08. O Início em Bucareste
Edf. Royal, sede da AIICA
Washington, DC
A L I C E
Minha tarde no prédio foi ocupada somente em reavaliar planos, pensando em todas as possíveis ocorrências da missão. Colin estava mesmo preocupado com isso. Muito. E com razão. Se eu fosse descoberta e capturada, eram grandes chances de a AIICA ficar exposta aos ataques da Hydra, pois não tínhamos certeza se Barnes ainda trabalhava para eles, ou sequer sabíamos se a organização ainda existia nas sombras. Fury tinha receio disso também, mas estava mais seguro que Colin, garantiu várias vezes que não aconteceria nada.
Eu confesso que estava curiosa com a missão. Já havia sim ficado infiltrada em diversos lugares. Até mesmo como contrabandista ilegal de armas, para capturar outros vendedores e compradores pelo exército, mas esse era bastante diferente.
Eu não teria uma arma apontando para a cabeça do Barnes, me assegurando e me cobrindo caso eu precisasse fugir ou contra-atacar, até porque não poderia andar com uma arma pela Romênia. Faria o que fosse possível para resgatar o homem de forma pacífica, e não hesitaria se tivesse que matar alguns agentes da Hydra.
Fui liberada um pouco mais cedo, saindo do edifício e indo direto para o Pentágono, obedecendo o chamado de Ross. Já sabia que se tratava da missão, mas fiquei calada quanto a isso, apenas recebendo as ordens que ele e os outros engravatados me passavam. A missão em questão era simples, mas longa.
— Você precisa localizar essa equipe de mutantes. Eles se chamam de "Irmandade" Temos certeza que eles trabalham com Erik Lenhsherr. O Magneto.
— Aquele que fugiu da segurança máxima daqui? — Questiono, e vejo Ross assentir. Aquele mutante era uma lenda.
— Erik é perigoso, é um mutante nível ômega. Se está planejando algo, precisamos estar a frente, descobrir o que é, interceptar seus planos, comandos… Talvez assim conseguiremos a ajuda de Charles Xavier.
— E a garota vai sozinha?
— Você já viu o que ela pode fazer? — Ross questiona, e o homem fica em silêncio. — Tenho plena confiança que a nossa Tigresa Branca consegue fazer o trabalho.
Mais tópicos da missão foram debatidos, e então eu recebi uma pasta com minha identidade temporária, os meus documentos falsos e os do apartamento e bar que ficaria alojada, o que eu teria que levar para a viagem.
Ross não falsificou muito a identidade, continuaria sendo Alice, mas usaria o meu sobrenome de pai, Nikolaev, que não era registrado em nada relacionado a mim. Com aquele sobrenome eu simplesmente não existiria em nenhum banco de dados. Era um disfarce fácil.
Voltei para casa sem pressa, começando a me arrumar após um bom banho, e fiz isso por partes, sem pressa. Mantive o cabelo preso em rabo de cavalo, vesti uma calça jeans justa, blusa básica de manga curta, jaqueta de couro e coturno. Organizei a mala grande, uma menor e as coisas de Alpine, e assim que o motorista de Ross chegou, desci com tudo, trancando todo o apartamento e ativando os alarmes.
— Espero que não fique entediada tão fácil. Será uma missão de um mês. — Ross diz, de pé ao lado da SUV.
— Eu imagino, estou indo preparada.
— Isso é um gato? — Pergunta ao me ver pôr o Alpine dentro do carro, na caixa de transporte. Ele já dormia por conta do calmante.
— Sim. Não vou deixá-lo por mais de um mês largado.
— Mas-
— O gato vai.
— Capitã-
— Você me perguntou se eu tinha alguma exigência, Ross. Bom, eu tenho. O gato vai. Podemos?
Ross entrou no carro logo atrás de mim e o motorista seguiu para o aeroporto. Passamos pela pista, seguindo direto para o jatinho particular. O comissário levou minhas malas para dentro e eu entrei com Alpine após ter uma rápida conversa com Ross, deixando claro que sabia de tudo o que tinha de fazer.
Me acomodei na cadeira do jatinho, deixando a caixinha de Alpine ao meu lado. Ouvi as instruções do comissário, as quais eu já sabia de cor, e a viagem foi iniciada. Sabia que seria entediante e comecei a me distrair lendo, e continuaria até dar sono. Seriam longas horas até chegar a Europa.
↢ ❦ ↣
Bucareste, Romênia.
07:20am
O voo foi longo, e por sorte eu dormi por grande parte dele, acordando apenas quando o comissário me chamou para pôr os cintos, informando que já estávamos pousando na capital.
Ainda no aeroporto, aluguei um carro. Passaria um bom tempo aqui e não queria descobrir como funcionava o sistema de ônibus e trem desse lugar. Com as documentações dadas por Ross, consegui o carro. Uma SUV como era acostumada.
Dirigi até o apartamento onde ficaria alojada, e estacionei na frente do prédio. Pus a mochila nas costas, descendo do carro e cercando o mesmo, abrindo a porta lateral e pegando a outra mala e a caixa do Alpine. As coisas que estavam em cima caíram, junto ao meu celular, carregador e documentos.
— Ah, merda!
Me agachei, ainda que com dificuldades para fazer isso, e peguei o aparelho no chão, puxando junto ao fio e os papéis. Tranquei o carro, ouvindo o som do alarme, e me virei em direção ao prédio. Ótimo, a próxima luta seria para abrir a porta.
— Ei, deixa que eu... Eu abro.
Observei um idoso se aproximar. Cabelos curtos, grisalhos, corte militar, bem aparado. Rosto largo, com pouca barba, e com leves trejeitos orientais. Corpo esguio, típico de idoso, não escondia tanto por baixo das roupas folgadas.
— Obrigada. — Disse, começando o meu trabalho de ser gentil e me infiltrar na vizinhança. A pior parte da missão.
— Quer ajuda? Está carregando tanta coisa.
— Pode ser. Ahm... Aqui, pega isso. — Digo, lhe passando a bolsa média, que ele pega sem dificuldade.
— Qual o seu andar?
— Sexto. O último.
— O dono não veio te receber?
— Tecnicamente o dono é meu pai. — Minto, contando a história que estava no relatório da missão. — Ele precisou se ausentar, então eu vim cuidar do apartamento e da loja.
— Oh... Entendi. Vem, são alguns lances de escada. E vai se acostumando, o elevador nunca funciona. — O idoso diz, dando um leve sorriso. — Você é filha do Sr. Petran?
— Sim, sou.
— Soube que ele foi preso... Quer dizer, bom... Todos nós soubemos e...
— Está tudo bem, senhor...?
— Oh, perdão. Isaac Miyaki. Pode me chamar de Isaac.
— Alice. Prazer. — Apresento, lhe dando um leve aceno com minha mão parcialmente livre.
— Prazer, menina. — Ele diz. — Você ficará tomando conta do bar também?
— Sim. Vim para cá justamente por isso.
— Ótimo. Lá é onde sempre almoço e janto. As vezes tomo café também. E tomo algumas coisas nas sextas e sábados a noite. — Ele diz, e eu acabo sorrindo.
— Que ótimo. Nos veremos bastante então.
O Isaac me deixou de frente para o apartamento após se certificar de que eu me instalaria bem sozinha. O apartamento ficava no último andar, e era até grande para o que parecia de fora. Tudo estava limpo e organizado, como Ross havia mandado deixar.
Estava bem disposta, então organizei o pouco que faltava do apartamento, deixando as malas de roupa no quarto, checando os utensílios da cozinha e as telas nas janelas. Teria de sair durante o dia, começar minhas missões aqui e Alpine acordaria antes que eu chegasse.
Deixei a caixa de transporte aberta no quarto, com janelas fechadas e uma blusa minha a sua frente, para que ele sentisse o meu cheiro. Peguei celular, carregador e bolsa, saindo e trancando o apartamento.
O tal bar do meu falso pai era de esquina, e até que era bem grande. Na porta de entrada, encontrei os outros funcionários. Uma garçonete e dois cozinheiros. Me apresentei para eles e abri o local, observando-o também bastante limpo.
— Eu não sei como funcionam as coisas aqui, e prefiro ficar no balcão e caixa por enquanto, então nenhum de vocês precisa sair das suas funções, ok?!
— Ótimo, porque eu não faço ideia como isso tudo funciona. — Jamie, um dos cozinheiros, diz.
Cada um se instalou, me ajudando apenas a organizar as mesas e cadeiras, limpando o pouco que estava sujo. Abrimos o restaurante e eu comecei a organizar as coisas do caixa. Pouco a pouco os clientes começaram a chegar, fazendo pedidos rápidos ou de café da manhã. Eu os observava, usava da minha excelente audição para captar as conversas, pondo minhas duas missões em jogo.
— Bom dia novamente, senhorita. — Ouço alguém falar comigo e me viro, vendo o senhor Miyaki. Sorrio gentil.
— Bom dia, Isaac. O que vai querer?
— Hoje é terça? — Pergunta, e eu assinto. — O especial do Jamie então.
Bati no sino na janelinha para a cozinha e fiz o pedido, anotando no folheto. Voltei minha atenção para o senhorzinho, que agora tinha um homem ao seu lado. Um homem extremamente familiar. Os cabelos eram grandes, quase na altura do ombro. Trajava boné, casaco, uma luva na mão esquerda, e tinha uma feição pouco amigável.
Eu sabia exatamente quem ele era e não podia acreditar que o havia encontrado tão rápido. E sem qualquer esforço.
Quero um bônus por isso.
— Menina, este é Jim, um amigo próximo. Jim, esta é Alice. Ela que vai comandar aqui agora.
O "Jim" me encara, extremamente avaliativo e antipático. Exatamente como Steve o descreveu. Eu sorria gentil, e estendi a mão para ele, que pareceu relutante em me cumprimentar, mas o fez.
— Alice Nikolaev. — Me apresento.
— Jim Barnes. — Ele responde, e eu controlo todos os meus nervos e músculos para não sorrir mais ou semicerrar os olhos.
— O que vai querer, Jim?
Ele faz o pedido e anoto, mandando para a cozinha. Não tivemos mais contato, mas por estar sentado no balcão ao meu lado, ouvi tudo o que ele conversava com Isaac. O velho apenas comentava coisas sobre a vida na Romênia, me fazendo perceber que talvez Barnes não estivesse aqui há tanto tempo assim.
Os dois se despediram por volta do meio dia, alegando que voltariam para o jantar. Continuei o trabalho, anotando no caderno o nome falso que Barnes estava usando, e o quarteirão que o havia visto, onde ele provavelmente morava e estava escondido.
Continuei com o trabalho, agora focando na outra missão. Havia visto um mutante pela tarde — que só reconheci por ser híbrido —, passando na rua. Parecia tranquilo, mas andava apressado e com uma bolsa em mãos, o que chamou minha atenção, mas não pude reportar ou ir atrás, ver o que era. Anotaria no relatório semanal para Ross.
Fechei tudo a noite — após esperar Isaac e Barnes em vão —, e voltei para o apartamento um tanto cansada. Teria que me acostumar com a nova rotina, hoje havia sido apenas o primeiro dia e tanto já havia acontecido…
Já de banho tomado, com o jantar feito e com Alpine mais calmo agora que me viu, fiz uma xícara de chá e a tomei, apoiada na janela, observando a quadra abaixo, e algumas crianças ainda brincando lá. Colin atendeu minha ligação, e eu lhe atualizei de como eu estava aqui. Olhei para o lado do prédio, vendo Barnes na janela. Vestia uma blusa larga e preta, e folheava um caderno antigo, com a capa vermelha.
— E sobre o Barnes? Conseguiu algo? — Colin perguntou, e eu não pude deixar de sorrir.
Encarei o homem na janela, vendo-o concentrado, e em questão de segundos, talvez se sentindo ser observado, ele me encarou. Sabia exatamente em que ponto eu estava. Ele era mesmo bem treinado.
Eu não poderia deixar ele voltar para os EUA sem saber dos riscos que estava correndo. Não sabia o que ele poderia fazer pela Hydra, mas ele não parecia estar mais trabalhando para eles. Só sabia o que o governo faria se soubesse que ele estava morando lá, após os crimes que cometeu, mesmo sendo protegido por Rogers. Ele não receberia o melhor tratamento do mundo.
— Não. Nada ainda. — Minto, quase sentindo minha garganta falhar.
— Tudo bem. Foi só o primeiro dia. Vai lá, meu amor. Descansa. Vou voltar a dormir agora.
— Esperou até agora para me ligar?
— Sim. Sua mãe anotou a diferença de horário para podermos falar com você. — Diz, e eu sorrio. Ouço seu bocejo e acabo deixando um escapar também.
— Nos falamos mais tarde então.
Após trocar mais algumas palavras, me despeço dele e ponho o celular no bolso da calça. Termino o chá ainda na janela, e volto a encarar Barnes. Mais uma vez ele tira o olhar do livro e me encara. Em resposta — e provocação —, lhe lanço um sorriso e um aceno, vendo o homem disfarçar, voltando a ler.
Passaremos um tempo bem divertido antes de eu te levar de volta para casa, James Barnes.
※ ══ • ⊰ Ⓐ ⊱ • ══ ※
Capzinho de quarta, como prometido.
Até sábado! 🤍
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