029 - Yaksok! (약속)
PELA VARANDA DO QUARTO alheio, eu vejo o céu começar-se a iluminar com os raios solares. Ao perceber o quão tarde — ou cedo — é, eu me despeço de Felix e vou para o meu quarto, enfim dormir.
Passamos uma noite tão boa, conversando, que nem percebi o tempo passar. No geral, nós falamos sobre o passado. Sem nos dar conta, dialogamos sobre absolutamente tudo o que aconteceu e colocamos os pingos nos i's. Foi revigorante finalmente poder expor tudo, e claro, o vinho ajudou bastante a descontrair.
Entretanto, embora tenhamos nos resolvido, não posso dizer simplesmente que tudo está perfeito. Esses três anos foram uma mágoa profunda que eu carreguei comigo e que agora sei que Felix também a sentiu. Doeu em nós dois e vai continuar doendo por tempo indeterminado. Mas agora, temos a certeza de que podemos seguir em frente da maneira que acharmos conveniente, o que facilita o processo de cura interna.
Deitada na minha cama depois da noite de prosa, coberta até o pescoço com o edredom felpudo, milhares de pensamentos invadem a minha mente. É assim sempre antes de dormir, mas hoje eles vêm com mais frequência. Depois de tudo o que conversamos, um sentimento ruim se apossa do meu corpo. Eu me sinto mal, mas não é por mim, e sim, por Felix.
No passado, eu quis fazê-lo acreditar em amor e almas gêmeas, e ele, cético, me disse que não fazia sentido acreditar naquilo, que coisas boas não acontecem com ele. Acredito conseguir entender tudo com mais clareza agora, não que concorde. Durante a maior parte da sua vida, Yongbok não teve a presença do pai; a morte de sua mãe o abalou de uma maneira que eu nem consigo explicar; ele teve que deixar a família e os laços que criou para trás e ainda conheceu alguém que só pode ser o fruto de todo o mal já existente. Mas ele deve ter tirado algo bom em meio a todo esse caos, certo? A vida de alguém não pode ser feita somente de dor e sofrimento. Não deve ser assim.
Nos seus dias tristes e nublados, eu não pude ser o sol que ele precisava para clarear a sua vida e seus pensamentos obscuros. Nós estivemos separados por muito tempo, mas eu estou aqui com ele agora. Eu prometo que enquanto estiver ao seu lado, vou tentar trazer luz de volta à vida dele e o fazer brilhar tão radiante o quanto ele costumava ser.
É no meio desses pensamentos e sentimentos que eu adormeço.
Quando desperto já são duas da tarde. Eu continuaria dormindo se não fosse o calor do sol ardendo nas minhas pernas agora descobertas. As noites estão ficando cada vez mais frias, mas em contraposto, as tardes são quentes em sua maioria. Eu ainda estou com a roupa de ontem, voltei para o meu quarto tão exausta que nem tive coragem de tomar um banho e me trocar. Se eu estivesse sóbria, não teria ido abrir a porta quando ouvi baterem, mas o sono me embriaga mais que o álcool.
— Você estava dormindo até agora? — Felix pergunta, invadindo meu quatro assim que abro a porta.
— Eu ainda estaria, se você não tivesse me acordado. — comento, um pouco rabugenta. Ser interrompida durante o sono me deixa irritada como poucas coisas no mundo conseguem. — Como você pode já estar assim se nós fomos dormir no mesmo horário? — pergunto.
— Eu não durmo muitas horas, igual a você. — ele zomba de mim. — Vai se arrumar, Yuna e Chris estão nos esperando. Eu vou te esperar aqui, não quero segurar vela. — diz ele, jogando-se na minha cama.
Sem contestar muito, eu procuro por algo para vestir, na minha mala. Como iremos à praia hoje, pego um dos meus biquínis e um vestidinho azul turquesa, bem leve e que se fecha com um zíper atrás, acima do meu quadril até o meio das minhas costas.
Assim que entro no banheiro e me vejo no espelho, eu quase grito, estou horrorosa. E ainda por cima, atrasada. Dou meu máximo, escovo os meus dentes, tomo banho e me visto o mais rápido que consigo. Está quase tudo pronto, exceto pelo zíper que eu não consigo subir sozinha e minha bolsa de praia que não está arrumada.
Precisando de ajuda, volto para o quarto. Mas quando encontro Felix, ele está dormindo na minha cama. Acho que o Senhor "eu não durmo muitas horas igual a você" estava com sono no fim das contas. Sem querer interromper seu soninho, ao contrário do que ele fez comigo, eu opto por arrumar a minha bolsa primeiro. Coloco nela uma toalha, protetor solar, óculos de sol e outras coisas que acho relevante. Está pronta.
Paro para observar o australiano. Felix é adorável dormindo, mas por alguma razão estranha ele me lembra de Mina. A fim de observá-lo melhor, eu me sento ao seu lado. Ele dorme com o meu edredom entre as mãos, com o rosto enfiado nele. Eu delicadamente afasto para que ele não se sufoque e finalmente posso enxergar o seu rosto com clareza. Os olhinhos fechados e o pequeno bico nos seus lábios são fofos, as sardas totalmente visíveis me deixam feliz.
Eu levo minha mão ao encontro do seu rosto, com cuidado, mas meus dedos apenas ameaçam tocar, porque antes que eu faça algo, ele acorda rapidamente, assustado.
— Não! Me desculpa! — ele diz alto, confuso e ofegante.
— Te desculpar pelo quê? — pergunto, não entendendo sua agitação. — Você só estava dormindo. — falo o óbvio. — Relaxa, acontece.
— Ah, não... não foi nada. Deixa para lá. — ele responde, atordoado. — Vamos?
— Antes de irmos, você pode fechar o vestido para mim? — peço, levantando da cama e virando de costas para ele.
Yongbok concorda rapidamente, querendo sair logo e aproveitar o nosso dia na praia. Ele se coloca de pé, atrás de mim, e me ajuda com o vestido. Neste meio tempo, tento ignorar o fato de que o seu corpo emite um calor sufocante de mais e levo os meus pensamentos para longe daqui. Quando suas mãos se apoiam no meu corpo para ajudar a subir o zíper e isso, consequentemente, nos leva para mais perto, sinto o calor do seu corpo atrás de mim e isso arrepia os pelos do meu corpo.
Caso confrontada, negaria até a morte que o motivo disso tudo foi que ainda tenho sentimentos fortes por ele, que ainda o desejo e quero pertinho. Prefiro colocar a culpa no vento que entra pelas persianas.
— Vamos? — o australiano é impaciente.
Eu concordo. Pego Minha bolsa, o cartão que dá acesso ao quarto e sigo acompanhada até o hall de entrada, onde minha irmã e seu esposo nos esperam.
Andando um pouco mais, chegamos à praia, que fica logo nos fundos do hotel resort.
Chris estende uma toalha de cetim enorme no chão, em uma parte à sombra de alguns coqueiros. Felix deixa o cooler que minha irmã o entregou anteriormente, na areia. Eu ajudo com a comida, algumas caixinhas embaladas que o dono solicitou à cozinha, apenas alguns aperitivos para não precisarmos subir, o resto solicitamos no minibar na praia.
Assim que chegamos, Yuna, Chan e Felix vão diretamente para o mar, mas eu resolvo ficar na sombra, comendo algumas frutas. É uma tarde bonita e o mar parece ótimo, mas eu gosto de onde estou também. Às vezes, eu me afasto um pouco, não porquê fico chateada ou algo do tipo, mas porque gosto de observar também.
Nos últimos meses eu desenvolvi uma paixão por fotografia, são momentos como estes que eu quero guardar. Os três parecem tão felizes nas fotos que tiro com o meu celular, que me enchem de felicidade só por vê-los. Eu encaro sorridente o aparelho. Deslizo o dedo pela tela, passeando pelas fotos da semana, até que, de repente, sinto Felix me agarrar em seus braços e me jogar nas suas costas. Acontece tudo tão rápido que o meu primeiro instinto é jogar o celular na minha bolsa fechada, para tentar protegê-lo, ainda que esta não tenha sido a minha melhor ideia.
— Se o meu celular quebrar, eu te mato! — ameaço, dando leves murros nas costas dele.
O tempo em que digo isto é o necessário para chegar até o mar, então, no segundo em que me calo, sou arremessada na água salgada, ainda de vestido.
No primeiro instante, o australiano apenas ria da minha cara, coberta pelos cabelos molhados. Em seguida, tendo um pouco mais de empatia, ele afasta todo o cabelo do meu rosto, mas ainda sem conseguir parar de rir.
Felix respira fundo, é só então que consegue parar de rir e volta a afastar os cabelos que o vento soprando contrário trazem de volta. Ao observar sua expressão agora, ele parece extremamente focado no que faz, com seus dedos agora tocando as minhas bochechas de maneira que chega a me assustar, de tão atraente.
O toque macio dos seus dedos na minha pele é saudoso, extraordinário. Mas, por mais que eu amasse aquilo no passado, algo dentro de mim, no presente, diz que devo me afastar. Seu gesto foi bondoso e inocente, mas me sinto estranha. Por isso, eu jogo água nele, iniciando assim uma guerrinha.
Eu me sinto mais descontraída, gargalho para caramba quando uma onda vem das costas do australiano e o engole, antes que ele conseguisse jogar mais água em mim. Porem, quando ele me pega pela cintura e arremessa em uma das ondas, eu paro de rir com a água salgada invadindo a minha boca. Não é surpresa quando eu começo a tossir desesperadamente.
— Vem, vamos beber água doce. — ele me ajuda a ficar de pé, ainda contendo o riso.
Aponto-lhe o dedo do meio.
De volta à sombra, eu bebo quase um litro inteiro de água. Logo em seguida, verifico meu celular, que por sorte ainda permanece aqui e inteiro. A minha preocupação era apenas com seu funcionamento, não com ser roubada. Este é um hotel resort de luxo, as pessoas que frequentam o local não estão interessadas em roubar meu celular, a não ser, sei lá, para usar de moeda em aposta de jogo.
— Estou com fome. — Felix reclama.
— Tem comida na cestinha, é só procurar.
— Eu queria algo quente. Acho que um lamén cairia bem. — ele diz. — Minhas costas estão doendo. — ele reclama, manhoso. Eu suspeitei que isso foi apenas uma desculpa esfarrapada, e quando ele se deitou, apoiando a cabeça no meu colo, tive certeza.
— Deve ser a idade. — provoco.
Entediada, eu abro novamente a cesta e pego o pote com morangos, os vermelhos e suculentos. Eu estava desfrutando bem deles, até Yongbok dar uma de criança dengosa e insistir que os quer também. Eu divido os morangos com ele.
Seus olhinhos se fecham sempre que as expressões satisfeitas surgem em seu rosto.
Aqui de pertinho, ele é ainda mais bonito, ao natural. Eu acho tudo nele belo, cada pequeno detalhe, mas principalmente, como as sardas deixam o seu rosto ainda mais perfeito. Ele finalmente as deixou serem livres, eu estou feliz em vê-las, inexplicavelmente.
— Por que você está me olhando assim? — ele pergunta, curioso.
— Não é nada. Eu só... gosto das suas sardas. — eu o elogio, admirada com sua beleza.
— Eu ainda não sei se gosto delas tanto assim, mas eu gosto da maneira como você olha para elas. — ele sorri, alegre.
Eu queria que ele pudesse se ver da forma como eu vejo. Ainda me lembro bem da época em que nos conhecemos, Felix era diferente, sua autoestima era diferente. Hoje, o discurso narcisista de "todos mentem e eu sou perfeito" não existe mais. Eu o dizia que era convencido, mas ele sempre soube que eu amava aquela parte dele. Me pergunto onde ela foi parar, talvez todas as bobagens que Minju o disse tenham afetado mais do que pensei.
— Felix... — eu procuro por um pouco de atenção. — Você sabe que é lindo, não sabe? Suas sardas são lindas, eu sempre amei elas.
Ele não responde, mas sorri, penso que feliz. Seja lá o que aquele monstro tenha dito para ele, não é verdade. Enquanto eu estiver aqui, vou me esforçar para que relembre da sua beleza.
Quando os morangos acabam, Felix fecha os olhos. Sem muito o que fazer, me distraio fazendo carinho em seus cabelos. Em questão de segundos, ele adormece. Lee parece tão cansado hoje que não me admira que tenha adormecido ainda com a roupa meio úmida. Na verdade, não é só hoje, ele me parece estar assim já faz algum tempo.
Um pouco depois, seus olhos passam a se fecharem mais intensamente, os lábios também se pressionam um contra o outro e as ruguinhas no seu nariz surgem. O vejo assustado. Eu não gosto disso.
No segundo seguinte, observo Felix levantar assustado, ofegante e amedrontado. Sua respiração está descompassada. Eu começo a duvidar se as gotas de água no seu pescoço são água do mar ou suor. Novamente ele acorda pedindo por perdão.
— Calma, Felix. Eu estou aqui. — o conforto no meu abraço, acarinhando suas costas. — Você teve um pesadelo? — pergunto.
Ele confirma balançando a cabeça. Todo o estresse e medo duram por mais alguns segundos, ele respira fundo várias vezes.
— Fica assim não, já passou. — eu deito sua cabeça em meu ombro. — O que te assustou tanto? — pergunto, mas me arrependo, não quero deixá-lo mal.
— Eu ando tento alguns pesadelos com ela, com a minha mãe. — ele responde, então presumo que não o incomodo. — Para falar a verdade, eu tenho até evitado dormir, pois o sonho é recorrente.
Acredito que as coisas estão bem piores do que imaginei. Tudo o que aconteceu, aparentemente, causou um grande trauma no Lee. Eu não gosto nada mesmo de o ver assim. Seu olhar é tão penoso que parece procurar por ajuda, os olhos estão levemente arroxeados, entregando uma insônia que ele vem tentando disfarçar.
— Felix, você... — eu me interrompo por um segundo, não quero que isso soe da maneira errada. Ele se afasta para poder me olhar nos olhos. — Você precisa de ajuda?
— Estar aqui com você, com vocês todos, já ajuda muito. — ele responde, caloroso.
— Não é desse tipo de ajuda que eu estou falando. — digo, tento fazer-me entender. — Isso parece sério, você não acha?
Felix não responde no mesmo instante. Ele para para pensar, eu fico ansiosa esperando por sua interpretação. Não sei o que ele pensa, apenas espero que não seja algo ruim. Preocupo-me com ele, quero seu melhor, por isso a sugestão.
— Você acha que eu tenho um problema? — ele me questiona, preocupado.
— Todos nós temos problemas, se serve de conforto. — digo, calmamente, para não dar espaço à outras interpretações. — Por favor, não me leve a mal. Eu estou preocupada com você, quero o seu bem, você sabe, nós dois... somos amigos. — acho melhor eu calar a minha boca agora.
— Obrigado, Yumin. — ele agradece a preocupação. — Eu vou ver isso quando voltarmos, prometo. — ele diz, mas não sei se posso confiar. — É que tem muita coisa acontecendo ainda, eu preciso resolver outras primeiro.
— Tudo bem, resolva-as. Apenas não se deixe de lado, pode ser? — o peço. — E se precisar da minha ajuda, eu vou estar aqui.
— Você promete? — ele pergunta, levando seu dedo mindinho ao centro do espaço entre nós, como um pedido sério de promessa.
— Eu prometo. — entrelaço meu mindinho ao dele, em seguida, selando os nossos polegares.
— Ah, eu quase esqueci! Tem um lugar no hotel que eu quero muito te levar. — ele fala de repente, me causando curiosidade.
— Qual? — questiono, completamente curiosa. — Por acaso não é o seu quarto de novo, não é? — interrogo. Não é que eu não goste do ambiente, eu só quero evitar que minha mente me envergonhe.
— Não. A não ser que você tenha algo a mais para me contar, ou, que queira me fazer companhia.
— Eu não sei de mais nada. — ignoro a última parte, ou tento fazer isso. — Mas, me fala, onde você quer me levar?
— Meu Deus, como você é curiosa!
— Olha só quem fala! — pontuo a sua hipocrisia. — Me conta, por favor?
— Não conto. — ele diz, firme. Pelo visto, não vou conseguir informações. — É surpresa. Você não confia em mim?
— Não sei não, hein...
— Escuta aqui! — ele se prepara para iniciar um sermão, eu já quero rir.
Irritar Felix me agrada. A maneira como ele rebate às minhas provocações e fala como se estivesse brincando e brigando ao mesmo tempo é divertida. Acho que entendo porquê os garotos gostam de provocar as garotas que eles gostam, quando crianças. Ou pior, acredito estar me tornando um deles. Mas neste caso, o que é pior: agir como garoto, ou como criança?
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