038 - Felix Navidad
COM A CHEGADA DO NATAL, A cidade inteira se enche de luzes coloridas, imensas árvores natalinas e tudo sobre o que envolve a festividade.
Normalmente, eu estaria dissertando sobre como o natal e outras datas de fins religiosos se tornaram apenas datas comerciais, visto que o capitalismo cria toda uma imagem de promoção dos seus produtos em cima da fé, visando única e somente o lucro. Mas este ano até eu me rendi ao capitalismo, paguei com a língua. O apartamento também está completamente enfeitado, Mina me convenceu.
Na sala, bem próximo da televisão, está a minha bela árvore de natal, com os seus pisca-piscas coloridos iluminando-a. Ela não é uma árvore enorme como as que meu pai comprava, esta é média, mas é perfeita como é. Na porta de entrada, prendo uma girândola verde com bolas douradas e vermelhas. Já no que se refere ao resto das decorações — como os itens de mesa, por exemplo — são apenas as mesmas coisas de sempre, mas, em tons de verde e vermelho.
A ceia de natal este ano ficou por nossa conta, achamos que seria divertido. Na hora me pareceu uma boa ideia, mas quando paramos para pensar em tudo que teríamos que fazer para um grupo de dez pessoas, desistimos. E caso Thor for considerado um convidado, ele também está aqui, completando onze. Todos chegaram faz pouco tempo, mas assim que o cachorrinho chegou, foi se esconder no meu quarto, ele adora dormir debaixo da minha cama.
Ao invés de gastar tempo e ingredientes com algo que com certeza não teria resultados positivos, encomendamos antecipadamente a ceia no meu restaurante favorito, porque sei que, em uma realidade paralela, eu estaria apagando um incêndio na cozinha agora, o peru queimando e eu chorando no chão da sala. Já que, é mais fácil encontrar uma agulha no palheiro do que uma ceia completa assim tão em cima da hora.
Ao desistir de prepararmos a refeição, eu tive mais tempo para me concentrar totalmente em outras preocupações. Não quero listá-las. Na verdade, nem penso nelas, não com o que ocorre.
— Você está bem? — Felix pergunta, com uma mão em volta da minha cintura e outra na ilha da cozinha.
Nervosa, eu dou um grande passo para trás, tomando distância para que ele não possa ouvir o estrondo que faz no meu coração. Mas, quando faço isso, acabo por bater as costas na geladeira. Felix me olha segurando o riso.
— Eu estou ótima! — exclamo sorridente, reduzindo a distância do susto, volto a ficar ao lado dele.
Observo a vista. É possível ver Yuna, Chan e meu pai na varanda, apontando para as estrelas no céu. Há uma boa visão do sofá também, onde Jisung, Nari e mamãe conversam entusiasmados. Mina e Minho eu não vejo. Jeongin, Hyunjin e Yeosang não vieram, o casal irá passar o natal na casa da família Yang, já quanto ao Kang, ele deve passar o natal com a namorada, dividido entre apresentá-la aos seus pais e ser apresentado aos dela. Agora ficou sério, mas ainda não fomos apresentadas.
De todas as vistas, a mais bela com certeza é a que tenho logo ao lado. Ele está ainda mais lindo hoje, com um suéter vermelho quase bordô, que mesmo parecendo ter uma pegada natalina, não é de um jeito tosco. O seu cabelo levemente jogado para trás, que parece uma afronta à minha saúde mental, está de matar.
Fico hipnotizada por cada detalhe seu, principalmente pelos seus lábios entreabertos. Tudo nele é absolutamente atraente.
Oh não. Alguns centímetros acima, Yumin. Nos olhos, olhe para os olhos!
Minha mente diz para não olhar naquela direção, mas meu coração bate mais forte, camuflando os sinais do meu cérebro racional.
— O que você tem? — ela questiona, me fazendo desviar para os seus olhos, finalmente. — Está meio estranha. Distante, melhor dizendo.
É porque ando nas nuvens ultimamente.
Por que ainda sinto o calor da sua mão no meu corpo se ela não está mais por perto?
— Você me conhece, às vezes eu fico um pouco aérea. — consigo uma desculpa.
— Você só deve estar cansada. — Felix diz, mas a única coisa que fiz hoje foi ajudar Mina a decorar a casa. — Por que não vamos sentar um pouco no sofá? — ele sugere.
Eu aceito, iria com ele para qualquer lugar, porque sei que estaria fisicamente segura, já no que diz respeito ao meu coração, não posso dizer o mesmo.
Yongbok me segue até o sofá. Minha mãe e Nari já não estão mais aqui, mas Jisung continua, ao lado de Minho, a Shin está na poltrona ao lado do móvel. Já que Han e Lee ocupam a metade da esquerda, Felix e eu sentamos na direita. Mas como o sofá não é lá tão grande, a distância entre nós é pouca. Quando chegamos, os nossos amigos já estão conversando sobre algo. Não entendo muito bem sobre o que se trata, mas parece algo sobre planos.
— Tá de 30 mil wons por mês. — diz Jisung, indignado, desligando o celular.
— O que está a esse preço? — Felix pergunta, assim que sentamos com os outros dois.
— O plano da funerária. — Han responde, como se fosse algo bobo. — Até morrer está caro hoje em dia. — ele balança a cabeça em negação.
— Por que diabos vocês estão procurando por planos de assistência funerária? — sou eu quem pergunto, ainda em choque com o papo mórbido. Olho diretamente para Mina, que já estava aqui antes de mim. Ela pode saber algo.
— Eu não faço a menor ideia. — a Shin fala.
— Eu estava vendo quanto é a mensalidade e o que ele cobre. — Jisung responde. — Eu estou planejando a morte do meu pai. — ele não fala de verdade, eu acho.
— Para de falar besteira, Han.
— Cara, você é muito estranho. — Minho diz, rindo. Não é como se ele não gostasse de coisas estranhas, seu paladar é a prova disso. — É tipo sorvete de menta com chocolate. — compara.
Jisung o encara com um tom julgador. A comparação não o irrita, mas ser chamado de estranho de alguma forma o atinge. Conhecendo meu amigo como penso que conheço, imagino que ele vá tentar defender 'menta com chocolate' a qualquer custo, até mesmo se ele não gostar.
— E o que tem de errado com menta com chocolate? — ele começa, calmo.
— Tudo. — Lino responde. — É chocolate com pasta de dente. — ele argumenta.
— Nada a ver. — Jisung não concorda com o posicionamento do outro. — É doce e refrescante ao mesmo tempo, uma delícia. Você que não está preparado para entender aquela obra de arte. — Han defende o sabor que eu tenho quase certeza que ele não gosta, mas vai continuar com isso até o fim. — Você é previsível, aposto que o seu sabor favorito é um sem graça.
— Eu gosto de morango. — Minho tira a dúvida do outro. — É doce, mas não tanto. Um verdadeiro clássico, atemporal.
— Como eu disse... previsível. — Han implica. — E de que mais você gosta? — Jisung pergunta. — Aposto que de mais algum sabor chato, tipo baunilha, ou creme.
— Não, só o de morango. — Minho corrige. — Ele é o único sabor para mim. Eu sempre gostei dele... vou gostar para sempre.
Eu não sei como a história sobre assistência funerária veio parar aqui, mas parece que não sou a única. Olho para a minha melhor amiga, ela dá de ombros enquanto sussurra para mim um "nem tenta entender", consigo ler nos seus lábios.
Enquanto dou risada com a Shin, perco algo. Não sei o que aconteceu, mas Jisung fica com uma expressão um pouco mais abatida. Olho para Felix, mas ele está no celular, desistiu de tentar acompanhar a conversa. Minho é o único que olha para mim, com uma expressão neutra. Eu não entendo nada do que acontece.
— Sabe, não existe apenas um tipo de sorvete no mundo, Know... — Jisung diz, em um tom um pouco mais baixo, chamando a minha atenção de volta. — Existem outros sabores, tão bons ou até melhores que o de morango. Você só precisa se permitir conhecer e apaixonar por eles também.
— São só sorvetes, todos os sabores são bons. — Mina opinou, interrompendo a troca de olhares dos garotos. — Estou começando a querer tomar sorvete.
— E você, Yumin. De qual gosta mais? — Felix volta para a conversa. — Qual o seu sabor de sorvete preferido?
— De qual? — repito sua pergunta, pensando sobre o assunto. — Não sei. — não chego em uma resposta. — Eu não consigo escolher.
Sinto uma angústia no peito e um amargo na garganta. Tem algo estranho sobre essa conversa inteira, algo que me faz questionar os diálogos. Posso estar sendo louca, é que passei por muito estresse nestas últimas semanas e aquele ataque de ciúmes de Minho me deixou muito abalada. Eu fico imaginando coisas, mas elas não passam disso, de fruto da minha imaginação. As coisas que penso, nem mesmo consigo falar em voz alta, mas na minha mente, já passou uma vez a ideia idiota de "Será que ele gosta de mim mais que um amigo?".
Quando aos meus sentimentos, no passado, eu fui caidinha por ele. Porém, Minho nunca me deu bola, ou tratou diferente de uma amiga, até o dia em que precisamos fingir sermos namorados. Depois daquele dia, nós dois fingíamos quando era conveniente, era bom para ambos, mas só me deixou mais confusa.
Acho que depois de Felix, o meu emocional ficou meio abalado, em vários sentidos. Fiquei confusa sobre Minho, mas o que sentia não era forte o suficiente, não é atoa que depois de um tempo eu simplesmente parei de gostar dele, do nada, nem lembro como aconteceu. Caí na real. Aprendi a separar os meus sentimentos reais da minha carência. Hoje eu sei que o que me fez sentir atraída pelo Know, foi por querer procurar nele o que não tive com Felix. Mas no fim das contas, nunca saí da "amizade", com ambos.
Às vezes, eu ainda me pego em silêncio, a pensar sobre aquela época, como as coisas teriam sido se ele algum dia tivesse sentido o mesmo que eu e se declarado para mim. Mesmo com a probabilidade sendo mínima, a certeza que tenho é a de que eu não saberia como reagir. Ele é meu amigo, mas amigos não se beijam e isso nós dois já fizemos antes. Nossa relação é complexa. Me pergunto o que acontece quando um de nós dois começar a namorar.
Durante todo o tempo que nos conhecemos, nunca entramos em um relacionamento sério. Acho que nenhum de nós namorou sério durante a vida inteira. Eu por ter desistido, Minho por nunca ter tentado. Quando algum de nós entrar em um relacionamento, não poderemos mais nos cumprimentar com selinhos ocasionalmente, ou fazer brincadeiras com duplo sentido um com o outro, pois isso com certeza vai deixar o par do outro constrangido, sem contar que também seria bastante desrespeitoso.
Mas sobre ele e eu juntos, não tenho o que pensar. Minho é meu amigo. Sempre foi e não consigo mais nos imaginar de outra maneira. Pensamentos como os que tive parecem e são loucura.
— Por que você fica encarando o nada sempre que a gente está conversando? — Jisung pergunta para Know, acenando com a mão na frente do seu rosto.
— Desculpa, eu estava pensando longe. Tipo, bem longe mesmo. — ele responde.
— Pensando em mim? — eu questiono, brincando com o meu amigo como o de costume.
— Você sabe que eu estou sempre pensando em você. — Minho responde num tom de voz suave e com um sorriso sapeca.
— Sinto que estou atrapalhando. — Felix fala, fazendo bico.
— Fica tranquilo, o meu coraçãozinho é igual o de mãe, sempre tem espaço para mais um. — Lino o manda uma piscadela.
Felix até abre a boca para flertar de volta com o meu amigo, mas antes que alguma palavra saia de sua boca, algo o interrompe. Algo muito fofo.
A porta do meu quarto é aberta no fim do pequeno corredor e latidos são ouvidos. Logo, a presença do meu yorkshire Thor se faz presente rapidamente na sala, ele sente o meu cheiro e vem correndo até nos. O pequeno está feliz, abanando o rabinho e pulando nos pés de Felix, tentando conhecê-lo.
— Felix, este é o meu amigo que eu queria te apresentar, Thor. — falo, sentando no tapete da sala e pegando o filhote em meus braços.
Lix não perde tempo e se senta no tapete também, com os olhos brilhantes como o de uma criança, apaixonado pela fofura do cachorrinho. Eu descubro o quão apaixonado por cachorros o australiano é.
— Que coisinha mais fofinha! — ele diz, com uma voz estridente, tomando o filhote de mim e o apertando nos seus braços. — Onde é que ele estava esse tempo todo que eu não tinha o visto?
— Dormindo no meu quarto. Thor é muito reservado, ele gosta de dormir em silêncio e aqui tem bastante gente.
— Por que ele se chama Thor, se é tão pequeno e fraquinho? — Yongbok pergunta, enquanto dá beijinhos no cachorrinho.
— Eu deveria o chamar de quê, então?
— Não sei... lombriga, talvez?
— Eu espero que você nunca tenha um pet, você é horrível com nomes. — falo.
Felix me ignora totalmente. De repente ele só tem olhos para Thor. Eu nunca, nunca em toda a minha vida, cheguei a pensar que teria ciúmes de um cachorro. A que ponto eu cheguei?
Ele pede pela patinha do cachorro e Thor a coloca sobre a mão do moreno — eu nem sabia que ele sabe fazer isso. Yongbok sorri, dá o dedo para o filhote coçar os dentinhos, faz carinho nas orelhas do pequeno e cócegas na barriga. É a cena mais fofa que eu já vi em toda a minha vida.
— Eu posso ficar com ele? — Felix pergunta, levantando-se e passando a balançar o cachorro no braço como se fosse um bebê.
— Claro que não. Ele é meu!
— Thor, a sua mãe me odeia. — Muito pelo contrário. — Mas você é meu agora. — ele diz, dando uma risadinha maléfica no final.
— Yongbok, você não vai levar o meu cachorro! — reclamo, ficando de pé também.
— Nosso cachorro. — ele corrige.
. 💐 .
À meia-noite, já não existe mais ceia de natal. Todo ano a minha família e eu combinamos de comermos apenas na virada do dia 24 para o 25, mas nós nunca aguentamos esperar e acabamos com tudo antes das 23h. Como tradição na minha família, fizemos uma oração ao redor da mesa e agradecemos em silêncio, antes de comermos.
Todos os anos, eu fico pensando sobre o que dizer ao agradecer. Não é que eu não tenha nada, poder respirar já é algo para dizer obrigada. Mas é que nunca sei o que falar na hora, então acabo apenas ficando em silêncio. Porém, este ano fiz diferente. Ao olhar para todos à mesa, de olhos fechados e concentrados nas intenções dos seus corações, eu soube exatamente ao que agradecer. Eu agradeci por tê-los comigo, pessoas especiais na minha vida, que sei que posso contar e estarão comigo sempre. Agradeci por Yongbok e Jisung terem voltado para a minha vida. E é claro, fico grata pela felicidade de todos.
Do meu lado, Felix acariciou a minha mão e eu me senti feliz por tê-lo ao meu lado. Estamos diferentes agora, nós vivemos certas coisas que deixaram marcas, que durarão para sempre, nos machucamos e machucamos um ao outro também. Mas essa pausa foi boa no fim das contas, serviu para repensar no passado, para crescer através dele. Nós estamos um pouco diferentes sim, mas isso faz de nós melhores.
Ao fim da ceia, minha irmã e eu batemos um papo sobre a vida. Yuna, como sempre, estava preocupada comigo. Minha irmã não parava de me perguntar sobre a mudança e como eu estava lidando com tudo. Sei que não era a intenção dela, mas tantas perguntas assim me fizeram questionar se ela não acreditava que sou capaz de lidar com isso sozinha. Mamãe, por outro lado, disse que está orgulhosa de mim, que queria dizer que foi responsável por criar uma mulher tão inteligente e decidida — palavras dela, não minhas. Meu pai ainda está chateado porquê não moro mais com eles, mas logo passa. Chan, que está de volta em Seoul depois do longo período afastado a trabalho em Busan, passou a maior parte da noite conversando com o seu "irmão do coração", como ele chama Felix.
No fim da noite, nós já estávamos planejando onde passaremos a virada do ano. Foi decidido que iremos para a casa de férias dos meus pais, já que eles cederam o espaço porquê irão para lá de qualquer forma. A casa fica em Busan também, um pouco longe do resort de Chan, mas perto de uma área com pista de esqui. O lugar cabe todos nós, é enorme, com nove quartos, três banheiros, um quintal amplo, uma sala de cinema e uma de jogos. Geralmente a casa é alugada para grandes grupos que desejam fazer excursões, então meus pais lucram um bom dinheiro com ela, já que está sempre cheia.
Depois de decidido e de conversarmos por mais algumas horas, os convidados só foram embora na madrugada.
— É, somos apenas nós agora. — falo com Mina, mas é quase o mesmo de sozinha, já que ela não sai do seu telefone celular.
A casa não está tão suja, decido deixar para limpar amanhã. Irei apenas tomar um banho e dormir, cuidarei do resto depois. Afinal, por que fazer hoje se eu posso fazer amanhã? A regra é clara: Sempre deixe para amanhã o que você não quer fazer hoje.
Depois de uma ducha relaxante, coloco um pijama qualquer e me preparo para dormir. Me sinto tão cansada que teria adormecido assim que caí de cara no colchão, mas escuto um grito alto vindo da sala, é Mina.
Imediatamente, pego algo no quarto que posso usar como arma de defesa — o meu abajur, que não sei se serve muito. Corro na direção da sua voz, preocupada. Mas ao chegar lá, está tudo bem. Não tem ladrão, ela não se machucou, está apenas parada olhando para a tela do celular.
— Kang Yumin... — lentamente, ela vira o rosto na minha direção. — Você não faz ideia do que acabou de me acontecer.
— Eu posso saber amanhã? — pergunto, morrendo de sono.
— Eu acabei de receber uma mensagem. — ela fala, mas eu não acho muito interessante. Ela recebeu uma mensagem, ótimo, isso acontece o tempo inteiro.
— E daí? — eu questiono, com sono. — Eu estou com sono, Mina. Você me assustou, pensei que pudesse ser um ladrão invadindo a casa, ou que você pudesse estar machucada. Tudo isso por que recebeu uma mensagem? Acho bom ser uma dizendo que você ganhou muito dinheiro, ou do Batman.
— Ah, é claro que era o Batman, ele queria saber onde eu estacionei o batmóvel. — ironiza minha amiga. — É de Hwang Yeji. — a morena responde sério desta vez.
— Yeji? — e de repente, eu acordo. Largo o abajur no sofá. — O que ela quer? Como que ela conseguiu o seu número? São tantas perguntas.
Sento ao lado da morena. Minha mente ainda está bêbada, mas o choque que o nome "Yeji" me causa também deixa acordada, ainda assim, um pouco atordoada. Estou tentando processar tudo, é muita coisa para assimilar.
— Eu não sei. — ela responde. — Só li a primeira linha, até a parte que diz "aqui é a Yeji".
— Ela deve ter conseguido seu número com Jisung. Você sabe que eles dois se conheceram no Canada. — eu suponho, levando em consideração a informação que descobrimos no dia no parque. — Achei que não entraria mais em contato depois de como tudo terminou.
— Eu também achei que não. Mas quer saber? Eu não a culpo. Sei que ela queria poder ficar comigo e mostrar para todos o quanto nós gostávamos uma da outra, mas não podia. — ela suspira, frustrada. O tempo passa, mas a Hwang ainda causa uma turbulência no seu coração. — Mas pelo que Jisung me contou, sua sexualidade não é algo que ela tenta esconder mais dos outros.
— Sério? Que bom para ela. — fico realmente feliz pela irmã do nosso amigo. — Ela diz mais alguma coisa na mensagem? Será que ela volta?
— Eu acho que ela não vem mais. Yeji já deve ter a vida dela construída por lá, trabalho, casa, tudo. Mas nada disso impede que ela venha visitar o país.
— E se ela vier, ainda tem chance de rolar algo entre vocês? — eu a interrogo.
— Não. Acho que não. Eu gostei muito dela, sabe? Como nunca gostei de ninguém antes. Mas o que tivemos foi a muito tempo, ela já deve ter seguido com a vida dela, provavelmente já está em outra, eu também deveria. Não que eu não tenha seguido em frente e estivesse esperando pela sua volta. Eu apenas tirei esse tempo para mim.
— Ele foi essencial para você, não foi? — pergunto, realmente interessada.
— Sim, foi tudo o que eu precisava.
— Você acha que se tivesse entrado em algum relacionamento no período, teria te atrapalhado? — questiono, mais como uma dúvida pessoal.
— Não sei se atrapalhado é exatamente a palavra. Não namorar outra pessoa foi escolha minha e não me arrependo disso, foi o que eu precisava. Faria tudo outra vez, até a parte que me machucou.
— Entendi...
Talvez esta seja mais uma confirmação sobre o que eu devo fazer em relação a Felix, dar um tempo nos meus sentimentos para que ele possa se dedicar a si mesmo. Não quero o atrapalhar em sua jornada de autoconhecimento, ele precisa disso, então eu preciso me afastar um pouquinho para que meus sentimentos por ele não venham à tona.
Sinto coisas fortes de mais por ele, tão fortes que eu não exerço controle 100% do tempo. Eu queria poder descomplicar tudo, o dizer as três palavras de uma vez, mas é justamente porquê eu as sinto que não irei.
— Você não vai ler o resto da mensagem? — eu pergunto. — Ou responder.
— Eu estou com medo. — ela responde. — Não sei o que pode vir daqui. Se for coisa ruim, não sei o que fazer. Acho que vou esperar até amanhã, preciso me acalmar. — ela fala assim, mas sei que se não ver o restante, passará a sua noite em claro pensando sobre o que se trata.
— Você quem sabe. — digo, voltando a ficar de pé. — Eu vou dormir.
— Não, espera um pouco. — Shin pede, fica de pé e coloca as mãos nos meus ombros. — Tem mais uma coisa, um segredinho que eu quero compartilhar com você.
— Sobre Yeosang. — a morena responde. — Sabia que ele está namorando?
— Fofoca velha. — desta eu já sei. — Me conte alguma novidade, ou então me deixe dormir.
— Calma aí. — ela pede por paciência. — Você não faz ideia de quem ele está namorando, não é?— ela pergunta, eu confirmo que não sei. — Pois é, mas eu sei.
Eu fico ansiosa, completamente curiosa e bem brava por ele não ter me contado, mas para Mina sim, ele disse. Milhares de possibilidades passam na minha mente. Quem é a garota? Eu a conheço? Dúvidas preenchem minha cabeça.
Eu tento amenizar o frio na minha barriga e a inquietação na minha mente enquanto espero por respostas da minha amiga. Seu silêncio é agonizante e ela sabia disso.
— Com quem? — pergunto, já sem paciência.
— Eu não vou contar. Se eu vou dormir ansiosa querendo saber o que Yeji tem para me dizer, você vai dormir ansiosa querendo saber sobre a vida amorosa de Yeosang.
— Ah não! — eu exclamo. — Senta aí agora e me conta tudo. — eu a empurro pelos ombros, a fazendo sentar no sofá outra vez. A forço a me dizer algo, mas sei que ela não vai.
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