040 - Era uma vez
É DIFÍCIL RESPONDER O QUE É O amor. Como saber se encontrou algo que você não faz a menor ideia de como é? Quando é algo que você já conhece, mesmo que seja difícil de achar, dá para reconhecer. Mas quando falamos de algo que você nunca viu ou experimentou, se torna difícil de identificar.
— Acho que estou ficando louca. — falo sozinha, de frente ao espelho do banheiro.
Eu não paro de pensar em Felix, no beijo de ontem. Depois que o beijo terminou, ou melhor, foi interrompido por uma ligação de Chris, Lee teve que ir embora e não tocamos no assunto. Pela manhã, trocamos mensagens normalmente, mandei foto da casa quando cheguei, ele me enviou algum tempo atrás fotos das suas malas e a conversa fluiu tranquila, mas nunca chegamos a mencionar o que houve. Eu queria, mas não consegui, como ele não disse nada, fiquei com medo de falar sobre e a conversa não ser boa como o esperado.
Não falar sobre o assunto está me matando, não tanto quanto pensar sobre ele. Mal consigo dormir, porque sempre que fecho os meus olhos, consigo sentir os seus lábios nos meus, suas mãos na minha nuca, pelos meus cabelos e cintura. Eu sinto o calor dos seus beijos no meu pescoço, me levando à loucura.
Eu tentarei não pensar sobre tudo o que envolve nós dois o resto do dia, não quero ter preocupações. No banheiro, ligo a minha playlist e tomo uma ducha. Achei que os pensamentos parariam com o gelado da água batendo contra as minhas costas, mas isso só me faz refletir ainda mais. Passo um tempo parada, apenas pensando, algo que tenho como costume As gotas d'água caem novamente no meu corpo e me ajudam a relaxar. É somente quando "Drive", da Miyeon, começa a tocar, que eu esqueço do assunto enquanto canto junto.
Quando volto da minha meditação, Mina ainda está no meio da sua maquiagem, o que me fez pensar que não levei tanto tempo assim.
— Duas horas para tomar um banho? — ela pergunta, me encarando através do espelho.
Eu olho no relógio, meu banho durou por volta de meia hora. É um tempo médio, eu lavei e passei uma hidratação no cabelo, além da skin care. Mas eu entendo que como já estava ficando cada vez mais tarde, eu poderia ter demorado um pouco menos.
Tentando não me enrolar muito com o tempo, eu pego o secador de cabelo e começo a passar pelas madeixas molhadas. Dessa maneira, minha melhor amiga e eu temos que conversar um pouco mais alto, pelo barulho que o aparelho faz quando ligado.
— Eu não demorei tanto assim. — me defendo. — Eu só fiquei pensando um pouco. — explico.
— Para que pensar tanto, se no fim das contas você vai acabar fazendo merda mesmo? — ela pergunta, fazendo uma careta esquisita ao passar a máscara de cílios ao mesmo tempo em que fala.
— Que bela amiga eu arrumei.
— Eu só estou te zoando. — ela ri, se irritando logo em seguida quando borra um pouco. — Mas me conta aí, no que tanto você pensava?
— Se eu te contar, você promete que guarda segredo?
Termino de secar a metade do meu cabelo, mas não vou para a próxima, deixo o secador de lado, para poder falar com a minha amiga sem ter que elevar o tom de voz. Não quero espalhar a notícia.
— Alguma vez na vida eu já espalhei algum segredo seu? — ela sabe que a resposta é não.
— Tudo bem.
Eu respiro fundo, pronta para contar tudo o que aconteceu, mas antes, apenas para me certificar, olho se não há ninguém atrás da porta. Quando vejo que está tranquilo, eu desabafo.
— Eu estava pensando sobre algo que aconteceu na noite passada. — introduzo o assunto aos poucos. — Ontem, quando você estava aqui em Busan, Felix foi lá em casa. Nós comemos tteokbokki, conversamos um pouco, assistimos tevê, até que uma hora a gente meio que... se beijou.
— VOCÊS O QUÊ!? — ela grita.
— Shh!— eu corro até ela e cubro a sua boca. — Fala baixo, alguém pode te ouvir.
— Yumin, que escutem. Vocês dois reataram, é a última fofoca do ano, a gente tem que falar disso. — ela comenta, muito animada.
— Nós dois não reatamos, Mina. — esclareço. — Nem mesmo chegamos a falar sobre o beijo. É por isso que eu estava pensando no banho sobre. — suspiro, sentando-me na cama de casal que resolvi dividir com a Shin. — Já nos falamos hoje de manhã, mas o assunto não veio e fiquei com medo de perguntar. Sei lá, vai que foi só um lance casual e não um sinal para voltarmos.
— Yuyu, ele gosta de você! — ela diz, convicta. — Se eu fosse você, assim que ele chegar, eu não perderia tempo e colocaria essa história a limpo.
— Não sei não. Por enquanto, é melhor eu me arrumar. — é o que concluo. Procuro pela minha mala, mas acaba sendo difícil de encontrar no meio das tantas coisas de Shin Mina. — Caraca, amiga, pra que tanta mala? Veio passar o mês?
— Por precaução. Deixa as minhas malas em paz, elas não te fizeram nada! Vai se arrumar que o sol já se pôs.
Sem argumentos para me opor, eu faço o que a morena sugere. Continuo com o cabelo, depois vou para a maquiagem. Mina já tem terminado a sua parte e me deixa sozinha. Já se aproxima das dezenove horas quando tudo o que preciso fazer é colocar a minha roupa.
Meu celular notifica várias mensagens da Shin ao decorrer do tempo, informando quando todos os outros vão chegando e uma infinidade de questionamentos sobre o quão mais eu irei demorar. Eu não queria me atrasar, mas para manter a beleza leva tempo.
A mensagem que mais me apavora é a que recebo alguns minutos atrás, dizendo que Felix chegou, junto da minha irmã e Christopher. Eu chego a me sentir gelada, com medo de que ele venha me procurar e eu não saiba como reagir em um momento desse. Para piorar, ouço batidas na minha porta.
— Pode entrar, está aberta. — falo de uma vez, antes que me falte a coragem.
Meu coração acelera, a porta se abre devagar e uma cabeça é passada para dentro do quarto. É Minho, não Felix. Eu respiro fundo, tranquila.
— Yumin, você está ocupada? — ele pergunta. — Eu queria conversar, é um assunto sério.
— Pode entrar, tenho tempo. — digo.
Eu arrumo a postura, sentada na cama ainda de roupão, com a roupa que separei espalhada na cama, me provando como alguém extremamente desorganizada. Minho entra no quarto e se aproxima, mas não senta na minha zona ou a afasta para ter um pouco de espaço, ele continua de pé.
Fico em silêncio, esperando que ele inicie o papo, mas parece difícil para ele. Lino começa a andar de um lado para o outro, nervoso e acho que confuso. Como diria minha mãe: "igualzinho à uma barata tonta".
— Pode falar, eu estou ouvindo.
Ele não se acalma, pelo contrário, começa a roer as unhas e andar em círculos. Daqui a pouco ele faz um buraco no chão.
— Eu não sei nem como começar isso, é um assunto um pouco constrangedor para mim.
— Pode ficar tranquilo, de constrangimento eu entendo bem. — tento o acalmar com o meu humor autodepreciativo. — Você só precisa me falar o que quer dizer, não tenha pressa, eu vou ouvir e a última pessoa que te julgará sou eu.
Minho finalmente para de dar voltas no quarto e fica na minha frente, parado. Ele respira fundo, tomando coragem para iniciar a conversa.
— Eu estou gostando de alguém. — ele revela de uma vez por todas. — Desta vez é real.
Minho parece ter tirado um peso das costas. Ele fica aliviado, leve, tanto que se joga de joelhos no chão e deita a cabeça nas minhas pernas. Eu não falo nada, me concentro em ouvi-lo e apenas aguardo ele continuar.
— Eu sei, você tinha razão, eu fui pego por este sentimento boboca também. Já faz um tempo que eu descobri isso, mas nunca soube direito como expressar esses sentimentos, ou quis admiti-los. Para ser totalmente franco, eu tentei evitá-los. — ele continua de onde parou. — Eu normalmente não tenho medo em dizer o que penso, ou o que sinto, mas por que é tão difícil simplesmente dizer que gosto de alguém?
É uma pergunta que eu não sei responder. Quando foi comigo, na primeira vez, eu tive que ter muita coragem para ir até Felix e dizer como estava me sentindo, mas depois de tudo o que aconteceu, ficou difícil falar abertamente sobre esses sentimentos outra vez. Eu queria ter um conselho bom para dar ao meu amigo, mas não sou boa nem em lidar com os meus próprios dilemas, quem dirá tentar resolver os dele.
— É estranho, para caramba. — ele continua. — Eu pensei que me conhecia o suficiente, mas tem essa pessoa que me faz descobrir tantas coisas novas. Eu fico com medo, de sentir, de falar que sinto. Mas acho que não tenho como escapar, não é? — ele levanta a cabeça, para me olhar nos olhos. — O que eu devo fazer, Yumin? Eu vou atrás disso, mesmo sabendo que posso não ser correspondido? E se eu falar o que eu sinto, mas não adiantar de nada? E se quando eu disser, quando abrir o meu coração, eu não for compreendido e acabarmos tendo que fingir que eu não estava tentando dizer o que queria dizer o tempo todo?
Não sei se é a forma como as suas palavras são ditas, ou o seu olhar melancólico, mas algo nesta conversa faz eu me sentir estranha.
Começo a ter pensamentos mirabolantes.
Não, não é o que eu estou pensando. Não é possível que isso aconteça, não depois de três longos anos. É tarde para isso. Mas mesmo sabendo que as chances são mínimas, eu ainda fico ansiosa. Minhas mãos tremem um pouco, minha voz falha e meu coração bate sem parar.
A minha curiosidade fica cada vez maior. Minho compartilha comigo as suas frustrações, eu quero ajudá-lo, só me resta saber como. A verdade é que, quando se quer um conselho sobre relacionamentos, eu não sou a melhor pessoa para se pedir um. Eu fico ansiosa. Quero saber quem é a pessoa pela qual o meu amigo está perdidamente apaixonado, apenas torço para que o nome dela não comece com "Kang" e termine com "Yumin".
— Minho... — eu hesito, mas preciso saber. — Quem é? — eu questiono, com o coração na mão.
Minhas mãos soam, a visão fica embaçada e como se não pudesse ficar pior...
— Yumin. — Lee diz. Não Minho, mas Felix, da porta do quarto. — Ah, me desculpe. Estava aberta, eu não sabia que você estava ocupada.
Lix fica parado na porta, olhando para nós dois. Minhas roupas espalhadas na cama, eu usando um roupão e Minho agachado na altura dos meus joelhos, é, não é um bom cenário.
Os outros dois de nós aqui dentro começamos a nos desesperar. Minho fica com medo que Felix tenha escutado toda a nossa conversa, eu também, principalmente se isso me envolver. Porém, o que mais me apavora é que ele entenda tudo errado.
— A quanto tempo você está aí? — Lee Know questiona ao homem na porta.
— Eu acabei de chegar. — Lee Felix responde, tranquilizando o outro. — Eu queria conversar com você, mas nós podemos fazer isso depois. — ele fala para mim.
— Eu... — eu quero me esconder. — Eu estou conversando com Minho agora. Nós podemos nos falar mais tarde? — questiono, esperançosa de que ele não tenha entendido errado e ainda queira me dirigir a palavra mais tarde. É claro, isso tudo presumindo que ele se importe, ainda tem a chance de ele simplesmente não querer nada comigo ou dar a mínima para o que viu.
— Está bem. — ele concorda. — Eu vou sair agora. Foi mal por... interromper, eu acho.
Quando Yongbok sai, eu quero me afundar na cama até fazer parte dela e ninguém mais poder me encontrar. Por alguns segundos tudo o que eu desejo é conseguir desaparecer, mas logo passa, porque tenho mais um assunto para resolver.
— Ufa! — o castanho suspira. — Pensei que ele tinha ouvido. Não queria passar vergonha na frente de mais uma pessoa.
— Por que passar vergonha? — eu questiono. — Não existe vergonha em gostar de alguém, não e como se nós pudéssemos escolher.
— Você tem razão, eu só estava com medo de que ele descobrisse. — o que nos leva a... — Se eu te contar, você promete que guarda segredo? Eu não sei se é uma boa ideia falar e se isso escapar, tenho medo de ser humilhado.
— Minho, eu não vou falar para ninguém.
Ele confia na minha resposta, mas não mais na porta. Lee Know vai até o lado de fora, olha em volta para confirmar que não tem ninguém por perto, fecha a porta e então volta, mas agora ele se senta na cama, em cima das minhas roupas e sem se importar em amassar.
Ainda que a distância entre nós seja pouca e isso não se faça necessário, ele se inclina na minha direção, deixa a boca pertinho do meu ouvido e faz uma proteção com a mão, a fim de minimizar o som, para em um sussurro dizer:
— Eu estou gostando de Han Jisung.
Eu suspiro aliviada.
— Cara, ele tá tão na sua! — exclamo.
— Você acha? — ele questiona, cheio de dúvidas, o que é comum. Todo mundo que está ao redor sempre diz que é óbvio quando duas pessoas se gostam, mas para elas é difícil de perceber os sentimentos do outro.
— Eu tenho certeza. — falo, segura do que digo. — Só tenho uma dúvida. — Minho acena com a cabeça para que eu continue a dizer. — Como foi que isso tudo começou?
Know sorri largo, com as bochechas ficando estufadinhas, assim como as do Han. Dá para ver a felicidade estampada no seu rosto quando o assunto vira Han Jisung.
Minho se deita na minha cama e cobre o rosto com as mãos, envergonhado. Eu nunca na minha vida o vi assim antes, é estranho, mas também fico feliz de saber que existe alguém no mundo que o faz tão feliz ao ponto de parecer um bobo. Lino merece isso, um amor sincero.
— Acho que foi amor à primeira vista. — ele diz coisas que eu nunca pensei que sairiam da sua boca. — Eu achei ele muito bonito, além de muito interessante. O sotaque canadense dele me derreteu completamente. Nós conversamos sobre tanta coisa desde então, até que um dia apenas aconteceu, nós nos beijamos e eu soube que o que eu sinto por ele não é igual ao que senti por nenhum garoto ou garota antes. Eu sei, sou um completo emocionado.
— Own, vocês são tão fofos. — fico contente com a felicidade alheia. — Olha, você não precisa se preocupar, é óbvio que ele também gosta de ti. Todo mundo vê. Todo mundo, menos você.
— Sério? — ele questiona, novamente eu confirmo. — Obrigado por dizer isso, eu me sinto bem mais confiante agora.
— Então você vai dizer tudo o que sente para ele? — pergunto, empolgada.
— É claro que sim. Se eu gosto dele e você diz que ele também gosta de mim, não tenho motivos para ficar enrolando. — meu amigo é decidido.
— Você está certo. — admito. Preciso de um pouco da coragem que ele tem. — Agora eu vou me vestir, te vejo depois?
— Claro. Eu já estou indo.
Minho sai do quarto e me deixa sozinha, eu me troco rapidamente vendo que muito tempo já se passou. Pego o celular sobre a cama e depois saio para fora do quarto. Vou direto para a sala de estar, onde os outros estão juntos, comendo e bebendo.
Está tudo lindo. Dourado e prata espalhado por todo lado, desde a grande mesa de jantar, até as paredes cheias de luzes amareladas e estrelas prateadas. O clima de ano novo e suas realizações está no ar. Além, é claro, do amor.
Eu observo quando Lino vai até Jisung e os dois saem para os fundos da casa. A neve branca e fofinha já forma uma camada generosa do lado de fora, talvez por estarmos em um lugar alto também. Eu procuro pelo meu Lee envolta, quero fazer o mesmo, encontrá-lo e contar tudo o que sinto. O vejo na cozinha, perto do formo onde Chan assa um pouco de carne para todos nós. Ele me vê também. Eu tento ir na sua direção, mas outra pessoa cruza o meu caminho.
— Yuyu! — Mina se coloca na minha frente. — Vem aqui comigo, rápido. Yeosang está aqui... acompanhado.
Não tenho tempo para dizer sim ou não, a morena simplesmente me arrasta pelo braço até a adega de vinhos. Entramos juntas, mas no começo eu só vejo o meu amigo Kang, de costas, o que acho estranho.
— Yeosang, que bom que você chegou! — eu cumprimento o meu amigo, que nem vira para me dizer que sentiu saudade durante a semana em que não nos vemos.
— Eu estou aqui faz tempo, você quem demorou a descer. — estranhamente, sua voz soa logo atrás de mim.
Confusa, eu olho para trás e vejo o meu amigo carregando uma garrafa de champanhe nas mãos. Ainda mais confusa, olho novamente na outra direção e vejo que aquelas não são mesmo as costas do Kang, mas de um outro homem que não conheço.
O terceiro, antes abaixado para procurar um outro tipo de bebida, levanta e me observa com um sorriso pequeno e fofo. Kang Yeosang fica ao lado dele e segura sua mão. É então que entendo tudinho.
— Yumin, eu quero te apresentar Choi Jongho, o meu namorado. — ele fala, tímido.
Eu não sei como eu não percebi isso antes. Yeosang nunca tratou o namorado com um pronome feminino quando falava comigo antes, eu era quem usava, mas ele nunca especificou. Eu deveria ter percebido.
— É um prazer te conhecer. — eu aperto a mão do Choi. — Yeosang fez muito mistério sobre você. É bom finalmente te ver.
— Ele me falou muito sobre você. — ele conta. — Não se preocupe, ele só disse coisas boas.
— Ainda bem, porque ele não ia querer que eu te contasse todos os podres dele. — eu falo, gerando uma careta de Yeosang. — Me conta, como vocês dois se conheceram? Eu quero ouvir tudo.
Nós voltamos os quatro para a sala, sentamos no enorme sofá da sala e eu faço o meu pequeno interrogatório para Jongho. Ele responde tudo, sem se importar com muitas perguntas. O Choi parecia ansioso em me conhecer também.
Pouco a pouco eu vou descobrindo tudo que Yeosang vem me escondendo por quase um ano — desde o período em que se conheceram. Choi conta que eles se viram pela primeira vez numa das exposições literárias de Seulgi, um dos amigos dela é irmão de Jongho e os dois acabaram tendo o primeiro encontro na própria exposição. Depois disso, conforme os mais velhos se aproximavam, os mais novos também.
Eu descubro absolutamente tudo. A primeira vez que se viram, quem se apaixonou primeiro, como foi quando deram o primeiro beijo, quem pediu em namoro, como foi durante o natal em que eles foram apresentar o relacionamento às famílias e todo o resto até aqui.
Pelo pouco que conversamos, tenho uma boa impressão do Choi. Eu não sei o que acontece no futuro deles dois, mas espero que sejam felizes. Yeosang merece muito isso. Ele é um amigo e ser humano incrível, desejo que coisas boas estejam sempre presentes na sua vida.
— Escuta... eu meio que tenho uma coisa 'pra te dizer. — Mina beberica o Champagne. — Você acha que agora é uma boa hora?
— Pode falar.
— Então, é mais um aviso. — ela adianta. — Sabe as minhas malas? Então, eu menti. Elas não são só por precaução. Eu posso, sei lá, talvez... estar partido para o Canadá depois de amanhã.
— Oi? Você o quê, Shin Mina!?
— Estou indo para a América do Norte. Surpresa, yay! — ela exibe animação e medo. — Desde que Yeji e eu conversamos por mensagem eu senti que tem muita coisa para ser dita e eu quero fazer isso pessoalmente, então decidi que vou encontrá-la.
— Está mesmo falando sério? — pergunto, um pouco mais tranquila. Processo a informação.
— Sim, estou. — ela confirma. — Eu sei, sou a última romântica.
— Você vai voltar, não vai? — pergunto, já com medo de perder a minha melhor amiga.
— É óbvio que sim. Serão apenas algumas semanas, eu estarei de volta em casa antes das férias acabarem, não se preocupe. — ela me garante. — Você vai ter que passar um tempo sozinha, mas aproveita que eu não estarei e dá umas festas maneiras.
— Eu só quero que me prometa que vai se cuidar e se qualquer coisa acontecer, você me liga. — eu peço, já sabendo que não adiantaria falar nada, Mina não vai mudar de ideia e ficar aqui. — Eu vou estar aqui torcendo por você. Mas se ela quebrar o seu coração outra vez, eu vou lá e quebro a cara dela.
— Eu prometo. — ela dá a sua palavra.
Shin Mina é realmente muito corajosa. Eu não sei se eu conseguiria fazer isso, me arriscar tanto. Mas eu estou tentando do meu modo. Só espero que ela me ligue de vez em quando, não estou acostumada a ficar tão longe assim dela, principalmente agora que moramos juntas.
— Você também tem que me prometer uma coisa. — ela continua. — Você promete que vai ficar bem enquanto eu não estiver?
— Eu prometo, contanto que você me ligue todos os dias. — eu peço, ela automaticamente balança a cabeça negativamente. — Tá legal, eu sei que é exagero, mas pelo menos me manda mensagem, elas não dependem de fuso e você pode responder a qualquer hora do dia.
— Ok, Yumin. Eu prometo que sim.
Promessa é dívida, mas ela ainda me deve um donut desde o quinto ano. Eu espero que ela não esteja me passando a perna outra vez.
O tempo vai passando e quando me dou conta disso é quase meia-noite. Vejo o exato momento em que Minho e Jisung voltam de mãos dadas para dentro de casa, Lino até acena para mim, exibindo o polegar para dizer que deu tudo certo. Parece que as coisas estão finalmente fluindo entre eles. Parece que tudo está dando certo para todos.
Jisung e Minho estão juntos, Yeosang está namorando, Mina está indo se reencontrar com seu grande amor no Canadá (o que ainda é uma incerteza, mas quero acreditar que vai dar certo), Jeongin e Hyunjin estão mais felizes e melosos do que nunca, Yuna e Chan estão se preparando para dar um novo passo na relação; aumentar a família. E até mesmo os meus pais se parecem com dois adolescentes, fico até enojada.
Quando vejo todos com os seus pares — até mesmo Mina em uma ligação de vídeo com Yeji —, percebo que estava tão ocupada conversando com todos que não conversei ainda com quem eu mais queria.
— Você viu o Felix? — pergunto para a quinta pessoa que vejo por perto.
Quinze para a meia-noite, está quase na hora. Ele queria me ver antes, eu preciso o ver antes.
Eu saio pela casa o procurando em todos os cômodos, o tempo vai passando e eu não o encontro em lugar nenhum. Depois de procurar por literalmente a casa inteira, só me resta um lugar, o quintal nos fundos.
Ao colocar os meus pés para fora da casa, eu o vejo sentado no banco de madeira, em frente há uma fogueira apagada. Aliviada em o encontrar, eu vou até Yongbok e me sento ao seu lado. Ele se surpreende ao me ver, talvez tivesse perdido a esperança de me encontrar ainda este ano.
— Te procurei por todo lado. — falo, sentindo o vento gelado congelar o meu corpo.
— Eu achei que você estava me evitando. — ele fala, olhando para as estrelas no céu. — Sempre que eu tentava me aproximar, para conversarmos, você estava ocupada com outro alguém.
Eu não estava o evitando, pelo menos não intencionalmente. É verdade que hoje eu estive bem ocupada com os acontecimentos recentes, mas sempre esteve nos meus planos participar desta conversa. É importante, precisamos tê-la antes que eu surte.
— Eu não estava te evitando. — deixo bem claro. — Só aconteceu muita coisa esta noite. Primeiro Minho quis desabafar, depois Yeosang me apresentou ao namorado, depois foi a vez de Mina... eu estava ocupada, não te evitando.
— E agora? — ele questiona. — Nós podemos conversar?
Eu digo que sim. Já imagino sobre o que será a conversa. Estou pronta, chegou a hora.
— É sobre o que aconteceu na noite anterior. — ele confirma as minhas suposições. — Nós deveríamos ter falado sobre isso antes, acho que não toquei no assunto porquê é algo para se falar pessoalmente, não por mensagem. — concordo totalmente, mas não me sinto aliviada. — Foi tão inesperado que eu confesso que não soube como reagir, minha cabeça ficou confusa e o meu peito então, nem se fala. Eu deveria ter dito antes, mas na hora não consegui.
— Você está querendo me dizer que aquilo foi um erro? — questiono, ansiosa, medrosa.
Pergunto, mas não tenho coragem de ouvir a sua resposta. Para mim, aquele beijo teve muito significado. Ele não foi nem de longe foi um beijo qualquer, teve paixão, história. Foi o encontro das nossas almas.
Não saber o que ele sente me deixa ansiosa. Devo acreditar na minha intuição? Ela diz que foi especial para ele também, que teve significado. Eu quero acreditar que é assim, que aconteceu porquê o que sentimos foi tão forte que precisou quebrar a barreira do contato físico, mas que com Felix também não é só contato físico, mas um contato de almas. Eu nunca tive dúvidas de que ele e eu somos almas gêmeas, porque toda vez que olho para ele, sinto cada parte do meu corpo reagir de uma maneira surreal. Um sentimento que não pode ser explicado com outra palavra que não seja amor.
— O que!? — ele vira o rosto na minha direção no mesmo instante. — É claro que não! — sua resposta me alivia.
— Então o que aquilo significou para ti, Yongbok? — outra vez, ao perguntar, as sinto, as mais lindas borboletas rondam o meu estômago.
Felix vira o seu corpo, para ficarmos de frente um para o outro. Ele me olha nos olhos, a sua respiração é lenta e calma, diferente da minha.
— Não está óbvio ainda, Yumin? — ele interroga, arrumando o meu cachecol.
Lee segura o meu rosto com uma das mãos e com a mesma me faz sentir o toque gelado dos seus dedos na minha bochecha. Imediatamente eu a cubro com a minha, quentinha dentro da luva. Ele é louco, veio para cá nesse frio sem luvas, cachecol ou protetores de ouvido, apenas com um casaco e touca.
— Felix, vamos entrar, está frio aqui. — fico de pé e tento erguê-lo.
— Eu não sinto frio, Yumin. — ele diz, mas é humano, claro que sente. — Quando estou com você, eu sinto o meu corpo arder em febre.
Suas palavras me desestabilizam, eu nem percebo quando já estamos juntinhos, com os nossos corpos quase colados. Felix apoia as suas duas mãos no meu rosto, ele me deixa sem saída. Eu não ousaria pensar em fugir.
— Ainda não está claro o suficiente que eu sou e sempre fui perdidamente apaixonado por você, Kang? — ele questiona, me fazendo perder a força nas pernas. — Você me faz ver o mundo em tom de laranja, porque assim como são as rosas, você é o meu primeiro amor.
Eu estou sonhando? Espero que não.
Felix não parece real. Ouvir as palavras que tanto esperei saírem de sua boca faz eu me sentir no paraíso, nas nuvens. Quando olho para ele, sinto que o mundo tem graça, ele me faz querer dançar no meio da chuva, cantar as mais belas canções de amor, sorrir e seguir em frente contra a tempestade. Ele faz a minha vida melhor.
Dentre todas as dúvidas que me cercam, o que sinto por ele é uma certeza. Lee Felix é a minha rosa laranja, o meu primeiro amor.
— Eu estou aqui, Yumin, na sua frente, a um passo de cometer a maior burrada de todas ou de finalmente fazer isso dar certo, então me diga o que devo fazer. — ele pede, perto de mais. — Me diga que sente o mesmo, que parece que o seu coração vai sair pela boca cada vez que ficamos assim tão perto um do outro, que eu faço a sua cabeça dar voltas, que eu te levo à loucura, porque é exatamente assim que você me deixa. — ele sabe que sim, que é tudo recíproco, eu deixo claro pela maneira como já estou totalmente entregue a ele. — Me diga que tudo o que você quer agora é me beijar assim como na noite passada, porque aquela cena ainda está grudada na minha mente feito tatuagem. Ou apenas me diga não de uma vez, porque eu não aguento mais ficar tão perto de você e não poder te beijar.
O que ele quer, que eu escreva na minha testa que não me cabe em palavras tudo o que eu sinto por ele? É claro que a minha resposta é sim, esta e em um milhão de vezes.
— Chega a ser insultante você ter tanta dúvida assim.
Quando a distância entre nós se torna insuportável, rompo este espaço com um beijo.
Vou de encontro aos seus lábios sem hesitar, é a única coisa que eu quero. Ele, eu, nós dois. O que sentimos é especial, eu sinto. Ele me leva a um estado de euforia, utopia. Seus beijos viciam, seu corpo quero sempre mais perto, seus toques são únicos e nosso sentimento espero que seja para sempre.
Os meus protetores de ouvido caem, mas eu não dou a mínima. Eu amo a maneira como quando ele está muito perto, a sua respiração deixa os meus óculos embaçados. Não preciso de nada disso agora, apenas dele.
— Eu sinto que nada disso é real. — digo.
Felix ri, ele segura a minha mão e coloca sobre o seu peito esquerdo, me permitindo sentir as batidas aceleradas do seu coração.
— Você acredita agora? — ele sabe que sim. — Vamos fazer as coisas da maneira certa desta vez, Kang. — ele pede, sorridente.
— Como exatamente? — questiono.
— Eu estou cansado de deixar as coisas subtendidas. De agora em diante, espero que possamos ser totalmente claros e honestos um com o outro. Chega de ler nas entrelinhas. — Yongbok sugere, eu concordo com a cabeça, ele exibe o sorriso mais lindo do mundo. Animado, ele continua: — Seja a minha namorada, Kang. — Lee propõe. — Você quer namorar comigo?
Novamente, chega a ser insultante ele ter tanta dúvida assim.
— É claro que sim, Yongbok! — respondo, depositando um selinho nos seus lábios.
Não preciso pensar duas vezes, a resposta é óbvia.
— Eu estou feliz. — ele me conta, de repente. — Eu estou em paz comigo, com o meu passado. Você também está aqui, então está tudo bem. — ele sorri de uma maneira que é completamente adorável. — Não vai dar pra trás, hein? Você já disse que sim, não pode mais mudar de ideia.
— Não mesmo. — ele não vai se livrar de mim tão fácil. — Estou certa do que quero e estou feliz que você também, que está bem e se cuidando. É muito importante. — eu o amo, por isso o prezo e valorizo, tal qual sua felicidade e autocuidado. — Você é a pessoa mais maravilhosa que já conheci, quero que sempre se lembre disso.
— Você também deveria saber que é o raio de sol que me esquenta nesse frio. — ele me beija a ponte do nariz. — Agora já podemos entrar? Eu 'tô congelando aqui fora!
Eu sabia, mesmo assim dou risada.
Esta noite, o meu coração está repleto de felicidade. Eu me sentia completa, mas hoje, me sinto transbordando. É Felix quem me faz transbordar, me leva além dos meus limites, me deixa em êxtase. Isso, o que temos, é o que me importa, o dia em que posso finalmente gritar para todos o quanto eu sou apaixonada pelo meu namorado.
Atendo ao pedido do Lee, principalmente quando ele começa a tremer. Pego o meu protetor no chão e nós entramos em casa, onde é aquecido. Mas para a infelicidade dele, assim que entramos, os outros saem pela porta da frente.
— Para onde vocês estão indo? — questiono.
— Vai começar a contagem regressiva. — Mina explica, empolgada e carregando o celular para o lado de fora. — Vem logo, vamos acender os fogos!
Ao meu lado, Felix reclama de frio. Logo ele, que sente o corpo arder em febre quando eu estou por perto. Eu o espero colocar as luvas, o protetor de ouvidos e um cachecol bem fofinho e quente. Prontos, vamos para o lado de fora.
Yuna olha atenta a tela do celular, onde há uma contagem regressiva. Ela espera chegar aos dez segundos, para que todos contemos juntos.
Olho para todos em volta uma última vez no ano. Sorrisos estão espalhados por toda parte, até mesmo através da tela do celular de Mina, onde Yeji sorri, acompanhando a contagem, mesmo ainda faltando treze horas para ser ano-novo em Toronto, no Canadá.
No fim das contas, o clima do amor está por todo lado. Estamos felizes, é inegável. Assim como uma plantinha, a sementinha do amor é plantada. E se regada, com carinho e dedicação, floresce dela os mais lindos frutos de todos. O amor precisa ser alimentado todos os dias, o amor exige tempo, esforço, dedicação. Amá-lo, para mim, é tão empolgante quanto ler. E eu já estou tão envolvida nessa história que não posso mais parar de revê-la, todos os dias, um novo capítulo.
— Cinco, quatro... — o ano vai acabando.
Eu fico feliz pelas coisas que conquistamos juntos este ano, que todos nós conquistamos. Em cada história, o amor levou o seu tempo, foi diferente, novo, assustador. Não importa o que ficou para trás, mas o que vem a ser construído daqui para frente. No fim deste ano, o amor conseguiu passar por todos os obstáculos.
Nos últimos três segundos, eu puxo Yongbok para um beijo. De um ano ao outro, nos amamos.
— ... dois, um. Feliz ano novo! — nós dizemos uns aos outros, assim que mais um ano se inicia. Fogos, abraços, beijos e sorrisos são dados.
— Feliz ano novo, Yongbok. — eu o desejo, com os braços ao redor do seu pescoço e os olhos encarando os seus.
— Feliz ano novo, Yumin. — ele diz de volta.
Seus olhos aos meus são como o encontro do sol e da lua, onde o que sentimos um pelo outro, nos atraindo, emana o mais belo eclipse de todos. Nas luas em seus olhos, a coloração avermelhada dos fogos de artifício, assim como a lua em seu eclipse e a representação pura da nossa paixão.
É um novo ano, mas não uma nova história. Esta é uma releitura da antiga, agora com mais intensidade, sentimentos, amor. Nesta nova fase, pintada de laranja como as rosas do primeiro amor, poderemos colorir também com o rosa dos crisântemos, a mais deslumbrante representação da nossa alegria, perfeição e eternidade.
— Jagiya... — ouço o apelido carinhoso sair da boca dele, me fazendo delirar. — Eu te amo.
Como se eu não pudesse ser ainda mais feliz, ele me surpreende. Felix supera todos os limites.
A intensidade em que ele me cativa e me conquista é surreal. Depois de tanto tempo, eu tive medo de dar uma segunda chance para este amor, de me entregar mais uma vez a estes sentimentos intensos e que me apavoram. Mas a cada dia ele ganhava um pouco mais da minha confiança, me fazia sentir amada, feliz. Felix é mais que um namorado, é amigo, é a minha alma gêmea. Eu não me arrependo das escolhas que fiz com ele. Se é para viver o que vivemos, faria tudo de novo, apenas para nos trazer de volta para este exato momento, o momento em que tudo começa, quando o digo pela primeira vez:
— Eu também te amo, soulmate.
킅.
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