𝟢𝟤𝟫. 𝘊𝘳𝘺𝘰𝘨𝘦𝘯𝘪𝘤𝘴
Theressa estava na mesma nave que havia roubado para ir à Sibéria. Um dos poucos modelos da S.H.I.E.L.D. com o recurso mais útil que poderia ter naquele momento: invisibilidade.
Fury provavelmente a odiaria por isso. Mas, considerando tudo, Fury provavelmente a odiaria de qualquer forma.
Ela checou as coordenadas mais uma vez e se sentou, os controles frios sob seus dedos enquanto sua mente vagava. O silêncio ao redor era quase esmagador, um lembrete constante do isolamento que ela havia escolhido.
A nave flutuava no ar como um fantasma, invisível, indetectável, assim como ela se sentia. Era uma ironia cruel. Estar cercada por todo esse poder tecnológico, mas ainda assim, ser incapaz de escapar da sensação de vazio que a acompanhava.
Não havia nada ao redor, apenas o eco das decisões que a levaram até ali, como se a nave estivesse suspensa entre duas realidades — uma que ela conhecia e outra que ela temia enfrentar.
Ela respirou fundo, o ar parecendo denso como chumbo em seus pulmões, e pegou o comunicador. Ela apertou o botão de comunicação, o som do bipe preenchendo o vazio ao seu redor.
Tony atendeu quase que imediatamente. O rosto dele surgiu na tela, a expressão de preocupação já marcada antes mesmo de ela dizer uma palavra.
— Theressa? Onde você está? — A voz dele saiu rápida, afiada com a ansiedade. Ele estava claramente tentando manter a calma, mas a preocupação estava estampada em cada detalhe do seu rosto.
Ela tentou falar, mas sua voz saiu mais trêmula do que esperava.
— Oi.
Foi tudo o que conseguiu dizer no começo, como se aquela simples palavra fosse o suficiente para aliviar a tensão entre eles. Não era. Tony franziu o cenho, a inquietação no olhar só crescia.
— Você tá bem? Onde você tá, pelo amor de Deus?"
Ela engoliu seco, os dedos apertando o controle da nave como se precisasse de algo físico para ancorá-la. Não sabia se estava pronta para essa conversa — para confrontar as feridas que se abriram com tanta intensidade nas últimas semanas. Mas ela sabia que não podia continuar fugindo, não dele. Tony merecia saber, merecia ouvir algo além do silêncio que ela impusera.
— Eu estou... bem, eu acho. — Eu só... precisava de um tempo.
Tony suspirou, passando uma mão pelo rosto, o alívio evidente por ao menos saber que ela estava viva.
— Um tempo? Theressa, você sumiu. Eu... eu pensei que você estivesse... Não faz isso de novo, ok? — A voz dele falhou levemente no final, um detalhe que a fez perceber o quanto ele também estava perdido.
Ela respirou fundo, tentando organizar os pensamentos, sabendo que não seria fácil.
— Eu sei, Tony. Desculpa. Eu só... precisava pensar, sozinha. Foi muita coisa. Tudo. Bucky, os nossos pais... Eu ainda estou tentando entender.
Por um momento, ele ficou em silêncio, a expressão suavizando um pouco, embora a preocupação ainda estivesse ali, como uma sombra.
— Você devia voltar pra casa. — ele disse com a voz mais calma agora. — Eu não estou no complexo, estou na minha casa. E as portas sempre vão estar abertas pra você, Theressa. Sempre.
Ela quase sorriu, sentindo uma pontada de emoção que quase a desarmou. Por mais difícil que tudo fosse, a ideia de ter um lugar para voltar, de não estar completamente sozinha, mexia com ela.
— Eu... não posso voltar ainda, Tony. Na verdade, eu acho que vou ficar fora por um tempo.
Ele deu uma risada curta, mas sem muita alegria, e jogou uma bronca disfarçada no tom de brincadeira.
— Ah, claro, claro. Fugir dos problemas? Grande plano, Theressa. Funciona super bem, né?
Ela revirou os olhos, apesar de o sorriso estar de volta, mais sincero agora.
— Não começa a bancar o irmão mais velho agora, Stark. Eu sei me cuidar. Pode ficar tranquilo.
— Eu sei que você sabe. — ele respondeu, a voz ficando mais leve, mas ainda carregada de carinho. — Afinal, você é uma Viúva Negra.
O comentário arrancou uma risada genuína dela, uma que parecia sair de algum lugar profundo que ela quase tinha esquecido. Por um instante, tudo parecia mais fácil, como se aquela conexão com Tony fosse um fio de esperança que ela nem sabia que precisava.
Porém, logo a realidade se impôs quando o GPS da nave apitou, um som frio e insistente que a tirou do breve alívio. Theressa fechou os olhos por um segundo, respirando fundo, antes de falar com a voz um pouco mais controlada.
— Eu preciso ir. — Ela disse, a hesitação momentânea se transformando em uma despedida. — E sério, não se preocupa comigo, tá bem?
Tony soltou um suspiro, o tom de brincadeira ainda ali, mas agora misturado com algo mais sincero.
— Vou tentar... mas sem promessas.
Ela podia perceber que ele estava mais aliviado agora, como se a simples confirmação de que ela estava bem tivesse retirado um peso dos ombros dele. A despedida foi breve, mas algo neles havia mudado, um pequeno elo reconectado.
Quando a ligação foi encerrada, ela ficou um segundo encarando o nada, sentindo o eco do silêncio invadir a cabine da nave.
Theressa sabia que também estava preocupada com ele. A realidade de tudo que havia acontecido com os Vingadores ainda pairava sobre sua cabeça como uma nuvem carregada. Afinal, os Vingadores tinham se tornado a família de Tony, e agora, aquela família estava destroçada.
Tudo graças ao Tratado de Sokovia, que, em um ponto irônico, ela nem se lembrava mais de ter assinado. Esse era, sinceramente o menor de seus problemas.
E sinceramente, se Ross tentasse contatá-la agora, ela sabia que não responderia.
Theressa voltou sua atenção para a nave, ajustando os controles enquanto a paisagem de Wakanda surgia à frente, coberta pela tecnologia de camuflagem avançada que a deixava invisível a olho nu.
Por um instante, ela quase se esqueceu de como aquele lugar era protegido, como parecia existir em um plano à parte do mundo caótico que ela havia deixado para trás. Mas, ao observar a vasta terra escondida entre montanhas e florestas, uma dúvida cruel se infiltrou em seu peito.
Enquanto procurava um lugar seguro para aterrissar, o som dos motores suaves da nave mal quebrando o silêncio, seu coração parecia pulsar em duas direções diferentes.
Parte dela sentia que estar ali, entre as sombras de Wakanda, era um erro. A outra parte, no entanto, lhe dizia que não havia mais escapatória. A verdade sempre a alcançava, não importa para onde corresse.
Ela respirou fundo, os dedos apertando os controles, e o dilema pesava cada vez mais. Será que deveria mesmo estar ali? Encontrar Bucky significava confrontar não só o passado, mas também um futuro que ela ainda não sabia se estava preparada para encarar.
Quando Theressa desceu da nave, o ar de Wakanda parecia mais denso do que ela se lembrava, o frio tecnológico da cabine contrastando com o calor sutil que envolvia o lugar.
Assim que seus pés tocaram o chão, ela viu Steve à distância, já esperando por ela. Ele estava com os braços cruzados, mas seus olhos a acompanhavam com uma mistura de tensão e alívio.
— Rogers. — ela o cumprimentou, sua voz soando um pouco mais hesitante do que ela gostaria.
Mas então, Steve relaxou, os braços descruzando e um sorriso genuíno, embora contido, suavizou seus traços.
— Estou feliz que você veio, Theressa. — ele disse, sua voz baixa, mas sincera. — De verdade.
Ela assentiu, sentindo a tensão ainda ali, como uma presença constante, mas algo na sinceridade dele fez seu coração desacelerar um pouco.
Os dois caminharam lado a lado em silêncio, o som de seus passos ecoando pela paisagem de Wakanda.
O verde vibrante ao redor parecia criar um contraste gritante com o peso invisível que Theressa carregava nos ombros. Steve caminhava com uma certa tranquilidade ao seu lado, mas ela sabia que as coisas entre eles eram muito mais complexas agora.
— Tem falado com Tony? — Steve quebrou o silêncio, a voz baixa, como se estivesse escolhendo as palavras com cuidado.
Theressa soltou um suspiro curto antes de responder.
— Falei com ele agora há pouco. — respondeu, o olhar fixo no horizonte à frente, mas seus pensamentos estavam distantes.
Steve pareceu ponderar a resposta por um momento, talvez lembrando da última vez que vira Tony. Ele respirou fundo antes de perguntar, hesitante.
— Como... como ele está?
Ela sentiu o peso da pergunta. Sabia que, por trás da voz cuidadosa, havia todo o caos e mágoa da última vez que os dois se enfrentaram.
Theressa apertou os lábios, sem saber ao certo como responder. Não queria dar mais razões para a tensão entre os dois.
— Bem. — disse, finalmente, sua voz mais suave. — Ele está bem.
Eles continuaram andando em silêncio, o desconforto pairando entre eles como um véu invisível. Theressa tentava se concentrar em qualquer coisa, menos no que estava sentindo.
Mas a pergunta que queimava em sua mente desde que chegara ali, uma que ela vinha evitando, de repente irrompeu dos seus lábios antes que pudesse controlá-la.
— Você sabia? — Ela parou de caminhar, virando-se para Steve, seu olhar fixo nele, os olhos brilhando com uma intensidade contida. — Sobre o Bucky... sobre ele ter matado meus pais e me levado para a Sala Vermelha?
A pergunta pairou no ar como uma tempestade prestes a desabar e o silêncio que se seguiu foi ensurdecedor. Steve também parou de andar, o corpo dele ficou rígido e ela podia ver a tensão crescer em seus ombros.
Ele não respondeu de imediato, como se estivesse pesando cada palavra com cautela, o que só aumentava a ansiedade de Theressa. Ela sentiu o coração martelar no peito, esperando por qualquer resposta, qualquer palavra que pudesse quebrar aquele silêncio opressor.
Steve olhou para o chão por um momento, respirando fundo antes de encarar o olhar dela.
— Sim. — ele respondeu, finalmente, a voz quase inaudível. — Eu sabia.
O mundo de Theressa pareceu congelar ao redor dela, enquanto as palavras ecoavam em sua mente. Um silêncio profundo os envolveu, tão pesado que era quase insuportável.
Você... sabia? — ela repetiu, incrédula, a voz dela mais baixa, com uma mistura de raiva e incredulidade.
Steve assentiu lentamente, o olhar dele triste, mas firme. Theressa se afastou um passo, sentindo o ar faltar, e o silêncio que se seguiu entre os dois era denso, sufocante. Ele tentou se aproximar.
— Eu não podia... Eu não sabia como te contar, Theressa — disse Steve, a dor visível no rosto dele. — O Bucky não tinha escolha. Ele estava sob o controle da Hydra, e...
— Eu sei! — Theressa o cortou, sua voz subitamente alta. — Eu sei que não foi culpa dele, mas isso... isso não muda o que aconteceu.
Ela sentiu o peito apertar, a mistura de mágoa, decepção e raiva rodando dentro dela como um redemoinho. Ela se afastou mais um passo, o olhar fixo em Steve, o silêncio entre eles agora era insuportável. Ele sabia o tempo todo e ela passou meses sem saber.
Agora tudo fazia sentido. A forma como Steve se afastou dela quando soube que ela era a irmã de Tony não era por causa de seu passado com a Hydra. Não, aquilo era um segredo que ele estava guardando, não só de Tony, mas dela também.
Ele mentiu para os dois. E não era uma mentira qualquer. Era a verdade que poderia ter evitado tanto sofrimento.
Theressa estava indignada, o calor da raiva fervendo em seu peito. Ela queria gritar com ele, queria brigar e descarregar todo o peso daquele momento mas ao mesmo tempo sabia que isso não adiantaria.
As coisas já estavam quebradas e não havia palavras que pudessem consertar. Sentia a tensão que pulsava entre eles, como um campo de força invisível, e cada segundo que passava aumentava sua frustração.
Ela deu um passo para trás, o olhar dela transbordando dor e decepção.
— Você podia ter evitado tanta coisa se tivesse falado antes. — a voz dela saiu baixa, carregada de mágoa. — Para mim, para Tony e para o James.
Steve sentiu o coração afundar ao ouvir suas palavras, o peso das consequências de suas ações caindo sobre ele com força.
Ele abriu a boca para falar, mas as palavras pareciam se perder antes de saírem. Tudo que ele tinha era um pedido de desculpas vazio, algo que não conseguia aliviar a dor que estava estampada no rosto dela.
— Me desculpa. — ele disse, finalmente, sua voz carregada de arrependimento. — Eu só... eu pensei que estava fazendo o certo.
Theressa, no entanto, não conseguia mais ouvir. As desculpas de Steve não eram suficientes, não depois de tudo.
Ela respirou fundo, tentando acalmar o turbilhão dentro dela, mas o ressentimento era profundo demais. Então, sem olhar para ele, ela simplesmente se virou e começou a andar para longe, os passos decididos e firmes mas o coração em pedaços.
Steve ficou parado ali, olhando-a se afastar, sentindo-se mais sozinho do que nunca.
Theressa seguiu as placas luminosas que iluminavam o ambiente tecnológico de Wakanda, seu coração batendo em um ritmo acelerado. As Dora Milaje a observaram, mas não tentaram impedi-la, pois já haviam sido avisadas que ela estaria ali.
Ela entrou em uma sala iluminada, decorada com tecnologia avançada que misturava tradição e modernidade.
As paredes eram cobertas por painéis que pareciam vivos, pulsando com uma energia sutil. Assim que cruzou a porta, uma jovem mulher se aproximou dela, seu sorriso radiante iluminando o ambiente.
— Oi! Eu sou Shuri. — disse a garota, com uma energia contagiante. — Estava esperando por você. O Steve me falou que você viria para ver o Bucky.
Theressa se sentiu um pouco tímida diante da confiança de Shuri. Ela nunca soube como lidar bem com estranhos, especialmente em momentos tão carregados de emoção.
— O Bucky sabe que eu estou aqui? — perguntou, a voz hesitante.
— Não, ainda não. — respondeu Shuri, um brilho travesso nos olhos. — Mas tenho certeza de que ele ficará feliz em te ver.
Theressa, ainda meio sem jeito, seguiu Shuri até a sala onde Bucky estava. O coração dela batia mais forte a cada passo, uma mistura de expectativa e receio.
Quando entrou, seus olhos imediatamente arregalaram ao ver que ele estava sem o braço de metal. Ela não sabia o motivo, apenas sentiu um aperto no peito ao perceber. Fora isso, Bucky estava vestido de forma simples, com uma regata branca que revelava o físico forte, mas seus olhos pareciam cansados, desgastados por tudo o que ele havia passado.
Seus olhos azuis encontraram os dela por um breve momento, e ele mordeu os lábios, nervoso. Algo se revirou em seu estômago, uma sensação estranha que ele não conseguia controlar. Então, desviou o olhar rapidamente, incapaz de sustentar o contato visual por mais do que alguns segundos.
— O que você está fazendo aqui? — ele perguntou, a voz baixa, quase hesitante, como se estivesse com medo da resposta.
Theressa sentiu seu corpo tenso, o ar ao redor parecia mais pesado. Ela sabia que a resposta não era simples, que havia muito mais por trás da visita do que ela poderia admitir. As palavras estavam presas em sua garganta, mas ela precisava dizer algo.
— Eu quis ver você.
Ela não sabia se essas eram as palavras certas, mas era tudo o que conseguia dizer naquele momento.
Bucky permaneceu em silêncio por alguns instantes, ainda sem olhar diretamente para ela. Ele passou a mão pelo cabelo, claramente desconfortável, mas havia algo mais. Uma mistura de culpa, alívio e dor estampava seu rosto.
— Eu não esperava que você viesse — ele finalmente disse, a voz carregada de uma estranha vulnerabilidade.
Theressa deu um passo à frente, os olhos dela examinando cada detalhe dele. Ela não sabia o que dizer, não sabia como consertar o que estava quebrado entre eles.
— Eu também não esperava. — respondeu ela, mais suave.
Bucky suspirou profundamente, os ombros pesados com o peso da culpa que ele carregava.
— Me desculpa, Theressa. Por tudo — disse ele, a voz quase um sussurro. — Eu não sabia... Eu não sabia que era você.
Theressa, que até então mantinha a postura firme, sentiu algo quebrar por dentro. As palavras dele traziam à tona todas as memórias dolorosas, e por um segundo, ela fechou os olhos, tentando conter as emoções que ameaçavam transbordar.
— Fica quieto, Bucky. — ela cortou, sem rodeios. — Eu não quero falar sobre isso.
Ele a olhou, confuso, mas ainda assim insistente.
— Mas devíamos... — começou ele, a voz marcada por um misto de dor e necessidade de redenção.
— Não mudaria nada. — interrompeu ela, sua voz mais dura do que pretendia. — Eu sei que você não quis. Sei que não era você. Mas... — Ela fez uma pausa, desviando o olhar para o chão, tentando organizar os pensamentos. — Eu não posso consertar isso. E você também não.
Os dois ficaram em silêncio depois disso, as palavras pairando pesadas no ar entre eles. O ambiente no laboratório parecia mais denso, como se cada palavra tivesse o poder de redefinir o que restava da conexão entre eles.
Foi então que Theressa percebeu que não estavam mais sozinhos. Shuri, Steve, e até T'Challa, acompanhados por uma Dora Milaje, entraram silenciosamente no laboratório, observando a cena sem interferir.
Cada um parecia ciente de que aquele era um momento delicado e qualquer palavra externa poderia quebrar o pouco de entendimento que ainda restava.
Bucky hesitou por um segundo, respirando fundo antes de responder.
— Eles... — Ele olhou de relance para Shuri e T'Challa, como se pedisse aprovação antes de continuar. — Eles vão me colocar em criostase. Pelo menos até encontrarem uma maneira de tirar de vez o controle da HYDRA da minha mente. É a única opção por enquanto.
Theressa mordeu o lábio, sentindo um nó se formar em seu estômago. A ideia de ele ser congelado, de novamente ser afastado de qualquer chance de redenção ou de vida, mexia com ela mais do que gostaria de admitir.
Theressa respirou fundo ao ouvir a explicação de Bucky sobre a criogenia.
— Isso é seguro? — perguntou, tentando controlar o nervosismo que se instalava em seu peito.
— Já passei por isso antes, muitas vezes, com a HYDRA — respondeu ele, a voz baixa. — Assim, pelo menos eu não vou machucar ninguém.
Ela assentiu, concordando com a cabeça, mas o aperto em seu peito só aumentava. Ela estava triste, ansiosa, sem saber o que fazer com todas aquelas emoções conflitantes.
Bucky, por outro lado, observava o rosto dela, as expressões que ela tentava esconder. Internamente, ele se perguntou onde estava a Viúva Negra durona que ele conhecia. Uma sombra de um sorriso apareceu em seus lábios.
Ele se aproximou lentamente, até estar perto o suficiente para levantar a mão e segurar o rosto dela com delicadeza. O toque dele era surpreendentemente suave, quase reverente. Theressa sentiu o calor da palma de Bucky contra sua pele, o contraste com o frio que a envolvia por dentro.
— Eu não sei se posso me perdoar... — Ele hesitou, olhando nos olhos dela. — E, mesmo que você não me perdoe por completo, ou só esteja dizendo isso da boca pra fora, estou feliz que tenha vindo aqui.
Ela piscou algumas vezes, sentindo a garganta se fechar, mas segurando as palavras. Havia tantas coisas que queria dizer, mas não sabia por onde começar.
— A criogenia é a única forma? — perguntou Theressa, a voz quase vacilando, os olhos fixos nos dele, uma mistura de preocupação e ansiedade evidente em seu olhar.
Bucky inclinou levemente a cabeça, um sorriso brincando em seus lábios, tentando quebrar o peso daquele momento.
— Tá preocupada porque vai sentir saudade? — provocou, o tom suave e desafiador.
Theressa estreitou os olhos, cruzando os braços enquanto soltava uma patada rápida:
— Por favor, Barnes, não se ache tanto. — respondeu ela, tentando manter a compostura, mas havia uma pequena fagulha de diversão em seu tom.
Bucky sorriu mais abertamente, os olhos azuis brilhando com malícia enquanto dava um passo a mais em sua direção.
— Não tô me achando, só tô dizendo que se sentir minha falta, você sabe onde me encontrar.
Ela revirou os olhos, soltando um suspiro exagerado, mas não conseguiu evitar que um canto de sua boca se levantasse em um quase sorriso.
Por um momento, o mundo ao redor desapareceu. Eles ignoraram completamente Shuri, Steve, T'Challa e as Dora Milaje que estavam presentes, como se aquele instante fosse apenas deles. O ar entre os dois ficou mais denso, uma tensão invisível crescendo, pulsando como um imã que os aproximava cada vez mais.
E então, sem aviso, Bucky quebrou a distância entre eles e a puxou firmemente para si. A mão dele seguraram sua cintura enquanto ele se inclinava para baixo, os lábios dele encontrando os dela em um beijo que parecia carregar todo o peso de anos de silêncio, arrependimentos e desejos não ditos.
O choque inicial fez o corpo de Theressa endurecer por um segundo, mas logo ela cedeu à intensidade do momento.
O beijo era feroz e profundo, como se ele estivesse tentando transmitir tudo o que não conseguia dizer com palavras. As mãos dela deslizaram até os ombros dele, os dedos se enroscando nos fios de seu cabelo enquanto se aproximavam ainda mais, sem espaço entre seus corpos. O mundo ao redor deles desapareceu completamente.
O calor dos corpos se misturava, o sabor um do outro preenchendo o ar. O coração de Theressa batia forte contra o peito, ecoando como um tambor, enquanto a respiração de ambos se tornava mais rápida, misturada ao som do beijo.
Quando finalmente se afastaram, os olhos de Bucky encontraram os dela novamente e o silêncio entre eles dizia muito mais do que qualquer palavra poderia.
Bucky ainda estava próximo, o rosto dele a poucos centímetros do dela, um sorriso pequeno e quase travesso nos lábios.
— Quando resolverem isso aqui. — disse ele, a voz baixa e com uma leveza surpreendente considerando tudo ao redor. — Eu vou te levar pra sair. Que tal?
Theressa soltou uma risada baixa, tentando esconder o nó que se formava em sua garganta. A ideia de Bucky fazendo planos para o futuro, mesmo com tudo que estava prestes a acontecer, lhe causava um misto de conforto e tristeza.
Ela queria acreditar que ele estaria lá quando tudo acabasse, queria que tudo ficasse bem.
Eles ficaram em silêncio por um momento, até que Shuri se aproximou, com um olhar determinado e um leve aceno para Theressa, sinalizando que era hora. Ela viu Bucky se virar, deixando os ombros relaxarem levemente, como se estivesse pronto para encarar o que viesse a seguir.
Theressa observou em silêncio enquanto ele caminhava ao lado de Shuri, em direção à máquina de criogenia. O laboratório, sempre cheio de uma tecnologia impressionante, agora parecia frio e distante, uma extensão do que ela sentia por dentro.
O olhar dela seguiu cada movimento dele, o coração apertando enquanto tentava aceitar a realidade. Aquilo era a escolha de Bucky. Não havia nada que ela pudesse fazer para impedir.
Ela respirou fundo, a mente uma tempestade de pensamentos, cada um mais pesado que o outro. Queria que tudo ficasse bem. Queria que, de alguma forma, aquele tempo congelado pudesse curar as feridas dele, assim como as suas próprias.
Talvez, nesse período, ela pudesse crescer, amadurecer, aprender a deixar para trás os fantasmas que a assombravam desde a Sala Vermelha. Quem sabe, quando tudo finalmente fosse resolvido, ela estaria pronta para algo.
Theressa observou enquanto Bucky entrava na máquina, o olhar dele cruzando o dela uma última vez antes de desaparecer por completo. O som da criogenia sendo ativada encheu o ambiente, frio e impessoal.
Apesar de tudo e acima de qualquer coisa, ela só queria que ele ficasse bem.
FIM DO ATO TRÊS
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