, Bucky segurou-a pela cintura e a puxou com força para mais perto, a respiração quente dele misturando-se à dela enquanto seus lábios se encontravam em um beijo profundo e urgente. Theressa deixou-se levar, as mãos subindo pelos ombros dele, puxando-o ainda mais para perto.
Ele a puxou para o seu colo e depois se levantou e a ergueu, sentando-a sobre a mesa da cozinha, o som leve da porcelana sendo empurrada se misturando às respirações descompassadas deles.
Theressa arqueou o corpo para ele, sentindo as mãos de Bucky explorarem sua cintura e subirem por suas costas. Ele interrompeu o beijo por um instante, apenas para fitá-la com um olhar que misturava desejo e reverência.
— Theressa... — sussurrou ele contra os lábios dela, o nome dela soando como uma prece. Ela abriu um sorriso pequeno antes de puxá-lo de volta, os dedos entrelaçando-se nos cabelos dele, enquanto o calor aumentava e o mundo ao redor desaparecia.
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