
004 - Uma porradaria amigável e uma série de sentimentos estranhos
EU GOSTO DE DECLARAÇÕES DE amor e gestos românticos, apesar de nunca ter recebido algum. Eu fui a criança que cresceu vendo filmes de princesas, que sonhava em encontrar o seu príncipe boboca que só aparecia no final dos filmes. Mas romances assim não tem graça, eu quero um amor de verdade, daqueles que ardem na alma.
Às vezes quando fico quieta em silêncio, me pego fantasiando sobre a vida. Já imaginei que algum dia eu estaria como agora a pouco, dormindo tranquila, mas que seria acordada com beijinhos e um café da manhã na cama super exagerado. Mas parando para pensar melhor agora, beijos logo pela manhã, com o mau hálito matinal, não é uma boa ideia. E o café da manhã exagerado seria um baita desperdício de comida.
De todo modo, esta é uma realidade fictícia, o que acontece mesmo esta manhã é o meu celular tocando alto. Recebo uma ligação.
— Alô? — atendo, um pouco mal humorada pelo sono interrompido.
— Bom dia, Yumin. — senhoras e senhores, Kang Yeosang. — Eu te acordei? — ele questiona, educadamente do outro lado da linha.
— Yeosang!? — eu tomo um susto, pulo da cama e vou até o espelho, para conferir se não pareço terrível, mas aí recupero a consciência de que esta é apenas uma chamada de áudio e não de vídeo. Ele não consegue me ver. — Não tem problema, eu já ia acordar. Ha-ha. — rio de nervoso.
Eu fico constrangida pela risada, bato a palma na mão na testa. Meu Deus, quem ri assim? Minha risada nervosa é uma das coisas mais constrangedoras e patéticas que consigo imaginar. Parece um pedido secreto de socorro de uma pessoa mantida em cativeiro.
Não sei se me sinto mais envergonhada pela risada que dou ou o silêncio mortal que fica depois dela.
— Então... eu não sabia se você tinha achado o bilhetinho ou se ele foi parar nas mãos de outra pessoa, por isso te liguei. — ele diz. — Você recebeu a minha mensagem?
— Eu recebi. — digo, um pouco sem jeito.
Droga, eu deveria ter ligado antes, ou ter no mínimo mandado uma mensagem de resposta. Porém, eu tive motivos, a confusão que rolou na noite de ontem aqui em casa me deixou completamente perdida; sem rumo.
— Eu iria ligar, mas teve tanta coisa acontecendo ontem... me desculpe.
— Está tudo bem. — ele garante. — Sabe, eu não liguei apenas para confirmar se você pegou o bilhete... — ele ri, um pouco desajeitado ranger. — Yumin, você ainda quer sair comigo? — Yeosang refaz a proposta da biblioteca. — Eu estou livre hoje, podemos ir em uma sorveteria, ou na exposição/feira de livros que está acontecendo aqui perto, conheço uma das organizadoras.
— Hoje? — questiono. Olho no calendário, ainda é terça-feira. — Não dá.
— Quando você pode? — ele pergunta.
Eu caio sentada na cama, frustrada. Estive tão entusiasmada com a ideia de ir num encontro com Kang Yeosang que eu nem me dei conta de que eu simplesmente não tenho tempo para ir em um encontro com ele.
O que eu fiz? Eu estou tão focada em estudar, estudar e estudar mais ainda que acabei de perceber que estou abdicando da minha adolescência. Eu não saio com os meus amigos (Mina), não vou em encontros, não faço idiotices da idade, não me arrisco, eu me tornei um robô. Não tenho vida social, não tenho espaço para ter uma.
— Yumin-ah, você ainda está aí? — ele questiona, depois de um tempo em silêncio. — Está tudo bem se você não quiser sair comigo, tipo, dia nenhum. Eu entendo, de verdade.
Talvez esta seja a hora de experimentar coisas novas, de possivelmente errar um pouco também. Eu sou jovem, não deveria estar trancafiada em um quarto estudando o dia inteiro, eu tenho dezoito anos, outros jovens da minha idade viram noites em festas e beijam pelo menos três bocas por dia.
Não estou dizendo que vou ser imprudente ao extremo, que vou para todo tipo de festa que encontrar, beijar qualquer um que vejo pela frente. Não, não quero ser uma festeira, nem pegar sapinho. O que quero dizer é que a Yumin dedicada aos estudos pode continuar fazendo parte de quem eu sou, mas que ela não deve ser apenas quem eu sou.
— Não é nada disso, a minha resposta ainda é a mesma. — digo, confiante. Não ter que olhar para ele agora facilita as coisas. — Você está livre amanhã?
— Para você, sempre. — ele responde. — Te busco na sua casa às 14:00h? — Kang propõe um horário.
— Então está combinado. — eu confirmo. — Até amanhã, Yeosang.
— Até amanhã, Yumin.
Quem é essa Yumin e o que ela fez comigo? Em mais de três minutos eu consegui manter uma conversa com ele, sem me embolar com as palavras, marquei um encontro e ainda decidi matar aulas amanhã. Eu nem acredito.
Levanto-me da cama, ainda admirada comigo mesma. Eu vou ao banheiro, tomo um banho e visto uma blusa de mangas curtas, de tecido elástico e um short qualquer, minha primeira aula de hoje é de Taekwondo e eu não costumo usar parte debaixo, além de claro, o dobok. Depois disso, desço para a cozinha, para tomar café da manhã.
— Bom dia, Nari. — eu cumprimento a mulher retirando a louça suja da mesa.
— Bom dia, minha princesa. — ela me recebe com um sorriso caloroso. — Pode sentar que eu já vou trazer o seu café.
Eu obedeço a mais velha. Sento-me na mesa e espero pelo café da manhã, ela me traz um iogurte de banana e maçã, com granola, junto de algumas torradinhas e geleia de frutas vermelhas. Eu agradeço e como tudo, Han Nari sempre sabe dosar a quantidade perfeita.
Também sempre como trinta minutos antes da aula, porque assim o meu corpo tem tempo de digerir e eu não passo mal durante, como aconteceu quando comi muito perto ou quando eu apenas não comi. Com tempo sobrando, resolvo fazer algo. Neste meio tempo, em dias comuns, eu provavelmente estaria neurótica com os estudos, mas hoje eu resolvi fazer diferente, apenas sento no sofá e assisto um desenho animado que passa na televisão.
Eu fico entretida com o tal desenho que costumava ver durante a infância, não me lembrava que era tão bom apenas assistir alguma besteirinha qualquer, sem fins educativos. Mais confusa ainda que eu com a minha pequena mudança da rotina, está Mina.
— Quem é você e por que substituíram a minha melhor amiga? — ela questiona, me apontando o dedo em tom de julgamento assim que entra em casa e me vê assim.
— A sua amiga precisava de umas férias. — eu respondo.
— Então você finalmente pensou a respeito sobre a minha ideia de viajarmos nessas férias e vai me levar para uma praia? — ela questiona, animada. Já faz uns dois verões que eu prometi para ela que iria pensar e até hoje sigo pensando, sem respostas.
— Não, vamos com calma.
— Mas, Yuyu, é verão! — ela se esperneia no sofá feito uma criança. — Mas, fala sério. Por que você está assistindo aos Looney Tunes e não uma videoaula de... sei lá, sistema límbico?
— Bom-dia, lindas! — minha irmã aparece, antes mesmo que eu responda para minha amiga.
— Chegando em casa às oito e meia da manhã pela porta da frente e não vindo do quarto... — Shin analisa o trajeto da minha irmã. — Você estava me traindo!?
Yuna não responde, apenas vai até a minha melhor amiga e estala o dedo em sua testa, para ela deixar de fazer piadinhas. Feito isto, ela senta no outro sofá, se dá conta da televisão, mas não reage como Mina, talvez por achar que quem estava vendo tevê era ela e não eu.
É claro que a Shin conta, deixa claro que, quando chegou, a televisão já se encontrava assim. Então aí sim é que a minha irmã esboça exageradamente o seu espanto e supresa. Eu acabo me metendo em um questionário extenso. Era melhor ter estudado sobre o sistema límbico.
Com essas duas, a conversa nunca acaba. Mina sempre está perguntando mais e mais e a minha irmã mais velha consegue tirar de mim toda informação que quer. Uma conversa leva a outra, mais perguntas surgem e eu acabo de alguma forma confessando.
— Yuyu, você tem um encontro! — Mina pulou com os joelhos no sofá, entusiasmada.
— A minha irmãzinha está crescendo. — Kang Yuna finge choro. — Me conta tudo! Quem é o sortudo? — ela contrai as sobrancelhas repetidas vezes, curiosa.
— O doido, você quis dizer. — eu corrijo. — Kang Yeosang. Ele chegou a estudar comigo no colégio antigo e está no mesmo cursinho em que eu.
— E quando vocês dois vão sair? — ela volta com as perguntas, mais e mais. — Para onde vocês vão? Ele vem aqui te buscar? Eu quero conhecer ele, para dar o meu veredito. — a Kang mais velha consegue estar mais animada com isso do que eu, como é possível? — Você já sabe o que vestir? Eu ajudo! Vou arrumar o seu cabelo, como quando era criança. Meu Deus, você não é mais uma criança, agora você já cresceu... está indo para um encontro, vai namorar, casar, ter a sua própria família... me esquecer. — ela choraminga.
— Unnie, menos. — eu peço. — Bem menos.
— A minha garotinha que usava os meus sutiãs e os enchiam com meias enfim cresceu. — ela diz, me constrangendo.
— Tá, mas para onde vocês vão? — Mina questiona, curiosa também. — Você ainda não respondeu.
— Nós vamos em uma feira do livro. — eu respondo. Yeosang deu esta opção e sorvete, mas isso não quer dizer que não possamos fazer os dois.
— Que romântico! — Yuna diz.
— Romântico? — Mina fica confusa. — O que tem de romântico em uma feira do livro? Não é nem divertido, eles poderiam ir num boliche, até um karaokê seria melhor.
— Shin Mina, você não entende mesmo nada sobre romance. — a Kang mais velha diz. — O que torna romântico não é necessariamente o lugar, mas o gesto. A Yumin adora literatura, ele sabe, o que mostra que ele se importa, que ele procurou saber. Ele teve a preocupação de escolher um lugar em que sabe que ela vai gostar e se sentir confortável, entendeu agora?
— Que seja. — ela dá de ombros. — Eu só quero saber mesmo é quando você vai acabar com essa ideia de casamento e perceber que quem você ama sou eu.
A partir daqui eu não intervenho, deixo as duas discutirem. Yuna implica com Mina a mandando crescer e sair das fraldas, já a Shin tira sua paciência com um papo sobre os benefícios do poliamor e a minha irmã não precisar escolher um ou outra. Agora mais do que nunca eu sei, o crush passou e a minha amiga só faz isso para ver a mais velha irritada.
Eu me divirto vendo as duas se provocarem e brigarem. Como Yuna e eu não somos do tipo de irmãs que discutem, ela aproveita para usar este lado com Mina. Elas são tipo isso também, irmãs, mas de consideração.
Isso dura por um tempo, até que a mais velha sobe para o seu quarto. Mina e eu ficamos assistindo desenho enquanto o meu instrutor de Taekwondo não chega. Ele não ten o costume de demorar, mas já está dez minutos atrasado.
Espero um pouco mais, então quando escuto a porta abrindo, sinto-me contente por finalmente poder começar, mas acontece que, quem adentra a minha casa não é Choi San e sim Lee Felix.
— Desculpe-me pelo atraso. — ele pede, mas eu nem mesmo o estava esperando.
— Que atraso? — questiono, confusa. — O nosso combinado é que você me daria carona para as aulas da tarde. — recordo.
— Ah, então você não sabe? — ele questiona, sorridente. Pelo visto não, não sei mesmo. — Eu sou o seu novo instrutor de Taekwondo.
— Oi!?
Olho para a minha melhor amiga, tentando entender se é isso mesmo, mas ela não saberia me dizer. A Shin dá de ombros com os braços abertos, confirmando que não tem como me fornecer uma resposta.
— Oi, eu sou Lee Felix. — ele se apresenta para a minha amiga. — Ouvi falar sobre você. É um prazer te conhecer. — o loiro estende sua mão para ela.
— Eu queria poder dizer o mesmo, mas tenho que saber mais que o seu nome para ter uma opinião formada. — ela aperta a mão do Lee com um sorriso forçado.
Eles não se dão tão bem.
Suas mãos continuam apertadas, eles ainda se encaram. Mina examina o fundo da sua alma, Felix fica tenso, um pouco nervoso. Olhando de fora, parece que a qualquer momento uma briga vai acontecer. Parece que o santo não bateu.
— Você está pronta? — Lee me questiona, mudando o foco quando o clima fica ainda mais esquisito.
— Sim... eu acho. — respondo, um pouco desconfortável com a situação.
— Bem, eu já vou para casa. — Mina se despede. — Mas a sua irmã está no andar de cima. Qualquer coisa, grite.
Depois de me dar um beijinho na bochecha, ela vai embora. Sem mais demora, conduzo Felix até o cômodo mais ao fundo da casa, para a sala que uso como sala de treinamento e Yuna costumava usar como um estúdio de dança.
Felix deixa sua mochila no chão e retira seu dobok, eu pego o meu do armário. Visto-me no banheiro e ele aqui mesmo, na sala de espelhos. Quando retorno, ele está arrumando a sua faixa. E ainda dizem que as mulheres são quem demoram para ficarem prontas.
— Foi por causa dela que eu levei um fora? — Lee questiona, de repente.
Demoro alguns segundos para entender o que ele queria dizer. É sobre a minha amiga.
— E se for? — devolvo com outra pergunta.
— Estranhamente, eu acho que me faria sentir um pouco melhor. — ele diz.
— Então não, não foi. — respondo. — Mina é a minha melhor amiga, apenas isso. Existem certos limites em uma amizade, Felix, e nós duas nunca passamos. — eu esclareço, observando o seu olhar de contentamento. — O que não quer dizer que você tenha uma chance.
— Ah, qual é? Você sabe que me adora. — ele fala, convencido.
— Tem razão, eu adoro... adoro quando está de boca fechada. — brinco.
Felix nada mais diz, apenas faz uma careta. Vejo os seus olhos rolarem e fica por isso mesmo, fim de papo. Nós nos alongamos um pouco, em seguida, Lee pega os aparadores de chute.
— O que você está fazendo? — eu questiono.
— Colocando o equipamento. Quero testar sua força e precisão. — ele responde. O ar escapa pelos meus lábios, emitindo um "tsc". — O que foi? — ele pergunta, dada minha reação.
— Eu faço aulas desde os meus oito anos, Felix. Pensei que fôssemos lutar, a não ser que... — o encaro nos olhos, pela primeira vez sem me sentir ansiosa. — A não ser que você esteja com medo. — eu completo. — O que foi, Lee? Está com medo de apanhar para uma garota?
Felix cerra os olhos na minha direção, ele me analisa por completo. Sua expressão é feroz, ele está como quem diz "você vai se arrepender do que disse". Ele cruza os braços.
— Nós nem temos um juiz. — ele diz.
— Nós não precisamos de um juiz. Vamos esquecer o sistema de pontuação, o primeiro que pedir para parar, perde. — proponho. Ele para para pensar um pouco sobre a ideia. — Vai arregar, fracote? — eu o provoco, e funciona, pois Lee arranca os aparadores e joga para longe.
— Foi você quem pediu. — ele diz, determinado a vencer.
— Eu vou acabar com você. — o ameaço.
Depois de colocarmos o equipamento de luta, Felix vai para um lado do tatame e eu ao outro. Nos mantemos em posição. Antes da batalha física começar, passo por uma interna. Os seus olhos me intimidam, devo admitir. Lee parece determinado, ele tem sede de vitória. Eu tento não me deixar abalar, balanço a cabeça, afasto os pensamentos, as inseguranças e o provoco com um sorriso de canto. Nós dois por fim nos cumprimentamos e assim a disputa começa.
Para mim, o Taekwondo sempre foi sobre libertação. Como uma criança introvertida, solitária e que, de quebra, sofreu bullying, eu precisei de algo para liberar todo o meu estresse e a raiva, foi em tal esporte que encontrei o meu escape. Lutar me deu força, coragem, disciplina. Eu me tornei uma boa lutadora, mas nunca pensei em competir. Todavia, sempre há uma exceção.
Felix ataca, eu defendo. Seus golpes são bons e fortes, mas eu sou mais rápida e ágil. Nunca fui muito de gostar de jogar na defensiva, mas adoro a maneira como bloqueio todos os seus golpes e ele fica cada vez mais irritadiço. Quando canso de ser boazinha, contra-ataco.
Acerto-lhe um chute giratório na cabeça. Se estivéssemos contando os pontos, eu teria obtido a máxima agora com este golpe. Felix perde o equilíbrio por alguns segundos, eu sorrio vitoriosa. Há algo na sua postura que me diz que ele estava pegando leve esse tempo inteiro.
Eu estava correta. Ele luta com mais paixão agora, mais vontade. Adoro isso, a sensação de colocar todos os meus tormentos, raivas, frustrações e inseguranças para fora durante uma briga amistosa. Eu tenho essa personalidade meio passiva, às vezes deixo os outros tomarem as decisões por mim, cedo às vontades alheias muito rápido e raramente me imponho, mas quando piso os meus pés no tatame tudo muda, é como uma persona que assumo, um alterego, uma versão confiante e destemida minha que eu queria ser, mas não consigo.
Um sorriso escapa nos meus lábios quando, com uma sequência de golpes, eu praticamente nocauteio Felix, este cansado e ofegante, sem forças para se erguer. Foi uma luta árdua e intensa, parte de mim gostaria que houvesse uma plateia para nós, eu queria me exibir por tê-lo derrotado, ainda que com tanto esforço.
— Implore por misericórdia, ou morra. — eu brinco, com dificuldade para controlar a respiração e o pé pressionando perto do seu pescoço.
— Nunca! — ele exclama e então, de alguma forma, consegue inverter a situação, me derrubando e ficando por cima do meu corpo exausto.
Suas mãos imobilizam as minhas, assim como a posição em que ficamos me impede de tentar escapar usando os meus membros inferiores, mas mesmo que não fosse o caso, não conseguiria me mover. Eu travo no mesmo lugar.
Ainda não estou acostumada a estar assim tão pertinho, sob o seu olhar. O seu rosto sempre foi tão bonito?
Sim, sempre foi, mas eu me nego a dizer em voz alta, principalmente sabendo do quão narcisista o Lee é.
Relembro da noite em que dançamos juntos, não faz muito tempo. Nós dóis estávamos perto como agora, eu evitava olhar nos seus olhos, mas foi só assim que consegui esquecer, por um tempo, todo o resto. Neste momento, não evito olhar para o seu par de orbes castanhas, tento descobrir o que tanto nelas me chama atenção. Sinto que não estou sendo lógica, que sou irracional. Que sensações são essas se espalhando pelo meu corpo? É a adrenalina? Por que sinto que estou perdendo a cabeça?
— Nunca abaixe a guarda, Yumin. Esta foi a lição de hoje. — ele diz, para então ficar de pé. — Vamos encerrar por aqui, está bem?
Nunca abaixar a guarda. Eu não devo mesmo fazer isso. Não é apenas sobre perder o controle da luta, mas da minha própria mente. Por alguns segundos eu esqueci totalmente tudo o que importa, o meu futuro. O que é esse formigamento nas mãos? A sensação estranha na barriga? O frio que passa pelo meu corpo quando Felix está tão perto? Não tenho tempo para lidar com essas dúvidas agora. Não posso lidar com tudo isso agora.
Um pouco desorientada, levanto. Começo a retirar o equipamento, ficando apenas com o dobok. Ele faz o mesmo, parando para usar o celular em seguida.
— Felix... — eu procuro por um pouco da sua atenção. — Você disse que me daria carona para as aulas de hoje, ainda está de pé?
— Sim. — ele responde. — Vejo você depois do almoço?
— Claro. — respondo. Ainda falta tempo para o almoço. Na verdade, Felix nem completou a hora e meia de aula, nem mesmo chegamos em uma hora, longe disso. — E eu vou descontar do seu salário o tempo de aula que você não me deu.
— Falando assim até parece que é você quem me paga. — ele toca o meu ombro, exibindo um sorrisinho arrogante. — Eu não estou fazendo isso por dinheiro, Yumin.
— E então por quê? — eu questiono, curiosa.
Ele não responde de imediato. Felix me olha nos olhos, respira fundo e, quando penso que vou finalmente entendê-lo, ele torna a me ignorar e usar o seu celular.
Fico meio minuto parada, tentando entender se é isso mesmo. Ele poderia pelo menos se dar ao trabalho de me responder, nem que fosse com um "porque eu quis". Acho que qualquer resposta seria melhor do que ser ignorada. Não me conformo, por isso ainda espero por uma resposta sua, mas o que ele me diz é outra coisa.
— Este é o meu número. — ele fala, no mesmo instante em que ouço o meu celular ser notificado num canto da sala. — A sua irmã me passou o seu. — ele explica algo, mas não o que eu queria saber. — Me manda mensagem quando for para vir te buscar.
E simples assim, ele vai embora.
Fico irritada, mas resolvo não me aborrecer e tentar não pensar nisso, ainda que seja difícil. Por que, que motivo ele teria para isso? As pessoas não fazem favores assim, sem pedir nada em troca. Até mesmo os nossos pais, quando nos dão a vida, já esperam algo de nós.
Recolho os meus pertences e arrumo a pouca bagunça, porque nem com isso ele me ajudou. Depois, procuro por meu celular. Ao encontrar, a primeira tarefa que coloco na mente é adicionar o contato de Felix, mas antes que a minha ação se complete, me deparo com uma mensagem dele, enviada minutos atrás, de quando ele ainda estava aqui.
"Por sua causa, estranha."
É o que diz na sua resposta.
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