017 - O que você sente por mim?
A HISTÓRIA ESTÁ OUTRA VEZ SE repetindo? Seis meses, cento e vinte e oito dias, quatro mil trezentos e sessenta e oito horas. Durante todo esse tempo, aquela pequena angústia que habitava em meu peito tomou proporções maiores. Eu tive a plena certeza de que seria passageiro, mas ainda assim, era bom. Como Jean-Paul Sartre disse uma vez: "O pior mal é aquele ao qual nos acostumamos".
— Eu realmente achei que pudesse ser real, mas já percebi que sou a única com sentimentos aqui. — digo, prestes a desabar.
𝓓uas horas antes.
Doces, um filme qualquer e a companhia da minha boa e velha cama. Esta é mais uma quinta-feira tranquila de férias, a única diferença é que estou sozinha esta noite, já que Mina não está na cidade.
Desde o fim desastroso com a Hwang, a Shin foi passar um tempo na casa dos avós paternos, em Busan. Ela falou que precisava tomar um ar e se afastar um pouco disso tudo, também prometeu que voltará logo e que ficará bem, o que é, sem dúvidas, o mais importante.
Eu a entendo, sem sombra de dúvidas, a entendo. Ficar sozinha agora é o melhor a se fazer, afastar-se de tudo o que te faz mal por um tempo e ver a situação ao ponto de vista de um expectador te faz enxergar as coisas com outros olhos. As vezes é no silêncio que conseguimos encontrar as nossas melhores respostas.
Quanto as minhas respostas, estas eu ainda estou procurando. Tenho estado bem confusa e não é de hoje, eu ignorei isso por muito tempo, mas agora não é mais algo que eu consiga evitar. Essa minha relação estranha com Felix está tirando as minhas noites de sono.
O que nós somos? O que ele sente? Eu estou certa dos meus sentimentos como nunca estive antes, mas e quanto aos dele? Desde o nosso primeiro encontro isso está alugando um triplex na minha mente. E por falar no Lee, meu telefone agora vibra em cima da cama ao receber mensagens suas.
Yongbokkie <3
On-line
Quer vir assistir um
filme aqui em casa?
|19:31h
Não.
Muito longe.
|19:31h ✓✓
Eu vou te buscar.
|19:31h
Nem tava falando
sobre a sua casa,
mas da porta do
meu quarto.
|19:33h ✓✓
Pfvr vem :((
|19:33h
Eu só quero poder
ficar com você um
pouco mais.
|19:34h
Quero te ver
|19:34h
Você fala como se
a gente já tivesse
se visto hoje.
|19:34h ✓✓
Por isso mesmo.
Vem :((
|19:35h
Tá
|19:35h ✓✓
Esteja aqui em cinco
minutos ou desisto.
|19:35h ✓✓
Desligo o celular e deixo na cabeceira da cama, mas por algum motivo fico com uma sensação esquisita no peito. "Eu só quero poder ficar com você um pouco mais". O que isso significa?
Balanço a cabeça tentando afastar besteiras, eu só devo mais uma vez estar tornando os meus delírios em uma verdade absoluta. Mas agora, eu não quero exagerar, algumas coisas podem ser simples, Yumin.
Nos cinco minutos que peço de tempo para Felix, a única coisa que faço é trocar o pijama por uma roupa adequada de se usar fora de casa. Não me restando mais nada para fazer, apenas aviso meu pai que "estou indo para a casa de Chan" e, como combinado, exatamente cinco minutos depois, o australiano Lee já está me esperando na calçada de casa, com o carro estacionado.
— Pontual, do jeito que eu gosto. — digo, entrando no automóvel.
Eu olho para os lados, apenas conferindo se os vidros estão erguidos e ninguém mais consegue nos ver. Ao me certificar disso, vou na direção do motorista e o beijo. Eu selo nossos lábios com calma, sem pressa, como o beijinho de "olá" que geralmente costumamos dar. Mas então eu sinto algo esquisito.
É como um sopro de consciência, eu não queria, mas percebo. Por que este beijo parece mais com um de "tchau" ao que o de um cumprimento? Somente com o toque simples de sua boca na minha eu já consigo sentir, Felix está estranho. Tem alguma coisa errada acontecendo.
Eu me afasto e o observo, ele coloca seu cinto tranquilamente. Lee percebe meu olhar focado em si, mas não pergunta. Quando ele pede que eu coloque o meu cinto de segurança, apenas faço isso e em seguida pegamos a curta estrada até sua casa.
— Parece que vai chover. — comento, enquanto observo o céu pelo vidro. — Não há previsões de chuva para hoje, há algo de errado com o tempo.
— A previsão do tempo não é a única coisa errada ou fora do controle. — ele diz, um pouco desligado.
Eu não digo nada além, fico tensa. Isso não me pareceu ser sobre tempo, mas sim sobre clima, o clima entre nós dois.
Quando chegamos vamos direto para a sala de estar. Hoje estamos praticamente sozinhos, sua mãe não está em casa e Chris saiu com o seu padrinho para experimentar o terno do casamento, só quem está em casa é o seu pai, mas trancado no escritório.
Nós optamos por ver um filme, uma animação, Toy Story 3. O filme já passa da metade na extensa televisão da sala. O cheirinho de jasmim que exala do aromatizador de ar preenche as minhas narinas, me fazendo suspirar embriagada naquele cheiro gostoso. É muito bom e melhor ainda é estarmos sozinhos, o que tem sido uma raridade ultimamente, diga-se de passagem.
Felix consegue estar ainda mais calado que o dia em que fomos para a casa dos Hwang. Parece que foi gradual, a cada dia passado se tornou um pouco mais calado, sem a vontade de uma interação social. Todavia, sinto algo diferente hoje, ele parece nervoso, meio tenso, muito diferente dos demais dias. Eu me sinto tão preocupada, mas não importa o quanto eu pergunte, ele insiste estar bem, mas os seus olhos sugerem o contrário. Não importa o quanto eu queira saber, não posso forçá-lo a contar.
O filme passa a um bom tempo e ele pouco olha na direção, está vidrado na tela do celular e algumas vezes me observava pelo canto do olho. Acho que finalmente consigo entender a minha mãe e todo o sermão sobre a minha geração e como parecemos robôs obcecados pela tecnologia.
— Você está mesmo bem? — pergunto mais uma vez, para me certificar.
— Sim. — ele diz, sério. Eu não acredito.
Seu tom de voz não é rude, mas já não carrega a mesma doçura de antigamente. "Por que ele está assim? Eu fiz algo errado?" São coisas que começo a me questionar.
— Eu estava pensando aqui... — tento encontrar algum assunto para descontrair. — O que você quer fazer depois do casamento dos nossos irmãos? — questiono.
— Eu não quero fazer planos para um lugar que eu nem sei se vou. — ele diz, triste.
— É claro que você vai, é o seu irmão. — eu digo, firme e esperançosa. Chris de fato convidou os três (o irmão, a madrasta e sua mãe biológica), o que resta agora é saber se irão todos conviver em paz e comparecer. — Eu gosto de casamentos, mas depois que servem o jantar tudo fica meio chato. Ja sei! E se a gente desse uma fugidinha para ir ver à cidade do nosso ponto alto? — questiono. Uma ideia desastrosa, é evidente que não sobreviveríamos no inverno em um lugar tão alto.
Não obtenho uma resposta, ele fica em silêncio. O único som audível é o do seu celular sobre a mesinha de centro a receber uma chamada de seu irmão mais velho. Felix sai da sala rapidamente e vai ao lado de fora, a fim de mais privacidade e, pela maneira como sai, a conversa parece urgente. Fico para trás, sozinha no sofá. E se já não estava antes, agora me sinto completamente desinteressada no filme.
Eu vejo o filme, mas não o assisto. Minha cabeça está ocupada recapitulando nossos últimos encontros e vendo se fiz algo de errado, mas não consigo encontrar nada. É culpa minha ou estou apenas fantasiando? Existe pelo menos algo realmente errado ou estou enxergando coisas onde não tem?
Eu procuro o horário no meu celular, sua foto ainda é meu papel de parede. Na minha galeria, dezenas de fotos nossas e com nossos amigos. Parecia tudo bem, estava tranquilo, como ficou esquisito assim? Ele cansou? Será que não gosta mais de mim?
Eu não sei, talvez isso não tenha nada a ver comigo.
O tempo vai passando e eu já estou ficando sem ter o que fazer com o meu celular. Felix está demorando, já se passou algum tempo desde que saiu e não voltou ainda. Conforme o tempo corre, fico cada vez mais angustiada, impaciente.
— Felix...? — o chamo.
Apenas o silêncio prevalece. Chamo mais uma vez, duas e então na terceira resolvo levantar e ir até o quintal, na direção onde ele sumiu. Ao chegar, o chamo mais uma vez, mas ele também não está aqui.
Começo a ficar preocupada, já assisti a um filme de terror assim e apesar de filmes como esses não me assustarem, a realidade é duas vezes pior e isso sim assusta e muito.
Após procurar por todos os lado, volto para onde o vi pela última vez, a sala de estar. Felix parece ter tomado chá de sumiço, ele não está em parte alguma da casa, eu o procurei até por debaixo dos móveis.
— YONGBOK! — eu grito, ameaçando até chamar atenção do seu pai no escritório. Me jogo no sofá outra vez.
— Você não precisa gritar. — sua voz única, ressoando atrás de mim, quase me causa um ataque cardíaco, ao mesmo tempo em que me deixa aliviada por vê-lo.
Meu rosto já deve estar vermelho, mas é de raiva. Como ele pôde fazer isso comigo, simplesmente sumir e me assustar desse jeito?
Eu respiro fundo, me preparando para usar toda a minha dicção e falar de uma vez só todas as palavras que preparei, todo o meu discurso repleto de palavras de baixo calão que memorizei. Mas antes que eu possa fazer isso, ele dá rapidamente a volta no sofá, senta-se ao meu lado e me pergunta algo que me faz esquecer, por enquanto, todas as outras palavras.
— Yumin, se eu sumisse, você sentiria a minha falta? — ele questiona, enquanto encara o lustre no teto, este que balança devido ao vento forte entrando pelas janelas abertas.
Esquece todas as palavras ruins. A raiva passa, dando lugar somente ao pânico. Meu coração se aperta dentro do peito. Pavor, é tudo o que sinto.
É agora? Então esta é a hora em que ele me abandona também? Eu sempre soube que o momento chegaria um dia, mas nunca estive de fato preparada o suficiente para encarar-lo.
As palavras não conseguem mais sair e talvez ele tenha percebido, já que ao invés de esperar por uma resposta, apenas recostou as costas no sofá e ficou a assistir o restinho do filme. É claro que eu sentiria sua falta, isso não é obvio? Mas o que isso significa, que ele irá mesmo me abandonar? Só a possibilidade de não o ter por perto já faz meu coração sofrer.
Eu quero ficar junto dele o máximo que conseguir, quero evitar o tempo frio lá fora no calor dos seus braços, o beijar como se nada mais importasse. Quero somente poder estar ao seu lado.
— Por que está me perguntando uma coisa dessa? — pergunto, enquanto me envolvo em seus braços. — O que você tem, hm? — questiono, deslizando as pontas dos dedos por seu peitoral coberto pela camisa.
Eu o abraço, mas ele não retribui; quero olhar nos seus olhos, mas ele não consegue fazer o mesmo comigo; o observo de uma maneira apaixonada, já o seu olhar agora não transmite nenhum sentimento.
Em uma respiração pesada, me afasto dele e encaro a tela do meu celular fingindo lembrar de algo. A pior parte de ser uma pessoa medrosa, é que no meu caso, na maioria das vezes, o medo se transforma em raiva. Agora não seria diferente, o medo do abandono me deixa furiosa.
— Eu tenho que ir para casa, prometi a minha irmã que voltaria cedo para ajudá-la com as preparações do casamento. — minto.
Felix concorda, indo pegar o carro.
Minha mente demora para conseguir processar tudo, por algum motivo me sinto envergonhada, já não consigo mais olhar para ele. Assim que adentro o carro e coloco o cinto de segurança, encosto a cabeça na janela do carro e observo as gotas grossas de água da chuva batendo forte contra o vidro. Algum tempo depois, Felix para o carro na calçada de uma loja. Eu continuo calada sem ter o que dizer, frustrada de mais.
Eu estava correta, sobre o tempo e sobre o clima. Assim como se inicia a chuva, acaba-se o que um dia nunca chegou a existir. Fui tola, ingênua, patética por realmente acreditar que era recíproco. Se um dia foi, não é mais. Isto é uma despedida.
— Burra, burra, burra! — penso alto, enquanto bato a cabeça contra a janela.
Interrompendo o meu momento de surto, antes que fizesse um galo na cabeça, maior do que a minha decepção, o vibrar do celular do Lee e a tela que se ilumina a cada mensagem recebida capturaram a minha atenção.
Tento ignorar, não são para mim. Ler as mensagens de outra pessoa é invasão de privacidade, mas o que eu posso fazer se o aparelho está tão próximo de mim e me obriga a lê-las pela barra de notificações?
Jeongin :p
Cara, você precisa falar pra
ela de uma vez. | 8 minutos
atrás
Ela é uma garota incrível,
você não deveria fazer isso
com ela. | 6 minutos atrás
Você precisa acabar com
isso logo. | 6 minutos atrás
Hyung, seja cuidadoso para
não deixar as coisas ainda
piores. | 1 minuto atrás
Você pode até me ignorar,
mas sabe que não tem como
fugir disso. | agora mesmo
A cada mensagem flagrada, meu peito dói mais e mais, é como receber uma facada no peito a cada palavra. As minhas suspeitas foram confirmadas, está acabando, hoje será o epílogo da nossa breve história de amor.
Foi bom enquanto durou, mas enquanto durou foi verdadeiro?
Felix logo volta para o carro com algumas sacolas. O dito-cujo olha as suas mensagens também pela barra de notificações e depois disso joga o aparelho para lá, como se não lhe importasse todas aquelas palavras. Isso machuca mais, porque significa que eu não sou nada de mais, nada importante.
Tudo o que eu sinto é vontade de chorar, de gritar feito uma louca. Estou desapontada, magoada, decepcionada. De repente algumas peças parecem se encaixar como um quebra-cabeça, agora entendi do que se tratava aquela conversa estranha na casa dos Hwang sobre "algo" que já deveria ter acabado. Era sobre nós dois.
Eu percebo que ele nunca me falou com clareza e abertamente sobre seus sentimentos, esse tempo todo Felix nunca abriu a sua boca para me dizer um mízero "Eu gosto de você, Yumin". Eu fui quem me deixei levar pela ideia fantasiosa de finalmente poder ter algo verdadeiro e no período acabei me esquecendo da importância da reciprocidade.
Do lado de fora do carro, a chuva cai cada vez mais forte. Está uma verdadeira tempestade, uma turbulência. Embora o clima pesado — tanto fora quanto dentro do veículo —, Felix continua dirigindo com cautela. Nenhuma palavra é dita, mas muitas são sentidas.
Eu estou decepcionada, todavia não supresa. Era de se esperar, eu apenas não quis admitir. Fica cada vez mais doloroso quando a ficha vai caindo pouco a pouco e percebo que ele não fez nada de mais, eu me iludi sozinha, a culpa é minha.
Dentro de mim, a tristeza e a raiva travam uma batalha para ver quem tomará o lugar. Toda a incerteza e angústia sempre estiveram aqui, comigo. As mensagens de Jeongin foram apenas o estopim para que tudo isso viesse à tona. Me sinto ridicularizada por não ter dado-me conta antes de que fui a única boba a qual se permitiu falar sobre sentimentos, e a única a qual os realmente sentiu.
Todos dizem que quando um casal — se é que podemos nos rotular assim — briga pela primeira vez, é por algo bobo. Entretanto, conosco é diferente, ao menos vejo diferente. Quando se trata de nós dois tudo parece maior, até as coisas mais banais se tornam intensas, o que nem sempre é algo bom.
O australiano dirige concentrado na estrada, não olha para mim nem de relance. Talvez seja melhor assim, porque se ele olhasse minha expressão facial agora, saberia que as coisas não estão nada bem e ficarão ainda piores. Lidar com amores unilaterais não é algo novo para mim, então por que agora sinto ser tão pior? É difícil lidar com essa dor que me consume. Nem o sorriso mais largo que eu consiga exibir será suficiente para suprimir esses sentimentos.
— Nós chegamos — ele diz.
Chegamos mesmo? Mas a que ponto? Até que ponto foi real? Até onde estavam os limites? Porque eu já os cruzei faz tanto tempo que nem consigo mais os enxergar.
Viro o rosto. Não quero me descontrolar e pagar de desequilibrada, por mais que eu seja sim um pouquinho. A vista da janela é embaçada e vazia, apenas as gotas de chuva que caem veemente. Minha mente está tão cheia que parece querer explodir. Por um instante, eu pensei em apenas abrir a porta e sair correndo dali, sem dar explicações e me refugiar debaixo das minhas cobertas onde eu me sentiria mais segura, já que agora não tenho mais o que costumava ser o meu porto seguro.
— Yumin, o que foi? — o idiota ainda me pergunta.
— Yongbok... — o chamo enquanto olho para frente, não conseguindo o encarar. — O que eu sou para você? — vou direto ao ponto, não suportando mais a dúvida.
Eu não encaro o seu rosto, mas o conheço — ou acho que sim — bem o suficiente para saber que ele está confuso. Enquanto isso, eu tenho o meu coração entre as mãos e o estômago prestes a sair pela boca. É atormentador.
— O que...? — ele questiona.
— Eu quem pergunto: O que? — digo no mesmo tom que o seu, confuso. — O que você sente por mim?
Mais uma vez ele se mantém calado, é como falar com uma parede. Talvez fosse melhor conversar com as paredes, já que nenhuma parede tem esses olhos brilhantes desumanos.
A esse ponto, eu já nem sei mais o que é pior: a verdade, ou o silêncio?
— Por que você está me perguntando isso tão de repente? — é então que ele parece ter caído em si. A desconfiança, as mensagens não visualizadas, mas visíveis pela barra de notificação. — Você viu as mensagens do Yang, não viu? — ele nota, com perspicácia. — Foram apenas bobagens, desconsidere.
— Para mim, não foram. — me oponho. — Honestamente, eu não sei mais o quanto disso tudo é, ou foi, real. Eu estava ignorando, mas hoje não pude lidar com o fato de que você nunca disse o que sente por mim. Não estou cobrando reciprocidade, porquê isso não é algo que eu tenha controle. A única coisa que eu te peço nesse momento é que seja sincero comigo. É como isso deveria ter sido desse o princípio.
Eu sou sincera, me abro, me permito ser vulnerável quanto aos meus sentimentos mais uma vez e tudo o que isso me causa é uma dor ainda mais profunda.
— Esquece. — eu peço, já sentindo que se eu demorar mais algum segundo dentro desse carro, desabarei em lágrimas. — O seu silêncio me machuca mais do que qualquer palavra.
Sem aguentar mais, abro a porta do carro. Estava prestes a sair quando sua voz me faz ficar.
— Yumin...
Vamos lá Felix, é o timing perfeito. A pausa dramática perfeita para que ele olhe fundo nos meus olhos e me conte sobre os seus sentimentos e que tudo seja resolvido, eu esperava. Após isso, nós dois poderíamos partir para aquela cena romântica, melosa, clichê e boba de beijo na chuva, eu toparia até ir para fora do carro e me molhar. Mas ao contrário do que eu esperava, mais uma vez quebrando todas as minhas expectativas, Lee Yongbok me estende um guarda-chuva idiota.
— Eu não quero que se molhe. — ele fala.
Foi a gota d'água para mim, a cereja no topo do bolo das minhas frustrações e decepções. Eu me transformo em uma bomba relógio cujo gatilho foi ativado, prestes a explodir. Agora eu vou falar.
— Pode ficar com isso para você, não precisa fingir que se importa. — digo em um tom elevado, jogando o guarda-chuva para o banco de trás, mas só Deus sabe onde eu queria o socar agora. — Eu 'tô cansada de mais para aguentar tudo isso, eu não consigo mais. — digo, irritada. — Já chega, é o fim. Acabou. Adeus Felix.
Acabou. Seis meses, cento e vinte e oito dias, quatro mil trezentos e sessenta e oito horas. Durante todo esse tempo, aquela pequena angústia que habitava em meu peito tomou proporções maiores. Eu tive a plena certeza de que seria passageiro, mas ainda assim, era bom. Como Jean-Paul Sartre disse uma vez: "O pior mal é aquele ao qual nos acostumamos".
— Eu realmente achei que pudesse ser real, mas já percebi que sou a única com sentimentos aqui. — digo, prestes a desabar. — Eu sou mesmo uma idiota por achar que você sentia algo por mim, enquanto você só estava se divertindo e me largaria assim que se cansasse. Mas pouco me importa também, eu espero que você se exploda na puta que o pariu. Eu estou cansada de todo esse amor falso.
Sem olhar para trás, eu sigo com o meu caminho, sendo atingida pelas gotas gélidas da chuva, mas não tão geladas o quanto meu coração ficará. A ferida ficará aberta por bastante tempo e, desde que ninguém a cutuque, eu só preciso cobri-la com um bandaid e fingir que não existe. Por mais que fugir nunca ajude de fato, eu irei fazer isso agora, vou superar — ou fingir superação — e seguir em frente. Mas me magoa como nunca, saber que fui novamente abandonada por alguém que eu gostava e a história outra vez se repete.
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