━━━━ CAPÍTULO DOIS  ✦

━━━━━━━ ANNABETH NÃO ESPERAVA que fosse sobreviver depois de ter caído de um precipício. Não que ela achasse que havia sido uma coisa ruim sobreviver, muito pelo contrário. Mas, sinceramente, ela havia caído de um lugar muito alto. E, quando estava caindo e tentou imaginar algum plano para saber o que fazer para que ela talvez conseguisse sobreviver, ser sequestrada por aquele que ela considerava um irmão nem ao menos passou por sua cabeça.

        Ela ainda não havia se encontrado com Luke, mas sabia que ele estava lá. Ela não era burra. Depois de roubar o raio mestre de Zeus, quase matar Percy, e ainda envenenar a árvore de Thalia? Luke poderia facilmente mandar um monstro para capturar semideuses e então sequestrar um deles. Acontece que, mesmo sabendo de tudo isso, Annabeth ainda esperava que Luke se redimisse, voltasse para o lado certo.

        De qualquer forma, ela precisa pensar no que fazer, não poderia simplesmente sentar no chão e começar a chorar pela dor de ter sido traída por alguém tão importante para si. Precisava agir como uma filha de Atena, não como uma adolescente que havia perdido o irmão para o lado do mal.

        Então Annabeth começou a observar o local em que estava. Se parecia com uma caverna e, por não ser possível ver o céu lá em cima, fez a loira pensar no mundo inferior. Algumas colunas gregas de mármore negro que pareciam ser relativamente antigas se espalhavam ao redor da menina, quebradas.
Ela se esforçava para subir a colina, o que estava sendo como uma tarefa muito difícil de cumprir.

— Espinheiro! — Ela chamou o monstro que havia a capturado — Cadê você? Por que eu estou aqui?

        Encontrando uma área coberta por destroços, ela conseguiu escalar e chegar ao topo da colina. No entanto, ela quase desejou não ter conseguido alcançar o topo.

        Ali estava ele, Luke Castellan, encolhido no chão. Ele estava machucado, com dor. Suas roupas estavam em farrapos e seu rosto arranhado. Ele também estava suado, parecia cansado.

— Annabeth! Me ajude, por favor! — ele implorou, e todas as memórias e sentimentos de Annabeth vieram à tona.

        Ela se lembrou do tempo em que era apenas ela, Luke e Thalia contra todos os monstros que encontravam, três semideuses sozinhos no mundo, mas três semideuses felizes por estarem em família. Se lembrou de Luke a abraçando e a consolando quando ela chorava por sentir saudade de Thalia. Se lembrou de quando eles se conheceram, e de Luke lhe prometendo que ele nunca iria decepcioná-la, nunca a iria abandonar.

        Luke agora era o inimigo, mas, antes disso, ele era o irmão mais velho de Annabeth. Ela não conseguia simplesmente esquecer de tudo e agir como se não se importasse, como se Luke fosse apenas mais um monstro que ela precisava enfrentar.

        Ela correu até ele, preocupada. Algo dentro de si a dizia para se afastar, para não cair nas mentiras de Luke novamente.
Ela podia sentir as lágrimas em seus olhos, mas não as deixou cair. Annabeth estendeu a mão, como se fosse tocar o rosto do Castellan, mas hesitou no último segundo.

— O que aconteceu? — perguntou, tentando não demonstrar o quanto sentia vontade de sentar no chão e chorar.

— Eles me deixaram aqui. — Luke gemeu de dor — Por favor, isso está me matando.

        Ele parecia estar segurando algo muito pesado em seus ombros. A escuridão que tomava conta do lugar parecia maior ao redor dele, mais densa.

— E por que eu deveria confiar em você? — sua voz soava dura, fria. Exatamente como ela queria que soasse. Ela não foi tão bem assim escondendo a mágoa contida no seu olhar.

— Não deveria, eu fui horrível com vocês. Mas, se não me ajudar, eu vou morrer.

        Talvez ela devesse deixar ele morrer. Depois de todo mal que ele havia feito para as pessoas, para ela, ele merecia mesmo a ajuda de Annabeth? Mas, droga, ela nunca conseguiria fazer isso, virar as costas para ele e deixar que morresse.

        A escuridão acima de Luke começou a se esfacelar, como se fosse desabar. Annabeth se lançou para ele no momento exato em que uma rachadura apareceu e todo o teto veio abaixo. De alguma forma, a loira o segurou, sustentando toneladas de pedras. Apesar de não saber como, Annabeth conseguiu evitar que tudo desabasse sobre ela e sobre Luke, apenas com sua força.

        O filho de Hermes rolou para longe, livre do peso.

— Obrigado — disse, recuperando o fôlego.

— Me ajude a segurar isso — Annabeth gemeu.

        Luke recuperou o fôlego por completo e se levantou, parecendo que poderia cair a qualquer segundo.

— Sabia que podia contar com você. — ele começou a se afastar, enquanto Annabeth sentia que seria esmagada pela escuridão a qualquer segundo.

— Me ajude!

— Ah, não se preocupe. Sua ajuda está a caminho. É tudo parte do plano. Enquanto isso, tente não morrer.

— Pensei que você tinha dito que sempre estaria do meu lado. — Annabeth disse, de forma quase inaudível. Mas Luke ouviu mesmo assim. Ele a encarou por um momento, e então depois saiu andando.

        O filho de Hermes foi embora, deixando para trás uma Annabeth decepcionada e cansada, mas não totalmente surpresa.

        Burra, burra, burra!, foi o que ela pensou de si mesma. Como pôde acreditar, mesmo que por apenas alguns segundos, que Luke estava falando a verdade? Ela se sentia burra e idiota por ter acreditado naquele que uma vez já fora uma das únicas pessoas em quem ela poderia realmente confiar.
O pior de tudo? Ela sabia que, se Luke lhe pedisse por ajuda novamente, ela provavelmente o ajudaria. Mesmo depois de tudo.

        Ela queria poder simplesmente sentar no chão e começar a chorar pela dor de ter sido traída por alguém tão importante para si. Mas não podia. Segurando um tipo de escuridão muito pesada, Annabeth tentou lembrar de histórias que a ajudassem a descobrir o que exatamente estava segurando em seus ombros. Então ela se lembrou do titã Atlas, que foi condenado por Zeus a segurar os céus. O titã não estava mais lá, mas uma certa filha de Atena, sim. Ela agora estava segurando os céus por conta própria.

        E não de uma forma figurada, não, Annabeth Chase estava literalmente segurando o céu do mundo em suas costas.