𝟢𝟢𝟥. 𝘛𝘩𝘪𝘴 𝘓𝘪𝘧𝘦 𝘪𝘴 𝘌𝘢𝘴𝘺 𝘊𝘴𝘦 𝘠𝘰𝘶 𝘋𝘪𝘥𝘯'𝘵 𝘓𝘪𝘷𝘦
No dia seguinte, Thessa seguia o homem que agora ela sabia ser identificado como Soldado Invernal, pelos corredores. Era ainda cedo; depois do café da manhã, ela já fora separada das demais para seu treinamento exclusivo.
— Animado para hoje? Huh? — Ela perguntou, o silêncio era sufocante, mas ela sabia que não teria resposta do soldado. Então, decidiu provocar um pouco, na esperança de arrancar alguma reação dele. — Na HYDRA, todos têm um braço de metal? — Ela questionou, mas ele permaneceu em silêncio. — Você deve estar adorando vir para cá e ficar cercado de mulheres, não é?
As tentativas de Thessa de quebrar o gelo com algumas provocações foram em vão. O Soldado Invernal permanecia impassível, com seu rosto como uma máscara de indiferença enquanto a guiava pelos corredores. Ela suspirou, resignada com a falta de resposta, mas determinada a manter o diálogo, mesmo que unilateral.
— Sério, você nunca fala nada? - Ela perguntou, frustrada. — Você deve ter alguma coisa a dizer. — Thessa murmurou para si mesma, determinada a encontrar uma maneira de romper a fachada impassível do Soldado.
Ela continuou a segui-lo até que finalmente chegaram à sala de treinamento, a mesma do dia anterior. Thessa deu um sorrisinho, sentindo-se aliviada, pois hoje poderia mostrar que realmente sabia lutar. Diferentemente da última vez, quando estava dopada de anestesia e com dor demais para fazer qualquer coisa além de apanhar.
— Então, vamos lutar até a morte? — Ela provocou.
— Não tenho permissão para te matar. — Ele respondeu sério, observando enquanto Thessa arrumava as mangas do uniforme e os cadarços das botas.
— Bom saber. — Ela disse, dando alguns passos em direção a ele e parando frente a frente, erguendo a cabeça para encará-lo, mas sem demonstrar medo. — Porque não é muito justo, quando você tem uma mão de metal que pode simplesmente esmagar minha cabeça.
— Se quiser, posso arrancar seu braço. Assim, você ganha um braço de metal e ficamos quites. — Ele respondeu friamente, sem usar o mesmo sarcasmo que ela. Seu tom não deixava espaço para dúvidas sobre sua capacidade de cumprir a ameaça, mas ele não viu ela recuar.
— Hmm, acho que prefiro manter meus dois braços, obrigada. — Ela retrucou com um sorriso desafiador, mostrando que não seria facilmente intimidada.
O Soldado Invernal apenas assentiu, seu rosto ainda impassível. Sem mais palavras, ele assumiu uma postura defensiva, indicando que a luta estava prestes a começar. Thessa se preparou, concentrando-se em sua respiração e no movimento de seus músculos enquanto aguardava o primeiro movimento dele.
Com um movimento rápido, ela avançou em direção ao Soldado, lançando uma série de golpes precisos e calculados.
O Soldado Invernal respondeu com uma habilidade impressionante, bloqueando e contra-atacando com eficiência. Cada movimento era fluido e controlado, sem desperdício de energia. Thessa teve que se esforçar para acompanhar o ritmo dele, seus reflexos e instintos sendo testados ao limite para que ela conseguisse manter aquela luta justa.
Thessa percebeu que o Soldado Invernal não estava apenas testando suas habilidades de combate. Ele estava avaliando sua coragem, sua resistência e sua capacidade de manter a calma sob pressão. Era como se ele estivesse medindo seu verdadeiro valor, não era de duvidar que ele teria que fazer algum relatório disso mais tarde.
Eles lutaram por o que deveria ser algumas horas, às vezes o Soldado tinha a vantagem, outras Thessa tinha a vantagem. Ela estava concentrando sua energia, vendo que o maior desafio dela ali, agora havia se tornado sua resistência, e não necessariamente a luta em si. Afinal, quanto mais minutos se passavam, mais cansada ela ficava.
Era óbvio que ela nunca havia estado em uma luta por tanto tempo, mas ela estava dando conta da missão, desviando dos golpes e acertando cotoveladas e chutes no Soldado, que bloqueava os golpes e tentava acertar ela, que por sua vez, também golpeava os movimentos dele. Pareciam dois robôs lutando entre si.
O Soldado Invernal deu uma rasteira na garota, que cambaleou para trás, mas antes de cair, segurou no pescoço dele, o levando junto e fazendo-o cair em cima dela, com as costas em seu peito. Ela gemeu de dor quando sentiu as costas baterem no chão e o peso dele em cima dela, mas não o soltou, continuou apertando o pescoço dele. Depois de alguns segundos, ele lançou o próprio corpo para o lado e se livrou do aperto dela.
Ele se levantou em um movimento rápido e estendeu a mão para ela. Dessa vez, ela aceitou e levantou com a ajuda dele, sentindo um grande impacto, uma vez que o Soldado não sabia o quanto ela era leve e acabou usando mais força que o necessário.
— Você não foi tão ruim quanto da última vez. — Ele disse, assistindo a garota pegar uma toalha para secar o suor.
Aquilo não foi exatamente um elogio, mas pelo menos não era uma ameaça, então ela acenou com a cabeça aceitando as palavras dele. Ele fez um movimento com a cabeça, como se pedisse para ela segui-lo e ela o fez.
Thessa logo conheceu o caminho, ele estava a guiando para o arsenal e os estandes de tiro. Provavelmente ele também precisava saber sobre a mira dela ou algo do tipo, ela odiava estar sendo analisada, mas já estava acostumada com isso.
— Você atira, né? — Ele perguntou, parecia meio óbvio, então ineditamente se arrependeu de ter perguntado, visto que tinha ordens para falar o menos possível com ela e não responder as perguntas dela. Thessa apenas olhou para ele e deu uma risada sarcástica. Abrindo a porta do local antes que ele pudesse. — Bom, vocês assistiam desenho para aprender Inglês, então é claro que não são muito durões com vocês, na verdade eu acho que a sua vida aqui deve ser bem tranquila.
Thessa sente as palavras dele a abalarem por um único momento, logo o lança um olhar de desdém, irritada com a insinuação de que sua vida era de alguma forma fácil ou confortável. Ela sabia melhor do que ninguém o rigoroso treinamento e as condições brutais que faziam parte de seu dia a dia desde que ela era criança.
— Você não faz ideia do que está falando. — Ela retrucou, sua voz carregada de desprezo pela ignorância dele. O Soldado Invernal permaneceu em silêncio, seu olhar fixo em Thessa por um momento antes de se virar para examinar as armas no arsenal.
Thessa ergueu uma sobrancelha ironicamente e sugeriu:
— A minha vida é fácil porque você não a viveu. Talvez devêssemos trocar de lugar por um dia. Você pode experimentar a "tranquilidade" da minha vida, e eu posso... bem, sinceramente, não sei o que eu faria com um braço de metal.
O Soldado Invernal a encarou seriamente, sua expressão sem qualquer traço de humor.
— Não precisamos trocar de lugar. Em dois dias, você estará na HYDRA comigo. E lá, você não terá um quarto. Você terá uma cela. — Ele respondeu, sua voz fria e impiedosa, deixando claro que não havia espaço para discussão.
Thessa engoliu em seco, sentindo um arrepio percorrer sua espinha enquanto as palavras dele ecoavam em sua mente. A realidade de seu destino na HYDRA começava a se tornar mais clara, e ela percebia que estava prestes a embarcar em um caminho muito mais sombrio do que estava imaginando.
De qualquer forma, ela ainda estava estressada com o Soldado e isso foi uma motivação extra para ela acabar com aquele maldito tiro ao alvo, atirando com as duas mãos em diferentes alvos e com diferentes armas, enquanto o moreno apenas a observava ou a analisava.
Depois de algumas horas e do que Thessa julgou um grande desperdício de munição, ela estava exausta e com fome. Já deveria ser meio da tarde e o café da manhã havia sido há tanto tempo.
Mas ela tentou afastar esses pensamentos, afinal o soldado não estava com cara de quem planejava fazer uma ''pausinha para o almoço''
— Você sabe ler, não é? — Ele pergunta com algumas folhas de papel na mão e vê Thessa erguer uma sobrancelha.
— O quão burra você acha que eu sou? — Thessa perguntou, puxando as folhas de papel da mão dele, para checar do que se tratava aquilo, mas só viu informações aleatórias. — O que é isso, hein?
O soldado não respondeu sobre achar que ela era burra, ele não achava. Ele só não tinha informações sobre ela, pelo menos não o suficiente. Ele também não sabia o que exatamente acontecia na Sala Vermelha ou por que diabos a HYDRA queria aquela garota dentre tantas outras que haviam ali.
Mas ele sabia que ela chutava forte, e por mais que não pudesse demonstrar, suas costelas estavam doloridas da luta com ela mais cedo. Ele também tinha muita curiosidade e muitas perguntas, mas também não podia demonstrar, afinal ele não estava ali para fazer perguntas ou para aprender sobre a Sala Vermelha ou sobre a garota, ele estava ali para cumprir uma missão e cumprir seu propósito: obedecer.
— Isso é uma lição sobre disfarces, não sei como eles ensinam espionagem aqui. E não quero saber. Mas de onde eu venho, temos um jeito bem simples. — Ele disse e Thessa observou um pouco admirada, porque era provavelmente a frase mais grande que ela viu ele dizer até agora. — Decore todas as informações que estão nesse papel. Você vai ser essa pessoa até o fim do dia.
— É isso? O que mais?
— Por enquanto, é isso, você tem uma hora para decorar isso. Pode fazer enquanto come, se precisar. — Ele disse, com a frieza habitual. — Boa sorte.
Thessa observou o Soldado dar as costas e marchar para fora do arsenal. Ela devolveu a última pistola que usou para o seu devido lugar e olhou para o papel.
— Uau, ele disse ''boa sorte'' eu deveria ficar emocionada? — Ela murmura para si própria de maneira sarcástica, enquanto caminha em direção ao refeitório lendo o papel e mentalmente rezando para deixarem ela comer fora do horário.
Thessa consegue arrumar um pão, o qual ela mastiga enquanto está sentada no refeitório vazio, com as pernas esticadas no banco, também ainda um pouco dolorida após lutar por tanto tempo com o Soldado Invernal.
Os olhos dela continuam passando por aqueles papéis e lendo todas as informações da pessoa que ela deveria ser pelas próximas horas, provavelmente era só um teste de suas capacidades de disfarce.
Se planejassem um teste de poligrafo nela, ela saberia driblar, também já havia sido preparada para aquilo. Não estava com medo daquela parte.
Thessa folheou as páginas, absorvendo as informações rapidamente enquanto mastigava seu pão. Ela sabia que não podia desperdiçar tempo, então se concentrou em memorizar cada detalhe.
O papel continha detalhes minuciosos sobre a pessoa que ela representaria temporariamente. Elena Vasiliev, 32 anos, agente da KGB.
Havia alguns gostos, desgostos, um pouco da rotina, última missão, histórico familiar, histórico médico, número de documentos e de contas bancárias, idiomas que era fluente. Era tudo bem específico e ela só conseguia se perguntar se aquilo era uma pessoa real ou um personagem inventado para o seu teste.
Ao sair do refeitório, ela avistou o Soldado Invernal esperando por ela no corredor. Ele a observou com seu olhar frio e impiedoso, sem expressar qualquer emoção.
— Pronta? — Ele perguntou simplesmente, e Thessa assentiu, sabendo que não havia tempo para hesitação. — Qual seu nome? — Ele perguntou enquanto andavam em direção a uma sala afastada.
— Theressa Kuzn — Ela começou a falar, mas ele o interrompeu.
— Resposta errada.
— Ah, então já começamos? Você poderia ter avisado. — Ela rolou os olhos.
— Não, não começamos. Foi só um teste. — Ele olhou para ela, com a expressão séria. — E você não passou.
— Okay, tanto faz. Quando faremos para valer?
— Quando você entrar na sala, mas não vai ser a mim que você vai responder. E é melhor se sair bem, a HYDRA vai estar assistindo.
— Por que é que você quer que eu me saia bem? — Ela perguntou de uma maneira que o Soldado achou muito, muito irritante. Mas dessa vez ele resolveu responder.
— Porque minha missão é treinar você.
— Você não me treinou para um interrogatório, você só me deu um maldito papel para ler. — Ela revira os olhos enquanto entrega o papel nas mãos dele. — Se eu driblar o poligrafo, e eu vou driblar o poligrafo, vai ser porque eu sou boa e não porque você teve algum crédito nisso.
— Eu não ligo para crédito, se a HYDRA quer que você faça um bom trabalho, o meu trabalho é garantir que você faça um bom trabalho. E não vai ser um poligrafo. — Ele faz uma pausa, percebendo que cada vez está começando a falar mais com ela. Eles seguem o resto do corredor em silêncio.
Ele abre a porta e Thessa entra, ela espera que ele o siga, mas ele não faz, ele fecha a porta e espera do lado de fora em posição.
Quando Thessa entra na sala, a mão dela vai automaticamente para o interruptor, ela acende a luz e quando vira o rosto, vê um homem muito perto dela. Ela engole seco e dá um passo para trás. O homem apaga a luz novamente e se aproxima para algemá-la, depois a guia para uma cadeira.
Thessa não se desespera, ela está ciente de que aquilo é parte do treinamento, ou pelo menos pensa que sim. Ela tenta se mexer na cadeira na tentativa de encontrar uma posição um pouco mais confortável, mas assim que uma luz branca é acesa na direção do rosto dela, ela para.
— Qual seu nome? — O homem faz exatamente a mesma pergunta que o Soldado fez para ela minutos atrás, mas agora ela está ciente de como tem que responder.
— Elena Vasiliev. — Ela diz, confiante de sua afirmação, mas como resposta recebe um tapa na cara. O rosto dela é inclinado para o lado e ela respira fundo, entendo do que se tratava aquela situação.
— Qual seu verdadeiro nome? — O homem refez a pergunta, em tom ainda mais rude, provavelmente interpretando muito bem o seu papel e se divertindo com isso.
— Elena Vasiliev. — Thessa responde e recebe outro tapa, que confirma que sim, aquilo era um teste do quão ela poderia se manter em um disfarce mesmo se fosse pega.
O homem dá alguns passos para trás, ele pega algo, mas Thessa só consegue identificar que aquilo é uma caixa com algumas ferramentas quando ele se aproxima da luz. Logo ela consegue distinguir uma seringa, um alicate e outros objetos e engole seco novamente, o vendo se aproximar.
— Você já ouviu falar da HYDRA?
— Não. — Ela responde firmemente, ainda se mantendo no personagem, simulando exatamente o que faria, se em algum momento fosse pega em uma missão, enquanto o homem tira as ferramentas da caixa.
—Tem certeza? — Ele pergunta, se aproximando com um olhar frio e psicótico, fazendo Thessa esquecer que aquilo era uma simulação, o que não era exatamente uma questão, afinal simulação ou não, ela estava ciente de que se machucaria da mesma forma.
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