003 - Confusão, gritaria e sapatadas
AS FAMÍLIAS KANG E BANG NEM sempre estiveram em uma situação muito amigável. Para falar a verdade, eu nunca soube realmente o porquê. O pouco que me contaram é que esta era uma rixa entre os nossos avós, que os nossos pais tentaram não dar continuidade, mas todos os acordos de paz se firmaram mesmo quando Chan e Yuna começaram a namorar.
Os dois namoram desde o colégio, por volta do nono ano. Quando foram para a faculdade deram uma pausa de um ano, não demorou para reatarem. Eu acompanhei de perto o casal, eles são como o meu modelo de relacionamento. Quero um amor como o deles: verdadeiro, saudável e que só de olhar já se sabe que será duradouro. Quero ter a sorte que eles tiveram de se encontrarem.
Teremos um jantar com as nossas famílias hoje, descobri quando Felix me trouxe até em casa. Minha irmã estava preparando uma torta de limão, foi só então que ela me explicou, ao pedir ajuda com a sobremesa. O que me restou foi fazer as raspas do limão, já que Yuna sempre reclama que as suas ficam azedas, mesmo eu dizendo sempre que é só não deixar pegar na parte branca. Não sou uma grande cozinheira, mas este é tipo, o básico.
Depois de ajudar Yuna com a sobremesa, subi para o quarto e resolvi algumas questões de logaritmo. Cerca de quarenta minutos depois, precisei interromper os meus estudos para tomar banho e arrumar o cabelo. Após pronta, desci para a sala de estar, onde estavam apenas o casal, esperando o restante dos convidados.
— Cadê o papai? — pergunto para a minha irmã, sentando-me no outro sofá.
— No quarto. — ela responde. — E a Mamãe foi tomar banho.
Sem nada mais para fazer, fico por ali, apenas sentada, porque somos proibidos de trazer o celular para a mesa. Também não passa nada na televisão, está desligada.
— Yumin, eu soube que você conheceu o meu irmão. — Chan puxa assunto comigo. — Ele me disse que vocês dançaram no jantar de noivado. Eu sabia que vocês iam se dar bem, eu te disse que ele era legal.
Ele disse? Quando?
Meu Deus, ele disse! Agora eu lembro, foi algumas semanas atrás. Eu estava fazendo o meu resumo de Segunda Guerra Mundial, o que eu deveria ter entregue hoje. Bang disse "O meu pai casou-se com ela, eu nem sabia. De brinde, ainda ganhei um irmão. Tipo promoção: pague um, leve dois". Depois ele disse o quanto o irmão era legal, que eu iria me dar bem com ele e Yuna começou a brigar pela associação que ele fez, algo sobre objetificação. No momento não dei importância para nada daquela conversa.
— A Yumin dançou!? — Yuna fica surpresa. — Woah, eu não te vejo dançar desde o seu recital de ballet, quando tinha dez anos.
— E se Deus quiser, não vai ver nunca mais. — eu digo. — E eu não dancei porquê queria, ele que me arrastou para lá, eu não tive como sair. Se não estivéssemos no noivado de vocês, eu provavelmente daria um chute nas partes íntimas dele e fugiria, mas eu não queria causar uma cena. Seu irmão é meio... estranho.
— Qual é? Dá uma chance para ele! — o irmão postiço pede. — Ele é um cara legal. E você precisa de amigos.
— Pelo preço certo, eu posso ser amiga do seu irmão. — eu brinco.
Chris ri, ele sabe que eu não falo sério. Além disso, não acho que preciso de mais amigos. Para manter uma amizade é preciso tempo e dedicação, eu preciso me preparar para o vestibular, não tenho tempo para mais uma relação. Todos os meus estudos e Mina já me ocupam tempo o suficiente.
Eu não sei como ainda continuo amiga da Shin. Honestamente, não tenho sido a melhor amiga do mundo. No colégio era fácil, estudávamos juntas, ficávamos juntas no intervalo, mas nas férias é mais complicado, eu sou muito focada nos meus estudos, já Mina não. Talvez este seja o motivo para dar certo, ela tem bastante tempo livre e não se importa de ficar comigo enquanto estudo, ou repassar algumas matérias comigo. Agradeço por ela ser tão compreensiva e companheira.
— Talvez eu quem esteja pagando ele para tentar ser seu amigo. — Chris brinca também. — Ele vem hoje, seja legal e não golpeie ele.
— Eu não sabia que era você, já te pedi desculpas! — repito, já perdi até as contas de pela qual vez.
O que acontece é que, houve um dia em que Chan estava saindo daqui de casa em uma madrugada, de fininho. Eu acordei no meio da noite para beber água e o encontrei na porta dos fundos, achei que era um assaltante, então no susto, eu o golpeei nos joelhos com conchas de pau e o derrubei no chão. Acabei acordando os meus pais e ele foi pego, bem feito.
Kang Yuna gargalha lembrando daquele dia, da expressão do noivo ao ser pego no flagra fugindo do quarto da namorada no meio da noite e da desculpa esfarrapada que os dois tiveram que inventar depois. Mas a risada para quando o meu pai desce pela pequena escada, acontece que a história nunca foi esclarecida. Eu não sei se os meus pais são mesmo bobos, ou se só preferiram ignorar a verdade, o que sei é que ficou por isso mesmo.
Meu pai vai à cozinha olhar o que tem nas panelas, mas não encontra nada. Ele não cozinha, minha mãe trabalhou o dia inteiro, minha irmã fez a sobremesa e isso é tudo que ela possui de dotes culinários, eu estive estudando e Han Nari — a minha segunda mãe e diarista da família por muitos anos — não trabalha esta noite. O nosso jantar na verdade está todo sobre a ilha da cozinha, em embalagens do restaurante que pedimos delivery. Papai aproveita para tirar das embalagens antes que a refeição fique com o gosto delas.
Minha mãe desce minutos depois do meu pai, com um pouco de sono e poucas palavras, sem a mínima vontade de socializar.
— Acho que são eles. — Yuna diz, referindo-se aos sogros e cunhado. — Eu atendo. — rapidamente, a irmã mais velha vai receber os convidados.
Doyoung, o pai de Chan, vem junto de Felix e a mulher que acredito ser sua mãe. Ela é muito bonita. Parece jovem, tem os cabelos pretos, franjinha, lábios cheios e bochechas redondinhas. Ela parece ter idade para ser irmã de Felix, o que talvez indica que ela tenha engravidado quando era muito nova, ou que se cuida muito bem.
— Doyoung, Soomin, que bom que chegaram. — meu pai vem para a sala, cumprimentar os dois. — Vamos sentar, estávamos esperando por vocês.
Como o proposto, vamos todos para a mesa. Eu iria me sentar ao lado da minha mãe, mas Chan praticamente me implorou para sentar ao lado do seu irmão. Como sou uma boa cunhada, aceitei.
Como o de costume, meu pai senta na cadeira da ponta. Mamãe à sua direita e Yuna à esquerda. Eu deveria estar ao lado da minha mãe, mas este lugar é ocupado pela mãe de Felix, sendo este ao lado de seu padrasto, já Christopher ao lado de Yuna e eu entre os dois irmãos.
— Yumin, ouvi falar muito bem de você. — Soomin diz. — Você é tão bonita, deve estar cheia de pretendentes.
— Obrigada. — eu agradeço pelo elogio, um pouco sem jeito. — Mas eu não tenho tempo para garotos.
Depois disso, o assunto acaba, dando início a um interrogatório sobre a vida dos Lee antes de voltarem para a Coreia e como é viver na Austrália.
Antes de comermos o jantar de verdade, o prato principal, meu pai nos serve algumas brusquetas. Quando estamos sozinhos em casa, não tem essa de entrada, prato principal e sobremesa, mas, por algum motivo, quando recebemos visitas meus pais inventam essas coisas.
— Você gosta mesmo de mim, não é? — o garoto ao meu lado pergunta. — Veio até sentar aqui do meu lado.
— Não se engane, o seu irmão está me pagando bem para ficar perto de você. — eu minto.
— Seja gentil e eu peço para ele te dar um bônus. — ele entra na brincadeira.
Eu não disse mais nada, fiquei quieta enquanto ouvia a conversa dos outros. Como imaginei, o assunto virou o casamento.
— Quando vocês planejam marcar a data? — a minha mãe pergunta, sua primeira frase da noite. Olhando para ela, sei que o lugar que mais desejava estar agora era na sua cama, dormindo.
— Novembro ou dezembro. — Yuna responde. — Queremos casar ainda este ano. Nós já namoramos por oito anos, é bastante tempo. Acho que não precisamos mais adiar.
— Geralmente é bom ficarmos um ano apenas no noivado, mas não acho que há muito que vocês vão descobrir sobre o outro em um ano noivos que já não tenham descoberto nos oito anos namorando. — papai diz. Teriam sido nove se eles não tivessem terminado no primeiro da faculdade.
— E onde vocês vão morar? — foi a vez do senhor Bang questionar.
— Nós vamos comprar uma casa, já estamos vendo algumas opções. — seu filho é quem responde. — Não se preocupem. Nós nos planejamos antes de tomarmos essa decisão.
Os mais velhos continuam perguntando e perguntando, mas os novos estão preparados para o interrogatório, pois respondem tudo sem deixar os pais muito insatisfeitos. O assunto só dá um tempo mesmo quando minha mãe percebe que ficariam muito mais ali naquele papo, caso ela não buscasse logo o nosso jantar.
Uma vez que nos servimos, comemos. Ou tentamos, já que a campainha toca no mesmo instante. Todos ficam curiosos, quem poderia ser esta hora da noite?
— Você convidou a Mina? — minha irmã me questiona.
— Não. — eu respondo. — Ela me disse que ia para o aniversário de um tio. — explico.
Ainda achando um pouco estranho, a mais velha levanta-se para conferir do que se trata. O resto de nós continua na mesa, comendo, não nos importando muito com o que seja. Provavelmente deve ser mesmo a Shin que voltou mais cedo do aniversário e passou por aqui para me fazer companhia.
Bem, antes fosse. Porque o que acontece realmente a seguir, deixa todos na mesa sem reação alguma.
As conversas, a comilança, a sensação de família feliz reunida; tudo isso se vai em um piscar de olhos quando, sem avisos, de maneira completamente inesperada, Hong Chayoung, a mãe biológica de Christopher Bang Chan, adentra a nossa cozinha. Eu, que estava bebendo um pouco de água quando aconteceu, por pouco não me engasgo. Seu filho deixou os hashis caírem no prato, assustado. Os outros apenas continuaram imóveis.
— Desculpem-me pelo atraso. — ela diz. A mulher nos observa em nosso total espanto, não entendendo a confusão. Mas assim que olha melhor para a mesa, ela percebe. — O que você está fazendo aqui? — ela questiona, brava, para a mãe de Felix. — Achei que este fosse um jantar de família. O que foi agora? Vai querer agir até como se fosse a mãe do meu filho? Não foi o bastante para você roubar o meu marido?
— Mãe, por favor... — Chan se levanta da mesa, envergonhado.
— Você disse que era um jantar de família, filho. Eu achei que, como a sua mãe, eu fazia parte disso. — ela diz, parece magoada. — Achei que ao dizer, você estava me convidando, mas eu acabei de perceber que não era nada disso.
— Sogrinha, por favor, vamos conversar. — Yuna tenta mediar a situação, mas é difícil.
— Não se incomode, querida. Já percebi que a minha presença não é necessária aqui. — ela fala, com raiva e já querendo chorar. — Ela conseguiu roubar até mesmo o meu filho de mim.
— Eu não roubei ninguém de ninguém! — Soomin, mãe de Felix, resolve falar e não mais apenas ouvir. — Quando Doyoung e eu ficamos juntos vocês não estavam mais. Eu não sou a destruidora de lares que você quer me fazer parecer, vê se entende.
A cada segundo que passa, a briga parece o clima parece ficar mais intenso. Yuna fica desesperada, tentando apaziguar tudo, Chan vai até sua mãe e tenta convencer ela a sair. Meu pai não sabe como reagir, mamãe sai para tomar um remédio de dor de cabeça, o senhor Bang ignora tudo, Soomin revida e Felix se encolhe no próprio lugar, querendo apenas desaparecer.
— Por que eu deveria sair? — Chayoung questiona. — Eu sou sua mãe, Christopher Bang. Você deveria ficar do meu lado, não do dela.
— Eu não estou do lado de ninguém, mãe. Eu só queria ter um jantar em paz. — Chan fala, chateado. — O meu noivado não foi o suficiente? Soomin teve que ir embora para que vocês não fizessem um escândalo. Eu aceitei naquele dia, porque Yuna não merecia uma briga no dia do noivado. Mas se isso continuar assim, vou ter que tirar uma das duas da lista de convidados do casamento.
— "Uma das duas"? — Hong questiona, ofendida. — Está mesmo pensando em convidar esta mulher e não a sua mãe?
— A senhora é a única aqui que está arrumando confusão.
A mãe dele o observa triste, com raiva e desapontada. Eu posso entender um pouco como ela se sente, sendo possivelmente impedida de estar no casamento do seu único filho, não deve ser fácil. Mas toda essa briga é completamente desnecessária, elas poderiam resolver as suas diferenças de outro modo.
— Se você pudesse se controlar pelo menos uma vez, Chayoung, nós poderíamos ficar em paz. — Lee Soomin diz, cansada.
— Tira o meu nome da boca, sua piranha! — a outra mulher grita, partindo para cima da atual do seu ex-marido.
Por sorte, Bang é rápido e segura sua mãe antes que um desastre aconteça. O pai do noivo agora levanta também e começa a discutir com a ex-mulher, em defesa da atual. Meu pai e Yuna tentam acalmar os nervos de todos, o que parece impossível.
A sala de jantar parece um ringue de luta. A atual senhora Bang tenta revidar quando a antiga pega o chinelo de borracha que usou ao entrar em casa e joga nela. Eu só consigo ouvir gritos e os passos de minha mãe subindo as escadas, fugindo dessa briga idiota. Ao meu lado, o outro Lee cobre o rosto com as mãos e abaixa a cabeça, colando a testa na mesa.
— Aí. — eu dou uma cotovelada em Felix. — Você quer ir ver o quintal? — pergunto, a fim de o tirar daqui.
Ele concorda, sem relutância alguma. Felix com certeza queria estar em qualquer outro lugar que não fosse ali.
Nos fundos da casa, o levo até o balanço. Não é um balanço comum, ele é muito bem maior que os tradicionais, se parece mais com uma grande cama de madeira flutuante, presa nos galhos de uma árvore enorme no nosso quintal. É o que eu chamo de refúgio.
— Me desculpe por virmos até a sua casa causar confusão. — ele pede, cabisbaixo.
— Não é culpa sua, Felix. — eu digo, balançando-nos com os pés.
— Eu só não queria estar no meio disso, dessa confusão. É chato para Chris também. — ele diz. — No dia do noivado ele estava tão feliz que estávamos lá, mas então a sua mãe chegou e as duas quase começaram a discutir na frente dos outros convidados, então foi melhor voltarmos para casa. Eu fico triste por ele, ele só queria a família toda reunida. — Felix suspira. — Talvez sejamos uma família apenas na minha cabeça.
— Vocês são uma. — eu digo. — Chan te adora, ele é o seu irmão. Já sobre a sua relação com o senhor Bang, eu não sei, mas ele parece gostar muito de você também.
— Ele é um homem bom, me trata como se eu fosse seu filho também. — Lee esclarece. — Eu fiquei animado em ter a família que eu não tive em anos. Este foi o primeiro lugar em muito tempo em que eu me senti em casa novamente.
Fico quieta, sem saber como o consolar ou se sequer devo dizer algo. Seguro a corda ao meu lado e novamente tomo o impulso com os pés, nos balançando um pouco mais. Felix também fica calado, sem saber como continuar com este assunto ou apenas pular para um próximo.
Continuei fitando meus pés. Eu gostaria de as vezes conseguir puxar algum assunto com alguém, nem que sejam conversas bobas. Porque quando se fica em silêncio por muito tempo, o clima fica tenso, chato e terrivelmente desconfortável. Mas eu não disse nada, não queria ser intrometida. Talvez até devesse ser um pouco, ele parece mesmo ser alguém que precisa conversar.
— Você vai precisar de carona para as aulas de amanhã? — ele questiona, tomando impulso com seus pés também, mudando de assunto. — O que acha de tomarmos um sorvete depois?
— Sim para a carona, mas não para o sorvete. — eu respondo. — Tenho que voltar para casa e estudar.
— Achei que o papo de não ter tempo para garotos era fachada. Eu sei como esses papos de tio incomodam. — ele diz. — Que pena, eu sou uma ótima companhia. — Lee dá de ombros.
— Isso significa que você está interessado em sair comigo? — questiono, já sabendo a resposta.
— Estou. — ele não tem problema em admitir. — Por quê? Qual o problema?
— Nenhum, eu acho. — somos solteiros, acho que temos a mesma idade, não devemos à justiça... acredito que não tenha realmente um problema. — É que nós mal nos conhecemos.
— Eu estou te chamando para sair, não para casar.
— Grosso! — eu o chuto a canela, o fazendo gritar com a dor.
— Eu só estou dizendo que o propósito de um encontro é justamente este: conhecer melhor um ao outro. — Felix se defende.
— E quem disse que eu acertaria ir a um encontro com você? — questiono, me fazendo de difícil.
— E quem seria o louco que se recusaria a ir em um encontro comigo? — ele devolve com um questionamento. Convencido.
— Parece que... eu!
— Para de ser assim... — ele faz uma careta, emburrado. Pelo menos ele esqueceu o que aconteceu na sala de jantar e os gritos até pararam. — Você me irrita, Yumin. Sabia?
— Problema seu, acostume-se.
Respiro fundo, não me sentindo mais tão desconfortável. Chan estava certo, Felix é legal, tenho que admitir. Normalmente demora um tempo para que eu consiga me sentir tranquila perto de alguém que conheço pouco, tenho medo do que posso acabar dizendo e do que a outra pessoa pode fazer com tais informações. Mas com Lee é diferente, ele me faz sentir confiante das suas boas intenções, eu sinto que com ele não vou ser julgada por alguma bobagem que eu falar. Acho que estou depositando confiança de mais em um estranho.
Por falar em Chan, consigo o ver daqui, na porta dos fundos que tem vista para a sala de jantar. Ele está chateado, sentado em uma das cadeiras, com as mãos escondendo o rosto, os braços apoiados pelos cotovelos na mesa. Olho para o outro irmão ao meu lado, também magoado, sentindo-se culpado apenas por ser feliz, o que não faz sentido, mas é o que ele sente.
Quando volto a olhar para a casa, percebo minha irmã agora ali também, de joelhos de frente para o noivo, ela toca o seu joelho e o faz a encarar. Yuna então abre os seus braços e Chris a agarra com força, ela faz carinho na sua nuca e dá tapinhas nas suas costas. Ele deita em seu ombro, ela beija-o os cabelos. É lindo de se ver sempre a maneira como eles se apoiam e cuidam um do outro, me deixa até com um pouco de inveja.
— Ei, estranho. — eu chamo a atenção de Felix. — Você acha que nós dois vamos ter algo assim algum dia? — questiono.
— Nós dois. Tipo..., juntos?
— Não, falo de uma maneira geral. — explico. — Será que algum dia nós vamos encontrar a nossa outra metade? — questiono. — Felix, você acredita em soulmates?
— Não. — ele responde, sem precisar nem pensar.
Eu fico sem saber o que dizer por três segundos. Está tudo bem duas pessoas terem crenças diferentes, mas duas pessoas também sabem que o oxigênio existe, mesmo que não possamos ver. Porque o amor é como o ar: não se vê, sente-se.
— Como assim "não"? — interrogo. Ele pode não acreditar no conceito de almas gêmeas, mas e quanto ao encontrar a "pessoa ideal"?
— Assim, ó... não. — ele dá ênfase. — Isso não existe, estranha. É como o Papai Noel, apenas uma invenção do capitalismo para gerar lucro. — ele argumenta.
— Você não acredita mesmo, que em algum lugar do mundo, tem alguém que foi feito para você, 'pra te amar? — eu pergunto. — Olha para eles, Felix. — aponto os nossos irmãos, agora trocando alguns beijinhos. — Você acha que poderia existir mais alguém no mundo um para o outro que não sejam eles mesmos? Eles estão destinados a ficarem juntos.
— Ah sim. — ele concorda, até que completa: — E depois do casamento, o destino deles será o divórcio. — o loiro dá de ombros.
Eu fico chocada, como ele pode dizer algo assim? Yuna e Chan são o melhor casal do mundo, se eles terminarem... então o amor não existe. Eles foram feitos um para o outro, até um tolo consegue ver. Mas aparentemente não o tolo ao meu lado.
— Aish. — eu reclamo. — Você ainda vai me dar razão.
— Você não acha que é um pouco autoritário da sua parte colocar as suas crenças em cima de outra pessoa? — ele questiona.
— A igreja vem fazendo isso há séculos e eu não vejo ninguém reclamando. — eu contra-argumento. — Esta é a minha ditadura, a partir de agora. Você vai crer, Felix. Pode apostar.
— E por que eu faria isso? — ele questiona.
— Porque eu vou te fazer acreditar. — dou o meu ultimato.
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