13. Olhar Predatório e Garras Afiadas
Bucareste, Romênia, 18h
A L I C E
A ressaca havia acabado completamente comigo. Todo aquele álcool parecia ainda estar no meu corpo, não importava quantos remédios eu tomava, nada passava. Nem mesmo após o intenso susto que tomei hoje cedo. Pensar nisso ainda fazia meu coração acelerar.
Alpine ainda me julgava com o olhar pela minha clara irresponsabilidade ao chegar. Ele poderia ter fugido. Não sei como havia ficado tão quieto, apenas sentado, observando o corredor. Agradecia mentalmente por isso enquanto o alisava e garantia que não aconteceria de novo, quando eu voltasse hoje.
Já atrasada para encontrar Lehnsherr, saí, descendo as escadas do prédio quase correndo. O táxi já me esperava, e eu apenas entrei, dando o endereço que Erik havia me entregado ontem. Não iria com o meu carro, não sabia o que me esperava lá. Por todo o caminho eu me sentia ansiosa. Não sabia o que esperar, mas estava com uma roupa que me permitia mover o corpo com facilidade, caso aquele fosse algum teste de Lehnsherr.
O caminho para o lugar era para fora do centro, na parte menos movimentada. Não havia prédios. Apenas casas bastante afastadas uma da outra, uma usina antiga e desativada, e de longe, uma imensa mansão. O taxista parou em frente a ela e finalizou a corrida. Paguei, usando o cartão que Ross havia me liberado para a missão, e pus a carteira e celular de volta na bolsa.
— Precisa que eu espere?
— Não senhor. Tenho carona para voltar. Obrigada.
— Por nada.
Desço do carro, caminhando até os enormes portões prateados. Por mais que parecesse ligeiramente mal cuidada, a mansão estava em perfeito estado. A grama bem cortada, o imenso muro limpo, e o interfone funcionando, assim como a câmera de segurança, que estranhamente seguia meu rosto.
— Quem é?
— Alice Nikolaev. Vim a mando de Erik Lehnsherr. — Me apresento, e os portões se abrem.
Entro, seguindo o caminho de pedras até a entrada, mas após esperar alguns segundos e a porta não abrir, segui para a lateral. Havia uma espécie de galpão de reserva. Uma garagem. E a porta estava entreaberta. Sorri com aquilo, me sentindo idiota em estar fazendo isso, mas segui o caminho, entrando no galpão, vendo-o escuro e vazio.
Uau, que surpresa…
— Erik?
Em resposta, um ranger suave em alguma das vigas enormes daquele galpão. O chamei mais duas vezes, e na segunda, ouvi rosnados. Quando percebi um vulto pela visão periférica, alonguei as unhas e permaneci quieta, ouvindo, checando cada movimento apurando meus sentidos.
— Vamos adiantar logo isso. O que está esperando? — Cascalhos. Passos. Uma respiração diferente. — Não vai dizer que está com medo.
A provocação surtiu efeito. As passadas foram na minha direção, e eu me virei a tempo de sentir o corpo alaranjado se chocar contra o meu, cravando minhas unhas na pele dos seus bravos.
Era uma mulher. Uma tigresa, como eu, mas de uma subespécie diferente. Estava transformada em sua forma híbrida, com cauda e orelhas, e ainda assim parecia esguia, pequena. Os pelos eram grossos, largos como os meus, mas eram os muito diferentes uma da outra. Sorri, e me transformei. Deixando em evidência a nossa diferença de tamanho.
— O quê é você? — Ela questiona, se afastando.
— Ninguém que deva se preocupar. Vamos, faça o que está aqui para fazer. — Provoco.
Ela não hesitou. Correu e saltou, me atacando. Revidei, sentindo o impacto do seu corpo contra o meu, e do meu contra o seu, nos afastando. E então ela atacou de novo. Senti sua unha rasgar minha pele, e as minhas furarem a carne do seu braço. Sua destra veio na direção do meu rosto, e eu apenas a parei com minha mão. Com seus dois braços imobilizados, atingi sua testa com duas cabeçadas, cortando o supercílio.
Meu braço queimava, e minha mão. Dois lugares onde ela havia me acertado. Mas já sentia a regeneração agindo. A outra tigresa sumiu de vista com a minha distração, e eu ativei meus sentidos outra vez. Saltei, subindo em uma das vigas e tentando ver por cima, mas não conseguia achá-la. Não até ouvir a oscilação do vento atrás de mim, indicando sua presença.
Sinto seu chute acertar meu estômago, e cravo as unhas no seu tornozelo, fazendo a ruiva cair comigo. Giro nossos corpos antes de atingir o chão, e ela o acerta com as costas, amortecendo a minha queda. Ela mexe a cauda de forma nervosa e levanta em um salto. Talvez tenha desistido de me atacar pela mutação. Seus golpes passam a ser mais físicos, e mantemos o padrão de defesa e ataque. Estávamos empatadas.
— Me disseram que era tão forte. Não consegue fazer melhor que isso, gatinha? — Ela provoca, me fazendo rir.
— Para o que você é, também está mal. — A respondo, desviando do seu chute.
A cena do seu pé com as garras afiadas parecem passar por meus olhos em câmera lenta. Mas eu aproveito bem o momento e o meu desvio. Seguro seu tornozelo com as duas mãos e lanço o corpo da ruiva para uma das pilastras. Ela não a atinge. Pela posição, apoia os pés na mesma e toma impulso para cima de mim.
Paro seu corpo com as garras bem apoiadas sobre suas costelas, mas não a furo. Ela não estava me machucando tanto, não como eu imaginava que faria. Cerrei os olhos na sua direção, mas o momento serviu de distração o suficiente para ela me atingir, empurrando o meu corpo contra o chão.
— Para quem você trabalha? — Ela pergunta, mantendo a mão em torno do meu pescoço.
Não respondo. Tomo impulso com as pernas e a cauda, jogando o corpo dela para cima e chutando, fazendo a ruiva acertar a viga de metal. Antes que ela caia, o metal envolve o corpo dela e a desce devagar. Eu levanto, e observo as portas do galpão se abrirem. Erik passa por elas, caminhando devagar, observando a pequena bagunça que fizemos.
— Tigra… O que está fazendo? — Ele questiona, e ela o encara confusa.
— O que você mandou!
— Eu? Ou Tom? — Ele pergunta, e ela desvia o olhar. — Eu nunca pedi para qualquer membro da Irmandade brigar entre si. A nossa luta é contra os humanos. Nós somos irmãos, somos a mesma espécie. Não precisamos nos oprimir mais do que eles já fazem.
— Deveria deixar isso claro para o seu braço direito. — A tigresa diz.
— Tom já havia perdido minha confiança há muito tempo. Nunca aprovei seus métodos de iniciação. — Lehnsherr desfaz o aperto do metal em torno do corpo dela conforme explica. — Vocês estão bem?
— Sim. — Nós duas dizemos ao mesmo tempo.
Desfaço minha forma híbrida, voltando ao meu corpo normal, mas deixando alguns pelos perdidos na roupa. Arrumo o cabelo em um rabo de cavalo bem preso, e encaro a tigresa de volta quando a vejo me observar.
— Como consegue controlar sua forma? — Ela pergunta, se aproximando.
— Sou classe 4. — Explico por alto, lembrando o quanto fiquei confusa quando Charles me explicou isso pela primeira vez.
— Legal. — Diz, e eu lhe dou um ligeiro sorriso. — Qual seu nome, alfa?
— Alice Nikolaev. — Me apresento.
— Aqui nos tratamos por nossos verdadeiros nomes. Por quem realmente somos. — Erik explica, caminhando para fora do galpão, nos fazendo o seguir.
— Tigresa Branca. — Estendo a mão para a ruiva, que a aperta.
— Greer Grant. Tigra. — Ela se apresenta.
Seguimos para dentro da mansão. Estava quase vazia. Poucas pessoas caminhando para lá e para cá, mas sabia que todos eram mutantes. Isso aqui era como a Mansão X, porém do mal. Magneto nos guiou, me mostrando grande parte da mansão, os quartos, as salas, e depois nos levou para uma das salas de cima e abriu a porta para nós. Entramos, vendo outros mutantes lá, e nos acomodamos.
— Me desculpe pelo inconveniente. Tom controlou a mente do nosso mordomo, o impediu de abrir a porta para você.
— Não se preocupe com isso. — Digo, deixando de olhá-lo para observar bem a sala.
— O que te trouxe a Romênia, Tigresa? — Ouço Magneto questionar após alguns segundos de silêncio e o encaro, pegando a taça de vinho que ele me oferecia.
— A calma. E negócios. Só posso voltar para casa quando fechar o restaurante.
— Entendi.
— E você? Porque decidiu resgatar mutantes na Romênia?
— Não só na Romênia. Estou operando em toda a Europa. O exército da Irmandade está por todos os lados. Mas não podia montar minha base na Alemanha, então vim para cá, um dos países com maior incidência de mutantes na Europa.
— Encontrou um bom lugar. — Digo, observando os outros ao redor, bebendo do vinho.
— Mas ainda há muito mais que preciso encontrar. — Ele comenta.
— O quê, por exemplo?
— Minhas crianças. — Ele comenta, passando o indicador pela borda do copo.
— Outros mutantes?
— Na verdade, eu não sei se são. — Ele é sincero. — Quando estive nos Estados Unidos muitos anos atrás, acabei me envolvendo com uma pessoa. Ela estava de viagem, vinha de Sokovia. Foi algo de uma noite só, mas… Depois eu recebi uma carta. Ela estava grávida de gêmeos. E eram meus filhos.
— Nunca os viu?
— Nunca tive a oportunidade. E nem sei se terei. Você viu o que aqueles Vingadores fizeram com Sokovia há alguns meses. Não sei se viveram, como estão…
— Vai encontrá-los quando acabar tudo isso. — O conforto, e vejo o homem sorrir gentil para mim.
— Você é uma boa pessoa, Tigresa. — Ele diz, pegando minha mão. — Estou feliz que tenha encontrado a Irmandade.
— Estou feliz que tenham me acolhido.
Estava mesmo era admirada com a minha capacidade de mentir na cara dura. Muitos anos de treino trabalhando para Ross me deixaram assim. Já tinha doutorado em lidar com homens chatos. Não era atoa que estava levando Barnes numa boa. Mas ele era um chato diferente.
Barnes.
Será que ele estava bem? O soco deve ter doído. Usei muito mais força do que imaginava, e sei que se ele não tivesse tanta resistência, teria sido jogado muito mais longe. Coitado, só queria me ajudar.
— Você vem da Rússia? O sobrenome é bem genérico.
— Entrega bastante, não é? — Sorrio. — Sou russa sim.
— E como é por lá? Estive pensando em recrutar alguns mutantes.
— Acho que daria sorte, é o maior país da Terra, sempre bem cheio. Devem ter espécies bem diferentes lá.
— Um homem urso, ou uma mulher de gelo? Seria ótimo.
— Uma mulher de gelo seria o amor da vida do Pyro. — Um dos mutantes ao redor caçoa com outro, que o ateia uma fina chama no cabelo.
— Os opostos se atraem, Pyro. — Magneto diz, e dá uma ligeira olhada para mim.
Pelo amor da deusa, nem aqui nem na China ou em qualquer lugar onde eu mantenha minha consciência plena.
— E você havia me chamado aqui para quê? — Pergunto, indo direto ao ponto.
— Queria que soubesse onde estamos instalados. Quando não estou no pub, estou aqui. Para saber onde me achar.
— Entendi. E você sabe onde me achar. — Digo, e ele assente. — Planejou mais algo? Porque se não, eu preciso ir. Tenho algumas coisas para administrar no restaurante.
— Não, apenas queria que viesse, que conhecesse. Esse é o nosso lugar então.. Espero que se sinta bem acolhida aqui também, e saiba que é muito mais do que bem-vinda. Sempre.
— Eu agradeço muito. — Digo, sorrindo para ele.
— Precisa de carona para ir? Aqui é quase impossível de vir táxi.
— Oh, eu não sabia. Acho que posso ir caminhando até a principal. Tento pegar um lá.
— Deixe disso, eu levo você.
— Eu não quero incomodar, Magneto.
— Não é incômodo algum, minha cara. Vamos, assim também pode conhecer a garagem.
— Já que insiste.
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Capzinho do dia!
Até quarta 🤍
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