34. Fantasma
Prisão Balsa, Oceano Atlântico
A L I C E
A feição de Ross ao me ver ali foi impagável, a descrença estava estampada nos seus olhos, e pude perceber o homem forçar um sorriso, talvez tentando ser simpático apenas pela presença influente de Stark. Caso contrário, eu provavelmente estaria sendo carregada para um interrogatório e, talvez, seria jogada em uma daquelas celas também.
— Não sabia que viria, Dolohov. Você me deve um mutante.
— Ele escapou. Sua contenção não serviu, a ponta da agulha era de ferro. — Minto descaradamente, sem sequer me importar mais.
Não eram meus valores morais que estavam em jogo nesse momento.
— O jatinho de Charles Xavier foi visto. Tem certeza que ele não estava com um a mais lá?
— Não posso dizer com certeza, eu não cheguei a vê-lo. Mas Lehnsherr estava com um a menos. Tigra.
— Tigra não-
— Era uma agente dupla, eu já sei. E foi por ela que Erik chegou até mim e quase me matou.
— Mas você está viva, não?
— Por muito pouco.
— Então vai acatar minha ordem e capturar Barnes?
— Na verdade, após as missões eu obrigatoriamente tenho uma semana de folga, então como a minha missão com Lehnsherr chegou ao fim, estou reivindicando e adiantando-a, também fazendo uma hora extra, acompanhando o senhor Stark. Se importa?
O homem bufa, encara os outros ao redor, e os seus soldadinhos nos cantos da plataforma, talvez buscando uma resposta. Minha postura era relaxada, tranquila, não iria e nem podia me exaltar. Estava usando a lógica e argumentos válidos contra ele, mesmo sabendo do seu orgulho ferido. Ele não iria querer parecer uma criança birrenta na frente de outras pessoas, e eu usava isso ao meu favor.
— Tudo bem. Descansar, capitã. — Ele diz, e eu bato continência apenas por respeito a farda, voltando a posição relaxada de antes.
Ross nos guia para dentro, passando pelos protocolos de revista antes de chegar a parte da prisão em si, no andar que os outros estavam. Não o sigo, ficando na área do lado de fora, enquanto Stark segue para dentro, para ver Wilson. Pouco tempo depois posso ouvir o resmungo de Ross sobre a falta de áudio, e contenho uma risada. Stark e suas artimanhas, sempre impressionando.
Vejo quando o moreno retorna, sem me dar qualquer olhar ou sinal, apenas pegando um dos seus remédios para dor e perguntando onde é o banheiro. Deixo que o guiem, e sigo o corredor lateral quando vejo Ross passar para lá, sempre me dando um motivo para desconfiar da sua movimentação.
Por ver as câmeras no corredor, jogo os prendedores eletromagnéticos, sabendo que causariam interferência nas câmeras. Não me surpreendo quando, pela boa audição, ouço os cochichos na sala que Ross entrou. Entro na sala ao lado, erguendo o gravador até o controle de ar, e aumento minha audição.
— ...senhor não pode atacar agora.
— Não posso e não vou, mas tenho que ficar esperto. Alice é uma deles, no fim das contas.
— Da Irmandade?
— Não… Ela está do lado de Rogers. Eu a pus na missão com Erik sem saber se ela conseguiria ou não completar. Sendo uma mutante, eu achei que fosse ser corrompida por Lehnsherr. Não confiava em uma palavra sequer que ela dizia após ter se infiltrado na Irmandade.
— Os relatórios que ela mandava…
— Eu nunca abri. Não confiava. Não depois de saber que Tigra havia sido corrompida também, por isso ordenei e deixei que fosse morta. Como imaginei que faria com Dolohov também.
— Mas Dolohov é uma boa agente, senhor. Nos serviu por dez longos anos.
— Mas é uma mutante, é perigosa. E agora está defendendo Barnes. Entende o perigo que essa mulher representa?
— Barnes é inocente, não? Os arquivos de Stark, da CIA, já comprov-
— Barnes é uma máquina de matar, e deve retornar aos Estados Unidos. Entendeu?
— Sim senhor.
— Eu tenho que manter Dolohov em rédeas curtas o máximo possível. Sei que se pudesse ela já teria rasgado minha garganta. Não posso deixar essa mulher sem controle por aí. Não posso.
— Sinal vermelho para a Tigresa Branca, então?
— Amarelo, por enquanto. Quero o dobro de atenção nela. Se a cura não fosse reversível, já teria usado há muito tempo…
Passos no corredor me chamam a atenção e eu empurro meu pé contra a porta e a maçaneta, impedindo que a porta ali fosse aberta, mas quem quer que fosse, apenas passa direto, abrindo a porta que Ross estava. Com o aviso de que Stark já estava indo embora, Ross segue ao lado do outro agente. Deixo que os passos fiquem mais baixos e só então saio dali.
Guardo o gravador quando entro na sala que Ross estava, vendo uma maleta aberta ali. Mais uma pistola de contenção e uma coleira inibidora de poder. Duas armas feitas especialmente para controlar o gene x, sempre me causaram repulsa, e agora sabia que Ross pretendia usar em mim, como Lehnsherr havia me avisado. Por via das dúvidas, peguei os dois itens, guardando na mochila, e fechei a maleta, deixando no canto da sala.
Saí dali, seguindo direto para o helicóptero, vendo Stark falar algo com Ross. Passei pelo homem sem lhe olhar, apenas entrando na aeronave com Tony, e enquanto me sentava no banco, reativava som e imagem da câmera do corredor em que passei. O coração ainda estava um pouco acelerado pelo que ouvi e fiz, mas tranquila por saber que não seria pega, e tinha provas contra Ross.
— E então?
— Sam falou. Estão indo para uma base da Hidra na Sibéria.
— Eu já sabia.
— E porque você não disse, diaba?
— Não sabia se você era confiável.
— Garota…
— Como vamos chegar na Sibéria rápido o suficiente? Estamos no meio do atlântico norte.
— Põe o dedinho aí. Aí mesmo, sem medo. — Ele diz, apontando para uma espécie de botão.
Vejo quando ele mesmo o faz e parece ser envolto por uma das suas armaduras. Obedeço, e vejo meu corpo também ser automaticamente vestido com uma daquelas, além da minha bolsa, que agora estava dentro de uma maleta acoplada ao meu corpo. Logo o traje liga, seguindo Stark numa velocidade extremamente rápida por entre as nuvens.
— O piloto automático da armadura está ligado, as coordenadas são as mesmas que as minhas. Pode me ouvir bem?
— Posso.
— Perfeito. Parabéns, capitã. Você é a primeira a experimentar a Resgate.
— Resgate?
— É só um protótipo, por enquanto. Fiz pensando na Pepper, mas..
— Não precisa explicar demais. Essa coisa vai nos levar rápido o suficiente até a Sibéria?
— Se olhar para baixo a senhorita já terá visão da costa de Portugal. — Ele diz, simulando a voz de uma comissária de bordo, o que me faz rir um pouco.
— Se eu olhar pra baixo eu vou vomitar.
— Na minha armadura não! Dolohov…
— Não vou, relaxa.
Ele ri e se cala, finalmente, então seguimos o percurso até a sibéria. Em alguns lugares, a falta de nuvens realmente nos permitia ver os lugares a qual passávamos por cima, mas alto e rápido demais para prestar atenção em algo. A armadura cumpriu seu papel. Nos deixou irrastreável por todo o percurso, e logo pousamos na neve, vendo o Quinjet ali, ainda sem neve por cima, um sinal de que havia chegado há pouco tempo.
Me desfiz da armadura quando Stark usou o código da aeronave, e a deixei ali dentro da maleta a qual minha bolsa veio. Carreguei minha mochila comigo, sem me preocupar em usar traje tático, apenas ativando minha mutação e ficando com o corpo híbrido, protegida do frio e de riscos demais por conta da pele de tigre.
Segui Stark para dentro, vendo quando sua armadura lhe indicou duas assinaturas de calor e ele abriu uma porta para dentro da base. Pude ver Steve e Barnes ali, aparentemente a postos, e mantiveram a posição ao nos ver. Stark ergueu as mãos e abriu o capacete da armadura. Eu permaneci híbrida, e com meus olhos no moreno.
— Eu vim como amigo, Rogers. Eu estava errado, e já percebi isso.
— Sobre o que exatamente está falando?
— O Tratado, Viena, o atentado… O enviado do mal aí… Já estou com tudo relacionado ao culpado. O verdadeiro culpado.
— Hm.. Alice, você confia nele?
— Ele mentiu pra o maior babaca do exército, então.. Por enquanto, sim.
— Por enquanto?
— E já é muito. — Retruco quando ele me responde quase incrédulo. — Está tudo bem, Capitão.
— Bom te ver então, amigo. — Rogers diz, estendendo a mão para Stark.
— Senti sua falta, dentinhos perfeitos. — O moreno responde.
Passo por eles, seguindo até Barnes, mas vendo como ele reage com a minha proximidade. Esquivo, nem mesmo sustentava o olhar. Não iria reclamar, talvez ainda devesse estar assimilando tudo. Ele precisava de tempo, e eu não iria impedir ou forçar algo.
Seguimos os quatro para a salinha que Bucky nos guiava, provavelmente onde estavam os outros supersoldados. As cápsulas estavam violadas, cada uma com um tiro certeiro na cabeça, mas uma delas parecia vazia e inutilizada há algum tempo. Uma voz chamou nossa atenção, vinha abafada de uma salinha, e logo a mesma voz pôde ser ouvida pelo som externo.
— Se serve de consolo, quatro deles morreram no congelamento.
— Quatro? Um já é suficiente para fazer um estrago imenso. Onde ele está?
— Na verdade, ainda está aqui. Mas, sabe.. Não sou eu quem o controlo.
— E quem é?
— Ele mesmo. Na sala ao lado deve estar o corpo de Stryker, quem deve ter despertado ele, por algum interesse, claro. Pelas anotações, o supersoldado era um mutante também.
Sinto meu corpo se arrepiar com aquela informação, como se meu sexto sentido para o perigo me avisasse que havia algo errado ali. Todo esse mistério parecia ligar a uma pessoa só, e toda essa caça aos mutantes me deixava incerta.
— Você não quer os mutantes, não quer os supersoldados… O que você quer?
— Um pouco de vingança, quem sabe?! Depois de ter perdido tudo.
— Você é sokoviano?
— Eu, e toda a família e amigos que eu perdi.
— Sabe que não foi nossa culpa. Fizemos o que pudemos.
— Não fizeram o bastante! — O homem responde as tentativas de conversa de Rogers.
— E é por isso que você usa a imagem de um homem inocente? Existem outras formas de chamar atenção sem incriminar outras pessoas. — Stark sai em defesa de Barnes, e posso ver quando o homem parece surpreso.
— Inocente? O Soldado Invernal está muito longe de ser inocente. E você, Anthony Stark, deveria saber disso muito bem.
Steve e Barnes parecem se entreolhar, e a feição de curiosidade de Stark sobre os dois é ainda maior. Pareciam saber de algo em comum, envolvendo o moreno. E novamente sentia aquela ansiedade dentro de mim. Algo estava perto demais de desmoronar, e isso fazia meus pelos se arrepiarem.
— Relatório da missão, Soldado. 16 de dezembro de 1991.
— A data.. A data que meus pais morreram. O que ele tem a ver com isso?
— Oh… Então o segredo ainda está guardado. Que bom.
— Que segredo? — Tony pergunta, agora virando para Steve como se houvesse uma gigante interrogação na sua cabeça.
— Seja o que for, não deve ser algo revelado agora. — O loiro argumenta.
— Deve ser sim, Capitão. É o momento perfeito para isso. — Zemo diz, fazendo uma imagem aparecer numa pequena tela ali. — Um império arruinado por seus inimigos pode se reerguer, mas um que desmorona de dentro para fora? É morte. Para sempre.
Minha atenção não é tomada por isso, então deixo que apenas Stark se aproxime. O vídeo parece rodar lentamente, mas em questão de um minuto e meio ou dois, a tensão na sala já era outra. Bucky tinha o olhar travado nos próprios pés, Steve e Stark respiravam ofegantes e se encaravam. E pelo que pude ouvir do vídeo, sabia bem o que aconteceria ali.
— Tony! Ele não sabia, não tinha culpa.. — Steve tenta argumentar.
— Você sabia?
— Sim. Descobri quando estava investigando, mas veio Sokovia, veio o Tratado, e a sua separação com Pepper.. Eu não podia falar, Tony!
— Podia! Podia e devia!
— E você entenderia?! Teria a mesma reação que está tendo agora!
— Ele matou minha mãe.
— Não era ele! — Intervenho. — Você sabe tudo dele, sabe que ele estava sendo controlado desde o fim da guerra. Não seja burro, Stark!
Ele me encara, respirando fundo e parecendo querer se conter, ou tentar ao máximo. Mas um ruído alto me chama a atenção. A porta da sala de onde Zemo estava parece ser aberta a força. O próprio homem parecia assustado, e aquilo só podia significar uma coisa. Quando a iluminação da sala aumenta, um corpo largo salta na direção do moreno, e seu grito é abafado por um meio rugido.
— Hmm. Essa voz… Vinte anos depois e eu sei que poderia reconhecer você até no inferno, Alice. Inferno esse que você quase me colocou. — Meu corpo enrijece completamente quando escuto aquele timbre. Aquele diabo de voz, que mesmo depois de tantos anos, ainda me perturbava.
— Quem é esse?
— Se quiser ser menos requintado, Sr Stark, pode me chamar de Tigre Siberiano.
A figura masculina se levanta, fazendo-se perfeitamente visível para nós pelo vidro, com o mesmo olhar cruel a qual eu me lembrava, e um cigarro entre os dedos, que faz meu corpo estremecer. Eu sequer conseguia beliscar a mim mesma para ter certeza de que era tudo real. Não podia ser. Eu…
Eu atirei nele.
Eu matei ele.
Eu tinha certeza disso.
— Ele é Dimitri Nikolaev. Meu…
— Pai.
※ ══ • ⊰ Ⓐ ⊱ • ══ ※
Oiee!
Mais um pouco de ação, e o demônio está de volta!
Quem queria dar um tiro no pai da Alice, agora tem a oportunidade!
Nos vemos no próximo, porque vem mais briga por aí!
Beijoss 🤍
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