
𝟢𝟤𝟦. 𝘚𝘰𝘬𝘰𝘷𝘪𝘢 𝘛𝘳𝘦𝘢𝘵𝘺
Theressa estava submersa na banheira, o corpo envolto em água que há muito havia perdido o calor. Seus olhos, vermelhos de tanto chorar, encaravam o vazio, perdidos em pensamentos que a atormentavam desde o incidente.
Pessoas inocentes haviam morrido por causa dela e essa culpa pesava como uma âncora em sua alma. Já fazia uma semana mas a dor e a culpa permaneciam tão frescas quanto no dia em que tudo aconteceu.
Ela finalmente saiu da água, movendo-se com uma lentidão exausta. Pegou a toalha e começou a se secar, sentindo o frio se agarrar à sua pele. Parou diante do espelho do banheiro, observando seu reflexo.
O ferimento de bala e a facada ainda estavam em processo de cicatrização, e ela começou a refazer o curativo nos pontos com mãos trêmulas. Cada movimento lembrava-a da missão fracassada, do sangue derramado, da vida que escapara por entre seus dedos.
Com o curativo finalmente terminado, ela vestiu o roupão, tentando cobrir a vulnerabilidade que sentia. Mas ao sair do banheiro, o peso da culpa e do fracasso era evidente em cada detalhe de sua expressão.
Ao levantar os olhos, viu Tony sentado no quarto, a expressão de preocupação genuína clara em seu rosto. Ele não precisou dizer nada; o olhar nos olhos dele era suficiente para mostrar que ele sabia o quão mal ela estava.
Tony não via a irmã desde os eventos catastróficos de Sokovia e Ultron. Após tudo aquilo, ele havia decidido tirar um tempo apenas com Pepper, afastando-se das responsabilidades de super-herói para focar na vida pessoal.
Mas as notícias corriam rápido, e não demorou muito para ele ouvir sobre o que havia acontecido na Nigéria.
Queria ter vindo antes, estar ao lado dela no momento em que mais precisava, mas sua agenda estava sempre cheia. Os compromissos com as Indústrias Stark, as reuniões intermináveis e, para piorar, uma briga recente com Pepper o havia desestabilizado completamente. Como se não fosse o suficiente, o Secretário Ross decidiu persegui-lo com mais pressão e acusações.
Ainda assim, ele sabia que deveria estar ali para Theressa, como sempre deveria ter estado. Agora, finalmente de volta, ele não perdeu tempo. Tony se aproximou dela com passos decididos, vendo o peso que sua irmã carregava nos ombros. Sem dizer uma palavra, ele a envolveu em um abraço forte, transmitindo todo o apoio e carinho que tinha por ela.
— Não é sua culpa. — murmurou ele, a voz firme, mas carregada de uma ternura que só um irmão poderia oferecer.
Theressa, ainda nos braços de Tony, sentiu as lágrimas começarem a arder em seus olhos novamente. Ela balançou a cabeça, recusando-se a aceitar as palavras de conforto que ele oferecia.
— Foi sim, Tony. — sua voz estava trêmula, mas firme. — As coisas saíram do meu controle. Eu me desestabilizei quando ouvi a voz de Rumlow. Se eu tivesse me mantido focada, se não tivesse deixado a raiva tomar conta... eu teria conseguido desarmar a bomba.
Tony negou com a cabeça, seu coração apertado ao ver a dor tão evidente no rosto da irmã. Ele sabia exatamente o que ela estava sentindo; aquela sensação sufocante de culpa que o havia assombrado desde Sokovia, desde o momento em que sua criação, Ultron, quase destruiu o mundo.
Talvez fosse uma maldição dos Stark, a tendência de carregar o peso do mundo nos ombros, de se culpar por cada tragédia.
Mas ele não disse isso. Ele não queria alimentar o desespero dela com as próprias sombras que carregava. Em vez disso, ele insistiu, sua voz firme e inabalável:
— Não foi culpa sua, Theressa. Nada disso. A Sala Vermelha, a Hydra, Rumlow... nada disso é culpa sua.
Ele se afastou apenas o suficiente para olhar nos olhos dela, tentando fazer com que cada palavra penetrasse a muralha de culpa que ela havia construído ao seu redor.
— Você fez o que pôde. Mais do que qualquer um teria conseguido.
Theressa afastou-se levemente dos braços de Tony, mas não completamente, ainda mantendo o contato. Seus olhos estavam fixos no chão, evitando o olhar do irmão. Ela balançou a cabeça, sentindo a raiva e a dor se misturarem em seu peito, como uma tempestade que não conseguia controlar.
— Eu falhei, Tony. Mais uma vez. Desde a Sala Vermelha, desde tudo que... — sua voz falhou, e ela respirou fundo, tentando segurar as lágrimas. — Eu fiz coisas terríveis, coisas que nunca poderei desfazer. E agora, mesmo tentando fazer o certo, eu... eu continuo falhando. Eu continuo machucando as pessoas.
Tony sentiu uma dor profunda no peito ao ouvir aquelas palavras. Ele sabia que, desde que Theressa escapou da Sala Vermelha, ela carregava um fardo imenso, um sentimento de culpa que a corroía por dentro. Ele viu como ela lutava, dia após dia, para ser uma pessoa melhor, para compensar os erros do passado. Mas ele também sabia que ela nunca se perdoara, e isso a impedia de ver o bem que fazia.
Ele deu um passo à frente, segurando o rosto dela com as duas mãos, forçando-a a olhar para ele.
— Theressa, escute. Nada disso foi culpa sua. A Sala Vermelha, a Hydra... você não escolheu isso. Você foi uma vítima, uma criança forçada a fazer coisas que ninguém deveria fazer. E você escapou. Você conseguiu sair daquele inferno e desde então, tem feito tudo para proteger os outros. Você está tentando, você está lutando.
Ela finalmente levantou os olhos, as lágrimas escorrendo livremente agora. Havia tanto sofrimento ali, tanta dor.
— Mas ninguém entende isso, Tony. Todos me odeiam... — a voz dela tremeu, e ela tentou desviar o olhar novamente, mas Tony não permitiu.
Ele segurou o rosto dela com mais firmeza, os olhos fixos nos dela, cheios de determinação e uma profundidade de amor fraternal que ele raramente expressava.
— Ninguém te odeia, Theressa. Isso é a culpa falando, a dor falando. Você é mais do que seus erros, mais do que seu passado. E eu estou aqui para te lembrar disso, mesmo que você não consiga acreditar agora. Você não está sozinha e não merece carregar esse peso sozinha.
Tony suspirou, percebendo a fragilidade nos olhos da irmã, e suavizou a expressão. Ele inclinou-se e depositou um beijo suave na testa dela, um gesto simples, mas carregado de carinho e proteção.
— Vai se vestir, Theressa. Eu trouxe alguém para uma reunião importante e eles querem te ver também. — disse ele, com uma tentativa de leveza na voz, mas sem esconder a preocupação.
Ela balançou a cabeça lentamente, sentindo-se pequena e frágil. Era como se todo o peso do mundo estivesse em seus ombros, mas, por um momento, a presença de Tony aliviava essa carga. Ele se afastou, deixando o quarto com um último olhar que dizia "Eu estou aqui para você".
Sozinha, Theressa ficou ali por um instante, absorvendo o calor do gesto de Tony. Mesmo com toda a culpa e a dor que sentia, havia uma parte dela que só queria ser cuidada, protegida daquele caos que era sua vida. E era reconfortante ter Tony por perto, alguém que a entendia, mesmo que ela não se achasse merecedora desse carinho.
Com um suspiro, ela se virou para o armário, sabendo que precisava enfrentar mais um dia mas levando consigo o pequeno consolo de que seu irmão estava ao seu lado.
Theressa desceu para a sala de reunião do complexo, cada passo pesado com o fardo que ainda carregava no peito. Ela se vestira rapidamente, tentando esconder a fragilidade que sentia por dentro mas a cada movimento, a dor emocional parecia crescer. Quando entrou na sala, os olhares de seus companheiros recaíram sobre ela, alguns com preocupação, outros com compreensão silenciosa.
Ela se dirigiu a uma cadeira ao lado de Sam e se sentou, mantendo o silêncio enquanto a reunião começava. O Secretário Ross estava de pé na frente, pronto para começar seu discurso e o ambiente era tenso, carregado com a expectativa do que estava por vir.
Quando Ross começou a falar, sua voz era fria e direta, projetando as imagens dos últimos incidentes: Sokovia, Nigéria... O peso de cada evento caiu sobre Theressa como um golpe. As imagens das destruições, das vidas perdidas, estavam lá, expostas para todos verem. O som da voz de Ross, impessoal e calculista, apenas intensificava a sensação de culpa que ela tentava sufocar.
Sam, sentado ao lado dela, notou o desconforto em sua expressão. Ele olhou discretamente para ela e sem dizer uma palavra, estendeu a mão para apertar o braço dela em um gesto amigável e protetor. O toque dele era firme mas gentil, uma lembrança silenciosa de que ela não estava sozinha naquele fardo.
Theressa tentou focar na voz de Ross novamente mas sua mente estava a mil. As imagens, as palavras, tudo era um turbilhão de emoções e lembranças dolorosas. E então, as palavras de Ross soaram como um golpe final:
Pietro cruzou os braços, inclinando-se um pouco para a frente enquanto olhava diretamente para o Secretário Ross. Ele não era do tipo que se calava diante de algo que não entendia completamente.
— Pode nos explicar melhor esse tratado, então? — perguntou Pietro, a desconfiança evidente em sua voz.
Ross ajustou os óculos e abriu um sorriso controlado, visivelmente preparado para esse tipo de questionamento. Ele levantou um documento que tinha em mãos, mostrando-o de maneira que todos pudessem ver, mas mantendo o controle da situação.
— O Acordo de Sokovia visa colocar os Vingadores sob a supervisão de uma força-tarefa das Nações Unidas. Isso significa que suas ações seriam monitoradas, suas missões autorizadas apenas quando necessário. O mundo quer garantias de que vocês não sairão por aí causando mais danos do que salvando vidas.
Natasha, que estava escorada na parede com os braços cruzados, lançou um olhar para Ross, avaliando suas palavras.
— E o que acontece se recusarmos? — ela perguntou, a voz calma mas carregada de uma ponta de preocupação.
Ross fez uma pausa, olhando ao redor da sala antes de responder.
— Se recusarem, o mundo decidirá que vocês estão fora de controle. E então, vocês serão forçados a sair de cena.
O silêncio caiu na sala. Steve franziu o cenho, visivelmente incomodado com o que estava ouvindo. Ele já sabia que algo assim estava por vir, mas ouvir as palavras diretamente de Ross tornou a realidade ainda mais difícil de engolir.
— Isso é um erro. — disse Steve, sacudindo a cabeça. — Estamos aqui para proteger as pessoas, não para ser controlados por burocratas.
Theressa permaneceu em silêncio. Ela se sentia desgastada, tanto física quanto emocionalmente, e sabia que essa decisão era um peso que eles não podiam carregar levianamente. Tony também estava quieto, o que não passou despercebido por Natasha.
— Nunca vi você tão quieto, Tony. — Natasha comentou, o tom dela quase provocativo, mas com uma curiosidade genuína.
Steve, sem hesitar, olhou para Tony com uma expressão séria.
— É porque ele já tomou a decisão dele, não é? — disse Steve, mais como uma afirmação do que uma pergunta.
Tony levantou o olhar, um sorriso amargo nos lábios. Ele deu de ombros, como se estivesse resignado.
— Você me conhece tão bem, Steve. — respondeu Tony, o tom dele era uma mistura de ironia e tristeza, deixando claro que ele estava ciente das implicações da escolha que havia feito.
A tensão na sala era palpável, cada um dos presentes sabendo que a escolha à frente deles não era apenas sobre assinar ou não um tratado mas sobre o futuro dos Vingadores e o impacto que suas decisões teriam no mundo.
— Esse aqui. — ele começou, a voz carregada de emoção contida. — é Charlie Spencer. Um garoto brilhante, que tinha um futuro brilhante pela frente. Ele era um filho dedicado, um estudante exemplar... e então nós derrubamos um prédio em cima dele enquanto estávamos arrasando.
O silêncio na sala era palpável, todos os olhos fixos na imagem projetada. Theressa podia sentir o peso das palavras de Tony, o impacto que aquelas verdades estavam causando. Natasha, que estava próxima, desviou o olhar por um momento, talvez para processar o que Tony estava dizendo.
— Talvez ele tenha razão... — Natasha murmurou, quebrando o silêncio.
Tony, surpreso, olhou para ela, uma sobrancelha arqueada.
— Espera, você está concordando comigo? — ele perguntou, a incredulidade clara em sua voz.
Natasha revirou os olhos e tentou desviar o comentário.
— Ah, retiro o que eu disse.
Mas Tony não ia deixar passar tão facilmente.
— Não, não retira, não. — Ele insistiu, com uma ponta de ironia mas também de esperança, como se estivesse tentando convencer a todos ali de que suas intenções eram as certas.
Steve, no entanto, não parecia convencido. Ele cruzou os braços, mantendo sua postura firme.
— Eu ainda sou contra.
Rhodes interveio, tentando trazer uma perspectiva diferente.
— Steve, isso não é a S.H.I.E.L.D. ou a Hydra. É a ONU.
Steve manteve o olhar firme, sem ceder um centímetro.
— Ainda é controlado por pessoas, Rhodey. Pessoas com ideais. E ideais mudam.
Tony aproveitou a deixa, não perdendo a oportunidade de reforçar seu ponto.
— Isso é ótimo, Steve. Quando eu percebi que as minhas armas estavam sendo usadas para coisas erradas, eu parei de fabricar. Eu mudei e o mundo precisa mudar também.
O peso daquela discussão estava crescendo, e Theressa sentia o desconforto aumentando dentro dela. Ela sabia que tudo isso era importante mas o que mais pesava em sua mente era o sentimento de fracasso e culpa que ainda a corroía. Mesmo assim, estava ali, tentando participar, tentando se manter firme.
Theressa mal conseguia ouvir a discussão ao seu redor. As vozes de Tony, Steve, e os outros ecoavam na sala, cada um defendendo suas posições com fervor. Ela entendia os argumentos de ambos os lados. De um lado, a liberdade, a escolha de lutar sem ser controlada por forças externas. Do outro, a responsabilidade, a necessidade de proteger o mundo de si mesma, de seus próprios demônios.
Ela sabia o que era ser controlada, ser moldada e usada como uma arma. A Hydra, a Sala Vermelha... todos haviam tentado moldá-la, arrancando pedaços de sua alma até que ela não soubesse mais quem realmente era. Agora, a ideia de se submeter novamente, mesmo que fosse ao governo, era repulsiva.
Mas... e se eles estivessem certos? E se ela fosse um perigo? Theressa tinha visto de perto o que a violência e o poder desenfreado podiam fazer. Ela já tinha sangue demais em suas mãos. E no fundo, a culpa nunca a deixava esquecer.
Sem dizer uma palavra, ela pegou a caneta. As vozes ao seu redor pareceram diminuir, tornando-se um ruído distante, quase inaudível. Com mãos trêmulas, ela fez a primeira assinatura no papel, sentindo um nó se formar em sua garganta. Um silêncio abrupto tomou conta da sala enquanto os olhares se voltavam para ela, chocados com o que ela acabara de fazer.
Theressa não conseguiu encarar ninguém. Sem olhar para os outros, ela deixou a caneta sobre a mesa, deu meia-volta e saiu da sala, deixando os murmúrios de surpresa e desapontamento para trás.
Enquanto caminhava pelo corredor, seu coração estava pesado. Parte dela queria correr de volta e rasgar aquele papel mas outra parte sabia que, talvez, essa fosse a única maneira de parar de machucar os outros.
UMA SEMANA DEPOIS
Uma semana depois, Theressa estava finalmente tentando se desconectar do mundo ao seu redor. Sentada na cama, com uma manta confortável ao redor dos ombros, ela segurava uma xícara de chá quente em uma mão e o celular na outra.
Sua expressão estava suavizada, um raro sorriso brincando em seus lábios enquanto ela passava pelas fotos de gatos no Instagram. Era um alívio simples, uma pausa nas sombras que haviam dominado sua mente nas últimas semanas.
Mas então, uma manchete na TV captou sua atenção. Ela olhou de relance para a tela e o sorriso desapareceu lentamente quando as palavras se fixaram em sua mente.
"Atentado terrorista em Viena. Bomba no prédio sede da ONU. Rei T'Chaka morto."
Theressa sentiu o corpo se enrijecer, o ar se tornando pesado ao seu redor. Ela sabia que Natasha havia viajado para Viena, justamente para a ratificação do Tratado de Sokovia. O medo começou a pulsar em suas veias mas o que veio a seguir fez seu coração parar.
A xícara de chá escorregou de seus dedos trêmulos, caindo no chão com um estilhaço de porcelana. Theressa ficou paralisada, os olhos fixos na imagem que agora tomava conta da tela. A foto de Bucky, a imagem capturada de relance, agora distorcido pela acusação que ecoava pela sala.
O nó na garganta de Theressa se apertou com força. Ela não podia acreditar no que estava vendo. Bucky estava ali e o mundo inteiro estava agora chamando-o de terrorista. O mesmo Bucky que ela viu poucos meses antes, tentando seguir em frente como ela. Ele estava tentando reconstruir sua vida, assim como ela e não podia ter feito aquilo. Não era possível.
Ela precisava encontrá-lo, avisá-lo, ajudá-lo. Mas como? A ideia de ele estar sendo caçado como um terrorista a deixava enjoada. A corrida contra o tempo havia começado, e ela não tinha a menor ideia de por onde começar.
Theressa levantou-se da cama com um salto, o chá espalhado pelo chão não lhe importando. Ela foi até o escritório improvisado em seu quarto, onde Tony havia deixado um laptop e outros materiais. Com mãos trêmulas, ela ligou o computador e começou a procurar por informações, tentando descobrir onde Bucky poderia estar e como poderia entrar em contato com ele.
Enquanto navegava freneticamente por notícias e dados, invadir sistemas da onu e da segurança de estado em busca de denuncias, seu coração batia acelerado, o medo e a determinação misturados em um turbilhão de emoções. Ela sabia que a situação era crítica e que cada minuto contava.
Perdoem se o capítulo ficou meio nhehh e não esqueçam de votar ❤
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