016 - Nós podemos fazer dar certo
POR QUE O AMOR TEM QUE SER tão confuso? Eu estava bem sem todo esse caos. A minha vida era tranquila, na medida do possível, até à chegada desse sentimento bobo. Mas eu devo aceitar, é minha a culpa, eu quem fui atrás.
Eu a vi naquela festa, eu fui conhecê-la, eu quem me apaixonei. Nunca pensei que chegaria nesse ponto. Durante todos esses anos, nunca fui pessoa de querer algo sério, era tudo mais fácil quando não envolvia sentimentos fortes e reais. Pensei que com ela não seria diferente, que nos divertiríamos juntas e estaria bom para nós duas, mas cometi a enorme burrada de me apaixonar. Não é como se eu pudesse evitar.
Kang Yumin tinha razão em um ponto, Yeji e eu precisamos ter uma boa conversa. Toda essa situação está me deixando doente.
Enquanto caminho pelas ruas movimentadas de Seoul, me pergunto o que direi quando chegasse lá. Será algo como: "Oi, sou eu, a garota que você beijou e depois fingiu que não existe."? Ou talvez um: "Olá, meu nome é Shin Mina. Até antes de ontem você sabia".
Argh, Yeji! Eu sempre sou a pessoa que acaba destruindo tudo, é natural, estou acostumada. Então por que desta vez teve que ser você? Eu já estava acostumada a ser a errada, o motivo das coisas não funcionarem, quem tem que pedir desculpas, mas agora que estou do outro lado da conversa, eu me sinto horrível. Talvez seja karma. O amor é o meu karma.
Por mais que eu tente, é difícil de me colocar no seu lugar, já que nem mesmo entendo bem essa situação. Não consigo enxergar um propósito em tudo o que está acontecendo.
É tudo culpa dela. É culpa dela por chegar na minha vida e fazer ela virar de ponta cabeça, por fazer eu me apaixonar assim tão rápido. Nunca entendi como Yeji me capturou tão depressa. Na verdade, são poucas as coisas que eu entendo com clareza, apenas finjo que sei do que estou falando. A alguns dias atrás eu estava apenas atormentando Yumin, dizendo que ela parecia uma idiota, toda apaixonada. Agora eu quem sou a idiota.
Após pensar mais e mais, chego a conclusão de que não importa o quanto eu pense ou imagine a cena na minha cabeça, eu nunca saberei como iniciar a tal conversa e nem mesmo terei tempo suficiente para fantasiar com isso, pois quando percebo, já estou parada em frente à porta do estabelecimento, o seu local de trabalho.
Sendo honesta, eu realmente cogitei a hipótese de fingir demência e dar meia-volta, mas fugir dos meus problemas nunca os resolveram, cedo ou tarde eles acabavam batendo na minha porta outra vez. Lá no fundo, eu sei que me arrependerei dessa decisão, todavia, adentro o local, sendo recebida pela sua voz doce e calorosa.
— Bem-vin... — a Hwang para de falar assim que percebe que sou eu quem acaba de entrar. — ...da.
Em passos curtos, me aproximo do balcão, adiando ao máximo aquela conversa que imaginei, por mais que ela se faça necessária.
Quando chego, mentalizo o que eu devo falar: "Oi, nós podemos conversar? Vai ser rápido, eu não quero tomar muito do seu tempo".
— Um latte, por favor. — é o que eu realmente digo.
Ah, droga! Eu só precisava dizer uma frase corretamente e até nisso eu fracasso.
Yeji começa a preparar o meu pedido em total silêncio, o único som audível é o da playlist da cafeteria, que toca baixinho. Reconheço a música, é ASAP, do StayC. Eu me deixo levar pela batida por alguns segundos, adoro essa música, eu poderia dançar o refrão agora mesmo, mas acho que seria vergonhoso de mais até para mim. Chega, Mina, você já passou vexame de mais por hoje.
Depois de pago, eu pego o meu latte e sento em uma mesa mais afastada do balcão, mas de onde ainda é possível ver ela.
O local está praticamente vazio, mas o ambiente pesado que formamos é capaz de preencher toda a cafeteria. As vezes até trocamos alguns olhares que não duram mais que um segundo, ela mal consegue me olhar nos olhos. Por que ela não consegue olhar nos meus olhos? Eu sou motivo de vergonha para ela? Ela se sente constrangida ao meu lado? Ela me odeia agora? São tantas dúvidas.
Como eu pude ser tão burra? Tinha ensaiado a minha fala, mas ao invés disso fiz um pedido idiota. Eu nem mesmo gosto de café! Será que ela se lembra disso e agora sabe que eu vim até aqui só para a ver? Ou pior, será que pensa que eu estou a perseguindo?
— Aish! — resmungo em voz alta.
Noto as poucas pessoas ao meu redor me olhando de forma estranha ao som que emito. Talvez porquê eu sou estranha e estava, inconsequentemente, agarrando os meus cabelos com força e o meu semblante exibia a face da loucura. Provavelmente eu esteja à beira da loucura de toda forma.
Agora eu terei que esperar o turno dela acabar para tentar mais uma vez falar com ela, além de descobrir como eu vou beber esse café, ao menos a maior parte dele é leite.
Enquanto luto com a bebida, me pergunto quando tudo começou a dar errado. Rebobinando a fita cassete da minha memória no modo reverso: Yeji me beijou, nós fomos àquela festa, nos tornamos amigas, eu a conheci, fui ao aniversário de Yeosang, nós começamos a sair em cinco, Felix nos apresentou seus amigos, Yumin começou a sair com Felix, ele chegou em nossas vidas.
— Felix, isso é tudo culpa sua! — encontro alguém para culpar.
Agora que já apontei um culpado, começo a ensaiar o meu novo discurso. Agora vai dar certo, eu só preciso dizer o que sinto para Yeji. Yeji, Yeji... espera, onde está Yeji?
Quando a porta abriu e fechou-se, trazendo a tona o barulho do sininho na porta, é que eu percebo que o seu expediente já acabou. Maldita cafeteria 24hrs, que continua aberta quando os funcionários trocam de turno, sem necessidade alguma. Seu turno acabou e ela estava indo embora de fininho, provavelmente me evitando, com certeza ela não quer me ver.
Deixando a metade do café para trás, saio rapidamente para tentar alcançá-la. Nem o flash conseguiu ser tão rápido.
— Yeji! — eu a chamo. Como o esperado, ela segue caminhando sem olhar para trás. — YA! HWANG YEJI! — grito ainda mais alto.
Ouvindo agora em tom elevado, seus pés param e a garota finalmente olha por cima do seu ombro. Seus olhos desviam dos meus, talvez olhar para mim a lembre do erro que cometeu.
— Yeji-yah. — eu a alcanço. — Nós duas podemos conversar? Vai ser rápido, prometo. — eu pergunto, finalmente acertando a minha fala que nem foi ensaiada mais de cem vezes.
— Mina... — ela tenta me impedir.
— Por favor. — eu insisto.
Ela olha para baixo, não sabe o que dizer. Eu insisto, só quero acabar com essa situação chata de uma vez por todas. Hwang suspira, confusa e aparentemente perturbada.
— Tudo bem. — ela cede.
Oh-oh. Acho que passei tanto tempo pensando em como a abordar que não pensei no que dizer exatamente quando conseguisse falar com ela.
Eu deveria ir direto ao ponto? Não, talvez isso a assuste um pouco. E se eu for aos poucos? Acho que acabaria enrolando demais. Não deveria ser tão difícil, nunca foi, mas nesse caso é completamente diferente. É delicado.
— Você não vai dizer nada? — ela pergunta.
— E você, vai? — o meu tom acaba saindo levemente rude, sem que eu percebesse. Eu apenas respiro fundo e continuo: — Já é o terceiro dia que você vem fingindo que eu nem existo. Por que está fazendo isso comigo, Yeji?
— Você não me entenderia. — ela diz baixinho, quase como um sussurro.
— Está tudo bem se você não gosta de mim, eu posso lidar com isso. Eu só não quero que você brinque com os meus sentimentos ou se afaste assim de mim.
— Eu não estou brincando com você, Mina! — ela exclama, imediatamente. É como se ela se sentisse ofendida.
— Então o que é? — questiono. — Porque eu gosto de você, Yeji. — sou sincera. — Eu não quero mais continuar fingindo que quero ser apenas sua amiga, então se for para continuar assim, prefiro que não sejamos nada, mas que fique tudo esclarecido entre nós. Eu não gosto de incertezas e toda essa confusão, gosto de ser simples e objetiva. Mas eu gosto de você, o que não é simples e com certeza eu estou enrolando de mais para quem quer ser objetiva. O que eu estou tentando saber com isso é... — falo às pressas. — O que você pretende fazer quanto a nós duas?
Yeji respira fundo, perdida, desorientada. Hwang cobre o rosto com as mãos e fica agoniada, confusa, estressada. Eu me aproximo com cuidado, toco seu ombro, fico com medo de ser rejeitada novamente, mas ela não se afasta do meu toque.
— Mina, você não faz ideia de como tem sido difícil para mim. — ela suspira pesado, passando os braços ao redor da própria cintura e se encolhendo. — Tem muita coisa envolvida. — a de cabelo preto azulado dá ênfase à palavra.
— Eu nunca vou saber se você não conversar comigo. Eu posso suportar não ser correspondida, mas não posso suportar um dia a mais com isso tudo rolando entre nós duas sem que eu não possa fazer nada, nem mesmo compreender. Por que você me beijou? — pergunto agora bem mais calma, porém sabendo que essa calmaria não durará muito.
— Eu te beijei porquê eu também gosto de você, Mina. Muito! — ela confessa de uma vez, com os olhos marejados. — Por mais que eu negue, eu não posso fugir da verdade. Acredite em mim, eu tentei fugir, mas não dá. Eu gosto de você, Shin Mina.
A minha primeira reação é tentar dar um abraço, mas ela foge de mais contato, dá dois passos para trás e olha em outra direção. Eu me frustro, isso machuca, acaba comigo.
— Você age como quem não gosta. — falo, com raiva. — Se eu gosto de você e você diz gostar de mim, então eu não entendo o motivo de você ter se afastado assim.
— É que você não entende que nem todos têm a sorte grande de ter pais como os seus, eu não tenho uma família como a sua. — ela desabafa, mas não sabe da metade. — Meus pais fingem que aceitam Hyunjin e Jeongin, mas é tudo fachada. Eu vejo de perto o que os dois passam, como meus pais olham, falam e tratam eles. É horrível, eu não quero fazer isso comigo, muito menos com você, não é justo conosco. Isso acaba comigo, mas acho que nós nunca poderemos dar certo. Eu não quero me machucar ainda mais.
Algum tempo depois que eu analisasse bem aquelas palavras, talvez começasse a interpretar melhor Yeji, talvez eu a entendesse, talvez se eu pensasse um pouco mais, neste exato momento, com a cabeça cheia, eu não pensaria que ela está arrumando desculpas para me afastar. Eu sou uma idiota infantil, reconheço isso.
Antes que a Hwang fuja, a seguro com sutileza pelo seu braço. Não quero ficar sozinha aqui, sem ela para apertar a minha bochecha e me chamar de fofa a cada vez que olho para ela de forma tão boba, porque é isso que sou quando se trata de relacionamentos, uma tremenda de uma boboca. Eu a quero aqui nem que seja por uma última vez, então neste momento, a solução idiota que encontro é a puxar para um beijo.
Assim que meus lábios tocam os dela, todas aquelas sensações loucas se misturam outra vez. Eu poderia a beijar por horas sem parar. Parando para refletir, não consigo encontrar muitas diferenças entre um dependente químico e alguém apaixonado. Ambos estão viciados e, consequentemente, condenados à uma morte dolorosa.
Diferentemente da primeira vez, esse foi um beijo longo e calmo, que expressava todos os nossos sentimentos à flor da pele, teria sido o melhor de todos se não houvesse aquele maldito ar de despedida. Era um adeus em meio a um pedido silencioso por socorro.
— Nós podemos fazer dar certo, não precisamos que o mundo inteiro saiba de nós duas, eu e você é o suficiente para mim. — digo, com a testa colada na sua.
— Você não nasceu para ficar escondida, Mina. Você é luz por onde passa, eu queria que você conseguisse ver em si mesma tudo o que eu vejo. — ela diz, enquanto sua mão direita passa por minha bochecha, a acariciando. — Estou fazendo isso por ti. Mina, você merece ser bem mais do que o segredinho de alguém, isso não seria justo.
Suas palavras partem o meu coraçãozinho frágil feito vidro. Ele nunca esteve lá em bom estado, mas agora se encontra ainda pior, só sobrou um último caquinho, mas como todos sabem, o vidro, uma vez quebrado, não importa o quanto você tente, ele nunca mais será o mesmo.
Um último beijo é dado, desta vez por Yeji, na minha testa. Pior que o beijo de despedida, é o olhar de adeus que ela me dá antes de poder seguir o seu caminho e me deixar para trás, sozinha e com o coração partido.
A cada passo de distância que ela toma de mim, é como uma facada a mais no meu peito. Se já não bastasse em cacos, agora está também em retalhos. Isso sequer faz sentido, igualmente ao amor.
— Yeji... — a chamo, chorosa.
As lágrimas rolam sem parar, eu não consigo mais evitar. A de fios azulados não é capaz de virar para me olhar, ela apenas para onde está e escuta as minhas palavras.
— Por favor, não vá. — eu imploro, faço a minha última tentativa. — Fique comigo, venha até mim. — o meu choro se agrava.
Suas mãos tremem assim como a sua voz, posso ver daqui. Somos as duas aos prantos agora.
— Me desculpe, Mina. — ela pede, sua voz falha. — Eu não posso te fazer ficar esperando.
E então, de uma vez por todas, ela vai embora, carregando consigo o que restou do meu coração. Afinal, ele já pertence inteiramente a ela e mais ninguém.
Eu perco a força, caio no chão e me desfaço em lágrimas. Quero chorar mais, gritar, fazer essa dor passar. É assim, destruída, desolada e abandonada que eu então percebo: eu não nasci para o amor.
A ferida que carrego no peito doerá por muito tempo como nunca senti antes. Eu estou cansada, eu não quero essa mágoa, eu quero ela comigo, mas como não posso, tomo uma decisão. A partir de hoje, eu nunca mais me envolverei romanticamente com alguém outra vez, é o que eu preciso fazer para proteger o meu coração, se é que ainda me resta um.
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