24. Contato e Estratégia
Bucareste, Romênia
A L I C E
Já havia tomado banho e arrumado uma bolsa para três dias antes de ir me trocar. Recebi a mensagem de Erik quando estava quase pronta, e o mandei subir enquanto calçava o tênis e vestia a jaqueta. Prendi o cabelo em um rabo de cavalo alto e, voltando para a sala, pus Alpine na caixa de transporte com ração seca e patê.
Ouvi as batidas na porta e caminhei até lá, sem pressa. Vi Isaac na frente assim que abri e sorri gentil para ele. Já sabia o motivo dele estar aqui e o pedi que entrasse enquanto eu pegava o gato. Não queria deixar Alpine na mansão de Lehnsherr com todas aquelas pessoas, e tinha em mente deixá-lo com Barnes, mas depois do episódio de mais cedo havia mudado totalmente de ideia.
— Ele é bem dócil, come três a quatro vezes ao dia e faz as necessidades só na areia. — Explico, lhe entregando a caixa de transporte e a outra com areia limpa.
— Não se preocupe, querida. Tive gatos por boa parte da minha vida, são adoráveis. Sei cuidar.
— Me conforta saber. — Digo, vendo o sorriso sincero do senhorzinho. — Obrigada, Isaac.
— Não há de quê. Aproveite o passeio. — Ele diz, e eu assinto.
Me despeço de Alpine e vejo o homem levá-lo. Assim que ele passa da escada, vejo Erik chegar. O homem sorri ao me ver e desvia rapidamente o olhar para Isaac na escada. Espero que se aproxime e dou passagem na porta para que ele entre.
— Ma belle. Como é bom vê-la. — Ele diz, galanteador como sempre, puxando a minha mão para depositar um beijo.
— Digo o mesmo. Já estou pronta, me deixe apenas checar as janelas da casa.
Ele assente para o meu pedido enquanto pega a alça da minha bolsa lateral, esportiva, erguendo-a e passando pelo ombro. Confiro as janelas do quarto, sala, banheiro e corredor. O gás embutido do apartamento e as tomadas, não deixando nenhum eletrônico ligado. Só então volto a sala, vendo Erik parado exatamente onde estava antes, vendo algo no celular.
— Podemos? — Ele pergunta, e eu assinto.
Ele sai, levando a minha bolsa, e eu tranco o apartamento, deixando a chave num bolso interno da minha jaqueta. Descemos juntos, indo direto para o carro, onde Azazel esperava do lado de fora. Entramos após o mutante abrir a porta para nós e logo circular o carro e entrar na frente, dando partida.
— Aquele idoso que estava descendo.. é parente seu? — Erik puxa assunto.
— Não, é apenas um vizinho. Deixei que cuidasse do meu gato até eu voltar.
— Entendi.. Poderia ter deixado ele na mansão, Tigra ou Nicole poderiam tomar conta.
— Ele é um animal bem ansioso, não sei se ficaria confortável na mansão. Até pensei nisso, mas achei melhor assim.
— Sem problemas, querida.
Permanecemos em silêncio pelo restante do percurso. Eu descansando com a cabeça no encosto do banco, apreciando a paisagem conforme Azazel dirigia, e Erik trocando mensagens por todo o tempo. Parecia estar resolvendo algum assunto sério, e usei isso como desculpa para não interferir, não conversar.
Assim que chegamos na mansão, Erik pegou minha bolsa outra vez e me guiou para dentro, deixando Azazel ir guardar o carro na garagem. Conforme entramos e subíamos, alguns outros mutantes me cumprimentavam, sempre usando meu sobrenome odioso ou meu apelido tático. Nenhum dos dois me deixava confortável.
— Seu quarto, chérie. — Erik diz, me apontando a porta.
— Obrigada. — Digo, apenas por costume, e pego a bolsa, tirando a chave do cômodo.
— Acordo você as sete. Saímos as oito, podemos tomar café no jatinho, na viagem.
— Pensei que iríamos com Azazel, por ser uma viagem mais longa.
— Infelizmente Azazel estará em outra missão. — Ele responde, sem entrar em mais detalhes.
Fico tentada a perguntar qual seria, o que estaria fazendo, e porque ele não me designou para aquela missão ao invés da viagem. Ou melhor, quem ele designou para aquela missão. Imaginava que se Azazel estava lá, os melhores dos melhores estariam também. Significando que, talvez, a mansão ficasse sem a devida proteção por um tempo…
Mas eu não poderia fazer nada, estaria em Berlim com ele. Droga.
— Entendi.. Bom, obrigada, Erik.
— Por nada, ma belle. Se precisar de algo, meu quarto é esse. — Ele diz, apontando para a porta seguida da minha. — A qualquer hora.
— Agradeço. Boa noite.
— Boa noite.
Assim que ele se despediu, segui para dentro do quarto. Observei atentamente uma, duas vezes. Chequei pequenos pontos e ativei meus sentidos como podia, me certificando de que estava segura ali.
Não queria desconfiar de Erik, muito menos dos seus outros companheiros, mas era necessário. Eu não estava aqui para ser amiga dele.
Por já ter tomado banho, apenas troquei de roupa, pondo um pijama confortável. Chequei as trancas das janelas e da porta uma última vez, percebendo que as mesmas eram de plástico. Talvez uma forma do mutante passar sua confiança sobre não entrar sem ser convidado.. Admirável, até. Para alguém como ele.
Não, Alice. Foco.
Céus, minha mente com toda certeza estava fora dos eixos.
E tudo por causa dele.
Soldadinho idiota.
↢ ❦ ↣
Eu sequer percebi em que momento adormeci. Apaguei na cama após atualizar um pouco da missão a Colin. Ele parecia ter pistas sobre Barnes, o que me preocupava. Se eles chegassem ao homem antes que eu pudesse esclarecer a situação para ele, seria um problema. Para os dois lados. E eu estaria na pior, entre a cruz e a espada.
Essa preocupação me fez acordar mais cedo hoje, alguns minutos antes do que o combinado com Erik. Isso me fez ir direto para a ducha do quarto. Passei alguns minutos a mais que o normal embaixo do chuveiro, sentindo a água fria em mim, mas não me incomodando. As lembranças das manhãs na base do exército e das missões invadiam minha mente.
É, a situação já foi bem pior.
Saio do chuveiro, secando o cabelo com uma toalha e enrolando outra no corpo. Na frente do espelho, passo um hidratante no rosto, ainda tirando um tempo para cuidar da pele em meio a tanto caos. Volto para o quarto bem a tempo de ouvir as batidas na porta, caminhando até a mesma e a abrindo.
— Mon cher, bom dia. — Erik deseja, com a voz ainda rouca de sono.
— Bom dia. — Desejo de volta, lhe dando um sorriso gentil como posso. — Acabei acordando um pouco mais cedo…
— Foi algum barulho que fizeram? O quarto não estava confortável?
— Não, não foi nada disso. Meu relógio biológico é acostumado. Acordo cedo para correr, jogar…
— Oh.. Mais reconfortante, eu diria. Dormiu bem, então?
— Sim, sim. Nós já vamos?
— Temos um tempo ainda. Se vista. Acho que conseguimos tomar café ainda aqui.
— Tudo bem. Nos vemos logo.
O vejo assentir em concordância e então fecho a porta, retornando a minha atenção para a minha bolsa. Tiro uma lingerie confortável em renda e algodão, uma calça jeans de lavagem clara e uma regata preta. Vesti peça por peça e prendi o cabelo em um rabo de cavalo. Um pouco mais animada e querendo tirar um certo alguém da mente, dediquei um pouco de tempo a uma maquiagem leve, afinal poderia sim estar em missão, mas estaria ao lado de Erik, e em Berlim. Manteria a pose.
Com tudo pronto, guardei meus pertences na bolsa, deixando tudo em ordem. Preferia levar tudo comigo para uma viagem de um dia do que deixar algo meu aqui. Assim que pus o celular no bolso, ouvi as batidas na porta. Mandei que entrasse, e vi a maçaneta girar lentamente e a porta se abrir, revelando pouco a pouco de Erik.
Podia não gostar dele, mas realmente não podia negar o quão bonito o homem é. Estiloso, cheiroso. Coisas que eu certamente nunca percebi por outros motivos. Ele estava arrumado agora. Calça preta, sapatos lustrados, limpos, camisa de gola alta e manga longa também preta, e uma jaqueta de couro dobrada no ombro. Sua roupa me lembrou de separar um sobretudo, pois certamente faria frio no voo e em Berlim.
— Belíssima, como sempre, mon cher. — Ele elogia, me fazendo o olhar de lado e rir.
— Você está realmente lindo também. — Devolvo o elogio, forçando um sorriso maior.
Vejo Erik enrubescer com o elogio e pôr as mãos no bolso da calça enquanto me espera. Pego o sobretudo preto e o dobro no braço. Não tenho tempo de pegar a bolsa, quando percebo Erik fazer isso por mim, utilizando seus poderes de magnetismo na alça, onde havia suspensórios de metal.
— O jatinho já está pronto. Tomamos café durante o voo. — Ele diz, pondo a alça da bolsa esportiva no ombro.
— Tudo bem, vamos.
Saio na sua companhia, e tranco a porta do cômodo assim que passamos. Erik me guia pela mansão, por uma saída lateral. Do lado de fora havia alguns mutantes jogando no extenso campo do gramado, aproveitando o sol da manhã - e breve, pois pelas nuvens carregadas que pairavam não muito longe, a chuva que viria seria forte.
Não muito distante deles, estava parado um jatinho particular, todo preto e parecendo bem novo – ou ele pagava uma excelente manutenção. Nos aproximamos mais, e eu pude ver quem parecia ser o piloto levando a mala de Erik para cima. Lehnsherr me guia escada acima, subindo e entrando no jatinho, observando tudo por dentro. E então, juntando alguns detalhes internos e externos, finalmente percebo qual modelo é aquele.
— Gulfstream, não é? — Pergunto, vendo o homem pôr a minha bolsa em uma das poltronas luxuoss dali.
Aliás, o quê não era luxuoso naquele jatinho?
— G650. — Ele confirma, me dando um sorriso de canto. — Achei que não fosse conquistada por luxo. — Ele brinca, posso ouvir bem o seu tom. Me faz rir.
— Já andei em um, não sei como não reconheci antes. — Revelo, me amaldiçoando logo em seguida por estar contando mais da minha vida pessoal real, não da personagem que eu vivia na Romênia.
— Ah, é? Você realmente tem uma vida de bonequinha de luxo mesmo sem querer. — Comenta, e eu não consigo deixar de assentir.
Era verdade, de qualquer forma. Tinha um emprego que me pagava dinheiro o suficiente, e levava sim uma vida de luxo. Mais pelo conforto do que pela ostentação. Por tudo o que já passei, eu merecia o que eu tinha, e fazia meu dinheiro valer a pena. Afinal quando eu morresse, não levaria nada comigo.
— A diferença é que eu sou o meu próprio “sugar daddy”. — Sou sincera, sorrindo ao usar aquela expressão que tanto ganhava força ultimamente. — Luxos alheios não me encantam. Eu sei o que eu posso me dar e me satisfaço com isso.
— Você é muito mais preciosa do que imagina, ma belle. — Ele diz, tocando meu queixo.
É de imediato. As imagens de Barnes me beijando na praia vem a tona na minha mente. Aquele toque.. A lembrança de certo que afetiva que aquilo me trouxe, mesmo não sendo Barnes me tocando naquele momento.. Aquilo me fez umedecer meus lábios, pensando em querer mais, com o moreno que agora estava emburrado comigo. E eu com ele. Mas, por um milésimo de segundo, percebi a impressão totalmente errada que dei a Erik.
Pelo seu sorriso, estava claro o que ele pensava.
Que eu queria isso com ele.
Parte de mim sim. Queria. Para esfregar na cara de Barnes o quão boa foi a viagem. Certamente me faria ganhar uns pontos a mais com o homem, e consequentemente me ajudaria na missão… É… Talvez Berlim guarde mais momentos, consequências e estratégias do que eu imaginava.
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Oie!
Não vou me estender explicando meu sumiço aqui, só quero dizer que estou bem e farei o possível pra retornar a postar como antes.
Espero que ainda estejam aí, e que tenham gostado do capítulo. Nos vemos no próximo.
Beijoss 🤍
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