006 - A rosa laranja
COMO TODO SER HUMANO, existem certas coisas no mundo que eu não compreendo. Seja a origem da vida, por que coisas ruins acontecem com pessoas boas, como a justiça falha, por que o aquecimento global não é levado tão a sério, como é medido o valor do dólar, ou o que de tão ruim eu fiz no mundo para ser interrompida em um momento como este.
Faltava quase nada, a distância entre nossas bocas era com certeza menor que um centímetro, eu conseguia sentir, então Felix chegou, em um timing perfeito.
Yeosang e eu nos assustamos, o castanho dá praticamente um pulo para trás, ele coloca as mãos nos bolsos e olha em outra direção. Eu não sei se quero me esconder ou agarrar o pescoço do Lee com as mãos. Este que julgo dizer que parece até mesmo feliz por interromper, vou encarar o seu sorriso como uma provocação e com certeza não vai ficar barato.
— Então é por isso que você não responde as minhas mensagens? — o loiro questiona, se aproximando de nós. — Te mandei umas vinte.
— Não vi que você tinha me mandado mensagens, eu estava ocupada. — e queria estar ocupada agora também, beijando.
O estraga prazeres, Lee Felix, depois de ouvir a minha resposta, para um pouco mais para frente, ele fica entre o meu acompanhante e eu, o encarando seriamente. Lee o analisa por completo, Yeosang parece um pouco incomodado com toda a situação, mas o encara de volta.
— E quem é o seu amigo, não vai nos apresentar? — Lee pergunta.
— Este é Kang Yeosang. — eu respondo, sem ânimo. — Yeosang, este é Lee Felix. — aponto para o australiano. — Intrometido, exibido e o irmão mais novo do meu cunhado.
— Tsc... Você não vai me apresentar nem mesmo como amigo? — o dito-cujo pergunta.
— Nós dois não somos amigos.
Fuzilo Felix com o olhar, consigo me imaginar dando uma surra nele no taekwondo, ele merece. Ele não sabe quantas vezes eu imaginei aquele momento e hoje estive tão perto, para ele simplesmente chegar e estragar tudo.
Eu gosto de Yeosang já faz um bom tempo, desde que o reencontrei no cursinho. Eu pensei em chamar ele para sair antes, mas nunca teria coragem. Quando ele finalmente me chamou para sair, eu explodi de felicidade, estávamos tendo um encontro excelente, só faltava uma coisa para ser perfeito.
— Eu acho que já vou. — Yeosang diz, depois de alguns segundos em silêncio enquanto eu encaro o terceiro com um olhar mortal. — Tchau, Yumin. Te vejo depois. — ele diz. Sem saber como se despedir direito agora, ele apenas acena, um pouco desajeitado.
— Tchau, Yeosang. Até amanhã. — digo, acenando de volta.
Ele vai embora, eu fico apenas observando, com um biquinho nos lábios e o sentimento de derrota. Felix, você me paga.
É só quando Kang some do meu campo de visão que eu entro em casa, é claro que Lee me segue. Deixo os sapatos sujos do lado de fora, entro em casa e encontro tudo meio quieto, mas um cheirinho gostoso vem da cozinha, o que deve ser alguém esquentando comida.
Mesmo com fome, não vou até a cozinha. Subo as escadas, pisando firme os pés no chão, incomodada com a sombra, não a minha, mas a de Felix. Ele me segue até a porta do meu quarto, apenas onde eu paro e olho para trás, onde ele está.
— O que você quer?
— Nossa, que bom humor. — ele fala, com sarcasmo. — Eu não posso apenas ter sentido saudade?
— Conta outra, Felix. Para de graça. O que você realmente quer?
— Eu só fiquei preocupado. Você não atendia minhas ligações ou respondia as minhas mensagens, fiquei quase uma hora te esperando na porta do seu cursinho, ele fechou e foi só assim que eu descobri que você não foi. Então venho ver se você está viva e te encontro quase aos beijos. — ele balança a cabeça negativamente. — Matando aula por causa de um garoto? Eu esperava mais de você, Kang.
— Você não precisava ser tão exagerado. E até onde eu sei, eu não te devo satisfações.
— À mim com certeza não, mas eu conheço alguém para quem sim. — ele diz, com um sorriso maléfico que informa que eu estou encrencada. — A sua mãe sabe o que você esconde?
Me ferrei.
— Você nem pense em abrir essa boca. — eu o ameaço, apontando o dedo na sua direção.
— Ou...? — ele pergunta, abaixando o dedo.
Eu penso no que usar contra ele, mas a verdade é que ele está em vantagem, eu não o conheço bem o suficiente para saber como o ameaçar, já ele sim tem algo bom para usar contra mim. Estou perdida.
Eu suspiro, frustrada. Eu perdi esta, estou num beco sem saída.
— O que você quer? — questiono, com a voz bem mais calma, sem apontá-lo o dedo ou ser rude. Não tenho como sair dessa, então me rendo. Como não posso o ameaçar, tento então negociar. — O que você quer para ficar de bico fechado?
— Bem, já que eu estou aqui... por que não aproveitamos e passamos um tempo juntos?
Eu olho bem para ele, com esse sorrisinho inocente que engana. Eu não caio nessa. Quer saber? Se ele quiser, que conte. Eu já fui, ninguém pode me impedir agora, aceito as consequências. Estou cansada, com raiva e frustrada, mereço deitar e relaxar.
— Hmm... não, obrigada. — eu entro no quarto e bato a porta na sua cara.
Dentro do quarto, perto da minha janela, sobre a escrivaninha, encontro o vaso de freesias que Yeosang me deu. Então foi aqui que Nari a colocou quando a entreguei. Vou até lá, sentir o seu perfume.
O cheiro suave invade minhas narinas. Como o esperado, elas são lindas e cheirosas. Eu não sei como Yeosang descobriu, mas elas são as minhas flores favoritas. Não sei nem como ele descobriu que eu sou apaixonada por flores no geral, mas foi o presente perfeito. Desde pequena, nesta casa eu já era conhecida como abelhinha, por estar sempre perto das flores.
Jogo-me na cama, esquecendo o fim desastroso do nosso encontro. Aproveito então para abrir o último presente, ao qual Kang fez mistério.
Retiro o grampo que prende a embalagem com cuidado e guardo a sacola de papel. Retirando do pacotinho bem embalado, encontro um livro, um romance, Diário de uma paixão, do Nicholas Sparks. Mais um clássico best seller. Sorrio ao folhear algumas das páginas. Na contra capa, há uma mensagem.
"Entre escolher um romance favorito, eu prefiro criar o meu próprio, mas até que a nossa história seja escrita, espero que os seus dias se tornem mais divertidos em companhia deste livro ^-^
- Yeosang."
Eu sorrio boba com a mensagem. Imediatamente pego o celular, para enviar uma de agradecimento, mas acabo me deparando com notificações de dezesseis chamadas perdidas recebidas de Felix, junto de algumas mensagens de texto. Por hora, ignoro isso e vou direto falar com Yeosang. Tiro uma foto da contracapa do livro e envio para ele, como sinal de "mensagem recebida".
Yeosang-ssi
on-line
[1 foto]
|18:59h ✓✓
Yeosang, muito
obrigada pelo livro,
pelas flores e o dia
incrível.
|18:59h ✓✓
Hoje foi, de verdade,
muito divertido.
Eu só espero que o
que aconteceu no fim
não tenha estragado
todo o resto.
E com certeza meus
dias serão divertidos
relendo este livro.
|19:00h ✓✓
Obrigada <3.
|19:00h ✓✓
Ele visualiza minhas mensagens. Vejo que está digitando, espero ansiosa pela sua resposta, embora antes algo irritante chame a minha atenção. É Felix quem está batendo na minha porta. Saio do chat rapidamente para não visualizar a mensagem e acabar não respondendo.
— Kang Yumin, sua chata! — ele me chama, batendo na porta. Eu ignoro. — Chata, muito chata, chata, chata, chata, chaaaaaataaaa.... — ela cantarola a última parte no estilo ópera.
Ele é extremamente infantil.
Irritada e sem paciência, vou até a porta e abro. Lee, que estava escorado nela, se desequilibra e quase cai para dentro do meu quarto.
— O que deseja? — pergunto, com uma falsa simpatia. Eu reviro os olhos e cruzo os braços.
— Sua companhia. — ele me responde. — Eu vi que você tem uma estufa no quintal. Me leva até lá, eu quero conhecer.
Analiso bem a sua linguagem corporal. Ele fica me olhando com esses olhos grandes, o sorriso doce e inocente tal qual uma criança prestes a aprontar. Penso no que ele pode estar tramando, em qual cilada eu vou me meter caso concorde com seu pedido.
— Vamos, por favor. — ele puxa meu braço, faz biquinho e birra.
Só pode ser brincadeira. Como eu vou conseguir ficar irritada com ele se ele sorri e me olha assim, se fica como um gatinho manhoso no meu pé? Até já esqueci o que ele aprontou comigo.
— O que você 'ta armando, hein? — interrogo, duvidosa das suas intenções.
— Nada. — ele diz, simples. — Eu só quero tomar um ar e conhecer o lugar. Não posso? — ele pergunta, com as mãos nos bolsos da sua bermuda.
— Pode... — minha voz sai um pouco arrastada, ainda estou desconfiada. Seu tom de voz não me inspira sinceridade, penso realmente que ele está planejando algo, eu só espero não me arrepender pelo que digo a seguir. — Tá, eu vou com você. Só espera um pouco, preciso fazer uma coisa.
Deixo a porta livre, assim Felix toma a liberdade de entrar no meu quarto e se jogar na minha cama. Eu vou até a penteadeira, pego o vaso de flores e coloco na janela fechada, assim ela ficará mais perto do sol quando o dia amanhecer. Aproveito para as regar.
— Você tem um quarto bonito. — ele diz. — Eu gosto das estrelas no teto. Elas brilham no escuro?
— Sim. Meus pais colocaram quando eu era criança, mas eu nunca tive coragem de tirar. — respondo. — Talvez elas fiquem aí para sempre, enquanto eu morar nesta casa.
— Por que? Você ainda tem medo do escuro? — ele interroga.
— Não é isso... ou talvez seja. É que... é mais confortável. Se fica tudo muito vazio, então eu olho para cima, vejo as luzes e elas me distraem, fazem eu me sentir mais segura, como se eu ainda fosse uma criança e estivesse com os meus pais ou Yuna.
— Então você já parou para pensar que o seu medo pode não estar no escuro, mas na sensação de solidão?
— Acho que todo mundo sente medo de ficar sozinho, Felix. — eu pontuo. — Eu não vejo problema em ficar um pouco sozinha, mas no final, todos ainda temos medo da solidão eterna.
Depois de arrumar a flor em seu novo cantinho, guardo na estante o livro que ele me presenteou. Lee continua folgado na minha cama.
— O problema é que as pessoas se apegam demais umas às outras. — ele diz, um pouco aborrecido, não sei com quê. — Por isso elas sofrem.
— "As pessoas". — eu aspeio com os dedos. — Você fala como se você fosse diferente de todo mundo.
— Eu não sou assim. — ele argumenta.
— Ah, não? — eu questiono, risonha. — Então você não se apega? — ele nega com a cabeça, eu dou mais risada. — E por quê?
— Porque se apegar sabendo que não vai durar, é apenas masoquismo. — ele diz, dando de ombros. — Eu não me apego a nada, porque com a vida que levei, sei mais do que qualquer um que nada dura para sempre.
Por alguns segundos, eu me calo.
Percebo que eu realmente não conheço Felix. É claro que não, ainda é tudo muito novo. Ele é o irmão do meu cunhado, mas o que mais eu sei sobre ele? Quem era ele antes de vir morar com os Bang? Qual vida levava? Eu não sei nada. Pensando bem, o apelido que demos um ao outro não está totalmente incorreto.
— Você vai comigo ou não? — ele fica de pé, muda de assunto depois que paramos em silêncio por um tempo.
— Sim, vamos. — eu chamo, indo até ele e batendo em seu antebraço, para que ande.
— E aquelas flores, não vai levar para a estufa? — Lee questiona, apontando às freesias.
— Não. Aquelas vão ficar aqui, comigo, onde posso olhar sempre que quiser. — eu respondo. Felix revira os olhos e finge vômito.
Ignorando suas provocações, vou na frente, pela escada até o térreo. Para ir aos fundos, é preciso passar pela cozinha estilo americana, então encontro minha mãe, cozinhando, algo que com certeza não estou tão acostumada a ver.
Han Nari saiu mais cedo hoje, então pensei que o nosso jantar seria fornecido por algum serviço de delivery. Não é que a minha mãe seja um desastre na cozinha, ela cozinha muito bem, apenas não tem o costume, pois trabalha muito e está sempre cansada para esses serviços.
— Oi, tia. — Felix cumprimenta a mais velha. — Que cheirinho bom.
— Oi, Felix. Não sabia que você estava aqui em casa. — ela o cumprimenta também. — Já que está aqui, quer ficar para o jantar?
— Claro, eu fico sim. — ele diz, recebendo um sorriso da minha mãe. — Se a comida estiver tão boa quanto o cheiro, vai ser a melhor refeição da minha vida. — ele bajula a mais velha.
— Quanto exagero. — ela diz, mas está visivelmente feliz com os elogios. — Você merece sobremesa extra! Eu comprei torta de limão.
— Ai, tia, você é a melhor do mundo! — fala o baba ovo.
O que está acontecendo aqui? Felix mal chegou e minha mãe já gosta mais dele do que de mim? Nossa... eu não sei por quem eu me sinto mais traída.
— Tia, me diz uma coisa... — o loiro olha para mim com a cara de quem vai aprontar. — Eu estava aqui pensando e fiquei me perguntando: Quando a senhora estudava, alguma vez já matou aula?
Que babaca. Eu estou fazendo o que ele quer e ele vai me entregar?
Eu o chuto a canela, ele dá um pequeno gritinho de dor. Minha mãe olha para nós dois desconfiada, para ele mancando e eu com um sorriso exageradamente falso.
— Yumin, o que você fez? — ela questiona. — É melhor você dizer de uma vez.
Eu olho para Felix, com raiva, sem saída. Minha mãe não é boba, é claro que ela percebeu o que ele estava querendo insinuar.
Ele me paga!
— Ah, não. Ela não fez nada. — o sonso nega. — É que eu tenho um amigo que mata aula e mente para os pais dizendo que foi. Eu queria saber de alguém que já fez isso como eu poderia convencê-lo do contrário. — ele dá uma desculpa bem mais ou menos. — Eu até perguntaria para ela. — ele aponta para mim. — Mas a senhora sabe que a nossa Yumin jamais faria isso. Não é, Kang? — ele ri, me dando dois tapas nas costas.
— Ah, sim. Nunca. — eu sorrio falsa. — E você nem pode ajudar, não é? Já que nem estuda e nem trabalha. Você já não deveria estar na faculdade? — agora sou eu quem dou dois tapas nas suas costas.
— Eu estou resolvendo a minha transferência para este segundo semestre. — ele diz.
— Eu não acho que posso ajudar muito com isso. Eu nunca faltei aulas sem atestado, nesta casa nós levamos a educação muito a sério. — mamãe diz. — Mas pergunte ao seu irmão depois, uma vez Yuna estava doente e ele fingiu que estava também, para poder ficar o dia todo com ela. — a mais velha diz. — Jovens...
— Sim, senhora.
— Okay, Felix, nós dois podemos ir agora? — eu questiono, antes que ele me complique de algum outro modo. Eu sei que ele tentaria.
— Calma, Yuminnie. — seu deboche me faz querer batê-lo aqui e agora. — Nós vamos à estufa, tia. Qualquer coisa estaremos por lá.
— Está bem. Não demorem, o jantar está quase pronto. — ela fala, antes de sairmos.
Depois disso, deixamos minha mãe voltar a atenção para as panelas. Eu praticamente arrasto o corpo de Felix para o lado de fora, impedindo que ele diga mais alguma besteira. O que ele fez quase me deixou com problemas.
Ele me pediu para ir até a estufa, ele me ameaçou, eu vim, ele disse que não contaria e eu quase fiquei bem encrencada. O que esse garoto quer?
— Qual é a sua, hein? — questiono. — Você quer me meter em problemas? Por sua causa eu quase me encrenquei feio.
— Por minha causa? — ele questiona. — Você já parou para pensar que não se meteria em problema nenhum se você simplesmente não tivesse mentido para a sua mãe?
Infelizmente, ele tem um bom argumento.
— Isso é até verdade, mas se eu não contei, você não tem o direito de fazer isso.
— Fica tranquila, Yumin. — ele diz, segurando os meus ombros. — Ela nem vai saber que eu estava falando de você. Eu disse que era um amigo e, como você mesma disse: "Nós dois não somos amigos". — ele me cita.
— Tsc... babaca. — eu retiro as suas mãos de mim. Não consigo acreditar que ele fez isso por conta daquela frase que eu disse.
Sem mais paciência, eu apenas o deixo para trás e vou até a estufa. Quero acabar com isso de uma vez.
Sem qualquer exagero, a estufa da nossa casa é linda, a mais bonita de todas. Suas paredes tem meio metro de tijolos vermelhos, o resto é todo de vidro, com algumas vigas brancas de madeira. A porta de entrada é enorme, também branca. Quando passamos por ela, há como um corredor enorme cheio de variados tipos de plantas, de decoração à medicinais, tudo isso leva para a parte no fim do corredor que se parece com um gazebo, com o formato arredondado que deixa o ar romântico. Além disso, tem luzes no teto por todo corredor e luminárias de vidro vintage quadradas no teto, dando um toque antigo.
De todos os lugares, este é o meu favorito. É bonito, silencioso e tem o aroma floral.
Assim que adentramos o local, o perfume das flores me deixa calma e leve, é quase como uma droga. Eu recordo de algumas das vezes em que Yuna e eu viemos aqui regar as plantas. Uma vez nós fizemos uma guerrinha de água e algumas delas até acabaram morrendo, nos sentimos tão mal que replantamos algumas mudas, tentando reparar nosso erro. E pior ainda foi a bronca que levamos dos nossos pais, nunca vi a minha mãe tão brava.
Minha irmã e eu fomos induzidas a este mundo da flora desde muito pequenas, foi a vovó quem nos ensinou tudo que sabemos hoje sobre plantas e flores, o nosso lado materno sempre foi muito envolvido nessa área. O meu avô era farmacêutico e minha avó ganhava a vida fazendo essências e perfumes, os dois sempre estiveram muito envolvidos com isso. A paixão pela natureza é algo que herdamos de geração em geração, isso e o dom de falar gritando — esta última parte sendo exceto por mim.
— Que flores são essas? — Lee pergunta, apontando as flores brancas ainda em botões.
— Essas aí são lírios dos vales. — eu respondo. Me aproximando mais um pouco delas, percebo que precisam de um pouco de água. — Já que estamos aqui, por que você não me ajuda a regar algumas? Como sou boazinha, não vou te pedir para colocar adubo.
— Está bem. — ele concorda, pegando o borrifador que eu acabo de encher com a água da torneira do lado de fora. — Yumin. — ele chama a minha atenção. — O que significam? — Felix aponta os lírios dos vales.
— Que são flores.
— Obrigado pela informação, ajudou muito. — ele diz, com total ironia. — Eu quero saber o que elas simbolizam.
— E o que te faz pensar que eu sei os significados? — questiono. Sim, eu realmente sei o significado da maioria delas, mas quero entender como ele chegou a tal conclusão.
— Quando estou com os nossos irmãos, podemos dizer que eles falam muito sobre você. — ele diz. — Quando eu cheguei, antes de te conhecer, eles ficaram com medo de que pudéssemos não nos dar bem, a nossa relação é importante para eles dois. Eles me falaram muito sobre você, pensei que diriam de mim para você também, mas imagino que não, pela maneira como você reage ao descobrir coisas que achei que já saberia.
— Veja pelo lado bom, isso te dá a oportunidade de me fazer conhecer você por quem você realmente é, sem prejulgamentos. Do zero.
— Parece uma boa desculpa para você não ter ouvido o que eles falaram sobre mim, porque sei que falaram. — sou pega. — Mas me fale sobre as flores.
— Está bem. — eu concordo. — Lírios dos vales simboliza felicidade, quer dizer que, sem dúvidas, a felicidade virá. — respondo. — O engraçado é que é uma especie de herbácea altamente venenosa.
— Entendi. — ele balança a cabeça, absorvendo a informação. — E estas aqui? — ele questiona, indo até uma muda de rosas brancas.
— Estas são fáceis e meio óbvias, Felix. Rosas brancas são símbolos de respeito, por isso é comum encontrá-las em túmulos, simbolizam o respeito pela pessoa perdida. Mas rosas tem diferentes cores e diferentes significados.
— Por que a cor tradicional de uma rosa é vermelho e não rosa? — ele questiona, de repente.
— Eu não faço ideia, acho até as rosas mais bonitas que as vermelhas. — digo. — Mas sei que essas aí à sua direita são crisântemos, elas significam: alegria, perfeição e eternidade. Mas quando são amarelas, podem significar amor rejeitado, ou dor profunda.
— Sério? O que você acha de pegarmos uma dessas amarelas para você dar ao garoto de hoje mais cedo? — ele sorri.
— O que eu acho é que você é um boboca.
Deixo esse seu comentário para lá e continuamos pelo nosso tour. A cada vez que passamos por um tipo diferente de flor, ele pergunta seu significado e é óbvio que eu respondo. No começo eu pensei que ele só queria puxar um papo, mas quanto mais ele pergunta, mais eu acredito que o seu interesse por elas é genuíno.
— Estas são calendulas, significam: "felicidade prestes a acontecer". — eu informo, chegando na última parte do nosso tour. — E por último, mas não menos importante, você já viu rosas verdes? — me aproximo das citadas.
— Pensei que fossem mudas de alface. — ele diz.
— Ai, garoto, cala a boca. — eu acabo rindo do seu comentário. — Mas não são, elas são rosas verdes e o seu significado é: "amor nobre, que só existe no céu".
— É uma mensagem muito bonita. Sabe, se as pessoas soubessem o significado por trás das flores, acredito que dar de presente traria muito mais significado. — ele diz, eu concordo. — Mas, espera aí, aquela rosa ali é laranja!? — ele pergunta, confuso, apontando para uma parte do tour que até eu tinha me esquecido.
— Ao menos que ambos sejamos daltônicos, sim, são. Você nunca tinha visto?
— Não. — ele se aproximou mais das rosas alaranjadas, para poder observar melhor. Lee parece fascinado, ele olha as flores com cuidado, toca com delicadeza e borrifa água nelas. — O que elas significam?
— Primeiro amor.
Agora sim chegando finalmente ao fim da nossa aula sobre flores, eu me encosto em uma das mesas, bem ao lado das de cor laranja. Felix faz o mesmo, fica ao meu lado e juntos observamos a "natureza" formar o mais belo cenário de todos.
As mãos do Lee seguram a bancada atrás de si, seus dedos até batucam contra a superfície, fazendo um barulho levemente incômodo, mas que eu não reclamo.
Eu cantarolo uma música qualquer que me vem à cabeça, algo que só faço quando estou sozinha. Olho para o lado, percebendo que ele me observa, então viro o rosto na outra direção. Quando torno a o encarar, sinto na sua postura e expressão facial que ele deseja me dizer algo, mas não faz.
— Você quer voltar? — pergunto. — Eu acho que a minha mãe já terminou de preparar o jantar, eu estou com fome. Vamos?
— Espera um pouco. — ele pede, eu paro e o escuto. — Eu quero te pedir uma coisa antes.
— Pode pedir, desde que isso não coloque a minha vida em risco.
— Eu só quero te pedir desculpas. — ele diz.
Por essa eu não esperava. Tudo nessa minha relação com Felix é imprevisível, tem dias que temos um papo bom e tranquilo, em outros estamos para nos matar. Nós estávamos indo bem, tivemos uma conversa boa no jantar aqui em casa e estaria tudo tranquilo, caso ele não tivesse feito o que fez hoje. Em minha defesa, foi ele quem começou.
— Pedir desculpas pelo que exatamente? — eu questiono, com o corpo virado de frente para o garoto, com meus braços cruzados e ouvidos atentos. Quero ouvir com todas as letras o seu pedido de desculpas.
— Você sabe... — não, eu não sei, quero ouvir da sua boca. — Me desculpe por interromperseubeijo. — ele diz, rápido de mais e sem sequer me olhar nos olhos.
— Te desculpar pelo quê? — eu o forço a repetir, chegando mais perto para ouvir melhor.
— Me desculpe por atrapalhar o seu beijo. — ele diz, agora pausadamente, revirando os olhos ao fim da frase. — Está bem?
— Você fez de propósito, não fez? — questiono. O safado não me diz nada, apenas gargalha, confirmando tudo. — Ya! Qual é o seu problema!? — indignada, eu quase grito. Acho que o segundo dom da família finalmente despertou.
— Veja pelo lado bom, Kang, eu impedi que ele te dissesse que você beija mal. — ele diz no maior tom de provocação possível, e ainda sorri. Idiota.
— Escuta aqui, oh, seu...! — levanto a voz e a minha mão pra lhe dar um tapa, no entanto, mais uma vez provando que tem mais destreza que eu e que pode me prender facilmente, Felix segura a minha mão no ar e a puxa, fazendo o meu corpo ir junto para a frente, colidindo assim os nossos corpos.
Sou capturada pelo seu olhar, sem poder fugir. Assim como a primeira vez, ele me hipnotiza, sinto uma onda de energia se espalhar por todo o meu corpo, como uma faísca, desta vez ainda mais forte.
O seu rosto se aproxima lentamente, com calma. Eu tenho a opção, mesmo assim não quero fugir. O único momento que a sua mão solta o meu braço, é para ir de encontro à minha nuca, e assim, eu só percebo que já estou completamente entregue a ele quando os meus olhos se fecham e os seus lábios tocaram os meus.
É real? Nós estamos mesmo nos beijando? Não parece, mas é. Quanto mais sinto o toque dos seus lábios, mais aquela sensação de certo e errado se prolonga. Eu deveria ter parado? Que se dane! Eu cedo ao beijo, me entregando ao momento. Nossas bocas se completam com tanta sintonia que faz tudo parecer completamente certo.
Sua mão livre pousa em minha cintura e não me deixa escapar, eu não iria a lugar algum. Ele me prende contra a mesa, eu sento-me sobre ela. Felix quis isso tanto quanto eu, é possível sentir. Talvez cada provocação, das duas partes, tivesse sido apenas um incentivo para tentar fazer isso acontecer, para nos fazer tomar a iniciativa de uma vez.
Com ele, aqui, agora, eu não me importo de não o conhecer bem o suficiente, de nossa relação ser complicada, se nunca saímos em um encontro antes, ou se eu morreria de vergonha caso fossemos pegos agora, tudo que me importa são os seus beijos, seus toques e mordidas. Não quero saber de mais nada.
Eu não sei como vai ser depois, se eu vou me arrepender, me afogar no constrangimento, ou se isso vai se tornar frequente, tudo que eu desejo agora é este momento. O que sinto agora, durante esses intensos minutos, é exatamente o que eu estava procurando, o que eu preciso.
— Considere isso como o meu pedido de desculpas. — ele diz, com a respiração ofegante, lábios vermelhos e sorriso ladino.
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